O Porta-Voz do Comando Militar esteve na Sexta-Feira à tarde em estúdio,
em Bissau, para participar por vídeo-conferência num programa especial da RTP
dedicado à Guiné. Os guineenses, antes de «emprenhar pelos ouvidos» da comunicação
social portuguesa, ou de alinhar pelo diapasão do discurso irresponsável do
PAIGC, deveriam ver o programa com atenção
e dar graças a Deus por surgirem sempre guineenses à altura nos momentos
certos: um simples Porta-Voz do Comando tem mostrado ser bem mais consistente, sério e de
confiança, carismático e melhor político que qualquer presidente «democraticamente»
eleito nos últimos 20 anos.
Também em 1998, num primeiro tempo, pareceu a muita gente que a razão
estaria do lado do Presidente «democraticamente» eleito. Mas a legitimidade
democrática acaba onde começa o carácter inalienável da soberania nacional: todos
se lembram de como o apelo a forças estrangeiras acabou por desequilibrar a
balança e fazer pender unanimemente a opinião pública a favor da Junta Militar.
Se repararem na linguagem corporal de Daba Na Walna, a mensagem evidente é
de que a paciência tem limites: o porta-voz foi sempre disfarçando, sob a capa
de um discurso aparentemente calmo, a sua forte (e legítima) indignação e irritação
quanto à situação: Portugal porta-se como um elefante numa loja de porcelanas; Angola
brinca com o fogo… Mas porquê essa irritação? Imagine-se que, no jogo de
xadrez, temos xeque-mate em um lance, independentemente do que jogar o
adversário; seria irritante se este, enquanto ainda não se apercebeu do que o
espera, continuasse a gabar-se de que é muito melhor jogador do que nós…
Caros patriotas do Comando Militar e a todos os heróis das Forças Armadas
de quem a Guiné-Bissau se pode orgulhar: neste momento grave da história do
país, felicito-vos pelo vosso espírito de sacrifício e pela tarefa que tomaram
a peito, desejo-vos força e coragem na defesa intransigente da integridade e da
soberania nacional, contra uma agressão externa cujo fito está claramente provado
ser, uma vez mais e tal como em 1998, a confiscação aos guineenses dos seus
recursos minerais.
Será que alguns guineenses na diáspora acreditam mesmo que a «ajuda» de
Paulo Portas é desinteressada e apenas para repor a democracia? Aqueles que se
deixarem confundir arriscam-se a um despertar doloroso. A Guiné tem bastante mais
recursos per capita que Angola… ou será que acreditam no Pai Natal? É o futuro,
não apenas como nação, mas também económico, que está em causa, depois das
posições extremas, perigosa e impensadamente assumidas por Angola e depois, a
reboque, por Portugal (numa hipocrisia sem limites, um desplante e um
descaramento que ofende o verdadeiro sentir universalista português: primeiro
iam «salvar portugueses», depois da rápida falência dessa tese; iam para salvar
a democracia; depois, como quem vai por aí não vai a lado nenhum, foram para a
ONU bater à portas e incomodar as pessoas, que têm assuntos mais importantes a
tratar; isto para além de acusarem os guineenses de serem um «Narco-Estado»;
contudo, nenhum dos argumentos que apresentam têm a ver com as suas motivações
reais… Realmente irritante, não acham?)
E os portugueses, como muito bem lembrou o Porta-Voz do Comando Militar, será
que sabem de quem são os petro-dólares que agora José Eduardo dos Santos parece
disposto a largar com tanta facilidade, para mover estes mundos e fundos contra
a Guiné? São vossos! Vêm de Cabinda, que não pertence a Angola, pois a sua Casa
Real assinou em Simulambuco um Protectorado que, ao preservar o seu estatuto de
autonomia como Estado (nunca teve o estatuto inferior de colónia, como Angola),
torna nulo qualquer acto de cedência de soberania não previsto. Foi entregue um
cavalo de raça a Portugal, que não deu dele boa conta, e pior, o sujeitou a um
burro.
Em vez de intimidar civis na Guiné, Cabinda seria um objectivo militar bem
mais glorioso para a esquadra portuguesa, que os delírios neo-colonialistas de
Paulo Portas condenaram à inactividade nas proximidades da Guiné (podem sempre
dedicar-se à pesca, o peixe é bom!). É que lá em Cabinda, ao contrário da
Guiné, há um conflito (ainda há pouco tempo o Ministro da Defesa foi morto pela
guerrilha no assalto a uma coluna militar governamental), podiam interpor-se
primeiro, devagarinho, depois logo viam como corriam as coisas, já lá tinham um
pezinho… Logo a seguir repunham a paz, dando uma valente tareia nos criminosos
dos angolanos que por lá andam a violar as mulheres, e pronto, resolviam o
vosso défice energético (olhem que é uma boa parte do todo). É um plano bem
mais fácil de concretizar do que aquele que, por desespero de causa, ainda não
fizeram para Bissau.
Quanto ao problema da desmobilização dos excedentes das Forças Armadas talvez se possa resolver com a colocação de uma Força Expedicionária de Guerrilha Guineense em
Cabinda. Lá se iam 80% do rendimento do coitado do Zé Diabo! Mas, para já, há
um assunto pendente mais actual: que resultado, para além de uma desgraça para
o seu lado, espera obter José Eduardo dos Santos? Já fez contas à vida? Acha
que os angolanos lhe perdoam? Já encomendou 200 caixões? Já preparou uns
cartõezinhos debruados a preto para enviar às mães da parte da presidência? Não
acha que está a ficar cada vez mais isolado?
Por fim, parabéns ao Comando Militar, na pessoa do seu Porta-Voz, pela
paciência que têm demonstrado! Que prova de civilização: os fortes são serenos.
Noutro lado qualquer, depois dos ultrajes sofridos, os responsáveis já estariam
enterrados. Esperemos que Angola e Portugal não tomem a paciência e
benevolência por prova de fraqueza, pois ela parece estar realmente a atingir o
seu limite, face a atitudes tão pouco propositadas e sem dignidade. Será que,
depois de acabarem aí com o serviço, não podiam dar uma ajudinha para varrer também
Portugal do lixo de políticos que, desde há mais de três décadas, lhe tem sugado
a seiva? Voto nessa.
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