Depois da ignóbil e abjecta ofensa às Forças Armadas guineenses que consistiu no anúncio da cooptação de dois adidos militares portugueses (e seria bom que publicitassem o respectivo currículo)
[Não digo que, numa base de confraternização e, como antigos inimigos
conhecedores do terreno e das tácticas mais adequadas ao cenário, se não
pudessem convidar antigos combatentes portugueses reformados, para
«partilhar» essa formação, mas nunca «envernizados» de carreira com
pouco «sumo».]
para decisões de política e estratégia militar nacional (violando manifestamente, num domínio sensível, o espírito do Artigo 28º da Constituição da República), resta assumir que a «Reforma» das Forças Armadas continua a ser a «galinha dos ovos de ouro» do Executivo, numa espécie de «chantagem» com um «regresso ao futuro», agitando perante o exterior o espantalho de um levantamento militar: lamentável que as Forças Armadas se vejam reduzidas a simples engodo, na pesca ao «financiamento» dos parceiros. Mas a cavalo dado não se olha o dente...
No entanto, essa perspectiva parece bastante perigosa: é inconcebível que sejam outros a pensar por nós em assunto dessa importância e, no mínimo, desajeitado, apresentá-lo dessa forma degradante para a soberania nacional. Qual a razão pela qual se parte do princípio de que não existem recursos humanos à escala nacional?
Estive a ouvir as declarações prestadas à Rádio ONU pelo Presidente do Tribunal Militar. Ouvi o choradinho do costume: necessidade de formação, ausência de meios, etc. O mais importante, não é o equipamento, mas sim a capacidade de o entender: material, acaba sempre por se arranjar, o mais importante é a competência para o manusear. «A Guiné-Bissau não tem um único avião». Pois. O inimigo de 1999 também julgava que não. No entanto, de vários Migs inoperacionais, a Força Aérea guineense conseguiu montar um e colocá-lo no ar, marcando pontos decisivos em termos de moral das tropas.
É impossível falar numa «Reforma» das Forças Armadas sem uma clara visão geo-estratégica da sub-região, onde se avolumam sinais de alarme em torno da expansão de novas ameaças de segurança à soberania. É impossível descartar o «valor acrescentado» das Forças Armadas guineenses, colocando o país a soldo de inconfessáveis e inconsistentes interesses estrangeiros (como julga Portugal que a Guiné-Bissau poderá sobreviver ao desmantelamento do seu exército?).
É precisamente por aí que é preciso começar, pelo reconhecimento do valor dos melhores filhos da Guiné, massa crítica que a poderia guindar a alturas já sonhadas mas nunca vistas (e até desacreditadas). Como é possível falar de Revisão Constitucional sem fazer tudo para tentar interessar o professor doutor Kaft Kosta? Como é possível falar de Portal sem referir o Didinho e o contributo positivo do seu Projecto? Como é possível falar de Reforma das Forças Armadas sem uma reunião do Conselho da Defesa, uma avaliação da capacidade operacional, um inventário de meios, distinguindo os operacionais dos restantes, um debate avalizado entre as maiores cabeças militares (estou a pensar, por exemplo, em Melcíades Fernandes ou Daba Naualna)?
O PAIGC matou o PAI e, tal como o MPLA, em Angola, alimentou uma mediocridade sarnenta que sabia que só poderia sobreviver na perseguição a todo o esboço de espírito crítico. Deitavam assim a perder os créditos adquiridos com a Luta de Libertação (aliás, ficando ainda a dever imenso à «caixa», pois a palavra que a maior parte encontra para designar os últimos 40 anos é RETROCESSO). A revolução pensada por Cabral foi prostituída até aos limites do inimaginável, redundando numa miserável involução. A capacidade de pensar pela própria cabeça, ideal último do líder, foi adulterada até à obediência cega. Por este andar, mais vale entregar as «chaves» do país!
Há 6 minutos
2 comentários:
Sobre o mesmo assunto:
http://www.didinho.org/OREGRESSODOSQUADROSUMINTERESSANTECOMENTARIODOEMBAIXADORGILFERNANDES.htm
Claro que faria sentido igualmente lembrar o exemplo do Pepito
http://www.adbissau.org/wp-content/uploads/2015/02/Pepito_Grandeza-e-exemplo_FINAL.pdf
bem sintetizado nas palavras de Carmelita Pires por ocasião do primeiro aniversário da sua morte:
«Interrogo-me por que malvada razão são desconsiderados pelos poderes institucionais homens tão excepcionalmente generosos: que doença da mediocridade os marginaliza, em vez de os atrair para o centro do poder? Será por não se deixarem distrair dos verdadeiros e públicos objetivos, não se deixando guiar por mesquinhos interesses pessoais, mas antes por um forte sentido de economia e de bem comum? Tal como Cabral ou Titina Silá. Essa é a verdadeira liderança, aquela que alia, à capacidade e competência para pensar pela própria cabeça, uma efectiva consistência, em constante interação com a praxis do quotidiano. Obrigado, Pepito, o teu exemplo vive no meu coração.»
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