Há 17 minutos
domingo, 21 de fevereiro de 2021
Outro cromo
Outro cromo para a caderneta dos demagogos em saldo. Francisco Louçã, no olho do furacão, debita a mesma hipocrisia que o seu alter ego Garcia queimado. Pensei em ignorá-lo simplesmente, devido à sua flagrante falta de originalidade. Mas, a pedido de várias famílias, vamos lá desmanchá-lo também.
Em declarações à SIC Notícias, defende que Marcelino optou por "lutar contra o seu país". Portanto está a sugerir que deve não só ser considerado como um estrangeiro em Portugal, porque "o seu país" é a Guiné-"Bissau", como um traidor ao seu povo. Bom. No contexto da descolonização, realmente a Guiné-Bissau foi a primeira província ultramarina a quem Portugal reconheceu a independência, numa cerimónia complicada, na qual o Presidente da República portuguesa negou apertar a mão ao representante do PAIGC chegado de Cabo Verde, ainda em 1974. Mas recuemos mais. Pode-se reconhecer como legítima a declaração uniteral, em 1973. Como também não serve, recuemos mais uma década: seria até possível assumir que, desde o assalto a Tite e o início da luta armada, já havia esse país, no estado potencial, desde 1963. Contudo caro "inteligente" manipulador rasca, o Marcelino nasceu em 1940, ano da Expo do Império (nome que lhe faz imensa comichão). Legalmente e para todos os efeitos, nasceu em chão português, e entrou para a tropa aos 20 anos, antes, portanto, disso tudo. Vamos lá ver se percebemos bem, então. O Marcelino, que era português e amava Portugal, deve ser considerado um estrangeiro e um traidor; mas Mamadou Bah, que nasceu na puta que o pariu (só para citar o Tenente-Coronel) e abomina Portugal, deve ser considerado bom português e poder insultar o primeiro, por via do desamor à pátria que por aí semeiam, a ponto de banalizarem a nacionalidade e até a venderem por dinheiro, certo? Estamos entendidos, em relação à sua perversa mundivisão. Não sou contra a facilitação da nacionalidade sem grandes formalidades nem que se possam ter várias, ainda para mais nós, portugueses, que inventámos a globalização. Mas é o amor que nos permite apropriar-nos do mundo e só esse deve ser o critério.
Mas continuando: defende que Marcelino da Mata era um criminoso, citando "fonte" já aludida pelo degenerado Rosas na TVI, recentes (post-mortem do Marcelino) e duvidosas declarações de Mário Cláudio na sua página do FaceBook, sobre supostos processos que deixou de abrir de forma pouco regulamentar, uma vez que afirma à partida não haver rasto administrativo, ou seja que não se podem confirmar... continuamos no diz que disse e, para mais, de um escritor viciado em ficção, o que é manifestamente pouco como peça de convicção. Quanto às acusações de Mamadou na origem da polémica, fugiu como o diabo da cruz. As barbaridades foram tantas, mas não conseguem apresentar uma... O outro argumento é a sua participação em operações condenadas pela ONU, como Mar Verde e Ametista Real. A sério? É para rir, certamente. Atacar a prisão onde o inimigo mantém prisioneiros das nossas tropas e libertá-los, numa operação genial e bem sucedida, que só foi pena não ter sido devidamente explorada, devido ao (injustificado) receio do comandante Alpoím que aparecessem os famigerados Migs, é crime de guerra? Só se for na sua pobre e descompensada cabecinha. Coitadinho do Sekou Touré, até sinto pena dele, só de pensar como teria sido... se lá se tivesse deixado o Marcelino, para apoiar Alpha Condé como presidente (sim, o actual presidente fazia parte da expedição, vindo directamente da Sorbonne, até a França ressabiada de 1958 apoiaria). Louçã dissimula mal, como traidor ressabiado e anti-patriota que é, a inveja pelo sucesso da op, que desafia a sua narrativa determinista da libertação dos povos do jugo "colonial".
Mas não nos atardemos e passemos ao argumento segundo o qual o presidente Marcelo só fez isso por a Guiné-Bissau ser um Estado fraco, incapaz de responder diplomaticamente. Isso é inverter por completo a realidade pois, como toda a gente sabe, a guerra colonial estava ganha em Angola e em Moçambique (basta ver de que teatro operacional eram oriundos todos os oficiais que fizeram o 25A), onde Portugal tinha autênticos interesses coloniais, logo não poderia existir nenhum mito como Marcelino. Para além disso é um argumento fraco, esquecendo-se de uma gigantesca nuance: se nesses dois países ainda são os partidos históricos MPLA e FRELIMO que estão no poder, o mesmo não se passa na Guiné-Bissau, onde, apesar de todo o apoio da diplomacia e da maçonaria portuguesa e suas extensões na ONU, já se conseguiram livrar dessa peste, e por isso o Xico esperto está desactualizado, a Guiné-Bissau já não é um país destruído e sem futuro, os financiadores fazem fila, ainda ontem lá esteve o Director para a sub-região do Banco Mundial. Isso do país destruído talvez se aplique a Angola, a quem ninguém empresta nem mais um dólar... a Guiné-Bissau deu um baile aos dirigentes tugas, a quem fez engolir a preferência ingerente por DSP, vá informar-se melhor, antes de debitar postas de pescada mal regurgitadas.
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