José Eduardo dos Santos, homónimo de José Estaline. O cerco
de Estalingrado constituiu o ponto de viragem da segunda guerra mundial. A uma
escala mais pequena, o cerco da «bolsa» de Zedugrado faz dentro de dois dias um mês
que dura já.
Mas quem pode ter razão diante de um morto? Quem pode ralhar
para um pobre corpo tombado, crivado de balas? O seu último adeus, grito que
ninguém percebeu porque as balas zut! zut! … silvam alto e fosse o que fosse
que ele queria dizer zut! zut! zut! não chegou a fazê-lo.
Perguntar-lhe-emos depois «Que estavas aqui a fazer numa
terra estranha?» ou «Sabias o que estavas a defender, ao certo?»?
O Comando Militar tem usado da maior humanidade para com os militares angolanos que estão neste momento nesta posição
desesperada por culpa dos seus políticos e diplomatas (mas pouco), os quais,
depois de fazerem asneira, lhes prometeram resolver a situação num curto espaço
de tempo. Passados todos os prazos, ninguém os poderá acusar de não terem
cumprido o seu dever até ao limite do humanamente possível. É fácil
sentirmo-nos solidários com estes soldados que apenas cumpriram ordens, como
julgam ser o seu dever. Face às necessidades por que estavam a passar, o Comando Militar facilitou-lhes o abastecimento em pão.
Estou-me a lembrar do gesto desesperado de Hitler, enviando
o bastão de Marechal a Von Paulus no último Junkers que aterrou em
Estalingrado, pedindo-lhe para se sacrificar e aos quase um milhão de soldados
por quem era responsável; quando Hitler soube da rendição, teve uma crise de
fúria, vituperando Von Paulus, gritando que era uma desonra «caminhar ao lado
dos seus soldados» e que deveria ter optado pelo suicídio, como bom prussiano.
Foi quando Rommel se levantou, ousando desafiar o ditador (acabaria por pagar
com a vida) e disse que achava muito mais digno «caminhar ao lado dos seus
soldados», partilhar a sua sorte, do que um suicídio. Rommel estava habituado a
desobedecer: fê-lo em Junho de 1940 na sua louca cavalgada para Paris, quando
Hitler julgava que a brecha aberta na Linha Maginot era uma armadilha e
transmitia ordens incessantes do QG, pela rádio, mandando parar e consolidar
posições, Rommel pura e simplesmente sabotou o rádio e continuou (com o enorme
sucesso que se sabe); ou quando, ao abandonar (com um peso no coração) os seus
homens do Afrika Korps, ao receber ordens terminantes para fuzilar os oficiais
ingleses, rasgou pelas próprias mãos a mensagem e deu ordens para serem
libertados de imediato.
Quando as ordens são estúpidas… nenhum militar se deve
sentir obrigado a obedecer. Coisa mais fácil de perceber para um guerrilheiro
guineense do que para um soldado convencional, admitamos. Claro que a carreira do oficial que assumir o acto estará
acabada (pelo menos enquanto durar a carreira de José Eduardo dos Santos), mas
será de longe a melhor opção militar e humana.
P.S. Faz hoje 67 anos da queda de Berlim e da rendição incondicional da Alemanha nazi.
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