sexta-feira, 20 de abril de 2012

A verdade sobre a Guiné-Bissau


O que está realmente em jogo, perguntam-se os portugueses, face ao discurso arrogante e belicista de Paulo Portas? Estranham todas estas movimentações diplomáticas em torno da Guiné, de Angola, a CPLP, a ONU, a OUA, a CEDEAO… Porquê este esforço todo para «repor a democracia»? Será mesmo isso que está em jogo? Não. De certeza que também não é para salvar os portugueses que nunca foram incomodados. Mas então o discurso de Paulo Portas será pura hipocrisia? Que irresponsabilidade! De facto, ofereceu-se para ir «salvar» 200 angolanos das «garras» dos guineenses. e agora está aflito e manietado, exposto ao público opróbrio e terá de engolir a seco as secas palavras que endereçou aos guineenses.

Na realidade houve apenas uma movimentação militar sem qualquer efusão de sangue (nem sequer novidade, apenas um remake de um facto inteiramente decalcado, há dois anos atrás), a ordem e segurança públicas estão agora asseguradas, bem como uma transição política e pacífica.

Gostaria apenas de lembrar que as autoridades de facto na Guiné já fizeram claramente constar que não aceitam a presença, neste contexto, de qualquer força estrangeira em território nacional, advertindo que qualquer intrusão terá resposta militar. Qualquer agressão inconsiderada sentida em território guineense, decerto agravará substancial, senão mesmo irremediavelmente, a já de si pouco famosa situação do contingente expedicionário angolano in loco.

Um eventual desembarque, a tentativa de criação de uma testa de ponte, para além dos riscos implícitos e dos imponderáveis maiores que se lhe adivinham, transformaria o contingente no terreno num perigo militar à retaguarda, que se tornaria absolutamente necessário eliminar, dando origem ao seu rápido desarmamento compulsivo, que esperemos, se tiver mesmo de vir a acontecer, possa vir a ser realizado sem derramamento de sangue.

Claro que não há arroz que chegue no Hospital, nem condições de garantir essa logística para tanta gente, obrigando a que a sua alimentação tenha de ficar a cargo de Angola, pelo que, por considerações humanitárias, decerto se toleraria a criação de uma ponte aérea para esse fim, se forem solicitadas as devidas autorizações às entidades competentes, evitando assim uma tragédia humana de maiores proporções.

Talvez esteja na hora de o Ministro português adequar as suas expectativas neste caso, à sua capacidade militar (e poder para a empenhar), num cenário confuso e sem nada em jogo (pela positiva) para o seu país. Ou então assuma, ponha-se à frente dos marinheiros, leve-os atrás e vá conquistar África de volta; se a nação já não estava muito convencida quanto à oportunidade de Alcácer Quibir, duvido que o siga nessa duvidosa aventura, tal como o exército, aliás, a quem agora pede (a troco de um reles ordenado e de falta de respeito) para serem mártires de uma causa alheia (e perdida). Esperemos que prevaleça o bom senso e que a cegueira e autismo de que tem vindo a dar provas não empurrem Portugal para um impensável desastre.

E mais: aconselha-se-lhe a leitura dos velhinhos manuais de estratégia. Admitindo, pelo absurdo, que os guineenses eram apenas meia dúzia de oficiais sem controlo efectivo sobre a tropa, sem meios militares eficazes, estaria a fazer um primeiro erro de subestimar o adversário: mesmo que o adversário seja uma pulga, deve ser sempre considerado como um elefante; mas pior, estaria a fazer uma coisa altamente desaconselhada: nunca se encosta ninguém à parede, senão desperta-se-lhe a propensão para lutar até à morte… Já Sun Tzu recomendava prudentemente que nunca se fechasse completamente um cerco; há que deixar sem vigilância um carreirinho por onde, pela calada da noite, os sitiados se possam escapar sem glória.

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