quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Camarões na grelha


Ontem ainda, no mesmo dia do golpe no Gabão, o nonagenário presidente camaronês decretou importantes mudanças nas Forças Armadas, enfiando claramente o barrete da desfrançafricanização, como um dos próximos na lista. 
Estão todos muito preocupados, individualmente e aos pares, 
mas pouco ou nada se ouve falar das equivalentes subregionais da CEDEAO. Já as metáforas sugestivas multiplicam-se: ONDA AVASSALADORA, algumas até se podem conjugar: VENTO DE PÂNICO espalha FOGO NO CAPIM.

Um artigo de opinião publicado num media camaronês equipara os golpes militares a cirurgias estéticas para estados neocoloniais.

Finalmente, o Senhor Embaixador pronuncia-se

Eu, que sou um assíduo leitor de longa data do agora mediaticamente famoso comentador e líder de opinião Francisco Seixas da Costa, de cuja hospitalidade no Seu blog - que pertence à minha lista à direita - tenho de confessar que já por várias abusei, andava nos últimos dias a remoer o prolongado tabu em relação à expulsão de França do Sahel, oposto a uma prolixa guerra na Ucrânia. Cheguei mesmo a pensar em reincidir em eventual indelicadeza, enviando mensagem instrumental e explicitamente não aceitável - conhecendo o protocolo compreensivelmente rigoroso dos comentários, o qual se pode traduzir por eventual mas sempre justa censura - apenas para tentar despertar a questão. Os recentes acontecimentos, mais equatoriais, foram a gota que, pelos vistos, fizeram transbordar o copo da visão geo-estratégica ao nível continental. Valeu a pena esperar, sem precipitações, pela autoridade da maturada sentença de Sua Eminência, conhecida por extremamente comedida e diplomática: esta é definitiva e lapidarmente sem apelo nem agravo.

França ondossa poder?

Os receios de que falava no post anterior, podem, afinal, revelar-se justificados, mesmo se não foi possível confirmar os rumores de os militares terem declarado que respeitariam todos os acordos internacionais.  O povo gabonês deve manter-se vigilante, prevenindo a possibilidade deste golpe se tratar de uma encenação de Paris destinada a descalçar a bota Bongo, que Macron já havia renegado, e endossar o poder a seu favor, confiscando-o a Ondo Ossa, cujas posições anti-francesas são bem conhecidas e que venceu as eleições por larga margem. Nesse caso, há a possibilidade de o próprio Nguema, caso tenha aceite desempenhar o papel, ouvir a voz e realinhar-se com o povo - o qual comemora alegremente na rua - e virar o bico ao prego, assumindo um papel histórico e a genuidade do discurso, descartando a total hipocrisia que representaria uma tal traição, a qual Deus e seus cidadãos, mais tarde ou mais cedo, lhe cobrariam. Quanto a França, nesse triste cenário, arriscaria fortemente a que o tiro lhe saísse pela culatra, deitando gasolina gabonesa para a grande fogueira em que está a arder. 7ze desculpa-se pela precipitação, declaradamente ocorrida sob pressão, bem como estar a oferecer duas versões contraditórias, mas admite que tudo é possível, e não apaga mensagens, como a AFP. Como defende um gabonês, para já comemora-se a queda de Bongo, depois logo se vê, o futuro revelará os seus personagens... Cada coisa a seu tempo.

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Gã Bongo compulsivamente reformado: Gabon Go

Apesar de algumas reservas iniciais, justificadas pelo receio de uma encenação de mainmise francesa, tendo sido postos a circular rumores de uma suposta declaração de que os golpistas respeitariam todos os compromissos internacionais, associados a uma tentativa de desacreditar o porta-voz da Junta (que seria pouco depois promovido on-line pelos seus homens a novo homem forte), a esta hora já não restam grandes dúvidas de que se trata de um golpe anti-francês. O modus operandi é cópia fiel dos golpes na Guiné e no Níger: o chefe da guarda pretoriana assume as responsabilidades em nome do povo. Este golpe afigura-se mesmo como especialmente legítimo, por se constituir em denúncia de todos os vícios da FrançAfrique, desde a tradicional fraude até à mais recente moda: os terceiros mandatos. A própria reacção da chefe do governo francês, emanada no curso da muito especial conferência de embaixadores em curso sobre este género de assuntos, evidencia que não houve o até aqui "obrigatório" beneplácito da França. A condenação do golpe é risível, após a hipócrita diplomacia francesa se ter convenientemente mantido muda perante o golpe palaciano na "democracia", com a publicação dos resultados, já de si muito arrastada, a meio da noite, e do ataque à liberdade de expressão que configura o corte de ligação à internet. Concretizam-se os receios manifestados por Macron de contágio pelo vírus que classifica como "anti-democrático". Talvez esteja na hora de declarar a pandemia, porque ainda não acabou... a vassoura burkinabé vai continuar a varrer o continente. Libreville est libre! On Paris quel sera le prochain?

Mosca na durmi?

7ze na djungu? Já são várias mensagens, respondo pois pela origem... A catadupa de acontecimentos está a provocar um pico de trabalho de documentação, porque o Emplastro não publica nada que não seja devidamente confirmado e credível (ao contrário por exemplo da Agência do Vaticano, a qual 36 horas depois de este blog, na mensagem anterior e com base na Reuters, ter publicado que a expulsão de outros embaixadores era faketory Macron, ainda andavam a contaminar o mundo com mentiras mal enjorcadas). Há ainda o esforço de analisar a conjugação de acontecimentos naquilo que se configura desde já como o efeito dominó, já aqui antecipado, propagando as ondas de choque da escalada no Níger.


Nas próximas horas, actualização sucessiva, e por esta ordem, dos dossiers:

Gabão
Camarões
Níger 

sábado, 26 de agosto de 2023

Reuters goza France Presse

É com um misto de humor britânico e cinismo que a agência noticiosa inglesa dá conta da incrível operação de intoxicação à qual se prestou a sua congénere francesa, ao propagar as fakes encomendadas pelo Eliseu. 

Na tentativa de diluir a vergonha da expulsão do seu embaixador, inventaram primeiro que o alemão teria recebido a mesma carta, depois o americano. Claro que meio mundo acreditou, atendendo à origem. 

A AFP terá obviamente de suportar delirantes custos em termos de credibilidade. Muitas outras agências caíram. Basta atentar no caso português, com o Público a sair para as bancas envenenado pela marosca.

A Reuters sublinha a inconsistência da AFP no título e na escolha da citação entre aspas, ao justificarem o apagão do post relativo ao embaixador alemão por as "autoridades" terem declarado a sua inautenticidade.

Note-se que essas "autoridades" não são aquelas que o seu governo considera legítimas. A mesma coisa para o embaixador americano, reconhecendo desmentido do MNE nigerino (novo governo e não governo Bazoum).

Em resumo, papam não uma, mas várias fakes, de um presidente stressado que pretendia tapar o sol com a peneira, para depois apagarem notícias, com emendas piores que o próprio soneto, em dissonância total.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Impensável

A tensão atinge um pico terminal. Numa "première" mundial, o quay d'Orsay reage à expulsão do seu embaixador negando legitimidade às autoridades para tal, antecipando o anterior ultimato de dia 2 de Setembro para domingo ao anoitecer. Quem não quer sair a bem, terá de sair a mal. Persona non grata e ainda por cima, recalcitrante?

Tinubu denuncia Macron

A uma semana do fim do ultimato dado pela Junta Militar, Paris transpira stress por todos os canais. Ouattara e Macky Sall chantageiam o presidente nigeriano para a intervenção, julgando que as suas inexperientes declarações iniciais eram suficientes para o obrigar. Contudo, o presidente da Nigéria e da CEDEAO está bem amarrado, tanto pelos seus militares, como pelos líderes muçulmanos, tendo optado pelo bom senso de fugir com o rabo à seringa, denunciando as conversas "ultra-secretas" dos seus homólogos, confirmando a intenção francesa de intervir, mesmo sem a cobertura da CEDEAO. Com a França à beira do abismo, espera-se a qualquer momento a ordem de Macron para uma fuga em frente.

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Benefício da dúvida

A eliminação de Prigohzin é um tiro no pé. Será difícil chegar a perceber se foi o Czar, se os seus ineficientes e ineficazes generais. A Rússia criou um abcesso de fixação que vai cobrar um cada vez mais elevado preço em sangue, o qual muito rapidamente ultrapassará os limites de tolerância da sociedade russa.

O assassinato não deixará de ser associado à demissão de Surovikin horas antes, o Kremlin arrisca-se a não poder contar com esse benefício da dúvida, dando origem a uma reacção de raiva, sempre imprevisível. Pode saltar a tampa aos russos, perante a falta de perspectivas para a guerra na Ucrânia.

Pessoalmente e em homenagem ao paladino da iniciativa privada, prefiro pensar que se trata de uma conspiração combinada entre os dois, para que Prigohzin desapareça do cenário durante uns tempos. Aparecerá a rir daqui a uns anos... Este é o meu benefício da dúvida, antes da promoção do herói a mártir.

Escassez induzida

Consequência lógica da imponderada decisão tomada em Conselho de Ministros, de fixação dos preços do arroz, será sem dúvida a escassez instantânea. Alguém de bom senso deveria desafiar o Primeiro-Ministro a tentar comprar hoje arroz, a esse preço "legal". Nenhum comerciante será tão pouco profissional a ponto de vender ao preço tabelado, sem garantias de reposição de stock com margem minimamente compensatória. Teria sido mais inteligente para Geraldo Martins pegar pela outra ponta, acautelando junto dos importadores, através de concessões alfandegárias futuras, como incentivo à importação, o abastecimento. O resultado desta medida populista contra as mais elementares regras de mercado, não tardará a ficar patente, arriscando-se a desacreditar a autoridade e a abortar o estado de graça do novo Governo.

Proposta para Prémio Nobel da Paz


Stanislas Poyet merece sem dúvida a distinção da Academia. A Paz constroi-se com acções concretas, não com palavras vãs, como na ONU. Este corajoso jornalista francês da Radio France, que destila um charme Leonardo DiCaprio, foi miseravelmente agredido e roubado, por uns quantos sobre-excitados. A Junta não tem qualquer interesse neste género de demonstrações altamente prejudiciais para os seus intentos, pelo contrário, tem todo o interesse em propagar a imagem da tolerância. Tal deveria ser rapidamente clarificado através de medidas fortes, protegendo os jornalistas, em especial os franceses, mais expostos. Seria assim dada uma maior relevância a este caso, evitando que se repita e invertendo o ónus.

Se tivessemos estadistas como Stanislas em vez de Macrons, a Paz estaria assegurada. Os cristãos podem rever-se nos ensinamentos do seu Mestre e constatar a eficiência do perdão. Em poucas, mas substanciosas palavras, esgotou o assunto. Começando pelo reconhecimento das novas autoridades, ao qual se nega o seu país, continua por uma declaração de amor ao povo nigerino, afirma que o sentimento já vem de bem antes do golpe de estado, desagrava os seus agressores, não desiste e defende a continuação de um saudável convívio entre os povos. 

Em relação ao M62, movimento que resulta da coligação de organizações da sociedade civil, com o fim específico de expulsar os militares franceses, cujo embrião foi uma manifestação realizada dia 11 à porta da base aérea de Niamey por estes controlada, deveriam esclarecer e formar as suas gentes: os jornalistas não só são úteis, como estão do mesmo lado. Aprender com Stanislas a distinguir as políticas da França, por mais detestáveis que sejam, do povo francês. A 2 de Setembro, expira o ultimato da Junta.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

L'Armée en stress

A Rádio Argel, estatal, lançou ontem o isco, um suposto pedido de utilização do espaço aéreo, com o objectivo explícito de alertar para a iminência de um ataque. Como se Paris se humilhasse ao ponto de insistir em algo já publicamente negado. A coisa poderia ter passado despercebida, pois esta manhã a notícia saiu apenas em italiano e romeno. Ridículo, o imediato desmentido do exército francês, jurando a pés juntos não ter efectuado qualquer pedido nos últimos dias. Serve apenas para evidenciar o stress a que está submetido o exército, muito cioso do seu prestígio. Aproveitam contudo a deixa para afiançar que "não têm nenhuma veleidade de atacar o Níger", sabendo nós que mesmo que tivessem, não nos diriam. 

Est-ce que l'on a oublié à l'Armée le communiqué à la veille de l'évacuation civile, faisant état que la militaire n'était pas à l'ordre du jour? Bon, il faudra la remettre, si l'on veut être cru.

Colère noire

Macron a piqué une crise en public contre le directeur des services secrets, à propos du Niger. En plein cul-de-sac, s'en prend à des boucs emissaires. 


No mesmo artigo, Leslie Varenne, reconhecida analista francesa, ex-jornalista de investigação, afirma que a intervenção que Macron prepara (independentemente do sucesso, o qual não considera garantido), mesmo debaixo da sombrinha da CEDEAO, é um verdadeiro tiro no pé, inevitavelmente conducente a uma "explosão primária" contra os interesses franceses em África. Sem poupar nas palavras fala em cataclismo e em cegueira de Macron.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Pera-doce não temos

_Avie-me dois pastelinhos de camarão

_Pastéis de camarão, não temos
_Então são dois copinhos de vinho branco

Esta cena do Pai Tirano pretende ser um conselho para Macron: não insista em Niamey. O líder da Junta já avisou para não darem a coisa como favas contadas, o desembarque será tudo menos pera-doce, arrisca-se mesmo a ser um osso demasiado duro de roer e rebentar com o prestígio adquirido pelo exército francês em Kowelsi, como se pode inferir de artigo do professor Kabamba.

Petição informada

Na continuação do pronunciamento do fim de Junho, a inteligência recomenda a César que escute a voz da razão. Com o exército atolado na Ucrânia, numa obsoleta guerra de trincheiras, num contexto moral claramente desfavorável, há que reconhecer e assumir os erros, para poder gizar estratégias para lidar com a situação criada, estabilizando uma saída negociada à escala mundial. Atendendo à escalada ocidental e internacionalização do conflito, a eventualidade de uma supremacia aérea ucraniana obriga a repensar a guerra de posições e a uma retoma consistente da iniciativa no chão. Vem aí o inverno, com custos humanos de manutenção no terreno medidos a palmo. A partir da próxima Primavera, o futuro da Rússia joga-se num desfile militar em Kiev, que deverá coroar uma ofensiva bem organizada e sucedida. Em vez de projectar uma imagem de fraqueza, é preciso analisar bem os factos. A Rússia está na mó de cima, como se vê em Niamey, devido ao sucesso registado ao nível da privatização da guerra. Em vez de incorporar aquilo que funciona bem numa coisa que funciona mal, o caminho a escolher é precisamente o contrário! Até os Estados Unidos serão ultrapassados pela direita e classificados como comunistas, com um exército de iniciativa estatal e uma indústria de defesa ineficiente. Para além da sua responsabilidade perante a mãe Rússia, é o próprio prestígio de Putin perante a história que está em jogo. De outra forma, mais valeria abdicar e nomear o sucessor óbvio.

domingo, 20 de agosto de 2023

Voluntários às carradas

Os jovens do Níger estão a aderir em massa à Junta, dando origem a uma real mobilização geral. O povo alçado em armas, às levas de milhares. Afirmação soberana impossível de derrotar. Já há mesmo página para recrutamento de voluntários internacionais. 

sábado, 19 de agosto de 2023

Depois do Senado nigeriano, a Assembleia senegalesa

Dispositivo semelhante à Constituição bissau-guineense.

Macky Sall acossado em toda a linha. 

Crescendo de tensão

O quay d'Orsay e os seus palhaços tentam ingratamente manter a ilusão de que ainda não perderam a face, alimentando uma retórica belicista sem qualquer suporte na realidade militar, cujo resultado só pode redundar num agravamento da própria frustação. 

Um dos guignols de serviço é o Comissário para a Paz? e Segurança da organização moribunda CEDEAO, Fatuh Musah, que fez papel de animador político na reunião dos Chefes de Estado-Maior. Um autêntico Pinóquio, não se coibe de mentir com quantos dentes tem.

Em declarações à Associated Press, afirmou que 11 dos 15 países da CEDEAO estão dispostos a colaborar activamente na intervenção militar. Excluindo apenas os 4 países golpistas suspensos, configura um absoluto desprezo pelo posicionamento explícito de Cabo Verde.

Ora, basta a ausência lusófona, como reconhece o próprio no dito artigo, para os 11 se tornarem apenas 9, ou seja, menos de 2/3, o que ainda permitiria forçar certas decisões, já por si abusivas. Mas enviar o CEMFA à reunião não é o mesmo que enviar tropas para o terreno.

A Libéria e a Serra Leoa, apesar de participarem dos encontros organizacionais, têm levantado sistemáticas reservas quanto à intervenção militar. Mesmo chantageado por Paris, o ditador togolês, ao contrário do senegalês e marfinense, tem a noção da realidade.

Para contradizer esta contagem falaciosa de espingardas, basta ler o ponto da situação já aqui publicado. Mas a pseudo-oficial contra-informação não é nada, comparada com a performance teatral das ameaças belicistas que profere este burocrata "pacifista". Mas quem é?

Em Bissau, muita gente se deve lembrar do senhor, pois esteve à frente do gabinete integrado para a construção da paz na Guiné-Bissau, UNIOGBIS. Trata-se do elo de ligação entre a ONU e a CEDEAO, mafia veementemente despejada pelo primeiro decreto presidencial.

Não é apenas a CEDEAO que está em causa no Níger. É também o carácter vincada e tendenciosamente pro-ocidental que a ONU cada vez mais tem vindo a assumir nos mandatos do verme Guterres, que infectou a organização com um vírus maçónico franco-dependente.

Perante a crise de negação (em linguagem pedagógica fala-se em birra) do chefe, revelam finalmente a sua verdadeira natureza: quando "pacíficos" burocratas se assumem como beligerantes incendiários, teremos forçosamente de questionar o paradigma "peace making".

A marionete propala um bluff de prontidão da força em alerta, configurado numa euro-centrada metáfora belicista de "dia D", a qual só estaria à espera de luz verde, quando se sabe que a luz, para metade dos cidadãos da CEDEAO está amarela, e vermelha para a outra metade.

Mas também não me parece isto o mais importante. São as deixas nas entre-linhas. Este ex-comunista reconvertido em burocrata é um leigo na matéria e não compreende obviamente a linguagem dos profissionais. Só está interessado em comunicação de massas.

Vamos lá juntar as pontas. O dia é 6 de Junho de 1944, o D é de desembarque. Enquanto os receptores gostariam de ouvir coisas práticas, como composição do contingente, calendário de operações, modus operandi, afirma que se tratará de uma operação cirúrgica e de curta duração.

Parece óbvio que nenhum militar responsável pode ser tão inconsciente a ponto de alimentar esse discurso. Faz lembrar de como acabou a caveira do coronel que a 7 de Junho de 1998 prometeu a Diouf resolver a questão da Guiné-Bissau em menos de 24 horas.

Uma leitura plausível antecipa algumas escaramuças na fronteira do Bénim para diversão, com desembarque aero-transportado em Niamey de carne para canhão senegalesa e marfinense, com apoio da legião e tropas especiais francesas, a pretexto de salvar os seus.

Quem te avisa...

 “Je voudrais lancer un appel à mon cadet le président du Sénégal et à notre doyen le président de la Côte d’Ivoire. Il ne faut pas être utilisé par une puissance étrangère pour son agenda personnel.” 

Choguel Maïga, Primeiro-Ministro de transição do Mali

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Não há fumo sem fogo

Na praça de Bissau, o câmbio do Euro - 1/656 - relativamente ao franco CFA - nomenclatura monetária XOF - que se manteve estável no último quarto de século, com pequenas e infinitesimais variações sazonais e por vezes pontuais, mas numa curta banda, está a dar sinais, pela primeira vez, de especulação, a subir 5F por dia, na última semana: hoje, já só se conseguia comprar 1 euro por 685 francos. 

Os especuladores costumam ter razão, descontando instantaneamente possibilidades reais, mesmo que não se venham a concretizar e volte tudo ao normal: é claramente um indicador de que parece estar a crescer o receio - ou o risco, para manter o discurso probabilístico - de o Banco de França deixar de honrar a convertibilidade - ou desvalorizar os termos, como aconteceu em 1994, no caso para metade.

É que 3 dos 8 países que formam a UMOA, estão fora. Por outro lado, pode representar também a antecipação da tentação, para os franceses, de financiarem a guerra imprimindo moeda. Depois do COVID e da guerra na Ucrânia, mais um factor passível de contribuir para a inflação e aumento do custo de vida. Visto pelo lado positivo, o fim do CFA pode finalmente representar boas notícias para o ECO.

Aliança terrorista

Gato escondido com rabo de fora. Por detrás da retórica do quay d'Orsay obstinando-se em tentar demonstrar perante a opinião pública que o golpe degradou a situação securitária do Níger, apontando os recentes ataques, está a aliança terrorista de Macron, aliás já denunciada pelo Mali e pelo Burkina, a qual foi a razão objectiva, nos bastidores do próprio golpe. 

Efectivamente, chamado o chefe da guarda ao Palácio para ser confrontado por Bazoum com um decreto de libertação de um contingente de terroristas, este opôs-se firmemente: face à teimosia do presidente,  percebendo que este estava irremediavelmente reduzido a uma marioneta das manigâncias francesas, Tchiani deu-lhe ordem de prisão. Apesar de o referido decreto não ter chegado a ver a luz do dia, os franceses apressaram-se a libertar os ditos, no que foram imediatamente denunciados pela Junta Militar. 

A contra-partida da dita libertação seriam estes atentados, na zona das três fronteiras, coração dos países considerados como renegados por Paris. A hipocrisia, imagem de marca histórica da FrançAfrique, radicaliza-se perante o avançado estado de degradação do seu estado de saúde. Já não há quimioterapia que lhe possa valer, nada a fazer contra o cancro terminal...

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Reviravolta da União Africana

As cadelas apressadas parem os cachorros cegos. 

Moussa Faki Mahamat, presidente em exercício da União Africana, que a semana passada anunciara a "firme condenação do golpe" em apoio à cimeira da CEDEAO foi, segundo o Le Monde, desmentido pela Comissão competente, de Paz e Segurança, no fim de uma reunião "tensa e interminável", a qual se prolongou por mais de dez horas. Decisão surpreendente, quando se sabe que a UA anda, regra geral, a reboque das organizações sub-regionais. 

No mesmo artigo, um especialista considera que seria "uma contradição inédita, recorrer à força sem aprovação da UA", referindo-se ainda a um crescendo de interrogações quanto à legalidade de tal intervenção. Obviamente que na ONU, idem, nenhuma resolução passará, estando o veto da Rússia garantido, muito provavelmente associado ao da China. É a machadada final nos delírios de Ouattara e nas pretensões belicistas de Macron.

domingo, 13 de agosto de 2023

Espada de Damocles

Tinubu está refém do apoio dos líderes religiosos, único entrave a um golpe de estado, cujos rumores se intensificam. O novo presidente do Níger já foi informado, perdoando a ofensa, em atenção ao futuro. Claro que uma muito improvável mudança de ideias servirá obviamente de detonador. A Nigéria está definitivamente fora da lógica intervencionista da CEDEAO.


Paris não apreciou o reconhecimento da Junta por parte dos Estados Unidos, os quais enviaram nova embaixatriz de alta posição. Cada vez mais isolado, Macron, em plena negação, está definitivamente num beco sem saída. 

Acordo secreto

A representação de líderes religiosos nigerianos ao Níger voltou para Abuja com boas notícias, nomeadamente desbloqueando a disponibilidade para negociar da Junta, a qual, segundo o insuspeito The Washington Post, está na mó de cima. O restabelecimento do fornecimento de electricidade seria um sinal inequívoco de Tinubu, lavando o erro inicial.


Perante o relatório médico do presidente deposto, resta denunciar Ouattara e Guterres como terroristas, atendendo às infundadas acusações e calúnias relativas às suas condições de retenção. O deposto até pôde conservar os meios de telecomunicação! Não tem luz? Se Niamey está às escuras devido às sanções, essa acusação só pode dar vontade de rir!

PS quanto a Bazoum, tem solução simples: assina e baza!

sábado, 12 de agosto de 2023

Ponto da situação

Conhecido o empenho de Paris na manipulação da CEDEAO, organização em vias de extinção, através da intoxicação da opinião pública simulando pretensos "consensos" ou procedendo a pouco fidedignas contagens de espingardas, vem este blog clarificar um ponto da situação, detalhando a posição actual de cada um dos 15 países da CEDEAO perante a perspectiva de vir a contribuir para uma intervenção militar.


Nigéria - o presidente Tinubu, já internamente fragilizado, percebeu a tempo que a sua inexperiência o levou a exorbitar, à saída da primeira cimeira, pelo que já engoliu o sapo e aderiu à "via negocial", consciente dos riscos de ser o próximo na lista de depostos. 

Ghana e Benin - apesar de surgirem como agressores na maioria das listagens, fonte estratégica francesa reconhece que são desfavoráveis à intervenção militar.

Togo - Faure cheirou o perigo desde cedo e irritou Paris ao deslocar-se a Niamey por conta própria. Apostado em ser reconhecido como mediador, dificilmente contribuirá para o esforço de guerra.

Gâmbia - militarmente ocupada, não entra para a conta: o presidente, fantoche de Macky Sall, fez-se representar por personagem secundária.

Serra Leoa e Libéria - segundo a Jeune Afrique, exprimiram sérias reticências durante a última cimeira, sendo citados ao lado de Cabo Verde.

Cabo Verde - o presidente fez-se representar na cimeira da palhaçada e mal chegou o seu emissário produziu fortes declarações contra a intervenção.

Guiné-Bissau - segundo a Constituição, a definição da política externa compete ao Governo, o qual tomará posse hoje, competindo a declaração de guerra à Assembleia. É altamente improvável que o país alinhe na loucura, podendo mesmo o assunto tornar-se no primeiro percalço da cohabitação agora encetada.

Senegal - a braços com uma situação interna escaldante, Macky Sall faz jus à fama de serviçal de França de que o acusa o opositor Sonko, o qual mandou prender. O melhor será ir-se preparando para o golpe...

Costa do Marfim - o velhadas de recados de Paris está completamente cheché. A pedido de Macron, para tentar conservar as aparências de credibilidade e consistência de uma cimeira falhada, produziu declarações de improviso, reforçando-as com o contributo de um batalhão, cerca de mil homens. Ahahahah. Se o ridículo caquético tivesse alguma noção da realidade, ou alguma vez na vida tivesse jogado poker, saberia que neste tipo de game não há marcha atrás. Avec la mise à 1000000, veut "monter" à 1000? C'est sur ça que tu paries, Paris?

Em resumo: as posições estão bem marcadas. Só os dois fantoches de Paris se dizem ainda dispostos à solução militar, dispondo para o efeito, para já, de mil homens, para enfrentar os restantes quatro países membros, Mali, Burkina, Níger e Conacri. 

Ou seja, depois do flop do primeiro bluff , um segundo disparate apenas para tentar salvar uma face já perdida, como quem tapa o sol com a peneira e entrando em clara negação. Ora negação é precisamente a palavra que melhor descreve a política de Macron que vai a enterrar com a CEDEAO. 


Acrescente-se que a organização, tal como consta da sua designação, é de cariz económico, anda há décadas a tentar, sem sucesso, implementar uma moeda única, não dispondo de enquadramento legal para a agressão, pelo contrário, estipulam as alíneas d) a f) do artigo 4 do seu Tratado constituinte:


d) a não agressão entre Estados membros; e) a manutenção da paz, da segurança e da estabilidade regionais pela promoção e reforço das relações de boa vizinhança f) a resolução pacífica dos diferendos entre Estados membros, a cooperação activa entre países vizinhos e a promoção de um ambiente diplomático pacífico.


Finalmente, e não menos importante, a opinião pública da CEDEAO (e também respectivas diásporas) posiciona-se claramente contra a intervenção, multiplicando-se por todo o lado, os manifestos da sociedade civil, partidos, ou mesmo grupos de religiosos e de intelectuais.

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Assalto popular

Numa atitude soberana, o povo decidiu corajosamente avocar em causa própria a hostilização da presença militar francesa. Não parece que os manifestantes estejam dispostos a largar o osso até consumação do seu propósito. Os dados estão lançados: acabaram-se os tempos do paternalismo hipócrita. Todos os resultados possíveis são desfavoráveis à França. Macron, se quiser evitar a tragédia em que esse confronto acabará forçosamente por degenerar, terá de providenciar garantias de evacuação expedita. Faltam vinte e poucos dias para expirar o ultimato da Junta Militar e escusa obviamente de contar que a CEDEAO chegue a tempo de salvar os seus soldadinhos, os quais não são de chumbo, para brincar assim. É que, estando chumbados pela população, podem vir a apanhar com ele.  

Feiosa desespera

A MNE francesa, mesmo reconhecendo que ninguém lhe perguntou nada, vem oferecer-se. É o neoColonnalismo em acção, na sua máxima expressão.

Comunicado final prolonga agonia

A própria opinião pública francesa parece já ter percebido que a suposta decisão de "restaurar" o regime deposto no Níger não passa de uma tentativa de salvar a face da CEDEAO. Um derradeiro bluff moribundo. 


Teria sido mais honesto, na linha das opções enunciadas pelo presidente democraticamente eleito da Guiné-Bissau à partida para a Cimeira, assumir a realidade e optar pela eutanásia da organização.

Tradutor CEDEAO

Atendendo ao novo formato de comunicação dos chefes de Estado da CEDEAO, dispensando qualquer fundamentação legal para as suas exorbitâncias, justifica-se um pequeno glossário clarificando o vocabulário empregue.


IMEDIATAMENTE - lapso temporal bastante alargado, que pode variar entre sete semanas (o tempo que Macky levou a organizar o assalto à Gâmbia ali mesmo à mão, caso citado no comunicado final) e as calendas gregas, ou seja, dia de São Nunca

ACTIVAR - arranque de preparação caótica sem instruções precisas ou marcos temporais de organização, a soldo de eventual financiamento estrangeiro, dependente de decisões estratégicas contraditórias, impraticáveis e inconsequentes 

FORÇA DE ALERTA ANTI-GOLPE - suposto braço militar da CEDEAO, ainda sem qualquer suporte legal para além das decisões tomadas em Conferência de Chefes de Estado da organização, cuja constituição e orgânica fica dependente da "Autoridade"

AUTORIDADE - figura suprema signatária, escolhida para assumir precisamente aquilo que Ouattara não tem para este efeito, ou seja, autoridade. A CEDEAO não tem qualquer legitimidade para agressão soberana contra 4 dos países constituintes.

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Ouah-ouah le chien de Paris

Ouah-ouah taré a signé sa sentence de mort. Les ivoiriens ne voulant pas de guerre civile, coup d'état assuré bientôt à Abidjan. 

Bola rebola

《It is crucial that we prioritize diplomatic negotiations and dialogue as the bedrock of our approach. We must engage all parties involved, including the coup leaders, in earnest discussions to convince them to relinquish power and reinstate President Bazoum》


Tal como previsto, Tinubu, após a recusa do Senado e a representação dos líderes muçulmanos, é constrangido a recuar. A Junta do Níger com o Burkina, o Mali e Conacri venceu em toda a linha,  derrotando e desacreditando por completo a CEDEAO e a perigosa tendência intervencionista que se vinha desenhando, sem qualquer base legal. Depois deste patético discurso de abertura, está mais que visto que o resultado final desta Cimeira não passará de umas tantas sanções pífias, deixando os franceses a chuchar nos dedos, nos cornos do boi. A montanha pariu um rato.

La republique ne censure pas

Et c'est bien. Le quai d'Orsay mérite l'éloge. Que celà soit possible aujord'hui, permet d'esperer que la France sera capable de se retrouver. 


"Vous avez oublié vos petits soldats qui pillent notre sous-sol. Merci de faire un dernier tour."

Gbehi Bakari Ben


Em comentário à última notícia,  de há 5 dias atrás, na página oficial do facebook da França no Níger, a qual dava conta de ter terminado a evacuação civil.

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Pseudo-desmentido

Paris confirma oficialmente violação do espaço aéreo do Níger hoje ocorrida e denunciada pela Junta Militar, invocando autorização escrita das autoridades depostas, que considera legítimas.

Funeral


De partida para a cimeira da CEDEAO, presidente guineense, imediatamente retomado pela imprensa francesa, profetisa enterro ⚰ da organização.

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Ambiente hostil

Paris demonstra a sua incoerência e ingratidão: depois de ter conseguido proceder a uma evacuação paranóica e desnecessária dos reféns do povo, em "articulação com as autoridades", nega-se a retirar os seus militares, não reconhecendo outra autoridade senão o ex-ante. Depois da denúncia dos acordos e com a ameaça da CEDEAO (liderada por dois países em situação interna complicadíssima, a Nigéria e o Senegal, ao contrário da calma que se verifica em Niamey), o aeroporto torna-se um ponto fulcral para a segurança do país. Será que Macron precisa de um ultimato, para perceber que está a transformar os seus soldados em alvos, por uma causa perdida? Intolerável, a ameaça de operação aerotransportada acolhida no coração. A última oportunidade para uma ponte aérea tranquila e responsável vai esgotar-se rapidamente, mal darão por isso. Façam uma pausa kitkat. Remember Dien-Bien Phu ou, já que também estão voltados para o lado da Rússia, as frágeis estruturas que lançaram sobre o rio Berezina.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Ministro da Defesa italiano previne Macron

Minister Crosetto cautioned against any “intervention by white Europeans to resolve an internal matter,” which “would risk having deflagrating effects.

Para quê deixar para trás os militares? Não deveriam partir com os civis? Uma simples nota emanada do Estado-Maior afirma que tal assunto não está na ordem do dia? Precisamente, está! Quanto mais Macron esticar a corda, maior será a queda para trás.

Questões de legitimidade

Não deveria espantar que uma Nação, quando confrontada com desafios securitários maiores, arranje forma de promover as lideranças adequadas para lidar com a situação prevalecente. Quando é preciso pegar em armas para garantir a soberania, uma liderança civil não é a mais adequada, muito menos a democrática, ou seja, dependente dos humores das urnas. 


Há tarefas unânimes e urgentes a resolver, contando com o sufrágio directo do povo. Os actuais "golpistas" no Mali, Burkina Faso e Níger, são legítimos representantes dos seus povos, como se pode aferir pelas efusivas manifestações populares de apoio.

A nova Federação está militarmente assumida, um primeiro passo para a sua constituição. O acesso ao mar está, para já, garantido pela Guiné-Conacri. Com o Senegal a arder, as fagulhas vão acabar por incendiar a torre de marfim... o fedor nauseabundo que exala o caixão da política macroniana para África, arrisca-se a alastrar e contaminar toda a sub-região. Trata-se de uma reacção visceral.

Lapidar

La France encaisse humiliation sur humiliation. Le coup d’État au Niger vient de lui en infliger une de plus. Le coup d'État dont a été victime le président du Niger le 27 juillet plante le dernier clou dans le cercueil de la politique macronienne au sud du Sahara.

in Le Point

Contra-Ultimato solidário

Une intervention militaire au Niger pour rétablir le président élu Mohamed Bazoum, renversé par un putsch, serait considérée comme "une déclaration de guerre contre le Burkina Faso et le Mali", selon un communiqué des deux gouvernements lundi. Ils se sont exprimés au lendemain d'une menace d'usage de "la force" par les dirigeants ouest-africains réunis à Abuja, la capitale du Nigeria. En cas d'intervention militaire au Niger, Bamako et Ouagadougou menacent de se retirer de la Cédéao (Communauté économique des Etats d'Afrique de l'Ouest) et "d'adopter des mesures de légitime défense en soutien aux forces armées et au peuple du Niger".

Voir aussi la Guinée

Paranóia diplomática

O quai d'Orsay, acometido de virulenta paranóia, emite uma nota que transforma todos os civis franceses no Níger em potenciais reféns. Ao estabelecer cenários de evacuação, remetendo seu agendamento para momento posterior, acrescentando que não haverá serviço de autocarro, ou seja que cada qual deverá transportar-se "pelos seus próprios meios" até um ponto de encontro também a indicar, parece mais passível de servir para criar o pânico, do que a surtir o desejado efeito tranquilizador. Além disso, mantendo-se em vigor uma interdição do espaço aéreo, já solicitaram as necessárias autorizações às novas autoridades de facto?