As atabalhoadas declarações do ridículo Ministro dos Negócios Estrangeiros português, com quem as autoridades de facto da Guiné-Bissau não mantêm relações diplomáticas, provocaram uma autêntica roda viva de reuniões em Bissau, pela sua despropositada agressividade e pela gravidade formal das acusações implícitas, que permitem informalmente suspeitar das piores das intenções, justificando-se o alvoroço, bem como a preparação de uma resposta institucional solidária à altura das graves insinuações produzidas.
O convite ao suicídio das Forças Armadas guineenses, diabolizadas e tornadas em bode expiatório de todos os males, é um perigoso precedente, cuja corda está a ser esticada até aos limites do bom senso, sem que se percebam muito bem os objectivos que presidem a essa atitude. Descartando a hipótese de simples e grosseira estupidez pessoal do ministro envolvido (que, de qualquer forma, decerto não seria de todo despropositada), Portugal não pode tomar posturas belicistas sem consultar a Assembleia da República.
Para além da inconsequência do seu ministro, este não é um simples cidadão: no desempenho do seu cargo, obrigou o estado português com comparações temerárias, em relação a um país com o qual não tem quaisquer relações diplomáticas que possa cortar (o que se sabe ser um primeiro passo para a guerra); nessa situação, este discurso só pode ter uma leitura, que é o fabrico, de todas as peças (tentando envolver outros actores internacionais como a UE), de um casus belli, de forma a ofender a soberania alheia.
Impõem-se as palavras irritadas e abusadas de Cícero, nas suas Catalinárias:
«Até quando, Machete, abusarás da nossa paciência?»
PS Um pequeno pormenor que talvez tenha passado despercebido à maior parte dos comentadores, mas que a visualização do vídeo esclarece: apareceram, na comunicação social, duas versões concorrentes das afirmações de Machete, no seguinte ponto:
«Foi um ato muito próximo dos atos de terrorismo, portanto, que
versão 1) não tem exatamente os mesmos objetivos»
versão 2) tem exactamente os mesmos objectivos»
A maior parte dos jornalistas ouviram a versão 2, porque o ministro «comeu», quero dizer, engasgou-se, com o «não».
Um pequeno inquérito de opinião. O que acha que aconteceu neste caso:
1) Lapsus linguae
2) Acto falhado
3) Fugiu-lhe a boca para a verdade
4) Gaguez congénita