domingo, 2 de março de 2014

PAIGC deve catar-se

Ao novo líder do PAIGC ficava bem um CORTE COM O PASSADO. Talvez a começar pelo nome, do qual só se aproveitam as duas primeiras letras Partido Africano. O programa mínimo, «para a Independência da Guiné e Cabo Verde», está cumprido. Pior foram as quatro décadas que se lhe seguiram, que conduziram à actual situação, na qual o PAIGC tem iniludíveis responsabilidades.

Há uma forma simples de fazer esse corte com o passado: DSP está bem colocado para isso, pois não deve nada a ninguém (estou a falar em termos políticos, é claro) e pode começar inteiramente de novo; basta tentar imaginar o mea culpa que faria Cabral se estivesse no seu lugar:

uma purga de ex-governantes
uma nova cultura política interna
um pedido de desculpas ao povo
um pedido de desculpas às VÍTIMAS

Se o PAIGC pretende recuperar, junto do povo, legitimidade para governar, uma reconciliação duradoura e sustentável, tem de estabelecer uma nova aliança. A esperança, no PAIGC, reside neste momento, no carisma do seu chefe, que será rudemente posto à prova nos próximos tempos. O PAIGC precisa de uma violenta CATARSE. Recomendo uma leitura edificante, a este propósito:

Que é feito do homem novo forjado na luta? Parte VI

VÍTIMAS que, quando não pagaram com a vida, sofreram imensas violências psicológicas (na melhor das hipóteses). A começar pelas famílias dos Comandos Africanos, como no caso do Doka. Quando li, na altura, este testemunho no magnífico blog Tatitataia, lembrei-me do Pepito e da sua família. Eis simples exemplos entre muitos, de gente a quem o PAIGC deve um pedido de desculpas. Essa atitude faria bem a todos.

Para acrescentar à memória das ignóbeis perseguições movidas contra quadros de valor, lembro-me de uma pequena história que o Pepito me contou, ridicularizando as «acusações artesanais» dos seus perseguidores. Pepito estava então a construir uma pequena piscina: foi chamado a depor, acusado de corrupção; quando quis conhecer o teor da acusação disseram-lhe que tinham «a prova» do desvio de bens públicos; acabou por descobrir que se tratava de uma factura de uma empresa europeia de alguns pintos, para reprodução num projecto agrícola. Eu não estava a perceber muito bem a «ligação» e perguntei-lhe. Ele fartava-se de rir e perguntava: «_Então ainda não percebeste? Ouviram poussins e soou-lhes a piscina, em francês».

Quantos não ficariam sensibilizados, na própria Diáspora, por palavras de bom senso, saídas da boca de um líder do PAIGC? Quantos quadros não estariam dispostos a abandonar as suas carreiras, mais promissoras noutros países, voltando para ajudar o seu país, saldando assim a sua dívida de patriotismo?

Onde estão as flores da nossa luta? O sonho de Cabral?

1 comentário:

Retornado disse...

Nos países africanos não se faz política, faz-se intriga.

Em Portugal também é só intriga com a diferença que em português a gente s'intende.

O que também não é fácil, pois que em português bolso e algibeira é a mesma coisa, o que é muito complicado.

Na Guiné com o francês o crioulo e o português, a somar a 30 linguas originais mais complicado se torna.

Se em vez de pintinho fosse patinho até tinha lógica a piscina.

A trabalheira que eu tive a lutar em Angola contra aquelas independências, pelo menos que não me substituíssem por cubanos, ucranianos e russos!

Tinha que acabar tudo mal!