domingo, 29 de dezembro de 2013

Atrofio africano

«O principal problema da governança» no continente, segundo Carlos Lopes, «é gerir a diversidade, o respeito pelas minorias e pelas mulheres. É um problema sério que explica muitos dos conflitos em África. A falta de integração das minorias conduz à corrupção, serve regimes patrimoniais de apropriação, pela classe dirigente, dos meios do Estado em benefício próprio.»

Faltaria acrescentar que os países ocidentais, embora apregoem formalmente a democracia, aplaudem e dão palmadinhas nas costas a esses regimes, que, em troca, oferecem uma necessária (mas ilusória) estabilidade, para a prossecução dos seus negócios de carácter predatório, regra geral primários. Pouco antes de morrer, Cabral antecipou e denunciou estas derivas neo-colonialistas.

O discurso de Carlos Lopes, endereçado ao tecido empresarial espanhol, insiste num ponto importante: o principal problema «mental», em relação a um «retorno» dos empresários europeus a África, que oferece imensas oportunidades de negócio consistentes e sustentáveis, tem a ver com a percepção errada destes, fomentada por lugares comuns mediáticos equivocados.

A oportunidade propriamente dita é esta décalage, este lag, entre o potencial de crescimento por explorar, (suportado num influxo de divisas proveniente da exploração de recursos naturais, sobretudo minerais) e o seu liminar desaproveitamento. África tem de (re)começar a ser «vendida», com operações de marketing e de charme, como aos nossos bisavós, com o encanto de «virgem».

Serão os próprios empresários, que se queiram estabelecer, fortes do seu contributo de saber fazer, conhecimento e experiência, que deverão criar o seu próprio estatuto, defendê-lo e valorizá-lo, integrando-se (desta vez, sem a «cobertura» administrativa colonial) no tecido económico local, contribuindo para o seu crescimento consentâneo, retroalimentando e potenciando o todo.

Terão também de estar atentos aos escolhos, excluir, sem excepções e por uma importantíssima questão de princípio, deixarem-se envolver em sistemas de corrupção, ou de «partilha» de benefícios. A sua transparência e seriedade, mantendo-se acima de qualquer suspeita, serão decerto os seus melhores cartões de visita, garantia de investimento e mesmo, seguro de vida.

Obrigado, Carlos Lopes e Progresso Nacional (artigo do El Pais)

4 comentários:

Retornado disse...

"Cabral antecipou e denunciou estas derivas neo-colonialistas".

É caso para dizer que até qualquer caboverdeano e qualquer Comando Africano de Spínola antecipavam todas as "derivas" neo-coloniais.

Mas Carlos Lopes analiza bem, dispensava era fazer como todos fazem, lembrar Cabral.

É que corre-se o risco de as pessoas só se lembrarem do pai da Pátria, associando o nome de Cabral aos maus momentos africanos e guineenses, especialmente.

7ze disse...

Embora Carlos Lopes também goste de lembrar Cabral, neste caso, esse foi um ponto que eu acrescentei ao conto, não está no texto do prestigiado guineense.

Anónimo disse...

o caso do crocodilo era tão simples que o 7ze não foi capaz de desmistificar. e a questão impõe-se: que existem crocodilos na Guiné, já é sabido, quem são e aonde estão?
Responderei a filosófica questão, brevemente num lugar comum. Atente-se

7ze disse...

Andam muitos crocodilos e jacarés por aí a mostrar os dentes.

Respondendo então:

Os crocodilos têm uma bela, reluzente e eficaz dentadura.

Ficamos então atentamente à espera desse lugar comum que nos satisfaça a curiosidade.

Croc