terça-feira, 10 de março de 2015

220 kwanzas por dólar

A Lusa demonstra estar agora atenta aos relatórios do Banco de Angola, publicando instantaneamente o respectivo comunicado. Pena que, há duas semanas atrás, não estivessem tão atentos, por ocasião da publicação de um relatório completamente truncado (e ainda não rectificado, disponível na mesma fonte).

Da comparação do actual com o da semana passada, podem retirar-se algumas conclusões simples: o Banco de Angola não consegue «secar» mais do que o equivalente (à taxa oficial) a 10 milhões de dólares de Kwanzas em troca de dívida interna. Presumindo que a sistemática emissão desproporcionada não encontra tomador (não se percebendo nesse caso a razão da sua continuação), pois caso contrário, caso esses títulos do Tesouro estejam a ser negociados no exterior, mudam de figura, incrementando a dívida «soberana» (do soberano).

Depois de uma descarga de 600 milhões de dólares a semana passada, que conseguiu conter momentaneamente a óbvia depreciação acelerada do kwanza, mantendo o câmbio informal nos 130 Kwanzas, amplitude «normal», devido às restrições adoptadas à liquidez (é que há Kwanzas de primeira - aqueles que os bancos entenderem, em conluio com as autoridades - e Kwanzas de segunda), esta semana foram disponibilizados 400 milhões. Se o salto para a frente, a semana passada, se revelara aparentemente eficaz, já a simples reposição de níveis anteriores se revelou claramente insuficiente. O corte de um terço no aprovisionamento em dólares provocou um salto imediato no câmbio informal para os 160 Kwanzas por dólar.

Ou seja: na hipótese (académica, claro) de que o Banco de Angola deixasse de colocar dólares no mercado, e já que estamos a falar em terços basta uma regra dos três simples, se a um terço corresponde um salto de 30 Kwanzas, três terços equivaleriam a um salto de 90 Kwanzas, a somar ao câmbio informal... Ou seja, a cotação implícita do Kwanza cifra-se actualmente nos 220 por dólar (com tendência para subir, como frisa o artigo, referindo o aumento do «spread» informal de 1000 para 1500 kwanzas na nota de 100 dólares). E ainda a procissão vai no adro, com o petróleo a arrastar o passo. Pelos vistos, o bluff não pegou.

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