Morte de clandestino coloca a descoberto a «caça» aos estrangeiros em Luanda
Um comerciante clandestino originário da Guiné-Bissau morreu depois de ter sido percutido por um táxi, quando tentava escapar a um controlo da polícia. A sua morte provocou a cólera dos imigrantes da África Ocidental, que se dizem assediados quotidianamente pela polícia angolana.
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Na Terça-feira dia 22 de Abril, Mamadu Injai Darame, comerciante originário da Guiné-Bissau com identificação da Guiné-Conacri, dirigia-se, a pé, para o Bairro Cuca em Luanda, onde tinha por hábito apanhar um táxi para voltar para casa, depois de uma manhã de trabalho. Repara então que dois polícias de moto se aproximam, polícias conhecidos por tomarem frequentemente os imigrantes como reféns para exigirem resgate. Como não dispunha da documentação legal, tinha medo de ser expulso do país, e coloca-se em fuga em direcção de uma via da auto-estrada, perseguido pelos polícias. É então percutido por um táxi, provocando-lhe morte imediata.
A polícia angolana tenta então estabelecer um perímetro de segurança, mas é depressa ultrapassada pela multidão em fúria que acusa os polícias de estar na origem da sua morte. Os populares conseguirão finalmente tomar conta do cadáver e organizam um ajuntamento espontâneo durante dez minutos «para impedir a polícia de levar o corpo», segundo as testemunhas.
VIDEO DA MANIFESTAÇÃO ESPONTÂNEA
O embaixador da Guiné-Bissau encontrando-se fora de Luanda, foi o seu homólogo da Guiné-Conacri que esteve no local, tentando apelar à calma, em vão. Depois da chegada de reforços, a polícia conseguirá, alguns instantes mais tarde, dispersar a multidão e recuperar o corpo.
Moctar é comerciante em Luanda. Estava com Mamadu Darame, quando se deu o acidente. «Todos os dias, fechávamos as nossas lojas, e ia com o Mamadu à Praça Cuca, mas sempre com medo. Os controlos da polícia são muito frequentes: os estrangeiros [africanos, presuma-se] são sistematicamente detidos. No melhor dos casos, saem depois de pagar «resgate», que pode atingir centenas de dólares, no caso de polícias especialmente zelosos. No pior dos casos, sendo clandestino, é-se preso e maltratado, antes de ser expulso.
Mamadu tinha 45 anos. Tinha chegado a Angola há pouco mais de sete meses. Como pai de família, tinha decidido deixar a sua mulher e os seus filhos na Guiné-Bissau, para poder garantir a sua subsistência. Éramos ambos comerciantes. Conseguimos ganhar cerca de 500 dólares por mês, quando os negócios corriam bem. Nos nossos países, não conseguíamos mais do que 100. O meu amigo morreu porque queria escapar à polícia angolana para continuar a ajudar a sua mulher e filhos [por enquanto, o corpo do comerciante continua confiado às autoridades angolanas.]
Artigo redigido em colaboração com Alexandre Capron (@alexcapron), jornalista na France 24.
1 comentário:
Os medos das pessoas, são significantes: ir preso (ser espoliado e espancado, uma versão institucionalizada do caxóbodi cabo verdeano) ou que a polícia recolha o corpo (para eliminar a prova).
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