quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Quem te avisa...

Recebi um email de uma pessoa amiga, criticando-me por não ter propriamente «comemorado», com produção própria, mas apenas «comentado» as comemorações do 24 de Setembro. Além disso, o artigo de João Galvão Borges «galvanizou-me», com a sua matriz mental «dialéctica» (no bom sentido). in Quo Vadis, PAIGC

«Creio entretanto que Amílcar Cabral se sentiria bem mais homenageado e bem mais feliz (!) se soubesse implementados os Princípios que lhe eram caros: a honestidade, a competência, a seriedade, a lealdade e a abnegação dos seus compatriotas para que as suas tão queridas terras, Guiné-Bissau e Cabo-Verde, alcancem a verdadeira Liberdade, a verdadeira Paz e finalmente os almejados Progresso e Felicidade dos seus respectivos Povos. E aqui creio que não pairam dúvidas!»

Apraz-me igualmente citar o humilde e construtivo apelo à crítica, com a qual me identifico plenamente e que corresponde ao «protocolo» que tenho defendido quanto aos comentários no meu blog:

«De igual modo aproveito para afirmar que me sentirei, em todas e quaisquer circunstâncias, beneficiado com qualquer opinião contrária ainda que seja firmemente discordante, desde que sustentada por válidos e credíveis argumentos. Porém, sempre vou dizendo que por mais válidos e credíveis que sejam os argumentos, as vozes discordantes terão de saber respeitar a ética e deverão dar provas de transparente decoro.»

O João Galvão Borges, decidindo-se a fazer um blog e a empenhar-se com a sua análise na actual conjuntura, viria decerto trazer uma nova e original visão, um imenso valor acrescentado em termos de reflexividade, contribuindo assim para aumentar as probabilidades de um desenlace feliz para o projecto de estruturação em curso.

Mas entrando no assunto propriamente dito: o autor deste artigo, no curso da sua brilhante análise das desequilibradas relações entre a Guiné-Bissau e Cabo Verde, cita, como precedente para a deposição de Luís Cabral, um

«relatório apresentado nessa ocasião pelo então Secretário Geral do PAIGC Aristides Pereira, tomava a forma de uma peremptória e verdadeira condenação a todas as formas de desvios à linha de A. Cabral. E a resolução final alertava os militantes e quadros do Partido contra todos os desvios ideológicos e particularmente contra os que resultavam da passividade e da falta de rigor ideológico tais como a irresponsabilidade, a tolerância aos erros, a negligência no trabalho, o pragmatismo excessivo que não tome em conta os elementos políticos do problema a solucionar, a atitude tecnocrata e a burocracia erigida em forma de governação, a improvisação como método de trabalho, a tendência a se esquivar às orientações e ao controlo do Partido, o favoritismo (amiguismo), o nepotismo, a ostentação e a ambição pessoal.»

Este fragmento lembrou-me algumas das «mise en garde» de Cabral, que, premonitoriamente, já tinha avisado para esses perigos. Fui portanto à procura delas. Embora um pouco atrasado, aqui fica portanto o meu contributo para a reflexão, sobre esta data.

Nas palavras de ordem e directivas do Partido encontrei: «Devemos combater o oportunismo, a tolerância diante dos erros, as desculpas sem fundamento, as amizades e a camaradagem com base em interesses pessoais».

No panfleto «História da Guiné-Bissau e Ilhas de Cabo Verde», maioritariamente escrito e revisto por Cabral, pouco antes de morrer:

«O homem está em condições de produzir em alguns minutos e com pouco esforço o que outrora exigia o trabalho de milhares durante meses (...) Sob a dominação imperialista, o desenvolvimento da produção, conseguido graças ao progresso da ciência e da técnica, tem por objectivo assegurar os mais altos lucros, ao mesmo tempo que se conservam ao mais baixo nível possível os salários, o poder de compra dos trabalhadores. O sistema económico vê-se assim encerrado numa contradição insolúvel. Enquanto milhões morrem de fome, destroem-se em massa produtos alimentares, não porque as massas não tenham necessidade deles, mas porque não têm com que pagá-los. (...)
Nos países onde se adquiriu a independência política, mas em que esta foi confiscada em proveito de minorias exploradoras locais, estas, para consolidarem e manterem os seus privilégios, não demoraram a entender-se com o imperialismo e a manter ou restabelecer a sua dominação: é o que se chama neo-colonialismo. A libertação nacional não poderá significar a transferência de poder dos colonos para uma minoria exploradora nacional, cujo papel não pode ser outro senão o de lacaio do imperialismo.»

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