É louvável e oportuna a «fuga de informação» que permitiu aceder à versão digital (e integral?) do contrato (draconiano) estabelecido entre o Estado da Guiné-Bissau, na qualidade de fretador, e a transportadora aérea EuroAtlantic, cujos voos regulares de ligação directa Lisboa-Bissau vieram suprir uma lacuna, ou melhor, um incumprimento, da TAP em relação às obrigações históricas e culturais estatuídas na sua identidade corporativa.
Um facto patente é que o governo da Guiné-Bissau, na pressa de resolver um caso mediático, aceitou condições desiguais e muito degradadas em relação às de actuação da TAP, prejudicando, numa perspectiva estritamente conjuntural, as condições negociais estruturais, neste negócio de interesse nacional. Face ao precedente, a margem de manobra da TAP aumentou muito: à luz de uma eventual renegociação das condições de operação, a linha tem todas as condições para se tornar novamente rentável para a companhia, mesmo se com uma regularidade reduzida.
Lamentável, nisto tudo, é que, da transparência prometida por Domingos Simões Pereira, só emerge uma pequena ponta, pontualmente, e sempre a reboque...
[Nos contratos de recursos, como as Pescas, apenas esse para exemplo, de grande impacto nas contas do Estado, nada se soube do contrato assinado com a União Europeia sensivelmente na mesma altura que o Senegal (nomeadamente, se os contratos foram assinados para as águas territoriais de cada país stricto sensu, ou se excluem a zona comum explorada pela Agência de Cooperação bilateral - de forma a que o caso do Oleg Naydenov, fortemente lesivo dos direitos guineenses, não se venha a reproduzir)]
Tal como no caso da ANP, no qual a zanga de comadres permitiu reconhecer o peso dos interesses dos deputados-militantes, nas contas do Estado (aliás, sorrateiramente renovado por ocasião da aprovação do OGE, aprovando os deputados o seu próprio orçamento, incompatível com o do Estado).
Meio ano de governação e a prometida transparência nem vê-la. Acusações públicas veiculadas sobre importantes figuras do governo ficam sem resposta, sem sequer um esboço de esclarecimento, ou um processo de investigação. Talvez à figura de Procurador, à qual se veio juntar a de Promotor, seja necessário acrescentar a de Indiciador!
Obrigado, irmão Doka, pelo esforço.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
Transparência em segunda mão
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Más notícias para DSP
O Club K fala, em artigo, de Angola ser «dos países mais afectados» pela queda do preço do petróleo, que perdeu um terço do seu valor no último trimestre. Ora «afectado» é pouco. O preço do barril de petróleo desceu abaixo do valor do custo de produção do petróleo angolano: Angola pode, pura e simplesmente, «apagar a luz do aeroporto», se a actual cotação de mercado se mantiver. Para DSP, isso traduz-se numa ideia simples: que não existe disponibilidade momentânea para o envelope financeiro prometido. A mesa redonda arrisca-se grandemente pois a ser uma ingrata espera por Godot.
Ao Primeiro-Ministro, não resta mais do que governar.
Pelos vistos, o novo cargo de Ministro da Administração Interna está a ter um parto difícil. Será que faz sentido, para o Presidente do PAIGC, permitir que este seja disputado pelos djagudis do seu Partido, que se preparam para retalhar o seu Governo, de qualquer forma? Talvez fizesse mais sentido racionalizar, reunindo esse Ministério ao da Justiça, pelas óbvias sinergias. Pouparia um ordenado de Ministro, muitas preocupações em guerrilhas intestinas e faria um favor ao País, premiando o empenho de Carmelita Pires, que abraçou o seu projecto de Governo (o qual se tem revelado, noutros campos, decepcionante e inconsistente).
domingo, 7 de dezembro de 2014
Novas de Angola
Marcha branca contra a violência policial, hoje, em Luanda. Ver cartaz
Angola em vias de se tornar num NARCO-ESTADO? Ver notícia
domingo, 30 de novembro de 2014
Rádio: respeito, responsabilidade e rigor
Vale a pena escutar até ao fim Carmelita Pires, que concedeu a sua primeira entrevista (em crioulo), desde que assumiu o cargo de Ministra de Justiça, ao Samba Bari, da Rádio Rispito, por ocasião do primeiro aniversário dessa estação de rádio on-line.
Respondendo a uma sequência bem conduzida de perguntas, que abordavam as principais questões do sector da Justiça, a Ministra revelou, para além de um profundo domínio dos seus dossiers, uma inquebrantável vontade e um pragmatismo invejável, insurgindo-se contra aqueles que pedem sempre mais «condições», mas não conseguem operacionalizar ou fazer a manutenção daquilo que possuem, lembrando, a esse propósito, o discurso pedagógico do saudoso Pepito (que conseguia fazer omoletes sem ovos!).
Com um pungente apelo à Diáspora [àquela que Filomeno Pina designou por «geração de ouro»] deixa a promessa de reunir apoios para facilitar o retorno num quadro legal e político propício a um «arranque definitivo» da Guiné-Bissau, no qual se mostra confiante. «Sabemos que não é fácil, mas também não é impossível.»
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Lançar o debate
Estive ontem no lançamento do livro de Luís Vicente, editado pelas edições Corubal.
Começando por afirmar o carácter independente e não lucrativo da editora, frisou que o lançamento traduz uma dupla intenção: dar relevo à reflexão e ao papel da Diáspora (aproveitando a oportunidade para lembrar a sua responsabilidade); e lançar o debate político, sendo este o primeiro número de uma colecção de estudos e debates, em torno da boa governança.
O Miguel falou do descalabro da educação... da responsabilidade da geração «de ouro»; subentenda-se, o perigo de dissolução da nacionalidade pela miserável condição educativa: o sistema não consegue produzir alunos ao nível do 12º ano, sendo a média nos exames portugueses equivalentes de cerca de 0,5%. Não é muito mau, é assustador!
[Lembro-me das minhas conversas com o Pepito (também lembrado com saudade pelo Miguel), para quem essa «pedagogia» era o cerne da actuação. Lembro-me como se lamentava e como sentia como um murro na barriga, cada vez que os seus amigos diplomatas se queixavam que não conseguiam recrutar uma simples secretária...]
Quando confrontado com a questão do jornalista da RTP/RDP Jorge Gonçalves, que moderava a sessão, se terão sido 40 anos perdidos, lembrou o sistema de hortas escolares (eu lembro-me, em miúdo, de uma visita a Bafatá, na qual participei do entusiasmo associado a essas iniciativas) como exemplo de muitas coisas boas que se perderam pelo caminho.
Da conversa informal que se seguiu, parece ter-se desprendido o sentimento de que nunca poderemos falar de 40 anos desperdiçados. Talvez de tempo perdido. Mas que ficam os calos... A experiência negativa, como povo, não poderá ser convertida numa oportunidade, num desafio?
Miguel de Barros, confrontado com a afirmação, por parte do moderador, de um especial agravamento da situação nos dois anos que se seguiram ao 12 de Abril, reformulou a questão, dando a entender que houve uma transição de sucesso que criou uma janela de oportunidade.
No entanto, estará ela a ser aproveitada? Não merecerá o martirizado povo da Guiné-Bissau, o respeito dos seus políticos? Pessoas como Miguel de Barros ou Abdulai Sila (citado pelo Miguel, e de quem li recentemente uma magnífica poesia em prosa, com um oportuno aviso à navegação), não deveriam ser consultores do Primeiro-Ministro?
[Pagam-se 10 000 euros (segundo declaração de interesses do próprio) ao Presidente da ANP, que é um analfabeto funcional (só domina a linguagem básica da cartilha sovietizante do PAIGC dos «inimigos»), mais uma centena de outros de igual calibre na mesma casa... qual a produtividade, em termos de debate?]
Já nem falo do caso do autor, o Luís Vicente, o qual, como ficou patente na Sala de Audições da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, é muito querido no concelho de Rio Maior. Talvez por isso mesmo, o próprio Luís pudesse dar o exemplo, desdobrando-se entre Bissau e Rio Maior, em «part-times» eficientes, envolvendo-se na aplicação das suas ideias e princípios de boa governação... A mão na lama.
Pelos vistos, a política de exclusão dos melhores continua... a esperança prometida mais uma vez traída?
Neste contexto, aproveito para considerar que me parece legítima a irritação do editor do Ditadura do Consenso, face à má qualidade do recentemente formado «Gabinete» de comunicação de Domingos Simões Pereira.
P.S. Tive uma pequena intervenção na qual considerei que a horta escolar seria um bom exemplo a adoptar pelas escolas, por exemplo em Portugal. Talvez servisse para formar as mentalidades para a actividade produtiva e o espírito empresarial, reduzindo o número de «doutores e engenheiros» desempregados de longa duração, porque não encontram (nem nunca entrarão, porque não servem para nada) emprego na respectiva «área de competências».
terça-feira, 25 de novembro de 2014
Mea Culpa
Confesso que o artigo que publiquei, condenando vivamente a Igreja Católica angolana, não se justifica, ao presumir a unidade da Igreja em torno do discurso desadequado de alguns dos seus membros, sendo muitas as vozes discordantes que se elevam no seu seio. Aqui fica o pedido de desculpas pela abordagem precipitada e desastrada, bem como a rectificação. A este propósito, ler artigo sobre a contra-ofensiva «cívica» do regime, fertilizando «movimentos espontâneos».
Reputação imputada aos deputados
Francisco Seixas da Costa fala da reputação (dos deputados e dos órgãos de soberania em geral), da percepção externa da falência sistémica de um país, há muito anunciada. Esperemos que a purga continue, para ver se o país acorda do pesadelo. Como diz o senhor Embaixador: por um lado, ainda bem... antecipando um benéfico efeito catárquico. Ter-se-à Sua Excelência convertido ao sebastianismo? Em boa hora...
Diga-se que, na Guiné-Bissau, a reputação imputada aos deputados também já viveu melhores dias.
domingo, 23 de novembro de 2014
Aniversário Rádio Rispito
Amanhã, a partir das 17h30, na Rádio Rispito, vou estar on-line para comemorar o aniversário, com o irmão Samba Bari. Não falhe. Participe!
Ver nexo à direita >
O Senhor não estava
Este meu blog, para além da sua «identidade corporativa», também serve, esporadicamente, de desabafo. Embora pouco dado a exercícios de personalidade, é isso que vou fazer. Partilhar a minha frustração.
Gabinete de Imprensa
O Primeiro-Ministro guineense, após uma série de críticas, quando à sua ausência de política de comunicação, parece ter envidado esforços nesse sentido. Eis o último parágrafo da última obra do recém-criado Gabinete de Propaganda, ou melhor, de hipocrisia, que inclui uma foto com o Secretário-Geral das Nações Unidas.
«O Primeiro-Ministro e o Presidente da ANP elucidaram o Secretário-Geral das Nações Unidas sobre a situação do funcionamento e de boas relações institucionais da República da Guiné-Bissau»
Uma semana lavam em público a roupa suja, na seguinte juntam-se para colaborarem num acto de traição à pátria?
Os titulares dos três mais importantes cargos soberanos demonstram assim que não estão interessados em governar para o país, em arregaçar as mangas e colocar as mãos na massa, mas apenas em conseguir
o chorudo cheque que José Eduardo dos Santos prometeu para comprar a Guiné-Bissau, para regalarem os seus miseráveis apetites privados. Pior que uma agenda exógena, deixaram cair as máscaras e arvoram agora uma agenda anti-nacional.
As Nações Unidas, que dão mostras de colaborar na farsa, deveriam ser avisadas que não parece nada boa ideia a transferência de 1800 angolanos para a MINUSCA: num país com fortes problemas de intolerância religiosa como tem mostrado ser a República Centro-Africana, os soldados de Angola (país que tem perseguido o Islão e arrasado mesquitas) arriscam-se a ser tomados por parciais. É querer apagar o fogo com petróleo...
Quanto aos 1800 que também querem enviar para Bissau, podem começar já a treinar os 1800 que os hão de substituir (não se esqueçam depois de notificar as mães dos primeiros).
sábado, 22 de novembro de 2014
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
Opinião jovem
Resposta à altura, à deputada da UNITA, por parte de Sedrick de Carvalho, em artigo de opinião no Club-K.
Dois patinhos
22/11 apresenta-se já como uma data histórica para Angola.
22/11 = 2
Tinha um grande amigo que gostava de decifrar símbolos e estudar números, que tratava o 22 pela engraçada expressão de «dois patinhos em contra-mão» (uma vez que nadam para a esquerda).
Além disso, no Montijo, já para se prevenirem do «azar» do 11, fazem do número um tabu. Quem disser «onze» arrisca-se a ser tratado de cornudo. Tradição local, em terras de touros, associando um par de cornos ao enunciador. No Montijo conta-se: «...oito, nove, dez, dezmaisum, doze...»
Para ser mais claro, os dois patinhos são:
2é2é / 1sa1as
Zantos e Zamakuva
Retomando o Luaty Beirão:
Ti'Zé, arreda o pé!
T'Isaías, perdes o pé!
Neste momento, parece haver uma única forma de conter a fúria popular: o Presidente e o chefe da oposição darem as mãos e juntarem-se aos jovens angolanos, numa manifestação pacífica que marque um novo pacto de regime, um governo inclusivo e partilhado, com base no mérito.
Segundo muitas opiniões, expressas em fóruns e comentários, se querem ter alguma coisa a dizer no futuro de Angola, é obrigatório darem o corpo ao manifesto; não venham depois tentar confiscar a sofrida vitória do vasto movimento revolucionário desencadeado, à imagem do Burkina Faso.
A «convocatória» dos professores, cujo único objectivo é conduzir à proibição ilegal da manifestação e não dar origem a uma verdadeira «contra-manifestação», é um feitiço que pode virar-se contra o feiticeiro. É que os professores, tomando o recente exemplo dos colegas chadianos, que a 11/11 se juntaram aos jovens nas ruas, podem tomar uma atitude pedagógica...
Subtil manipulação
O embaixador angolano apresentou na terça-feira as suas credenciais a Obama, à porta fechada, como se pode ler na agenda do Presidente dos Estados Unidos para esse dia. Clique na imagem para ampliar
O irmão Samuel do No Djemberém, viu a sua boa fé abusada nesta esparrela e ao propagar esse texto, comete inadvertidamente o erro de o atribuir à «AFP» (conforme manifesta intenção dos manipuladores). O caso não deixa de ser um interessante case study em termos de perversão dos Direitos de Autor.
Adivinha II
Como espera o Primeiro-Ministro guineense «marcar pontos» nas Nações Unidas?
Dica: procurar o maior parágrafo, entre aqueles enumerados com «bolinha».
Obrigado, PN
Este «produto» representa sem dúvida uma aquisição infeliz, dado que o prazo de validade do fabricante expira este fim-de-semana.
Comentários para amanhã
Deixo apenas os títulos e respectivas ligações, para reflexão...
Voice of America - Luanda com "alta temperatura" neste sábado
O artigo do Club-K, Sobre a manifestação convocada pelos movimentos de cidadãos em Angola, assinado Albano Pedro, que serviu de fonte à citação do anterior artigo
Idem, apelo do Bloco Democrático ao Presidente da República, para que não permita que se instale uma tragédia nacional este fim-de-semana
Adivinha
Para quem é o recado?
GUINÉ-BISSAU: BRASIL «NÃO CONDICIONA» A SUA COOPERAÇÃO COM OS OUTROS PAÍSES
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
Os 3R's
Uma homenagem, no actual contexto, ao professor universitário e jornalista
Domingos da Cruz,
que cunhou a expressão dos três éRRes, em termos de Direito:
1) o direito à RAIVA perante o mal
2) o direito à REVOLTA quando este persiste
3) o direito à REVOLUÇÃO quando o mesmo se eterniza
Perseguido pelo regime desde 2008, pela publicação de vários livros (proibidos mas muito apetecidos) contestando a situação, viria a ser despedido das suas funções docentes, bem como processado pela Procuradoria Geral, por «incitação à desobediência colectiva e à violência». Várias vezes adiado, o caso foi finalmente a julgamento há cerca de um ano... Pouco antes da leitura da sentença, Domingos gozava o prato...
Questionado pela DW (faço alguns extractos) sobre o fundamento legal da acusação:
«_Sem lei não há crime. Não faz sentido absolutamente nenhum tal acusação, na medida em que o crime de incitação à desobediência colectiva e à violência não existe no ordenamento jurídico angolano.
DW África: Mas então o que é que vai fazer ao tribunal?
_Como deve calcular, vou ao tribunal para responder a "nada", do ponto de vista metafísico, porque efectivamente não existe crime nenhum. Para além disso, a tal lei foi revogada sendo substituída por uma outra que é a Lei dos Crimes Contra a Segurança do Estado. Surpreende-me o facto de, mesmo que tenha cometido algum excesso, investido dessa "autoridade" de jornalista e cidadão, uma opinião se transformou em crime.
DW África: Entende que o regime do Presidente Eduardo dos Santos teme uma espécie de Primavera Árabe em Angola?
_Mas muitas vezes as pessoas querem apoiar em espírito e alma e, contudo, não podem fazer muita coisa porque estamos sob escuta, nos telemóveis, nos "emails", na rede social Facebook. Tudo isso leva a que as pessoas se retraiam muito na manifestação das suas posições.
DW África: Acobardando-se?
_Claro, mas respeitamos essas pessoas porque esta é a realidade que vivemos em Angola
DW África: Face ao que acaba de dizer, pode concluir-se que os jornalistas praticam auto-censura, em termos de produção de ideias e de pensamento?
_Com certeza, absolutamente. Isto é um efeito sobre o qual, inclusive, muitos jornalistas em debates ou em diálogos mais ou menos privados dizem, por exemplo: ”sobre isso, eu queria pronunciar-me mas não posso fazê-lo". Trata-se de um exercício de terror, encontramo-nos num ambiente de catástrofe, do ponto de vista das liberdades para o exercício do jornalismo.
DW África: Nos últimos tempos, tem sido exercida uma grande pressão sobre ativistas e jornalistas em Angola. As manifestação de jovens contra o o governo angolano são frequentes e normalmente reprimidas. Será que o regime de Luanda teme alguma situação de difícil controlo?
_De acordo com a nova conjuntura, do ponto de vista geopolítico internacional, parece-me que o regime entende que a qualquer altura pode despoletar uma situação complicada. Tem-se dito que Angola é uma espécie de barril de pólvora e falta-nos só identificar onde está o fósforo para que tal barril possa eclodir.»
Numa entrevista à Por dentro de África:
«Pelo que sei sobre este grupo de delinquentes sob a capa de governantes, temem todo tipo de ideias autênticas. São absolutamente alérgicos ao pensamento, à cultura, à ciência, à racionalidade, à crítica, à deliberação pública, ao esclarecimento. Para mim, enquanto tal grupo detiver o poder, Angola continuará um país atrasado, de idiotas, sem bens sociais mínimos para viver, alto índice de corrupção, um país que envergonha os seus filhos que se pautam por uma vida ética! (serão estes a minoria?)
Angola é quase um romance ficcional no plano político, jurídico e noutras esferas. A acusação que pesa sobre mim baseia-se numa lei revogada em 2010: só num regime autoritário tal idiotice pode suceder. Aprofunda-se uma imagem caricatural do regime, tanto interna quanto externamente… Quando o ridículo chega a este ponto máximo é sinal que tal protagonista terá uma tragédia catastrofista. Talvez seja o fim dessa era que se aproxima!»
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
Exército forma Governo
No Burkina Faso, o Tenente-Coronel Zida, indigitado pelo Exército para conduzir a transição e que havia assumido a chefia do estado, depois da deposição de Compaore, foi o escolhido para o cargo de Primeiro-Ministro: Kafando, que sucedeu a Zida no posto e é o novo Presidente, anunciou hoje a escolha (que muitos antecipavam).
A França está a desenvolver esforços diplomáticos para conseguir que a União Europeia e os Estados Unidos condenem a opção antes das respectivas tomadas de posse, marcadas para depois de amanhã, argumentando com a tese de «Golpe de Estado». No entanto, podem tirar o cavalinho da chuva, basta lerem com atenção as declarações de Zida, que já desfez esse equívoco, à intenção da União Africana: «O que se passou no Burkina Faso foi um levantamento popular, não um Golpe de Estado».
A má vontade dos franceses em relação a Zida (depois de a AFP dar o tom, transparece nas primeiras reacções do Le Monde e Jeune Afrique) é, para já, um bom sinal: há a possibilidade de estarmos perante um homem íntegro, dificilmente manipulável, o que evidentemente não agrada a Paris.
FrançAfrique voa em socorro de Déby
A imprensa francesa assinalou, como novidade absoluta, no mais de meio século que já dura a V República, a «usurpação» de funções presidenciais pelo Primeiro-Ministro. É que a função de «Chefe» da tropa tem tradicionalmente (tal como a política externa, aliás) sido «coutada» do Presidente. Será a fraqueza de Hollande que motiva este gesto? Ou a urgência de evitar uma derrocada fatal na zona, o propagar da onda de choque do Burkina? A França perante a encruzilhada de todos os perigos? Já se fala em aumentar o dispositivo da operação «Dunas», enquanto os militares no terreno «s'embourbent»...
Em mais de meio ano de função é apenas a segunda vez que o Primeiro-Ministro Valls sai em visita oficial para fora da Europa. E desta vez, nada estava previsto, é claramente uma situação de urgência! Tratará o Manel de se impingir à Conferência de Chefes de Estado da CEEAC? A visita a instalações militares francesas no Tchad parece mais um recado para o Exército tchadiano, para que não deixe cair Déby... O papel da França está cada vez mais difícil, arriscando de «s'enliser» em profundidade no deserto, numa inglória e ingrata campanha contra o Islão, que só servirá para atiçar mais ódios na comunidade muçulmana residente na metrópole... e, perniciosamente, apresentar como resultados precisamente o contrário dos esperados, ou seja, um aumento do risco de atentados terroristas (porventura endógenos).
terça-feira, 18 de novembro de 2014
UNITA recusa papel
A UNITA, em comunicado emitido há pouco, respondendo às acusações do Ministério do Interior, recusa vestir a carapuça de bode expiatório para as «crises de identidade» do MPLA (que dá manifestos sinais de desnorte):
«A UNITA nada tem a ver com os problemas internos do MPLA e repudia veementemente a tentativa deste Partido-Estado de atirar areia para os olhos das pessoas, ao procurar atribuir à UNITA as causas das suas profundas contradições e crises de identidade.»
Sintomático: Jornal de Angola ataca Portugal
Uma vez mais o diário do regime critica Portugal, por ter acolhido a recente visita de Samakuva a Lisboa, a qual teria sido o início de uma conspiração...
Porque o texto poderia ser devolvido à procedência:
É um abuso falar genericamente de «angolanos»... (quando se referem apenas àqueles que investem em Portugal: essa é uma ínfima fracção dos angolanos), para apelar ao sentido nacionalista, numa reacção contra Portugal (com as ameaças da praxe), para servir de cortina de fumo. É preciso desassociar os angolanos, por um lado; do regime e dos seus beneficiados, por outro, os quais são uma amostra não representativa do todo...
É que a perseguição, de que falam, aos «cidadãos» angolanos, traduz-se simplesmente nas notícias (não passando, na maior parte das vezes, de verdades consideradas inconvenientes) e, pelos vistos (não, estes não são os «gold»), não os incomoda minimamente.
Já a perseguição que fazem aos cidadãos guineenses em Angola é na própria pele, sem respeito pela vida humana.
Na vida, há limites para tudo, até para a hipocrisia!
Continuam as manifestações de jovens no Chade
Apesar do bloqueio informativo a que o país está sujeito, os activistas conseguiram fazer chegar imagens ao exterior e soube-se que a repressão do regime continua a fazer vítimas entre os jovens manifestantes: numa marcha realizada ontem em Boctchoro, foram disparadas balas reais para dispersar a multidão, fazendo um morto e dois feridos, a acrescentar ao balanço das mortes ocorridas na última semana.
Entretanto, a mão cheia de manifestantes, todos muito jovens, abatidos no passado dia 11, passaram a ser considerados mártires, com muita gente criticando o regime por ter impedido a divulgação dos seus nomes. O cúmulo da arbitrariedade, querer privar as pessoas da sua identidade, «apagar o ficheiro», quando acabaram generosamente de dar a vida por uma causa que consideravam nobre.
O Presidente tenta manter todas as aparências de normalidade, tendo recebido a comissão preparatória da XVI conferência de Chefes de Estado da CEEAC (Comunidade Económica dos Estados da África Central), homóloga da CEDEAO, organização sub-regional delimitada, a Norte, pelo Chade, e, a Sul, por Angola, da qual Déby é o actual Presidente em exercício. Durante a próxima semana, deverão (?) chegar a N'Djamena não só os Chefes de Estado dos dez países membros (incluindo dois pertencentes à CPLP, São Tomé e Príncipe e Angola) mas igualmente muitos jornalistas para cobrir o evento... Como conseguirão estes fazer o seu trabalho sem ligações ao exterior e sem internet? por sinais de fumo, como na pré-história? Estarão criadas as condições de segurança para a presença dos Chefes de Estado desses países? A acompanhar...
Entretanto, rumores relacionados com a abertura do processo aos antigos colaboradores do ex-Presidente Hissène Habré, referem que Macky Sall, com o oportuno apoio do embaixador itinerante americano Rapp, prepara uma «armadilha» ao Presidente do Chade, durante a presença prevista deste para participar na cimeira da francofonia que terá lugar em Dakar nos dois últimos dias deste mês, prendendo-o para o entregar ao Tribunal competente, para ser igualmente julgado por crimes de guerra. Terá mesmo sido afirmado que, se aquele não se prestar a deslocar-se a Dakar, seria emitido um mandato de captura em sua intenção...
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Estão reunidas as condições para uma revolta de larga escala em Angola
Quem o disse à Lusa foi AguaLusa, escritor angolano e homónimo do Presidente do país (ambos são José Eduardo), a propósito do lançamento, na próxima quinta-feira, do seu mais recente livro, «A vida no céu».
Ficam alguns extractos do artigo, para abrir o apetite:
«O pior de tudo é a falta de inteligência [do regime]. A mim, o que me assusta mais, sempre, é a estupidez. A estupidez é aquilo que me aterroriza mais. E quando a estupidez tem poder, isso então é particularmente assustador", considera.
Na sequência da "falta de inteligência", vêm "a corrupção, a maldade". Mesmo "a violência é uma desistência da inteligência", vinca. Angola "é uma falsa potência", uma "ilusão", sustenta. (...) "Angola, infelizmente, tem ainda um caminho muito longo a percorrer no sentido do desenvolvimento básico. A esmagadora maioria dos angolanos sobrevive com quase nada, um dólar por dia", recorda Agualusa.
"Está tudo por fazer", resume.»
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