O Presidente de Angola já deve ter percebido: os tugas roeram a corda no que toca a darem o corpinho ao manifesto por um assunto que não é deles... ora outra coisa não seria de esperar, pois, senhor Presidente, as suas expectativas eram demasiado elevadas, fez o erro de sobreavaliar a disponibilidade de Portugal, aferindo-a apenas com base nas palavras do Ministro Paulo Portas (uma coisa boa, pelo menos por uma vez, agora que precisavam, deram crédito aos portugueses - exagerado, pelos vistos - mas perdoe ao senhor Ministro, senhor Presidente, pois em criança tinha um fetiche por soldadinhos de chumbo, mesmo se mais tarde se baldou ao SMO; é o ambiente de QG que o excita) e o bluff fez pufff logo à saída do Alfeite; foi tudo um pouco mal feito e conduzido, pelo lado político e diplomático, delapidando um capital de confiança, o qual, explorado com as devidas reservas e distâncias, poderia ter ajudado a resolver a crise no seio da CPLP, em vez de a agravar. Em Conakry também adiaram a consolidação da forte e recente amizade que Angola benevolentemente descobrira pelos nossos homopatrínimos do Sul. Quanto à democracia, vejam lá se não se enganaram na Guiné que escolheram, pois há três e esta é a mais afastada: se a ideia é invadir o continente, talvez possam começar pela que está aí mesmo ao vosso lado... É que Bissau é pequeno, não chega para a cova de um dente e os guineenses são duros de roer. A isso chama-se ter mais olhos que barriga. Encontra-se assim outra vez na estaca Zero, sem ninguém para lhe acudir em tempo útil.
Egas Moniz foi tutor de Afonso Henriques (há quem defenda mesmo que era o seu próprio pai), e ficou conhecido na história de Portugal pela célebre «humilhação» a que se sujeitou a si, à mulher e aos filhos, ao entregar-se com uma corda ao pescoço para compensar o Rei de Leão, a quem o infante de quem era aio prometera uma vassalagem que não era oportuno concretizar: como ficara fiador da promessa, sujeitava-se ao inimigo, pagando com a sua vida e dos seus. Na corte de Leão, passada a primeira surpresa com o gesto, conhecendo a irascibilidade do Rei, todos esperavam um desfecho rápido e violento para esse desplante do português; mas o Rei, graças a Deus, acalma, tem um lampejo de magnanimidade e perdoa-lhe, trata de gasalhá-lo e manda-o de volta para o seu Rei com grandes elogios, e, virando-se para os seus súbditos, suspira: «_Tivesse eu meia-dúzia destes.»
José Eduardo dos Santos deveria mandar aprontar o seu jacto pessoal, pedir autorização para aterrar em Bissalanca, sugerir uma entrevista à TV guineense, assumir a responsabilidade pelo deslize da sua política externa, pedir desculpas a todos os guineenses por aquela que acabou por configurar ou, pelo menos, parecer (à mulher de César, não basta ser séria, tem de o parecer), uma ingerência externa nos assuntos internos da Guiné-Bissau; para não deixar contas por saldar, clarifique e quantifique os interesses angolanos na Guiné-Bissau, predisponha-se a ver anulados todos os contratos que eventualmente tenha assinado, que não sejam transparentes para todos os guineenses (pois estes querem legitimamente saber - e controlar - para onde vão parar os frutos da sua terra, não querem uma cópia deslavada - quanto mais imposta à força - do modelo angolano: torna-se realmente difícil discernir quais as suas vantagens).
Já agora, não fique ressabiado e mantenha a sua disponibilidade para colaborar com o povo guineense na base de um entendimento de igual para igual, de forma bem clara e transparente quanto aos objectivos, e sempre em prol da Paz e de um Desenvolvimento sustentável para o Continente. Um mea culpa sentido (sem exageros de retórica) não o desprestigia, senhor Presidente, antes pelo contrário, mesmo em termos internos, mostraria o seu lado humano de grande estadista. Ninguém vai notar grande coisa (no mundo ninguém está a perceber nada, de qualquer forma, desta situação), a coisa resolve-se sem ninguém se magoar e fica tudo amigo outra vez. Não custa nada: sai-lhe imensamente mais barato que qualquer outra opção. Rezo sinceramente para que o pragmatismo que sempre o orientou, o possa agora iluminar e guiar neste passo complicado da sua carreira. Vai lá, leva consigo as tartarugas de volta para casa e para as mães, e esta história tem um final feliz.
terça-feira, 17 de abril de 2012
Humildade, precisa-se
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Kakre na Guiné - Cancer en Guinée
Fechou-se a tenaz. O território está selado. A ameaça paira. Será que agora José Eduardo dos Santos já se apercebeu do que o espera? A sua oposição, sim. Já exigiram a comparência no Parlamento, do Ministro que teve o triste comportamento em Bissau. Cheira-lhes a sangue. Bem sei que não é o de JES, como desejariam (ou da sua família: porque não manda para estas coisas os sobrinhos e afilhados? ...pensam os angolanos), mas a humilhação internacional parece motivo suficiente para rufarem os tambores, depois da cagança que a nomenclatura quis ostentar... Entradas de leão, saídas de palanca. Claro que o referido Ministro, bem como o Embaixador, acabarão por pagar com o cargo: desde já uma nota de desagravo; de simples vítimas da situação passarão rapidamente a bodes expiatórios.
A libertação do cidadão guineense (retirado do seu domicílio na Quinta-Feira e retido pelo Comando Militar) tão insistentemente solicitada pela comunidade internacional parece estar por um fio: condicionada apenas, claro, a uma pequena formalidade: a sua demissão; de um cargo que desonrou e de outro para o qual já não tem qualquer legitimidade, traduzindo nesse acto o saneamento tranquilo de uma situação na qual tem grandes e iniludíveis responsabilidades. Julgo que, nesse caso, em vez de lhe designar residência compulsiva ou de o proibir de deixar o país (também, como?), a sua experiência deveria ser reconhecida e ser convidado para Ministro (parece que não vai haver disso no novo regime, apenas Comissários) da Educação ou da Saúde; seria uma outra forma de dar um sinal ao exterior de coesão interna; e Cadogo deveria pensar seriamente na proposta, neste momento a Guiné precisa de todos os seus filhos.
Já a actuação de Portugal não está ainda completamente comprometida. A colagem a Angola parece ter sido desmentida pelas declarações extemporâneas do Primeiro-Ministro, à hora do almoço, garantindo que não está implícita nenhuma ameaça, no envio da Força (então para que a enviou?). Acordou agora, caro Primeiro? Também o Almirante Melo Gomes, com o saber de experiência feito (estava no porto de Bissau em 1998) insistiu em frisar que está fora de questão qualquer intervenção activa. Senão iria parecer que na tropa, contentes com a oportunidade para demonstrar a sua «utilidade» e contrariar o downgrade de 40% no respectivo orçamento, se tinham apressado a dizer que sim, sem saberem muito bem a quê... Os camiões que se viam passar numas imagens da televisão portuguesa, com peças de 85mm atreladas, não andavam a passear-se para serem filmados à sucapa de um segundo andar... Não queiram experimentar a pontaria dos guineenses pois os últimos que o fizeram, os senegaleses, deram-se mal.
Depois da inoportuna diabolização de um avião de transporte, eminentemente «civil», como o Orion, transformado pela propaganda desadequada de Paulo Portas num terrível avião-espião, não se confundam relativamente a uma suposta «abertura» do espaço aéreo: isso refere-se apenas à normalidade que se pretende conservar em Bissau, no sentido também de não prejudicar a TAP, que é uma companhia comercial (e tem nessa carreira uma linha bastante lucrativa); dificilmente essa «abertura» pode ser entendida como beneplácito para voos não autorizados por quem de direito. Portanto, parece um risco inconsequente tentar fotografar as posições da artilharia guineense, pois primeiro, felizmente, ainda há muita gasolina em Bissau (ainda ontem abriu um novo posto de combustível) e podem sempre ir mudando de localização, e além disso os guineenses não acreditam em OVNIs, ou seja, se insistirem em tão insensata «missão», estejam alerta, com os flairs na mão, não vão os guineenses ao Museu da Guerra Colonial e descubram algum Strella não muito podre; ah, e se virem um MIG, não se assustem (muito), porque em princípio, segundo informações com mais de dez anos, os guineenses não têm nada para o armar (a não ser que as providências junto da Ucrânia por parte do Chefe de Estado Maior da Força Aérea, à época da Junta Militar de Ansumane Mané, no sentido de colmatar essas carências, se tenham revelado frutíferas). Por via das dúvidas, recomenda-se aos tripulantes que se untem bem com repelente, pois o ambiente é um pouco hostil: a terra está cheia de canibais, os rios de crocodilos e o mar de tubarões. Consulte-se também, já agora, o breve apanhado de armas e munições que os russos deixaram, publicado ontem na internet,
http://movv.org/2012/04/16/estado-das-forcas-armadas-da-guine-bissau-exercito-marinha-e-forca-aerea/
Uma coisa são as missões de Paz a que o exército português já se habituou, isto não é bem a mesma coisa...
Agora não há mais nada a fazer senão desenganar o recém constituído galifão da política internacional acoitado nas necessidades... Não faz qualquer sentido o pretexto apresentado de «salvar os portugueses» (o repórter da RTP bem tenta fazer-lhe a vontade, incentivando as pessoas a irem ao Consulado, mas não viu nenhuma por lá, só estava mesmo ele... aliás, a reportagem efectuada a esse propósito foi esclarecedora: ninguém quer ser «salvo») porque não vai à televisão e explica aos portugueses o que está realmente em jogo? É tabu? Há na Guiné um ditado que diz: Ku mati garafa na jugu di pedra, s'i ka kebra ki misti? Também é válido, claro, para Angola; traduzindo a moral da história: não te metas nas contendas alheias, pois mesmo sem motivo, podes magoar-te. Sr. Ministro: se Angola tinha um problema grave nas mãos, não valia a pena ir-se lá inscrever para o castigo, arrastar todo o país com o seu masoquismo. País que anda a mendigar pelas instâncias internacionais não abre assim o erário público a despesas militaristas, aventureiras... e inúteis (esperemos que o bom senso dos militares prevaleça e não se tornem desastrosas).
Na boca ficadu i ka ta entra mosca. O Ministro dos Negócios Estrangeiros português não apenas caiu numa «armadilha» ao «unir» os seus esforços a Angola «na procura de uma solução»; como falou demais quando a situação aconselhava contenção, discrição e, sobretudo, distanciamento de Angola. Agora é tarde e já está «agarrado à carroça» ou «pregado na cruz»: tem uma Força de Inacção, Lenta e inutilizável, que vai ficar a coçar a micose em Cabo Verde. Um navio mercante, desarmado, mas com gente decidida, teria um valor muito maior, neste contexto: que o diga o senhor Almirante. Talvez valha a pena pensar em carregar um cargueiro com comida não perecível e água engarrafada: para além de eventualmente poder servir para aliviar minimamente uma sempre possível crise alimentar, sempre me parece um pretexto melhor (e infinitamente mais barato, acrescente-se) para ter ali à mão, com a vantagem de ser considerado um gesto de boa vontade, impedindo a espiral gratuita de promessas violentas a que se tem assistido; nem é preciso ir roubar a comida aos pobres, ou ao Banco Alimentar, apresente a conta ao seu amigo angolano, que o meteu nesta embrulhada. Quem não pode ser leão, não lhe veste a pele.
Dizem que o caranguejo anda para trás... mas é impressão. Do cardápio comunista constam algumas bocas interessantes, no campo da estratégia: uma delas é decerto que, às vezes, «é preciso saber dar um passo atrás, para poder dar dois à frente». Kakre, caranguejo são signos do Zodíaco, cancer, mas é a designação guineense que mais se aproxima de cancro. A Guiné já foi uma vez um verdadeiro cancro para o exército (e para o regime) português. É que os guineenses podem ser pobres, mas são tenazes.
Não Vaz por aí, Fernando
As reuniões dos partidos (com e sem assento) na Assembleia da República, à margem da ilegalidade constitucional que representam, revelam, neste contexto, uma grande maturidade política. No entanto, o seu Porta-Estandarte, esquivou-se a revelar a sua abrangência e representatividade, pois falou-se de partidos a abandonarem os trabalhos: isso também não é o mais importante, mas sim uma presença política não militar nesta situação. As intenções apresentadas parecem claras: assumir a demissão do governo, presidente da república, bem como a dissolução do Parlamento; ou seja, acabar com o Estado (a que as coisas tinham chegado), o que é louvável e o momento o indicado; já o segundo ponto da ordem de trabalhos para hoje, a transição (e para onde, um retorno ao passado «democrático» que já foi espezinhado?), parece mais desadequada: é impossível, neste momento, chamar juristas e alimentar discussões estéreis em torno da delineação de uma «Carta» proto-constitucionalista...
Passemos às coisas importantes: a figura proposta de um Conselho Nacional de Transição, a quem competiria apenas nomear um Presidente e um Primeiro-Ministro para um certo período (não muito curto, sejamos pragmáticos). Não parece convincente meter mais fantoches nas mãos dos militares, seria como virar o disco, e continuar a tocar o mesmo... Neste momento, grave, face às ameaças que pairam sobre a Guiné, é preciso dar provas ao mundo de uma consistência sem falhas. Nem é preciso multiplicar as figuras: para quê querer fingir a velha ordem, com todos os prejuízos já sofridos? Para quê Presidente e Primeiro-Ministro? Já agora também um Presidente da ANP... A figura legal a escolher deveria antes reflectir a necessidade de encontrar consensos na sociedade multi-étnica, dar voz à expressão das várias preocupações e sensibilidades. Para conjugar com sucesso o poder político-militar, como se pretende, basta uma única figura, que não seja Presidente nem Primeiro, centralizando as decisões, pois não precisa de ser nada disso, devido ao Estado (de excepção): consagre-se a situação de facto e chame-se-lhe «Chefe de Estado» (MFA). Já o CNT poderia ser um orgão de discussão a reunir na ANP, alargando a escolha dos conselheiros a figuras eminentes da sociedade civil e aos mais velhos, cuja função seria escolher o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, e ajudá-lo na governação. Não faz, Vaz, qualquer sentido, neste momento, julgar que se pode continuar a insistir na «palhaçada» de civis manobrados por militares. Há que inventar algo de novo; em tempo de «guerra», só um militar faz sentido ser escolhido para assumir o poder. Seja mais original e antecipe-se!
domingo, 15 de abril de 2012
As melhores condições para uma retirada condigna
Está toda a gente empenhada em evitar atrocidades. Mas não se pode escamotear o facto de que a «anarquia» político-militar na Guiné-Bissau venceu o primeiro round, adquirindo por esse meio, uma vantagem táctica dificilmente desprezível, facto que inflaccionou claramente os preços (ou pesos) na balança, muito por culpa, diga-se, em abono da verdade, da displicência do aparelho de José Eduardo dos Santos, mesmo se o próprio, coitado, entretido com os seus sonhos de grandeza comprados nos grandes armazéns de Paris, não se apercebeu logo da real dimensão da questão.
Em prol da justiça, temos de fazer um pequeno intervalo: mete pena o pobre Zé Diabo estar a dar assim um tiro no pé, para quem se queria afirmar em África, foi escolher o espelho errado a quem perguntar… Mas há primeiro que fazer o seu elogio: os angolanos podem agradecer a sua grande obra (se bem que um pouco estalinista – tal como a obra do mestre – consistente) de consolidação e unificação nacional. A centralização (democrática, claro) permitiu afirmar Angola como uma potência regional. Isto, mesmo se a riqueza obtida com a venda dos recursos nacionais tem vindo a ser distribuída de uma forma demasiado vertical, não se reflectindo numa melhoria substancial do nível de vida das populações, por exemplo através da construção de infra-estruturas de ensino, de saúde, etc, mas apenas na de uma pequena franja de beneficiados, regra geral actuando de forma prepotente e desadequada ao mercado, ou seja prejudicando as condições para um desempenho eficiente da economia. A sociedade angolana é actualmente presa de grandes contradições, vítima de um modelo mental reactivo, numa ilusão de comprar pelo dinheiro uma indemnização moral do colonialismo, através de uma relação essencialmente perversa com os re-retornados tugas.
Foi sem cuidado, sem grandes preocupações com o futuro, sem grande aparato, quase macaqueando a normalidade, que soldados angolanos chegaram a fazer a guarda da residência do Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau. Descubra-se aqui o criminoso: o PM guineense, porque se sentia desprotegido e já estava a ver (aliás, já tinha visto, há um ano…) o que lhe ia acontecer (não deixa de ser um traidor e um provocador, não cabe na cabeça de ninguém ofender assim as suas próprias Forças Armadas - independentemente de quem, legítima ou ilegitimamente, ocupava a chefia no momento); ou a culpa vai direitinha para os irresponsáveis mentores angolanos? que displicentemente ousaram desafiar assim as únicas Forças Armadas que derrotaram o Exército português (sim, decerto não foram eles que o fizeram). A independência da Guiné aconteceu mais de dois anos antes da Angolana!
Pois. Que militar aceitaria de bom grado ver pisar o seu chão por botas estrangeiras, transportando armas não declaradas, arrogando-se a desprezar, do alto da sua inconsciência e incúria perante tão imprudente feito, um chefe da tropa da praça? Os factos são infelizmente sem apelo. Foram, primeiro o Embaixador, depois o Ministro, que se excederam? São apenas «a voz do dono» e o reflexo de uma mentalidade infelizmente prevalecente de arrogância e prepotência. É lamentável. José Eduardo dos Santos perdeu sistematicamente os timings neste processo, por uma insana teimosia e decrépita vaidade: quando se apercebeu de tudo o que tinha a perder e tentou remediar as coisas, já o CEMFAGB tinha sido obrigado a reagir e estava fora de questão um retrocesso…
Sempre de boa fé, como sempre, os guineenses, foi-lhes preciso tempo para se aperceberem das sub-reptícias intenções das autoridades angolanas, consubstanciadas num discurso pseudo-pan-africano, mas sobretudo acautelando obscuros contratos de mineração. Mas, na Guiné, mandam os que lá estão. Em Portugal, isso é traduzido por um ditado popular precedido por «Para cá do Marão…» Para já, parece que todos os elementos da ex-MISSANG adquiriram, por via diplomática, o estatuto de persona non grata permanecendo ilegalmente na Guiné-Bissau, o que não é tão amistoso como o costumam ser os guineenses. JES deve preparar-se para engolir um sapo: tanto quanto já foi dado a perceber, o efectivo a deslocar para o local de evacuação, a acertar, deverá ser escoltado pelas FAGB, obviamente desarmado (e, para não acirrar ainda mais os ânimos, seria de bom tom que evitasse ostentar quaisquer símbolos, divisas ou bandeiras distinguindo a sua origem).
Quanto às ameaças proferidas por Angola, infelizmente, referem-se a instâncias pouco actuais e são dirigidas contra anónimos: vão cair directamente em saco roto. Com o CEMFA anunciada e oportunamente preso, os nomes que se vão destilando são completamente desconhecidos e inimputáveis… O problema não está nas pessoas, está nas atitudes! Neste caso, quem tem mais a perder, não são decerto os guineenses, que não têm nada! Pois se nem sequer têm, convenientemente, pelo menos para já, nomes para assumir o suposto «golpe». Deve ser o primeiro golpe de Estado anónimo da História! Mas nem sequer isso é: parece tratar-se apenas de uma simples clarificação de soberania contra uma agressão disfarçada sob pele de cordeiro: com tanto trabalho de casa por fazer, Angola não tem legitimidade e muito menos moral para andar a varrer a casa dos outros. Faz estranhamente lembrar a invasão senegalesa (apresentada a pretexto de defender a «legitimidade democrática», claro) e de como esta despertou o sentimento nacionalista guineense.
Já o discurso agressivo que a Comunidade Internacional tenta manter só pode agudizar as tensões... E parece manifestamente desadequado, até porque quem tem a faca e o queijo (neste caso o colar e as missangas) nas mãos são os militares guineenses, que não gostaram decerto que os angolanos se viessem pavonear com armas novinhas em folha... que supostamente eram para os guineenses, mas que depois já não queriam dar e pretendiam levar outra vez... com a escalada entretanto ocorrida nas palavras e o «estado de guerra» que a comunidade internacional parece querer impor, está fora de questão entregar os blindados ou os helicópteros sul-africanos. Ficam retidos a título de reparação. Em Portugal há um ditado que talvez sirva para consolar Angola: «Perdidos os anéis, ficaram os dedos». E não serão necessários formadores angolanos para o equipamento doado: na Guiné há gente qualificada para isso; no fim da guerra anti-colonial, enquanto em Angola não conseguiram utilizar os Strella enviados pelos russos, na Guiné varreu-se a Força Aérea Portuguesa logo à primeira utilização, com o abate de dois FIAT.
O que é preciso, de um lado e de outro, é bom senso. Do lado do Comando Militar, parece-me que a situação justifica encontrar a pessoa certa para dar a cara e assumir que o poder não caiu na rua, conforme preocupação assumida no seu primeiro comunicado: essencialmente terá de ser um bom comunicador, com provas dadas, que domine bem português, francês e inglês (sim, que o actual CEMFA deixava um pouco a desejar nesse campo: em Angola pediu um tradutor português-crioulo), que não tenha estado envolvido nas cavalgadas dos últimos tempos, para conseguir a necessária credibilidade externa, um patriota de confiança a quem será dada carta branca, alguém brando e tolerante para com os perdedores, que terá igualmente de ser um militar carismático para que possa ser respeitado e obedecido pela tropa.
Uma vez que não será possível devolver rapidamente o poder aos civis, depois desta triste farsa, o «eleito» terá de governar, talvez mesmo de aguentar um breve arrufo da comunidade internacional eventualmente traduzido por um bloqueio económico. Também não estou a ver outra forma de a classe castrense guineense conseguir descalçar esta bota com dignidade, sem a pessoa indicada. Poderia ser tentada uma verdadeira reconciliação nacional, associada a uma amnistia «político-militar», que enterraria o «machado da guerra» para sempre, interrompendo o clima de violência e de vinganças a que se tem assistido… estabelecendo um clima de paz e concórdia a que o povo guineense muito aspira, consubstanciado pela unidade das Forças Armadas face à tentativa de agressão externa.
De outro modo, rompida a solidariedade nacional, tornar-se-á uma questão de sobrevivência para alguns, e apenas nos restará lamentar a dissolução do estado criado por Cabral, às ordens de uma comunidade internacional pouco entendida na matéria, manipulada por uma Angola à procura de humilhar aqueles que ousaram fazer-lhe frente… Viva a paz! Que o bom senso permita evitar uma noite das catanas longas!sábado, 14 de abril de 2012
Paulo: Não entres assim a matar! Bate primeiro às Portas
Senhor Ministro, não prepare nada em Bissau em nome dos cidadãos portugueses, sem primeiro perguntar aos interessados. Qualquer atitude impensada da sua parte teria o efeito exactamente contrário, pernicioso e, muito possivelmente, infeliz, para aqueles que diz querer proteger. E, a colocar meios na zona, seja mais discreto, senão arrisca-se a ser visto como um agressor. Felizmente que os guineenses em geral e os militares em particular sabem que, com esta sua atitude, não representa o sentir da maioria esmagadora dos portugueses, que são claramente contra todo o tipo de ingerência em ex-colónias: responder-lhe-iam perguntando-lhe, sr. Ministro, «_Então não quiseram a independência?». E mais: as pessoas ainda não sabem das verdadeiras motivações da sua «preocupação», encomendada (e decerto, regada) por outra ex... Não deveria abdicar de formular uma posição própria, para quê colar indecente e indecorosamente à posição de outro país?: Portugal já não é a mãezinha de Angola; sr. Ministro, não hipoteque a soberania nacional! Por este caminho qualquer dia Portugal transforma-se num protectorado de Angola.
A quem pedirá licença para atracar no porto, se não há governo? Está a pensar fazer um desembarque anfíbio e depois marchar para Bissau? Explicou bem o plano aos senhores generais? Como em Conakry em 1970? Ó bendito Mar Verde! Que glória o espera! Mas não o faça sem primeiro pedir a opinião de Alpoim Calvão! Se calhar mesmo o melhor é despachar os seus soldados no voo da TAP, que sai mais barato? Veja lá, o melhor é mandá-los desarmados, porque os guineenses agora deram em confiscar todas as armas que por lá caem. Por favor, não mande os submarinos que comprou, pois ainda ficamos sem eles (e ainda não os pagámos). E depois disso, já tem um plano para recolonizar o país? Poupe-nos ao ridículo! E sobretudo abstenha-se de fazer o que quer que seja. Os guineenses são suficientemente idóneos para resolverem os seus problemas sem ingerência externa. Cuide da sua soberania e não ofenda a dos outros.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Sequestro do blogue DitaduradoConsenso
Na sequência dos acontecimentos que se desenrolam na Guiné-Bissau, foi preso o jornalista Aly Silva, do Ditadura do Consenso. É sintomático que a última mensagem no seu blogue seja o desfazer da estranheza provocada pelo «suposto» anonimato assumido pelos golpistas. No entanto, parece-me um gesto de fraqueza, senão mesmo um tiro no pé, prender o Aly, por mais irritante que a sua irreverência se possa pontualmente revelar. Não deixava de ser uma ponte... E a Guiné vai precisar!
Para além da auto-proclamada legitimidade patriótica que assiste aos militares conducentes do caso, que nem é novidade, tratando-se apenas de uma reedição, passados um ano, um mês, e treze dias, hoje, sexta-feira, dia 13, do pseudo «sequestro» do PM, que, sem violência, foi convidado para uma reunião informal não agendada... há agora uma questão nova e premente, à margem do reequipamento das Forças Armadas com material bélico moderno, que consiste na retenção de um quarto de milhar de reféns (da situação) estrangeiros (quer dizer, PALOP's).
Dando continuação do trabalho do Aly, a informação mais valiosa em Bissau, neste momento, prende-se com a logística da MISSANG: têm comida para quantos dias? É muita gente a comer... As manobras de intimidação de José Eduardo dos Santos, com a profunda amizade que descobriu recentemente pela Guiné Conakry, ou a pressão sobre Portugal e o Brasil para conseguir salvar os seus «bonecos», apenas dão conta do seu desespero perante o beco sem saída em que se colocou, ao desafiar, imprudentemente, um país cuja soberania foi conquistada de forma mais agreste e decidida que a sua (à qual, aliás, deve a sua; e será mesmo «sua»?).
Como sugeria (baixinho) o Aly, há poucos dias, deseja o senhor Presidente da República de Angola, ver chegar os seus concidadãos em sacos de plástico pretos? Para além dos méritos que se arroga, como «polícia» de África, a sua experiência deveria ter-lhe ensinado em não entrar em guerras estúpidas, parvas e, pior que tudo, perdidas. Agora é tarde para chorar sobre o leite derramado, e terá de negociar com a solução que se cozinhar em Bissau. Não parece inteligente nem adequado tentar resgatar pela força os homens que estão no terreno... pois a única coisa que se encontra em jogo, neste momento, é a forma como vão sair.
Talvez valesse a pena publicar as famosas fotos que os franceses pediram que nunca fossem publicadas, que mostram, no dia 7 de Maio de 1999, as duas dezenas de tropas especiais francesas a saírem assustadas do Centro Cultural, de mãos no ar e pânico no olhar... Lembro-me bem dessa manhã, quando a chefe dos Serviços Secretos, à época, Anne-Marie Gazeau, violou todos os protocolos, e quando perdeu o contacto com os seus «palhaços», encheu a France Press com pedidos de socorro a todos os franceses na zona... Associados à odiosa invasão senegalesa, deu-se-lhes 5 minutos para saírem; não havendo resposta, um simples RPG, largado ao nível do solo, foi o suficiente para os fazer mudar de ideias. Faz-me lembrar a música do 7 semanas e meia: «You can keep your hat on»: neste caso, podem conservar os boxers...
Já quanto ao material bélico, está assumida a confiscação, uma vez que a sua entrada no país passou a ser considerada ilegal: coloque-se-lhe o carimbo «Confiscado na Alfândega». É nesse sentido que endereço um veemente pedido aos actuais detentores da força na Guiné-Bissau: se o que pretendem é uma dignificação da Guiné-Bissau, o Aly é uma peça essencial nesse tabuleiro, que conquistou por mérito (e destemor) próprio, mesmo assumindo a sua irreverente independência; para além do opróbrio a que querem injustamente condenar a Guiné em todos os factos já consumados, não vale a pena acrescentar-lhe atentados à liberdade de imprensa; mais vale, em todos os sentidos que consigo discernir, deixá-lo fazer o trabalho dele. Será pela visibilidade que estava a adquirir (terá sido o directo do Aly para a TVI, à hora do almoço, a gota que fez transbordar o copo)?
Mas porquê sempre a mesma mentalidade traduzida no provérbio do «Cacre na kalabasse»? Vamos deixar brilhar os guineenses que são bons no seu trabalho (reconhecidamente)... como decerto o são todos os que se preocupam com a identidade nacional e condenam a agressão e arrogância externa, traduzidos numa missão estrangeira instrumentalizada e prepotente no próprio território: quem melhor que os militares para sentirem a gravidade da ofensa? Talvez o que propõem não seja suficiente para assegurar uma continuidade política do Estado, mas, de momento, constituem uma situação de facto, que terá de ser encarada com mais seriedade pela comunidade internacional, sem estes arrufos inconsequentes de quem não vai a lado nenhum... Ao senhor Ministro da Defesa de Portugal, que é novo nestas andanças, recomendaríamos que não se deixe embarcar em canções do bandido... «Nem mais um soldado para as colónias» ou já se esqueceu? Meter-se em assuntos alheios a soldo de Angola seria uma monstruosidade e de resultados muito provavelmente desastrosos, para a sua insignificância operacional.
Aly: espero que os responsáveis pela tua prisão caiam rapidamente em si e te deixem continuar a trabalhar, sem quaisquer condições ou condicionamentos. Um abraço
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Conferência em Santarém
A Associação de Estudo e Defesa do Património Histórico-Cultural de Santarém vai promover um Colóquio sobre «Defesa do Património da Humanidade em Zonas de Conflito», na sua sede, ao Terreirinho das Flores (ali ao lado da Igreja de Marvila, em frente ao Ex-Libris), na próxima Sexta-Feira, dia 14 de Outubro, pelas 21h30. Será uma óptima oportunidade para trocar impressões acerca da sombra destabilizadora que paira sobre o mundo.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
domingo, 18 de setembro de 2011
Requiem por Obama
Obama vai passar esta semana numa maratona em reuniões na ONU cuja agenda, como muitos já suspeitam, vai ser crucial para o futuro, onde as paradas vão ser altas; e o risco elevado para a humanidade. Mas o facto é que este Obama é agora um homem fragilizado, pois perdeu o comboio da história, talvez mesmo o da sua própria dignidade. Acossado pelos candidatos republicanos, com as sondagens em queda livre, o efeito Líbia virou-se contra ele. Feitiço contra feiticeiro. Eleito com promessas de aliviar o peso da máquina de guerra no exterior, traiu as expectativas optimistas que nele depositaram (e não só na América, mas no mundo), antes propondo-se conduzir a América a novas guerras, sem o mínimo de credibilidade. Anunciou há três semanas uma vitória certa em dois ou três dias para a Líbia, agora encontra-se num beco sem saída.
Dez anos e uma semana após o 11 de Setembro, os americanos começam a desconfiar da maneira de fazer política de todos os que caem naquela Casa, por boas que sejam as suas intenções iniciais: de boas intenções está o céu cheio. Agora que a América está na bancarrota, que está feita a catarse do 11 de Setembro, «enterrados os mortos», alimento a sincera esperança que uma fagulha ilumine o seu povo e que da próxima eleição presidencial saia um homem pacífico, mas firme, mais virado para o comércio que para a guerra. Vão ser lastimáveis e penosos, os últimos dias de Obama: a perda da Casa, o descrédito, a desonra, a vergonha, o abandono dos amigos, a traição da mulher; mas que se console, seria muito mais grave se fosse apanhado pelos rebeldes líbios.
Escalada nas palavras
Naquilo que parece ser uma resposta ao embaixador russo na ONU, que anda pelos bastidores a dizer que esta Administração americana não tem qualquer credibilidade, o Secretário-Geral da NATO deu hoje uma entrevista à mesma televisão Russia Today. Vejam-no a ser devorado pela jornalista! O momento para o qual quero chamar a vossa atenção está aos 11'40'': pressionado, o louco irrita-se e, numa entrevista pausada e insonsa, sobe o tom e diz: «A NATO não tem intenção de atacar a Rússia!».
O retorno da Guerra Fria?
Rússia ameaça América... Segundo o seu Embaixador permanente nas Nações Unidas, Vitaly Churkin, agora que o «novo poder» líbio recebeu reconhecimento internacional, há que levantar a «Zona de exclusão aérea», silogismo assassino que a NATO prostituiu até ao inimaginável. Vejam a entrevista concedida, em inglês, à televisão Russia Today: o ponto interessante vem entre o minuto 8 e o minuto 9.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Amnistia Internacional acusa rebeldes de Crimes de Guerra
A situação evolui rapidamente. O pseudo-chefe do novo pretenso-governo desembarcou em Tripoli, para logo se desentender com o comandante militar (pura e simplesmente organizou a pilhagem sistemática de casas de oficiais leais a Kadafi e de empresários ausentes da cidade), que invadiu a cerimónia sem ser convidado e lhe deu um valente empurrão. Agora que «estão» no poder, começam os verdadeiros problemas de como o repartir, que farão de mais esta sequela do 11 de Setembro um novo Afganistão ou Iraque.
domingo, 11 de setembro de 2011
Abcesso de fixação
Grande derrota dos terroristas em Ben Walid. Depois de terem entrado na cidade, no Sábado de manhã, foram dispersos em múltiplos combates de rua e obrigados a recuar sob fogo cerrado sofrendo elevadas baixas. Salif parece apostado em criar ali um abcesso de fixação e está a consegui-lo: para já aliviou a pressão sobre Sirte; impotentes face ao desafio, os pretendentes ao poder em Tripoli estão a tentar concentrar o máximo de forças para controlar o «abcesso», dando os primeiros sinais de fraqueza (a data para o ataque «final» tem sido sucessivamente adiada escondendo-se atrás da aparente e cínica «boa vontade» para negociar e «evitar mais derramamento de sangue») ; enquanto Salif concentra as atenções, adapta as suas tácticas (em entrevista à televisão francesa, avisou que a sua vantagem está agora no combate não convencional) e aprende a lidar com os bombardeamentos da NATO, ganha um tempo político precioso, mantendo «o perigo», à espera que acabe o mandato (27 de Setembro) da ONU e a Aliança terrorista deixe de ter cobertura para operar nos ares... A própria NATO começa a dar sinais de desespero com a aproximação da data, tendo em conta a oposição da Rússia, China, Brasil, África do Sul, etc. Com esta clara vitória de Salif, começam também a notar-se sinais de desagregação da aliança rebelde contra-natura: desinteligências entre grupos rivais provocaram 12 mortos; agora até já se matam uns aos outros.
De Ben Walid não passarão!
PS De parabéns está a Guiné-Bissau: quando elementos da embaixada líbia retiraram a bandeira verde e colocaram um farrapo tricolor, foram imediatamente accionados para reporem a única bandeira acreditada e reconhecida internacionalmente. O que agora se passa na Líbia é algo parecido com o que se passou na Guiné-Bissau após o 7 de Junho de 1998: face a uma invasão estrangeira, esquecem-se antigos desentendimentos e toda a população se une para resistir ao invasor. Que grande símbolo, o Poilão de Brá.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
A loucura continua
Ontem, quinta-feira, o telejornal da RTP1 foi uma triste e repugnante encenação à escala nacional. Os dois líderes da coligação governamental, numa constrangedoramente servil operação mediática, abanavam o rabinho à NATO. O ministro dos Negócios Estrangeiros, numa extemporânea, deselegante, desnecessária e prematura manifestação de reconhecimento implícito de uma «revolução» (inacabada, mas pronto), deslocou-se à Líbia, para participar da «partilha dos despojos»; com tanta gente a morrer, referia-se pateticamente às magníficas oportunidades que se abrem para os empresários portugueses... O primeiro-ministro recebia o Secretário Geral da NATO, para anunciar a transferência para Lisboa do Comando desta organização, já não apenas defensiva, mas agora vocacionada para a ingerência programada nos assuntos internos de estados soberanos.
Uma breve ilusão de poder e um preço alto a pagar: mais que uma ofensa, é um crime, associar o nome de Portugal a esta barbárie. Que temos nós a ver com esta loucura? Que temos a ganhar? Aos betos irresponsáveis que nos governam lembro as promessas que nos fizeram pela participação na 1ª Guerra: nem uma migalha caiu da gamela dos grandes... Não nos arrastem para a estupidez em preparação, deixem-nos cá quietinhos no nosso cantinho reduzidos à nossa tranquila insignificância; quanto ao hipócrita do jornalista falhado que é Paulo Portas, lembre-se dos combatentes da guerra colonial, dos quais popular e demagogicamente muito abusou, esses tempos acabaram, não faça pouco das pessoas. Já nos custou bastante sarar as feridas do Império. Então nós íamos neocolonizar a Líbia? Quando chegámos aos Açores e à Madeira não havia lá ninguém; olhe que na Líbia há líbios. Não se meta nisso, não estou a vê-lo a ter lições de árabe. Talvez sinta antes necessidades de pedir ao Dr. Adriano Moreira umas lições de geopolítica (para não falar de um mínimo de bom senso e tacto, que não será demais pedir a quem ocupa o Palácio).
Não será a inventar ameaças, a aumentar a intolerância, a promover as guerras e dissenções que se vão resolver os graves problemas mundiais. Ao estarem a apoiar estes actos criminosos, Passos Coelho e Paulo Portas são passíveis de ser acusados de Crimes de Guerra. E entretanto arrastam o nosso país e a nós todos, ainda com uma imagem positiva perante muitos povos, para uma escalada de loucura e animosidade que não augura nada de bom. Em vez de procurarem fazer pontes, dinamitam-nas... Isto é de loucos e em tudo contrário à tradição e vocação universalista portuguesa.
Quanto aos pilotos da Força Aérea, sugiro que se recusem a operar nesse cenário, como o piloto canadiano que deu o exemplo, recusando-se a sair em missão quando analisou os alvos que lhe estavam alocados. Seria uma desonra para o exército português uma participação, por mínima que seja, nesta guerra cínica. De cada vez que mudam os conceitos geopolíticos, há uma grande guerra. Lembre-se o Congresso de Viena: era preciso tramar Portugal e Espanha, então o Direito «Colonial» Internacional «evoluiu» e passou do «primeiro a chegar» para quem «ocupava de facto»... a coragem e determinação dos nossos exploradores ainda permitiu que atravessámos África, mas não impediu o fim brusco e infeliz do mapa cor-de-rosa, ainda antes de o nosso Corpo Expedicionário ser «sacrificado» (pelos nossos queridos «aliados») na batalha de La Lys (os rapazes é que eram rijos e aguentaram-se).
Resumindo: esta não é a nossa guerra. Então e ninguém faz nada? Se calhar devíamos ir para a Praça do Comércio manifestar contra o regime «democrático» que foi colocando no poder políticos corruptos e medíocres que nos sobre-endividaram e agora, betos sonsos e inconscientes que estão apostados em conduzir-nos alegremente para o abismo, sem o mínimo de orgulho ou considerações relativamente à identidade e soberania nacional. O cão do gramofone não faria melhor. Lamentável falta de dignidade. Vil. Repugnante.
Não à venda de soberania! Nem mais um soldado para as colónias (dos outros, ainda por cima)!
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Salif entre os Ben Walid
Na linha da frente. É ele a alma, agora. O pai passou à história.
PS O Kadafi velho fazia bem em abdicar formalmente. Facilitava as coisas. À falta de golpe fatal, a NATO sobe a parada: vão agora tentar destabilizar Marrocos e Argélia...
sábado, 27 de agosto de 2011
No more MASS brain washing!
Não se deixem enganar pelas notícias nos media!
Estão a querer fazer-vos uma lavagem ao cérebro...
Incrível: acabou-se de repente o «politicamente correcto» na América; quando se passa dos limites da hipocrisia e da ganância, cai-se na demência assassina! Cada vez mais americanos dizem claramente o que pensam do caminho que o seu governo quer impor ao mundo. Não vão por aí! Não percam: entrevista de historiador americano à TV iraniana: http://www.youtube.com/watch?v=gpB2LKLToog
Os russos parecem finalmente ter acordado e contra-atacam: acusam agora os americanos de ter mentido, aquando do pedido do mandato na ONU, ao afirmarem que Kadafi estaria a utilizar a sua aviação contra os seus compatriotas. Os russos mostram provas. Suficiente para refrear os entusiasmos? http://www.youtube.com/watch?v=_yuZCvmN_Fg
Grande pinta esta líbia! Até faz um manguito ao Obama. Manifestações em território rebelde: agora não podem dizer que são pagos pelo regime; as pessoas correm riscos para o fazer! Ao contrário das outras imagens de Tripoli, onde não se vê ninguém a não ser rebeldes. http://www.youtube.com/watch?v=_5EpvO47CUE
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
+ uns LINKS
1) Lindíssimo, a não perder. Fiquem a saber as verdadeiras razões da operação da NATO: Kadafi, que ultimamente se convertera em ultra-liberal, tinha tido uma ideia, criar um dinar-ouro, como alternativa ao dólar, que todos os países da OPEC deveriam exigir em troca de petróleo. Mas vejam até ao fim, Obama a ser violentamente interpelado, num programa de rádio, por um líder black espectacular: melhor que Jazz! http://www.youtube.com/watch?v=w81x7WfGilI&feature=related
2) As opções estratégicas: passar à guerrilha. Aquilo que se perde em território, ganha-se em mobilidade. http://www.youtube.com/watch?v=B5oIj2rgt6U&NR=1
3) Para quem tenha paciência (e estôgamo), vejam a série! Este utilizador do YouTube tem mais... http://www.youtube.com/watch?v=RjUP3WA9APY
4) Horrível! Execuções a sangue frio de soldados regulares capturados... http://www.youtube.com/watch?v=70-QwPHMxDE&feature=related
5) Os crimes da NATO, continuam... no meio do desespero geral. http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=ZeNRs1E83gs
6) Uma análise esclarecida, por parte de um insuspeito ex-PM belga!
http://www.youtube.com/watch?v=2mHTPEb58HE&feature=related
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
FILAS ao contrário
Novo episódio da desordem mundial. Tripoli invadida, com o apoio da NATO, por um bando de bandidos e desordeiros. Diga-se, em abono da verdade, que nunca achei muita piada ao autor do livro verde, na sua tenda a beber leite de camela, sempre tentando polarizar a legimidade árabe - que invejava em Nasser - para a qual aparentemente nunca esteve destinado. No entanto, acho indecentes e indecorosas as atitudes da França e Inglaterra: apenas em busca de petróleo? ou de uma nova ordem colonial? Obrigados pelos americanos, em 1956, a recuar no Suez, apostam agora na ilusão de uma «partilha» imperial, com os americanos: uma oportunidade de reequilibrar a balança europeia, que parecia pender perigosa e definitivamente para o lado alemão; aos americanos, desgastados noutros lados, com manifesta falta de cultura geral e de sentido histórico, para além de hesitantes em envolverem-se, esta «aliança» parece, se não apenas pontualmente conveniente, talvez mesmo estruturalmente interessante.
Quero portanto, como cidadão europeu que nunca quis ser, desmarcar-me destas atitudes dos governos imperialistas de certos co-estados-membros. Esta atitude configura claramente uma situação de ingerência nos assuntos internos de estados soberanos, para além de uma péssima opção estratégica, com a agravante de que vai provocar mais uma impressionante tragédia humanitária, com o seu cortejo de ódios. O preto que se enganou na cor da Casa, enganou muita gente, mas já nem sequer respeita a antigamente sacro-santa Constituição, que foi a espinha da América, Constituição que o obrigava a pedir autorização ao Congresso para declarar a Guerra: mas também não faz a coisa por menos; com tanta desgraça e gente a morrer, resolveu a cena com uma rápida, sobranceira, arrogante e irritante explicação pela TV «Não preciso de pedir autorização ao Congresso porque já ganhámos a guerra»; por este caminho vai voltar a fazê-lo, claro. Com o mesmo despudor. E os americanos papam, baixa só meio pontinho nas sondagens.
Aparentemente, os árabes e muçulmanos estão divididos. Se no terreno parece ser uma irmandade multinacional (uma espécie de maçonaria árabe) que congregou uma insatisfação latente, chamando mercenários e bandidos de vários países (basta ver imagens dos «combates», do lado dos «rebeldes» são tudo menos civis entusiamados), já o aparente apoio saudita é bem mais estranho. Em África, o melhor exemplo vem do país de Nelson Mandela (a alma da reconciliação) que continua a recusar reconhecer o pretenso «governo» como resultado de um levantamento popular (que seria legítimo); considerando tratar-se antes de sedição. Assinale-se também a prudente posição da Rússia, afirmando ser ainda cedo para reconhecer esse «governo» (não íam chamar-lhe associação de malfeitores...), que só o farão se estes «dominarem o país com força suficiente».
A situação pode parecer desesperada. No entanto, analisando friamente a situação, constatam-se várias brechas na «muralha» rebelde. Kadafi fala em «retirada estratégica». O coronel pode ter muitos defeitos, é definitivamente um falhado, mas aprendeu, ao longo dos anos, pelas piores razões e utilizando os piores métodos, a manter bem alerta o instinto de sobrevivência (não vamos, claro, ao ponto, de lhe chamar raposa, pois, dado o cenário, correríamos o risco de ofender a memória do Marechal). Mas não é ele que me interessa. Aparentemente na sombra do pai, SALIF prepara algo há meses, vejam, esta notícia poderia ser de há poucas horas:
http://www.youtube.com/watch?v=3OTYqpZFSTc
Na Segunda-feira, a notícia caía como uma bomba: o complexo presidencial acabava de cair e o filho de Kadafi (poderiam ter escolhido outro, mas não, era Salif) fora morto nos combates; algumas horas depois, afinal não fora morto, estava em poder dos rebeldes, «que o estariam a tratar bem». Ora, logo na madrugada de Terça, o «morto» dava uma Conferência de Imprensa, em directo, para 35 jornalistas estrangeiros especialmente acreditados (e mantidos para o efeito) no Hotel Roxio. Não era um homem perseguido: transbordava boa disposição, mesmo. Era um vencedor. E estava a falar uma linguagem (árabe) muito clara, ao contrário do pai, que está meio chéché há um quarto de século.
http://www.youtube.com/watch?v=LlVu7X8FJ_4
Pensando bem... Qual é a melhor maneira de dinamitar uma aliança rebelde? Trocar de campo. Deixá-los ocupar. É que enquanto se defende, é preciso dispersar as forças e manter uma autoridade difícil perante a situação. Até aqui, muitos líbios, poderiam ainda estar com o espontâneo e eventualmente legítimo «levantamento popular». No entanto, a partir de Terça, todos começaram a mudar de campo, com as barbaridades cometidas pelos estrangeiros. Salif passou a dispor de gente disposta a morrer por ele, aquilo a que a maior parte dos terroristas que se auto-intitulam rebeldes (para além de uma ínfima franja multinacional decerto mais crédulos e ingénuos) não estão dispostos. Além disso, agora que já não precisa de defender um território, pode concentrar as suas forças onde decidir bater. Será que reserva alguma surpresa? No caso de uma reviravolta no terreno, será bastante difícil a França e Inglaterra retirarem os seus espiões e forças especiais, que assumida e insidiosamente não apenas forneceram armamento e deram apoio logístico, como combateram ao lado dos bandidos e saqueadores. Estando no terreno em trajes civis (os meios de comunicação dizem «vestidos de árabe»... como se toda a gente não visse que a maior parte dos locais vestem como aqui em Portugal ou em qualquer parte do mundo, era como se viessem montados para o Ribatejo vestidos de campinos para passarem despercebidos) e não gozando de qualquer protecção por parte das Convenções de Genebra, até pela forma (pouco) diplomática e não declarada da intervenção dos respectivos países mandatários, podendo ser, portanto, legítima e sumariamente abatidos, permitam-me desde já que interceda por eles: julgo que seria suficiente, e um bom exemplo de humanidade, dar-lhes apenas (poupando os de origem muçulmana, que foram, claro, escolhidos para a missão por serem «sacrificáveis») uns valentes tabefes à frente do mundo, para os executivos dos respectivos paísesinhos e os paizinhos verem em directo pela televisão. Teria um efeito interno altamente galvanizador, lembrando a Embaixada americana junto do Chá, sendo externamente bastante pedagógico.
A legitimidade árabe é algo difícil, na qual os estrangeiros, aos países e à fé, se não deviam meter. É que pode-lhes sair o tiro pela culatra, o que, no momento que vivemos, seria altamente oneroso. Quer-me parecer que Salif agradece a oportunidade que lhe deram e que não está disposto a desperdiçá-la. Boa sorte para Salif e oxalá acabe rapidamente com a praga na Líbia, exterminando radicalmente as baratas.
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Terror privado? ou a manipulação de um rejeitado?
Conseguiu catalizar o momento e publicitar o «seu» manifesto. Perante a actual crise de legitimidade (U$A, €uropa, países árabes), primeiro pareceu-me que a mensagem essencial seria a de uma nova era aberta ao terrorismo individual. O único precedente conhecido foi Theodore Kaczynski, que ficou conhecido como Unabomber (também deixou um manifesto), mas com a grande diferença de este ser selectivo e actuar na base do 1/1: só matava um de cada vez; essencialmente, este brilhante matemático visava congéneres, com bombas artesanais que encaminhava pelo correio.
Passe a estupidez de os meios de comunicação mundiais (não resisto a chamar-lhes burgueses-marxistas, utilizando a terminologia do «artista») estarem a tentar censurar o(s) manifesto(s) do rapaz, numa clara reacção do politicamente correcto à propaganda subversiva. Ninguém enfia o barrete tão para baixo: isso mais parece a política da avestruz, para além de ser claramente pernicioso para a intenção formal, apenas servindo de mais publicidade ao objecto.
Uma leitura atenta do panfleto poderá revelar que não se trata de uma obra individual, mas antes de uma compilação impingida por alguns mestres «espirituais» pseudo-templários, com pretensas ligações à maçonaria regular, cujo rasto é fácil de seguir na internet. De qualquer forma, o resultado não é bonito nem recomendável. Configura mais uma ofensa ao próprio terror, até agora de causas e obra de organizações. A dantonesca cabeça de Robespierre deve rolar umas voltas, no panteão revolucionário.
Banalizado e futilizado, o terror! Que diz o palestianiano quando vê o filho sair de casa? «_Lá vai o meu rebento». E a mãe assente. Isto sim, é consistência social. Pessoalmente, tenho pena do rapaz (e do pai): no início da adolescência, fez um desenho, mostrou ao pai e o pai não gostou; para além de ter abandonado o filho, o idiota vem agora com declarações à imprensa a dizer que «preferia que o filho se tivesse suicidado»! Devia era cortar a pila, para castigo (aliás, devia tê-la cortado antes de fazer merda - não diz o Senhor: «Se a tua mão é ocasião de pecado, corta-a. Mais vale ires maneta para o céu que inteiro para o inferno»). Quanto ao filho, se queria publicidade, teria outra dignidade e o mesmo resultado, ou mesmo mais, a imolação pelo fogo, como fez o jovem tunisino.
Se até aqui, restava ao terror alguma dignidade, perdeu-a por causa deste beto nórdico egocêntrico e estragado com mimos. O arsenal dos pobres ficou mais pobre. Talvez devêssemos reflectir sobre o caminho de barbárie que leva este mundo sem regras e a deriva das identidades assassinas para a qual há muito chama a atenção Amin Maalouf.
sábado, 30 de abril de 2011
Mentiroso e hipócrita
No almoço comemorativo do 25 de Abril, tive a oportunidade de perguntar ao Senhor José Niza, se estava a pensar retractar-se publicamente, conforme lhe tinha solicitado. Primeiro balbuciou coisas incompreensíveis, depois disse que mantinha que era verdade, virando as costas e começando a afastar-se: imediatamente lhe atirei com um «_O senhor não passa de um mentiroso e de um hipócrita»; o senhor José Niza ainda tentou representar a comédia do «ofendido», mas depois de o olhar nos olhos lá afastou a sua incómoda presença, deixando-me almoçar descansado. Pois é, senhor José Niza, teve a sua oportunidade para rectificar a gaffe que cometeu, mas não quis aproveitá-la.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
O Homem lá saiu de cena...
Não estava no programa
nem é considerado notícia...
Envergonhadamente, o Mirante lá acusou o toque, sob a pica(e pito)resca classificação de Cavaleiro Andante.
http://semanal.omirante.pt/index.asp?idEdicao=492&id=73785&idSeccao=7985&Action=noticiaidEdicao=492&id=73785&idSeccao=7985&Action=noticia
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Arrependimento ou censura?
O Mirante on-line chegou a publicar uma pequena notícia «Espectador interrompe colóquio e interpela José Niza» associada a um pequeno video de 1m56s sobre os factos relatados, texto e video que foram «empurrados» automaticamente para o Sapo. No entanto, pouco tempo depois, cortaram as ligações e fizeram desaparecer tudo...
Talvez seja melhor adoptar, aí no jornal, o bom método salazarista da censura prévia, para obviar a este género de incómodos.