terça-feira, 30 de abril de 2013

Povo diverso e disperso

É incrível a quantidade de informação hoje disponível para quem edita boletins de informação virtuais. Os editores de blogs podem utilizar a funcionalidade Estatísticas para conhecer melhor as preferências dos seus utilizadores, os seus locais de origem...

Clicar para ampliar
Segui o link para as estatísticas do Didinho por países e constatei que os acessos com origem na Guiné são muito escassos, pouco passando de 3%. Ou seja, os(as) frequentadores(as) assíduos(as) da «oferta» de informação on-line relativa à Guiné-Bissau são, na sua esmagadora maioria, pertencentes à Diáspora.

Mas o mais interessante é o padrão de dispersão, por todo o mundo, da Diáspora. Há guineenses pelo mundo inteiro: sem ser necessário clicar, basta contemplar um pouco os contadores / globo do site do Didinho, para o perceber. A Guiné-Bissau é sem dúvida não só um povo maximamente diverso (etnias por quilómetro quadrado), como também disperso!

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Futuro dirigente

O último nexo que fiz para um blog, aqui no painel de ligações do lado direito, foi para o Progresso Nacional, um colectivo de jovens cheios de boa vontade, que estão a preparar-se para revolucionar a informação sobre a Guiné na internet. Prometem notícias on-line e in-loco, para além de seriedade e honestidade, e embora tenham começado há pouco mais de três meses, o seu entusiasmo parece estar a recolher a adesão de muita gente.

Apenas para propagar (não esquecendo a fonte, claro) um dos contributos para um desafio que lançaram «Futuro - Dirigentes», do Neivaldo Lima, com o qual concordo plenamente.

«Boa noite a todos,


Na minha humilde opinião, e tendo em conta o estado em que o pais se encontra, fruto da não governança, da incompetência ou da má fé dos sucessivos dirigentes e políticos que temos tido desde a independência aos nossos dias, é de que umas das soluções para estancar a hemorragia interna, seria que o pais fosse dirigido por um grupo de tecnocratas sem filiação partidária, por um certo período (...).

Pessoas com provas dadas a nível internacional, pessoas que não têm telhado de vidro e que por isso não hesitarão em atirar pedras ao vizinho se necessário, sem medo de represálias, pessoas cujo o único compromisso seja para com o povo da GB e cuja missão seria a de reformar e organizar o Estado da Guiné-Bissau.» .

Nesse sentido, também eu sonhei com um elenco de luxo, utilizando apenas candidatos já nomeados no PN, no âmbito deste «exercício de cidadania»:

PR - Daba Na Walna
PM - Carmelita Pires
CEMFA - Melcíades Fernandes

Tomei a liberdade de acrescentar alguns ministros

Didinho - Negócios Estrangeiros
Silvestre Alves - Justiça
Filomeno Pina - Saúde
Filipe Sanhá - Educação

Concordo com vantagem da proposta de Miloca Sambu, seria um grande trunfo no âmbito internacional, capaz mesmo de gerar uma onda de simpatia, pela «Mulher sem Medo» que ousou desafiar os traficantes de droga como Ministra da Justiça, evidenciando assim a firme intenção de o país lavar não só as mãos, mas também a cara.

PS Acrescento que este artigo é apenas um exercício de imaginação quase «privada», portanto os nomes propostos são-no sem autorização dos(a) nomeados(a), visando demonstrar como não é difícil encontrar, fora do círculo dos grandes partidos de clientela fixa, quadros à altura de um grande desafio como aquele que se impõe actualmente à Guiné. Por muito absurda que possa parecer a minha proposta, é o meu contributo, com os desejos, do fundo do coração, que o futuro prove que afinal, todos estes padecimentos da Guiné não foram em vão. Julgo mesmo que a Guiné se encontra perante uma oportunidade histórica sem precedentes para renascer das cinzas.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Descubra as diferenças


Transcrição literal, ipsis verbis, tal e qual, sem tirar nem pôr (perdoem os múltiplos pleonasmos) dos dois excertos da entrevista de Rusty Payne, da DEA, à Radio France Internacional (em português) em torno das acusações pendentes sobre:

António Injai

RP / DEA - Temos informações indicando que ele está envolvido em várias formas de tráfico e tráfico de armas, nomeadamente mísseis, tráfico de droga e contactos com indivíduos que ele acreditou serem membros das FARC, da Colômbia.

RFI - Tiveram contactos com o Governo guineense para os ajudar a capturá-lo?
RP / DEA - Não, não tivemos contactos com o Governo da Guiné-Bissau, a Guiné-Bissau é considerada como um narco-estado pelos Estados Unidos, portanto não temos cooperação com a Guiné-Bissau.

RFI - Recentemente capturaram outro militar da Guiné-Bissau, Bubo Na Tchuto. Em que condições isso aconteceu?
RP / DEA - Ele foi detido em águas internacionais num navio e pôde ser imediatamente levado para os Estados Unidos para responder às acusações de tráfico de droga e crimes ligados a esse tráfico.

RFI - Diz-se que ele foi capturado em território guineense...

RP / DEA - Só lhe posso dizer que ele foi capturado em águas internacionais e levado para os Estados Unidos.

RFI - Também se diz que Cabo Verde cooperou com os Estados Unidos nessa captura.

RP / DEA - Não, não tenho a lista de países que participaram.

RFI - Não está seguro da participação de Cabo Verde?

RP / DEA - Não, não estou. Não sei, é muito possível, mas não tenho a certeza.


Bubo Na Tchuto

RP / DEA - As acusações que pesam sobre Bubo Na Tchuto são: conspiração, narco-terrorismo, conspiração com vista a exportar droga para os Estados Unidos, conspiração com vista a apoiar as FARC, uma organização terrorista, ele arrisca-se a uma longa pena de prisão.

RFI - Não incorre em pena de morte?

RP / DEA - Não, ele enfrenta uma pena máxima de prisão perpétua.

RFI - Qual é a sua leitura da reacção do governo guineense, que se mostrou chocado com o método utilizado pelos Estados Unidos para capturar um cidadão guineense como Bubo Na Tchuto?
RP / DEA - A Guiné-Bissau é um narco-estado, há certas coisas que podemos fazer ou não podemos fazer noutros países, é por isso que esta detenção ocorreu em águas internacionais. Mas para todos os efeitos a Guiné-Bissau é um narco-estado envolvido em actividades terroristas que representam um perigo para os Estados Unidos, portanto não gozam de muita credibilidade junto de nós.

RFI - Qual é a sua resposta quando o governo guineense diz que quer que os seus cidadãos sejam julgados em território guineense?
RP / DEA - Não do nosso ponto de vista, não quando estão a conspirar contra os Estados Unidos, não quando estão ligados a organizações terroristas que querem prejudicar os EUA, não quando fazem tráfico de droga destinado aos Estados Unidos.


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 Já descobriu as diferenças?


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Sinto-me abusado, desta vez, quanto à interpretação feita no blog Ditadura do Consenso, da peça da RFI. Como frequentador do blog desde o início, acreditava que a honestidade do Aly não estava em causa, que estava apenas a ser um pouco tendencioso, ou sensacionalista. Agora inventar de todas as peças, para conseguir deturpar o sentido das declarações da DEA, nunca julguei que o fizesse.

É completamente abusivo colocar na boca do porta voz da DEA «tanto os seus dirigentes políticos como militares estão todos ligados ao narco-tráfico e ao terrorismo» (claro que, não havendo «aspas», não estamos perante uma citação literal, mas procure-se no texto esta interpretação fantasiosa). Tal como «é um país de narco-traficantes». Em lado algum se encontra qual a parte do texto que poderá ter dado origem a «Os EUA têm muitos meios ao seu alcance para capturar e traduzir o António Injai perante a justiça», mas o pior é que, mesmo que não estando entre «aspas», é referido como uma «resposta com convicção» aos jornalistas... idem para «salientando estarem já no terreno meios e homens para consumar a sua detenção no mais curto espaço de tempo» (neste segmento não se percebe a utilização dos negritos - para camuflar não citações?).

Aly, por favor, apaga esse artigo. Todos erramos. Bem sei que tens por política «deontológica» do blog nunca apagar nada, o que é bom, porque assim fica para a história. Mas neste caso julgo que se justifica uma excepção. Todos compreenderíamos, quem nunca se enganou? Logo a seguir apagaria também este artigo aqui, para não ficar pendurado, e não se falava mais nisso... Se manifesto a minha indignação é porque julgo que o Ditadura do Consenso deve ser considerado património nacional, e é sem dúvida uma peça essencial para a história recente da Guiné-Bissau. Mas neste momento, mal grado alguns reparos, o seu editor parece estar engrenado numa lógica alheia, da qual acaba por ressentir os altos e baixos, acabando por se tornar revelador de algum «desajustamento» face a expectativas goradas...

Estamos perante um pico de desespero de Cadogo e Companhia Mundial, ou melhor, a ponta de um iceberg... «A última oportunidade» soa a nome de código da conspiração C&CM. Cadogo foi para Cabo Verde para estar por perto e se apresentar como «salvador da pátria» porque esperava que a publicação do nome de Injai conduzisse à sua entrega aos americanos (bem embrulhadinho, claro) - a lógica destes «estrategas» da moral militar era a de que haveria rapidamente uma insubordinação na qual o CEMFA seria traído e capturado, ou teria uma oportuna morte em funções (para não dizer em «combate»), pois não passaria pela cabeça a nenhum «soldado» resistir aos americanos.

Pelos vistos o «cataclismo» que atingiu a Guiné-Bissau foi forjado, com grandes quantidades de boatos e contra-informação. Nem quero pensar nesse cenário, pois teria sido mesmo muito mau, com a força da CEDEAO a assumir «temporariamente» a segurança (enquanto se esperava por uma da ONU, sim, sim) tchau soberania, e para sempre. Cadogo passaria a ser um palhaço da situação e a Guiné desapareceria do mapa, com muita violência pelo meio... Mas a «espera» de Cabo Verde saiu gorada e Ramos Horta apercebe-se de que já ninguém quer Cadogo na Guiné... usurpando-lhe assim a «coroa» e o slogan: apresenta-se como salvador da pátria, apenas para cair imediatamente com o próprio Cadogo, sendo rapidamente desmascarado como agente encoberto dos actuais donos da CPLP, deitando fora todo o trabalho que vinha desenvolvendo ao serviço da ONU. Recomenda-se à entidade empregadora, em dificuldades financeiras, a sua transferência para a China, para que possa aprender o idioma local antes de voltar à Guiné, sempre ficando assim mais perto de casa, permitindo à organização cortar nas despesas de deslocação.

Um último parágrafo, apenas para frisar que uma leitura atenta, a fazer «nas entre-linhas» desta entrevista é precisamente a inversa daquela que o Ditadura do Consenso nos quis apresentar, e foi isso aquilo que mais me chocou. Os americanos dizem que há certas coisas que não podem fazer noutros países (leia-se uma intervenção directa para ir buscar o António Injai) por isso insistem tanto que o Bubo foi preso em águas internacionais. De qualquer forma, não é o estilo dos americanos fazer ameaças: o que não quer dizer que não as executem (eles nunca ameaçaram prender o Bubo). Até pode provar-se, daqui a uns tempos, que o Aly tinha razão quanto aos americanos terem mais acções em preparação, mas deve afirmá-lo, sem confusões, como opinião sua e não colocando-o na boca dos outros. De outra forma, o que faz com o Ditadura do Consenso deixará de se chamar jornalismo, para passar a chamar-se desinformação, ou mesmo intoxicação. É lamentável ver o Ditadura do Consenso desbaratar assim o seu capital de confiança, é caso para lembrar ao Aly a história de Pedro e do lobo...

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Ground Zero

O senhor procurador de Manhattan não veja neste título uma provocação, pois este exprime a sincera esperança de muitos guineenses de conseguir reconstruir um novo país (tal como os EUA construíram um monumento sobre as ruínas do World Trade Center), sobre as cinzas do Estado, uma vez dissipada a névoa de pó que lhe hipotecou os destinos.

A questão não é nova e vinha sendo insistentemente denunciada por muitas pessoas. Quem quiser relembrar basta seguir os links que o Didinho deixou em comentários nas mensagens anteriores. Depois da desgraça que constituiu o assassinato de Ansumane, Veríssimo seguiu o mesmo caminho, por não ter conseguido pagar a tempo os salários aos seus soldados. Nino Vieira mostrava assim o «pau»: «querem morrer à fome?»; depois, inteligente (para o mal) como era, mostrou a cenoura, trazendo o cancro da droga para as altas instâncias do poder militar na Guiné, como forma de remunerar «discretamente» os favores relativos ao seu retorno. Mas não há almoços gratuitos...

Nino rapidamente perdeu o controlo da «galinha dos ovos de ouro», sendo a coisa primeiro interpretada como uma questão pessoal com Tagma, mas depois este irritou-se com a concorrência de outros free-lancers, que andavam a traficar debaixo do seu nariz. Até que lhe chegou a mostarda ao dito. Hoje alguns guineenses parecem ter-se deixado intoxicar por um clima de «colaboração» forçada com a América, diabolizando responsáveis militares em funções, a quem se deve a presunção de inocência, até eventual condenação em tribunal legítimo. Ora se nada disto é novo (nem sequer a ameaça dos americanos), não se percebe o porquê desta reacção de tão viva «admiração».

Mas o que pretendem agora? Entregar o Chefe de Estado Maior num embrulho aos americanos? A expatriação, neste contexto, é uma tremenda humilhação para uma pessoa, e na minha opinião, todos os guineenses se deveriam sentir solidários com António Injai. Como é possível querer expatriar alguém? A pátria, a pertença à terra, é um direito inalienável. Neste contexto, como para bom entendedor meia palavra basta, permitam-me que partilhe a lamentável história de Humberto Delgado, candidato à Presidência da República portuguesa, em 1958. Durante algum tempo encarado por Salazar como um potencial delfim, este general da Força Aérea foi enviado para West Point nos Estados Unidos. De retorno a Portugal foi instrumentalizado pela maçonaria e pela oposição para se candidatar contra o regime. O próprio Salazar parecia disposto a tolerar ser afastado do poder e a deixar o lugar a sangue novo. Até que, numa fatídica entrevista, aquele a quem chamavam «General sem Medo», cometeu o maior erro da sua vida, demonstrando mesmo, na minha opinião, que não merecia a confiança que os portugueses ingénua e esperançadamente nele depositaram: quando lhe perguntaram o que pensava fazer com o Presidente do Conselho (Salazar), respondeu: «Obviamente, demito-o».

Quem, em duas palavras, é capaz de dizer uma a mais, gratuita e desnecessariamente, não merece governar. Foi precisamente o que achou Salazar e foi por isso que tratou de viciar as eleições e afastá-lo do poder. Para além disso, há uma regra de ouro: não se humilha quem ainda está no poder. Salazar poderia, no fundo da sua alma cristã, ter aceite o «Demito-o». Para que foi o «Obviamente»? Já não tem a ver com a história mas vem igualmente a propósito a forma como morreu o General, que se tivesse Medo (ou fosse mais desconfiado e matreiro) talvez ainda pudesse estar vivo, como o Manuel de Oliveira: foi atraído a uma armadilha, em Espanha, na fronteira com Portugal, onde agentes da PIDE o abateriam, bem como à sua secretária brasileira.

Permito-me especular, como exercício meramente académico: mesmo se admitíssemos (não vou acrescentar «pelo absurdo») que o senhor General Injai esteve realmente conscientemente implicado nalgum caso de proventos com origem em facilidades concedidas no âmbito do tráfico de droga, não lhe poderá servir de atenuante o ter eventualmente utilizado parte desse dinheiro para pagar despesas dos quartéis? Neste momento, parece-me que a solução terá de ser ferranhamente (evitámos o ferozmente) endógena, convencendo os americanos de que os guineenses são capazes de varrer a casa sozinhos, dispensando «ajuda» (evitámos utilizar «ingerência») externa, dando rapidamente provas dessa boa vontade com uma verdadeira refundação do Estado.

Quanto aos métodos utilizados pelos americanos, são no mínimo discutíveis. À luz do direito português, por exemplo, são ilegais as armadilhas como meio de produção de prova, ou seja, criminosos seriam, neste caso, os agentes americanos que montaram toda esta tramóia. Atente-se em pormenores que saíram à luz como a «oferta de fardas para o exército»: aqui já não estamos perante métodos «pouco ortodoxos» mas simples má fé. É como colocar um prato de comida à frente de um esfomeado, dizer-lhe que é proibido comer e ficar à espera que morra de fome por questões éticas e morais. Se não fosse trágico, poder-se-ia achar engraçado perguntar aos americanos, face à sua disponibilidade em meios ultra-sofisticados, porque não controlam as origens do tráfico, ou o fazem em águas internacionais. Um avião para atravessar o Atlântico leva umas boas horas, dando claramente tempo para ser interceptado e seguido para fiscalização, em caso de suspeita, quiçá por drones especializados nessa função, que se «agarrariam» ao avião como «lapas».

Imaginando, num golpe de sorte, apanhar dois coelhos de uma cajadada, os americanos tiveram de se contentar com uma coxa de coelho (que de si era um pouco coxo). Mas parecem querer manter a pressão, pela classificação de «traficante» oficialmente atribuída agora a Injai por um (sublinha-se) procurador (e não Juiz), supostamente baseadas em confissões de Bubo. Mas aqui lembramos que os Chefes dos Estados Maiores da Marinha e da Força Aérea já estavam indiciados há bastante mais tempo, só agora se tendo cumprido a ameaça. Depois dos acontecimentos na Somália, parece-me que a visão geo-militar americana não concebe operações convencionais em solo africano (excluindo obviamente, pelos vistos, operações encobertas). O que não quer dizer que não usem vias diplomáticas, recorrendo a organizações sub-regionais, como parece ser neste momento o caso, havendo quem sugira que o discurso americano implica uma ameaça para a CEDEAO, de esta se ver desautorizada, no seu próprio terreno, por uma intervenção americana, (talvez oportuna, para mostrar aos franceses, em retirada do Mali, que também têm uma palavra a dizer no continente; ou mero bluff?).

Suspeita-se que os vários CEMFA que anunciadamente se preparam para aterrar em Bissalanca venham imbuídos dessa missão. No entanto, que vão pedir ao seu congénere guineense? Que se exile? O senhor General, caso pense em aceitar alguma proposta mais generosa, não deve deixar de acautelar a continuidade da sua função no âmbito do Comando Militar, assegurando a passagem do seu «bastão», último bastião da Nação. Esta saberá ficar-lhe grata se, num gesto de generosidade, considerar afastar-se tranquila e humildemente, para evitar mais sobressaltos, tratando depois de defender por vias legais a sua honra ofendida. Fora das «negociações» parece-me que deve manter-se a questão da integridade da soberania, que, por princípio, não é partilhável com forças estrangeiras, que vieram com a missão formal de proteger as personalidades de transição. Dava um palpite: que Daba vai estar à altura; chegados a uma encruzilhada, não é hora para deitar fora aquilo que se começou. Deve-o ao futuro, aos jovens guineenses, que esperam uma defesa intransigente dos direitos aos seus recursos minerais (parece pertinente, a este propósito, a comparação feita com Noriega: depois de ter sido um menino querido dos americanos, quando puxou a brasa à sua sardinha - canal neste caso - aos interesses do seu país, aí a porca torceu o rabo, sendo rotulado de narco-traficante e rapidamente deposto pelos seus ex-patrões da CIA).

A «falta de comparência», nesta altura, no país, do Presidente da República, ou a má prestação ( e o mau gosto) de Fernando Vaz chamando ao seu próprio país «última nação do mundo», não enfraquece, de forma alguma, a posição negocial do Estado-Maior guineense. Também a recente atitude dos dois maiores partidos, que parecem ter entrado em negociações, parece ser construtiva, no sentido de se entenderem para apoiar uma solução de transição e evitar a dissolução do Estado. Já aqui defendi no blog que, na minha opinião, o estado de excepção (renovado, neste caso) deveria prever a concentração momentânea do poder civil com o militar. A Guiné não é muito grande, segundo dizem não há lá Estado, só tropa, portanto essa realidade deveria, como já defendi aqui há um ano, ser assumida pelo Comando Militar, reunindo as figuras de Presidente e Primeiro-Ministro, mas responsabilizando-se «operacionalmente» e pessoalmente por um «caderno de encargos» político, num espaço relativamente curto. Parece a melhor garantia relativamente ao muito trabalho que há para fazer: uma nova constituição para o desenvolvimento, que contemple umas Forças Armadas fortes e capazes de defenderem o país e garantirem a segurança nacional e o continuado respeito dos países vizinhos, que alicerce uma aposta no mérito e na competência e não na inveja, o envolvimento e participação de todos no progresso social e económico, um apelo à diáspora para um retorno ao país, um apelo, consistente pelas suas garantias de estabilidade, aos investidores para confiarem numa nova fórmula e «pacto de regime», que faria da Guiné um paraíso à face da terra e onde todos teriam reconhecidamente o seu valor na diversidade. Está na hora de recomeçar do zero!

Djarama

P.S. Que quereria dizer Cadogo com «a última oportunidade para a Guiné», expressão depois retomada (para evitar dizer usurpada) pelo representante da ONU? Estaria a falar do desaparecimento «jurídico» do país? (em espírito, soou quase a «físico» - perdoem-no, ainda não ultrapassou o trauma da rejeição de que foi «vítima») Para quem se auto-intitula Primeiro-Ministro em exercício, é caso de traição! Para além de ter sido o principal responsável (pelo menos moral - porque não pensam os americanos em incriminá-lo?) por toda esta situação, no sentido de ter sido quem esteve melhor posicionado para lidar com o problema, com toda a legitimidade adquirida nas urnas: mas que se enredou numa teia de condescendências as quais rápida e previsivelmente se transformaram num beco sem saída. Há um provérbio que encena uma prostituta veterana dirigindo-se a uma novata e desculpem o vernáculo: «_Ó filha, puta por um dia, puta para o resto da vida.» O que parece ser preciso, na Guiné, é precisamente o contrário: seriedade e honestidade intelectual, bem como a necessária firmeza para as sustentar.

Mais lenha para a fogueira

Como afirma um comentário ao anterior post, também me parece que o blog Ditadura do Consenso tem vindo a perder a sua imparcialidade, assumindo cada vez mais uma orientação de actor na cena «política».

Como todos os guineenses insatisfeitos com a realidade actual, fruto de quatro décadas de regime PAIGC, não estou a dizer que essa vocação «política», que chegou a assumir contornos de intenções de eleição presidencial, seja má. De forma alguma! Mas há que saber distinguir os papéis.

Aly: sabes que respeito o teu trabalho e admiro a tua coragem, e só por isso me atrevo a estes reparos: pareces apostado em seguir o persurso de Paulo Portas, que abandonou o jornalismo pela política. Eu também trabalhei para o Independente (não num lugar tão destacado como o teu) e já manifestei neste blog o que acho sobre isso: nós, portugueses, perdemos um bom jornalista e ganhámos um mau político.

Quem se mete em política «activa» (ainda para mais na actual Guiné-Bissau), acaba invariavelmente com as «mãos sujas». Compreendo que o «media» é um blog e não um jornal ou revista, deixando-te portanto margem de manobra para fazeres dele o que bem entenderes. No entanto, por respeito pelo teu próprio trabalho, julgo que não deverias «jogar» nesse «tabuleiro».

Uma solução talvez pudesse ser manter uma linha de imparcialidade e objectividade jornalística no Ditadura do Consenso, e abrir outro blog desdobrando essa tua vocação, onde poderias dar aso às tuas emoções e fazer actividade «política». Ocorreu-me «Democracia da Divergência», que daria um bom título...

O que já não posso é concordar com esta maneira de utilizar a tua reconhecida e merecida capacidade mediática, com a manifesta intenção de tentar criar um clima de tensão política, fazendo apelo à opinião pública mundial (já não só guineense), para uma intervenção em solo guineense, o que não me parece adequado às circunstâncias actuais. Para quê acirrar mais os ânimos?

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Perigoso megalómano

«Eu nem gosto de falar disso porque o povo reagiu em função das suas necessidades. Nós, como somos um partido democrático e que já enfrentou sérios desafios, entendemos que o povo da Guiné-Bissau não devia ser confrontado com outras situações» (ver blog Ditadura do Consenso - hoje um pouco atrasado na difusão das notícias). Cadogo diz que nem gosta de falar... mas vai confidenciando. A maior parte das verdades, que entretanto se souberam, vieram porque esta comadre se zangou com a vida.

Eu, o povo, nós, o partido... E é sempre o homem que fala e opina (e «manda»), tudo uma mesma pessoa. E este fim-de-semana, teve uma grande apoteose na conferência para decidir o futuro do «seu» país, apresentado como uma «grande» vitória contra os desígnios da maléfica CEDEAO, a qual terá sido «obrigada» a enveredar por um diálogo «inclusivo». Como é possível querer apresentar as coisas precisamente ao contrário do que foram! Mas os guineenses não se deixam intrujar, sabem muito bem que quem se recusava a negociar era a CPLP, Portas e Cadogo, que se enclausuraram a si próprios numa posição autista e sem saída, que agora querem esconder virando o bico ao prego.

Cadogo parece pensar que se aproxima um desenlace e joga forte, sacando um «trunfo» da manga, documento da Presidência da República (do tempo de Malan Bacai Sanhá - será verdadeiro? ou um embuste do photoshop? o Presidente já cá não está para desmentir) que Injai terá assinado para se livrar de responder por desobediência ao então CEMGFA seu predecessor, na altura, Zamora - terá sido ele a guardar cópia do documento (ou mistificação) como forma de futura defesa? porque, se bem me lembro, os comunicados, na altura dos factos, mostram um Zamora ultrapassado e confundido com a sua desautorização relativamente às apreensões do Lamu Star (e não esquecer, no actual contexto, que Zamora era o menino bonito - peão - dos americanos) e não queria correr riscos futuros como os incorridos por Bubo.

Cadogo parece apostado na intriga interna e na subversão das Forças Armadas, tentando dividir o Comando Militar, numa aparente estratégia de ruptura hierárquica, sem considerar os inúmeros perigos que poderão advir de um colapso de comando e de o poder cair na rua. Ou seja, para este pária, não interessa todo o mal que possa fazer à Guiné-Bissau, desde que aumentem as suas possibilidades de voltar ao poder.

Nunca mais conseguiria lavar as mãos! E engana-se nas suas expectativas, pois, mesmo a dar-se o caso da «dissolução» das FA e de um improvável protectorado da ONU, também já não precisariam de Presidente... continuaria portanto desempregado. Já quanto a Daba, é sem dúvida um bom estratega, um bom militar, um bom porta-voz, um bom advogado. Um indispensável e insubstituível trunfo do Comando, na esperança de uma transição digna e tranquila, após estes sobressaltos sem precedentes.

Onde o Ditadura do Consenso pretende sugerir e diabolizar antecipadamente uma traição de Daba, intrigas e guerras viscerais, eu vejo antes uma transição natural, face ao cansaço e vontade já manifestada por Injai de se reformar: Daba tornar-se-ia o garante da soberania (graças à sua própria independência) da nação, único capaz de enfrentar os americanos e garantir aos agora acusados na Praça os seus legítimos direitos de defesa e julgamento em território nacional, depois de observados os trâmites protocolares, graças a um «empowerment» (para usar um termo em voga nos EUA) da Justiça guineense, lavando assim a cara da nação.

Chefe reforça chefia


«Não gosto de pronunciar-me sobre os meus subordinados. Os meus subordinados têm de respeitar a hierarquia e eu sou o Chefe» Carlos Gomes Junior, respondendo aos jornalistas, em Cabo Verde, que lhe pediam para se pronunciar sobre as acusações mediáticas de tráfico de droga a António Injai.

Patético! Salazar, depois de cair da cadeira, também julgava que continuava a governar. Senilidade e arrogância. Já quanto a autoridade, o ex-Primeiro-Ministro deve estar esquecido, ainda antes do 12 de Abril do ano passado, o primeiro do mesmo mês dois anos antes...

Não passa de um palhaço falhado, agente do neo-capitalismo mais grosseiro, que só conseguia manter o poder comprando as boas graças do General António Injai com chorudas gorjetas (isto segundo inconfidências do próprio Cadogo - o tal que não fala dos subordinados - ao Ditadura do Consenso).

Tal como vem agora confessar que afinal, tinha ganho as eleições presidenciais à primeira volta, com 54% dos votos, e que «só» terá «aceitado» falsear os resultados para manter a «paz»... isso sim, diga antes por espírito pouco probo (para não lhe chamar aldrabão) para um candidato a Presidente.

Para além da falta de seriedade e coragem, faltava-lhe também «autoridade». É que autoridade e legitimidade conquistam-se com actos, não com corrupção (estamos a falar de corrupção intelectual, que a financeira, essa, já não seria novidade).

Chefe é chefe. Presume-se que tenha assumido a chefia das conversações estrangeiras e alheias à Guiné, insistindo na sua retórica de governo no exílio que não passa de uma tremenda fantochada, ofensiva da simples realidade. Um chefe assim só pode morrer na Praia.