Os engenheiros costumam criticar os arquitectos por estes «começarem» a casa pelo tecto, por colocarem a carroça do «belo» à frente dos bois (a viabilidade económica).
Já DSP, que alimenta uma relação demasiado compulsiva com o espelho, parece adoptar uma estratégia algo diferente: dar início à obra pela fachada.
Foram hoje apresentadas duas páginas oficiais do GOVerno na Internet, sob o domínio nacional GW.
Uma, pomposamente designada de «Portal», apresenta a composição do Governo e o seu Programa. Parece ser sintomático que uma página com menos recheio que um blog, pretenda ufanar-se dessa designação, que Didinho sempre recusou humildemente para o seu site sobre a Guiné-Bissau (aquele que, de longe, mais se assemelhou à definição de «Portal»). Um portal não é uma lista de currículos, «completada» com o anúncio de futura actualização «frequente».
É algo de funcional, que não se resume a meia dúzia de copy/pastes, num design duvidoso, que ninguém se deu ao trabalho de verificar (talvez por se pensar que ninguém cuida de mais nada para além da fachada).
Quis dar os parabéns ao meu amigo Florentino Mendes Pereira (que está muito bem conservado, para os seus 51 anos) por ter sido hoje promovido ao cargo de Primeiro-Ministro (é verdade, também não sabia, soube precisamente aqui por este novo, actualizado e autorizado Portal), liguei-lhe para o número de telefone que constava dos Contactos e responderam-me, em inglês (o que estranhei), que não conheciam nenhum Florentino. Julgo que deve haver algum número trocado, ou outra gralha parecida.
De qualquer forma, o país fica claramente a ganhar, pois parece já perfeitamente óbvio que DSP não foi talhado para a missão que dele se esperava, parecendo incapaz de se rodear das pessoas mais indicadas, ou sequer de dialogar e reunir consensos, deixando antever um inevitável lamento do tempo perdido que representou a sua governação.
Talvez tivesse sido mais pragmático fazer como a Ministra da Justiça, que prometeu primeiro uma simples página, evoluindo depois consistentemente para um Portal: é que torna-se mais convincente, mais persuasivo. Um verdadeiro Portal inclui os mecanismos necessários à sua reprodução e actualização. Já agora, recomenda-se que solicitem à senhora Ministra as suas últimas Intervenções oficiais. Não basta estarem previstos os sítios para as coisas, se não existir depois qualquer conteúdo relacionado (quando esses discursos até estão na internet, onde os poderiam ter ido buscar: que preguiça imperdoável; perante evidências deste calibre, torna-se difícil acreditar nas promessas de actualização, levando-nos antes a suspeitar que se trata apenas de mais um projecto sem amanhã).
Outra página, para francês ler, comporta a visão idílica resultante da «epifania» do Primeiro-Ministro, na cândida postura de uma criança que acredita no Pai Natal: fez uma extensa lista de pedidos, na qual todos os seus desejos são «prioritários», partindo do pressuposto de que serão todos concedidos. No entanto, não se sabe se o seu sorriso será suficiente... esperemos que não vire amarelo.
O problema, ao contrário do que insinua o irmão Doka, não está nos consultores tugas, que evidentemente não fazem a mínima ideia de como chegar ao Paraíso prometido por DSP, estando apenas interessados no seu quinhão daquilo que parecem encarar como maná dos Deuses. O que já deu lugar a avisos à navegação por parte do Presidente, criticando aquele que parece ser o espírito prevalecente do endividamente «a todo o custo». O problema parece ser o próprio DSP, que chega a ser patético: para além da sua incipiente e inconsistente abordagem governativa, demonstra ser inconsequente, o que parece deveras preocupante, quanto à racionalidade da utilização dos Fundos a serem colocados à disposição pelos parceiros.
O mais importante, como argumento de credibilização, consistiria na criação de mecanismos de acompanhamento dos financiamentos, garantindo uma eficaz transparência, o que não foi acautelado, apesar das várias recomendações. Ora só muito recentemente o Governo encetou timidamente o cumprimento de uma promessa eleitoral explícita, consubstanciada no seu Programa, prevendo a generalização de «auditorias multidisciplinares às empresas privatizadas por objetivos e aos Fundos autónomos com participação do Estado ou de interesse público: FUNPI, Fundo Rodoviário, Fundo do Turismo, Fundo de Mineração, etc…». Para além de um pequeno passo nesse sentido (lamentavelmente inspirado mais por guerrilhas políticas do que por convicção), da prometida transparência, nada se viu ainda. Muita parra, pouca uva.
É bom que DSP tenha deixado um plano de contingência para a eventualidade de os cenários não corresponderem às expectativas, pois nesse caso estaremos perante a maior urgência de uma verdadeira governação. Como Presidente do Partido, talvez devesse ter optado pelo cargo de Presidente da República. Terá sempre um papel a dizer, mas não deve, para isso, constituir-se como força de bloqueio da situação política, o que só pode prejudicar a imagem e os interesses do país. Teria tudo a ganhar em sair pelo seu próprio pé, de preferência depois de um «sucesso» em Bruxelas, abrindo caminho para uma solução institucional de compromisso, preservando assim a sua influência.
A China, que de qualquer forma privilegia as relações bilaterais, já deu o seu recado, cujo sentido não oferece qualquer dúvida. Entretanto, parece que José Eduardo dos Santos roeu a corda, sob pretexto aparentemente fútil. Esperemos que em Bruxelas não seja só fachada, como os cenários dos filmes de cowboys, nos quais a porta do Salloon dá... para a rua.
Dito isto, desejo boa viagem ao elenco governamental, com os votos dos maiores sucessos na mesa redonda.
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