sexta-feira, 3 de abril de 2015

Tento na língua

Doka

Lamento que reivindiques a liberdade de expressão num sentido pelos vistos apenas negativo. Por exemplo, se eu chamar assassino a José Eduardo dos Santos e lembrar o caso Milocas Pereira, não andarei muito longe da verdade, não podendo portanto tratar-se de difamação, mas apenas de vulgar e redundante confirmação. Eu respeito a pessoa de José Eduardo dos Santos, compreendo que não tenha tido uma vida ou uma formação fáceis, que tenha sido muito calejado pela guerra e inspirado num modelo de governação centralizado e, pior que autoritário, totalitário. Posso criticar toda a porcaria que tem feito, mas isso não me dá legitimidade para inventar que violou a filha quando tinha 11 anos, ou que o pai não gostava dele.

Compreendo igualmente que, de todo o leque de insultos com que costumas mimar os inamigos do momento, a tua preferência vá para a falta de pai, que sofreste físicamente. Compreendo-o duplamente, porque, embora o meu pai tenha estado presente fisicamente até há relativamente pouco tempo, sofri imenso dela, moralmente. Infelizmente, posso dizer que aprendi mais com o meu avô paterno (talvez por este o ter percebido e querido suprir). Tenho ainda hoje um buraco, em mim. Não se infira daqui que eu não gostava do meu pai... Bem pelo contrário: quando foi colocado na Guiné-Bissau como cooperante, fiz uma interminável birra para convencer a minha mãe a deixar-me ir com ele (tinha seis anos). E consegui.

No entanto, todos temos de crescer, de aprender a conviver com as nossas frustrações. Dizia humildemente  Daba um dia destes: aprender a não pesar sobre os outros. E isso, para ti, talvez devesse significar cultivar um ambiente de amor e respeito, ajudar a reconstruir, positivamente, uma casa onde valorizemos todas as coisas lindas que nos unem, uma república de «meninos» que continuam sempre a aprender, pela vida fora, numa saudável convivência e confraternização. A mudança tem de vir de dentro. E, neste momento, estás a arriscar tornares-te uma imagem negativa e quase diabólica, como tu próprio dizes, perpetuando os males que sofreste. Preferia ver-te num outro papel, mais construtivo, interropendo a máquina infernal.

Posso ser suspeito, por ser amigo do Leopoldo e da Carmelita, quase que os «apresentei», apadrinhei o namoro em Lisboa, durante a guerra, andei ao colo com o filho desse casamento, posso afiançar que foi dos mais felizes que me foram dados a conhecer (pelo menos na minha geração); guardo, aliás, algumas fotos dessa altura; mas, mesmo que tivesse sido um desastre total, a que propósito o publicitarias tu? Apenas para fazer doer? Porquê a necessidade doentia de presumir que a roupa está sempre suja, a precisar de ser lavada? Mas voltando ao amor de pai: parece-me que estás a tentar injustamente projectar nos outros a tua própria frustração, que poderias utilizar precisamente em sentido inverso, para tentar romper o ciclo vicioso.

E, se bem que já não tenha grande intimidade com a família Pires, posso afiançar-te na primeira pessoa que o patriarca é um homem carinhoso, com muito orgulho na filha, a qual teve uma infância imersa no caldo multi-étnico guineense, de balanta a fula. Peço desculpa a uns e a outros por esta intromissão, mas detesto ver qualquer pessoa injustamente vilipendiada, ainda para mais quando se trata de amigos, de pessoas por quem nutro respeito. Isto transcende este caso, Doka, prendendo-se antes com o espírito da abordagem que empregas. Ainda tenho esperança que venhas a assumir um importante contributo positivo, por isso gostaria que mudasses de atitude; até lá, discordo em absoluto desta impiedosa obsessão.

8 comentários:

Anónimo disse...

Caro, Amigo. Não sei porque razão não gosta de publicar os meus comentários... O blogue é seu? Acho que não é só seu...é de todos os cybernautas ou publico em geral.Por isso, desde que não ofendam as pessoas, bem ou mal escritos, os comentários devem ser publicados! Ou será que os comentários teriam que ser por conveniência?

7ze disse...

Já foi avisado(a) de que eu não faço favores: não publicarei sempre que incluir a observação «Publique por favor». Claro que isso não inibe outros critérios de exclusão, até porque, tendo aplicado a moderação de comentários, corro o risco de que interpretem o nihil obstat como anuência ou concordância com os conteúdos. De qualquer forma, agradeço o elogio, de que o blog do 7ze me ultrapassa pessoalmente: não tenho problemas em assumir uma partilha crítica.

Anónimo disse...

Se é assim, publique o meu comentário "Rapaz"!

Anónimo disse...

O que mais me espanta é não ter amigos e familiares que o possa aconselhar para deixar de ter esse tipo de comportamentos (de insultos obsessivos e gratuitos) a Cidadãos Normais e ou Governantes de um País que os viu nascer, mas que eles não respeitam!

Ninguém está isento de Criticas, mas tudo tem limites! Isto é, podemos criticar (não insultar) as pessoas no exercício das suas funções públicas, mas não atingi-las "desonestamente" na esfera familiar!

Não confundam a Liberdade com a Libertinagem!

7ze disse...

E, já agora, sempre pronto a reivindicar os seus direitos, porque o faz como anónimo? Talvez ganhe credibilidade dando a cara.

Anónimo disse...

Faço-o como anônimo por ser mais fácil publicar comentários como tal! Pois o outro caminho (preenchimento disto e aquilo...) leva a perder muito tempo, sem necessidade para tal!

Por outro lado, queria saber porque razão cortou (Censurou) a parte mais interessante do meu comentário? Ou já estamos, outra vez, no tempo do Estado Novo?

7ze disse...

Não o vou deixar insultar o Doka sem dar o nome. E vou deixar de publicar o que quer que seja, se não abandonar esse tom de desafio. No meu blog, para todos os efeitos, mando eu. Se quiser submeter o seu blog sobre a Guiné-Bissau, onde expresse o que lhe apetecer, talvez o acrescente à minha lista. Sob anonimato, terá de moderar as suas intervenções, de modo a não ferir susceptibilidades. De qualquer forma, não adulterei o sentido, com alguns cortes cirúrgicos.

Anónimo disse...

Oh, Sr. Zé...aquilo que eu escrevi naquele comentário é bem menos "grave" que aquilo que você escreveu sobre ele! Acha que pedir alguém para que tenha "Tento na Língua" é um elogio?

Tom de desafio? Simplesmente dou a minha opinião... O Blogue, como já lhe disse, não é só seu... O contrário é o Blogue ser visto só e só por si! Isto é, o blogue não seria Público!!! Seria Privado, meu!!! Entendeu?

Não feri susceptibilidade nenhuma! Limitei-me a relatar aquilo que todos vêm mas ninguém diz nada!

Para o seu conhecimento, actualmente, tenho um blogue fala das Tecnologias de Informação e Comunicação e para breve, terei um que falará da Guiné-Bissau (sobretudo) e do Mundo a nível Geral!

Um abraço do tamanho do Universo!

Viva a Guiné-Bissau livre de Imperialistas, Fascistas, Neocolonialistas,Corruptos, Intriguistas e Separatistas!

J.A.A.C.