sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Memórias

"Após o 25 de abril, foram estabelecidos acordos com o PAIGC para a transferência dos poderes territoriais. Em Bissau, antes da independência, só pontualmente se via pessoal do PAIGC, nomeadamente à noite no edifício dos CTT. As coisas foram sendo feitas gradualmente e com grande discrição até à independência da Guiné-Bissau que, creio, se processou a 10 de setembro de 1974. Regressei à Metrópole, evacuado, no dia 5 de setembro de 1974 e a minha companhia no dia seguinte. Nos meses que passei em Bissau, depois do 25 de abril e antes do regresso, assisti a várias manifestações da população, a propósito de tudo e de mais alguma coisa, que normalmente decorriam sob um manto de preocupação ou tristeza o que colidia com o que devia ser a alegria de um povo acabado de ser libertado. As pessoas acomodavam-se de pé, em camionetas de caixa aberta, deslocando-se em marcha lenta, e recitavam uma ladaínha qualquer que não entendia, estando ausente aquela alegria espontânea própria do povo africano, mais parecendo um velório. Na minha opinião, este comportamento indiciava a consciência de que o caminho da liberdade tinha muitos perigos e incertezas."


José João Domingos, in Tabanca Grande

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