domingo, 26 de maio de 2013

Enunciado de bons princípios II

Acabei de ler (obrigado Progresso Nacional) duas notícias interessantes saídas na Jeune Afrique, no âmbito da XXI Cimeira da UA, que começa já amanhã.

Uma entrevista concedida por Nkosazana Dlamini-Zuma, presidente da UA, na qual estima que o grande desafio para África, uma vez liberta do colonialismo, é libertar-se da dependência. «Nenhum país deve ter, por base do seu desenvolvimento, a ajuda externa. (...) É uma questão de mentalidades.» Único país de África, para além da Argélia (o caso da Etiópia é especial), que me parece poder ser considerado como vencedor de uma guerra colonial / de libertação, está agora na hora de a Guiné se libertar das grilhetas da dependência (dissimulando ingerências interesseiras).

No mesmo tom, Carlos Lopes convida os africanos a criar a sua própria visão do (e lugar no) mundo. África deve romper com as percepções negativas em proveniência do exterior, «dissipar os mitos e a incompreensão», de forma a captar investimentos sérios e sustentáveis, e já não apenas draconianos e delapidatórios dos seus recursos. Acrescentaríamos que essa foi a última preocupação publicamente manifestada por Amílcar Cabral, numa conferência em Conacri, pouco tempo antes de morrer. Insurgia-se contra a continuação da exploração colonial por outros meios, mais sofisticados e pesados de consequências. E aproveitava para lembrar que a libertação tem de ser mental: «o arroz só coze dentro da panela».

«A hora é de aurora, estamos perante um renascimento africano» exclamou-se Carlos Lopes, «não sem lirismo» acrescentaria o cepticismo do jornalista. «África tem de assumir o controlo da sua narrativa e das suas relações internacionais». Já tinha desconfiado num artigo anterior, mas agora começo seriamente a pensar que parte destes felizes pensamentos, mesmo que classificados pelos outros de utópicos, se referem a uma secreta esperança que alimenta em relação ao seu país natal. A Guiné, que deu um exemplo final, autónomo e independente, na I Guerra de Libertação, estaria em condições de liderar a II?

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