O presidente da Assembleia Nacional angolana, um dos Santos, em visita à África do Sul, tece considerações...
Problemas da Guiné-Bissau, um estado soberano, serão resolvidos internamente!
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Guiné-Bissau continua prioridade na Agenda angolana
Barca de Boé
Avisado por Deus, Noé conseguiu, embarcando na sua arca no prazo estipulado, salvar a biodiversidade das águas do Dilúvio.
Noé precisava apenas de se salvar das águas, por isso construiu uma simples arca, capaz de flutuar e com capacidade para a bicharada toda, para além da sua grande família. Quando parou de chover e as águas baixaram, a arca encalhou em terra firme, garantindo a continuidade da vida no mundo.
A canoa lançada em Boé, andou quatro décadas à deriva e encalhou. A Guiné, depois de ter encarnado as maiores esperanças de verdadeira Libertação africana, abriu falência, tornando-se um estado pária perante a opinião mundial. sob as malignas designações de estado falhado, narco-estado ou mesmo de não-estado.
Depois de tantos sobressaltos traduzidos em assassinatos políticos, golpes de estado, a intervenção dos EUA desempenhou um efeito de catarse colectiva, confrontando os guineenses com a insustentabilidade da anarquia e avivando sobremaneira as suas preocupações em relação ao futuro do país.
Querendo apresentar as suas agendas pessoais a título de salvadores da pátria, alguns falaram de uma «última oportunidade» (cenário diluviano e apocalíptico). Em parte têm razão, a Guiné está, na minha opinião, perante uma oportunidade escatológica para evitar o fim do seu «lugar» no mundo.
Nestes momentos, são contra-indicadas as simples medidas paliativas. Perante o estado de choque, só medidas de choque se podem revelar eficazes.
Barco sem leme não conhece rumo.
domingo, 5 de maio de 2013
Epílogo constitucional
As primeiras palavras da Constituição, no princípio do Preâmbulo:
«O PAIGC, fundado em 19 de Setembro de 1956, cumpriu exemplarmente o seu Programa Mínimo, que consistia em libertar os povos da Guiné e Cabo Verde, conquistando a soberania dos respectivos Estados».
Até aqui, é verdade... Obrigado, PAIGC.
O problema está a partir daí.
O Partido traiu a generosidade de Amílcar Cabral, os seus ensinamentos defendendo uma práxis da libertação não só política, mas essencialmente mental e cultural.
O Partido abusou da Nação, indigitando-se primeira palavra de uma Constituição, desenhada por si e para si, rememorando-se em todos os seus «cromos» hino, bandeira, ...
O Partido tornou-se numa agência de emprego, um viveiro de ambições pessoais, deixou de ser um motor para a Nação e passou a ser um peso morto, com iniludível responsabilidade na actual situação.
Com tantos pretendentes e alas divergentes, o que devemos esperar deste partido que pretende hoje, contra todos os sinais em contrário, continuar a representar a maioria dos guineenses?
Que ideias, que projectos, que estratégias? As quatro dezenas de deputados do PAIGC que inviabilizaram a solução de transição deveriam prestar contas, justificando o seu acto...
Abriram-se novos fóruns, como o blog Progresso Nacional, onde todos podem confrontar as suas ideias. Os senhores deputados aceitem o desafio, já que argumentar é a vossa profissão e a vossa função, participem no «jogo», muito actual, de opiniões pela internet, esclareçam as pessoas.
Aquilo a que temos assistido são simples jogos de compadrio pelo poleiro. O facto é que parece estar a gerar-se, tanto na Diáspora, como internamente, um (ainda incipiente) movimento de «opinião», advogando um corte com o passado. O que poderá ser fatal para a presúria na qual o PAIGC tem mantido o Estado.
A dissolução do Partido, neste contexto, assumindo o fim de uma era, seria a opção mais digna, no respeito pela memória de Amílcar Cabral. Os indivíduos realmente capazes que o compõem, terão decerto o seu lugar, no contexto da necessidade de quadros experientes para uma verdadeira reorganização do país.
O verdadeiro PAIGC vive, inextirpável, no coração da guinendade, como grito de liberdade. Por respeito para com a sua «presença», o seu actual fantasma, que não passa de um simulacro, desprestigiando e desonrando a Nação, deve ser enterrado, pois já morreu há muito e ninguém o informou.
Depois do requiem e do toca tchuru, estaríamos prontos para um virar de página. De outra forma, caso o PND e os outros partidos com representação parlamentar, decidirem abandonar o Parlamento, ficam a falar sozinhos, nos escombros da ANP, expostos ao ridículo (e o resultado será exactamente o mesmo).
sábado, 4 de maio de 2013
Jagudis no ar
O artigo que Jorge Heitor acaba de publicar no seu blog é, infelizmente, uma triste amostra das atitudes negativistas em relação à Guiné que, à força de repetição dos mesmos argumentos já velhos e cansados, se instalaram na quase totalidade das mentes demasiado formatadas de jornalistas, colunistas e pretensos «opinion makers».
Em vez de bater mais no ceguinho e sempre na mesma tecla (já gasta), criando rotinas depreciativas auto-confirmatórias, vestindo o hábito de profetas da desgraça (alheia - já no Velho Testamento se diz que é fácil ver o cisco no olho do parceiro mas preferir ignorar a trave à frente dos olhos), porque não dão um contributo positivo?
Aprendam a ler os sinais de esperança.
Beco sem saída
O PN acaba de noticiar que o Partido da Nova Democracia, signatário do Pacto de Transição, se dirigiu hoje ao Presidente da República, pedindo a dissolução da Assembleia.
Fará sentido uma Assembleia com maioria de bloqueio PAIGC? Deposto o Governo saído do acto eleitoral que também elegeu os Deputados à ANP, assinado um Acordo de Transição reconhecendo todos os Partidos, com e sem representação parlamentar, há que reconhecer que as circunstâncias mudaram muito. Que legitimidade têm estes deputados? Com base em que «representatividade» actual pode o PAIGC pretender conduzir a Guiné a um beco sem saída?
A hora é de afirmação!
Guinendade como ideologia nacional!
Precedência para precedente
Ainda a propósito da Constituição, às organizações internacionais, pedir-se-ia uma certa contenção, no sentido de se evitarem mais ofensas à inalienável soberania guineense, pois parecem existir alguns países interessados num agudizar artificial das tensões.
Constituição da República
Acabei de ler a opinião de Alai Sidibe, no Progresso Nacional. com a qual estou em desacordo, pelas razões que passo a expor:
Parece um pouco gratuito querer sugerir que Daba Na Walna, professor na Faculdade de Direito de Bissau, não conheça a Constituição do seu país, que defende. Já o Alai é que parece conhecer a Constituição muito por alto (acabando por se mostrar pouco responsável e positivo neste contributo), e não quis dar-se ao trabalho de documentar as suas afirmações com referências aos números dos artigos que pensa apoiarem a sua «tese». Para que o possa fazer, numa próxima ocasião, informamos que o Didinho disponibiliza desde há muito o texto da ex-Constituição.
Agora já não vale a pena, deixe-me ajudá-lo:
Não sei onde foi buscar a ideia de que a Constituição
«claramente estabelece a submissão do poder militar ao poder (...) civil»
Apenas um artigo se refere às Forças Armadas, o 20º, enquadrado no Título I - Princípios Fundamentais;
A única referência, para além dessa, ocorre já no âmbito do Título III - Organização do Poder Político, Artigo 62º, enumerando as funções do Presidente, entre elas, o Comando Supremo das Forças Armadas.
O artigo 20º está ordenado:
1) (...) incumbe-lhes defender a independência, a soberania e a integridade territorial
2) É dever cívico e de honra dos membros das Forças Armadas participar activamente nas tarefas da reconstrução nacional.
Só em terceiro lugar, surge então uma vaga referência, não a subordinação, mas a obediência:
3) As Forças Armadas obedecem aos órgãos de soberania competentes, nos termos da Constituição e da lei.
E neste ponto temos uma questão ética e outra de indefinição jurídica:
a) Será que devem obedecer a órgãos de soberania incompetentes?
b) A Constituição não tem mais termos referentes a este assunto, portanto isto não passa de uma pescadinha de rabo na boca (uma referência circular, numa analogia informática; em crioulo, poderíamos utilizar volta di mundu i rabu di pumba); não havendo também leis específicas ou especializadas para esses casos de insubordinação.
Ajudando à conclusão, que me parece evidente:
Perante manifesto falhanço, falta de moralidade e/ou de autoridade dos titulares de outros órgãos de soberania regidos pelos simples e formais Princípios de Organização Política;
não só pelas razões explícitas de precedência, mas igualmente pela questão histórica implícita, as Forças Armadas, regidas pelos Princípios Fundamentais, estão acima dessa obediência e devem, como têm feito até aqui, dar primazia à primeira alínea do art. 20º, um princípio de ordem superior. No actual contexto, julgamos que também a segunda alínea pode ser accionada, com precedência sobre a terceira.
Caro Alai, não vá por aí. Utilize argumentos, documente-se, poupe-nos a ataques pessoais inconsistentes e sem substância. Pode não concordar com a figura ou as suas posições, mas Daba Na Walna, ao contrário do Alai, pelos vistos, é um verdadeiro jurista e sabe do que está a falar (embora neste caso o conteúdo da entrevista, em termos propriamente jurídicos, seja de pouca relevância - não era isso o mais importante, era a mensagem implícita - para bom entendedor...)
Terminando a questão da ex-Constituição: quantas vezes essa Constituição foi profanada? O melhor é reduzir o âmbito senão, fica sem dedos para contar; digamos só, quantas vezes foi violada pela própria pessoa que a promulgou? E já agora, dou-lhe pistas para que possa denunciar algumas flagrantes tentativas de violação da sua «dama» (sem ser preciso recuar tanto), leia-se
artigo 43º
1) Em caso algum é admissível a extradição ou expulsão do país do cidadão nacional
já quanto ao artigo 65º, não deveria ser válido, de tal forma parece ad hominem, feito à medida de Cadogo, e passo a citar:
As funções de Presidente da República são incompatíveis com quaisquer outras de natureza pública ou privada.
Já agora, caro Alai, leia também todos os direitos lá consagrados para o Povo, compare com a realidade, e talvez possa perceber melhor porque os militares ... para a infeliz. E, se estiver de boa fé, talvez ainda venha a concordar. Aquilo que me parece que a DPN queria (e conseguiu, de forma emotiva) transmitir foi que Daba falou bem, com carisma e convicção.
sexta-feira, 3 de maio de 2013
Graves insinuações
A RFI acaba de publicar, em jeito de notícia, a tomada de posse por parte de Angola, da Presidência do Conselho de Paz e Segurança da OUA.
Nessa peça está inserida uma entrevista de cinco minutos a um «analista» político angolano, o qual se oferece como intérprete das opiniões e sensibilidades angolanas (quero dizer, a voz do dono).
Amílcar Xavier, depois de referir que Angola irá decerto utilizar o seu posto para defender os seus interesses estratégicos consubstanciados nas concessões de bauxite efectuadas pelo anterior governo guineense, julga que deverá «assumir as suas responsabilidades» em «ajudar» (nem que seja à força?!) a Guiné-Bissau, sendo essa a agenda de uma próxima visita do Presidente de Cabo-Verde a Luanda.
O mais grave (ainda para mais em declarações à Rádio France Internacional) é a acusação de a França (não estará na altura de fazer, mais que um desmentido, uma «mise au point», um esclarecimento?) ter instigado os militares guineenses a darem o Golpe de Estado (por inveja, presume-se, da concessão da Bauxite a Angola em seu detrimento). Traduza-se: a Guiné não existe, nem os guineenses, quanto mais os seus legítimos interesses, não passa de um simples palco para as disputas de poder geo-estratégicas sobre recursos minerais entre Angola (os bons) e os outros (os maus, claro).
Sistema eleitoral na Guiné
Embora não seja jurista, não quis deixar de responder ao desafio lançado pelo Progresso Nacional, reflectindo e dando a minha opinião sobre o assunto, no sentido de tentar contribuir para o esclarecimento da Conceição. Formalmente, basta clicar aqui para ser encaminhada para o tópico do Didinho, onde poderá consultar, em formato digital, toda a informação que procura, por baixo do mapa da Guiné.
Informalmente, darei também a minha opinião à Conceição: o sistema eleitoral guineense é uma farsa e dificilmente se pode considerar um exercício de cidadania. Como resultado das várias convulsões e dos problemas estruturais de insubordinação das forças armadas perante a mentalidade corrupta e a incompetência dos políticos, agravados pela extrema pobreza a que estes condenaram o país, expondo-o por essa via às mais vis e interesseiras e grosseiras propostas desonestas, as eleições são sempre financiadas (importando técnicos estrangeiros, muito pouco desse dinheiro fica na Guiné) e observadas (supostamente policiadas, viu-se o paradigma do modelo, com as eleições angolanas) por estrangeiros.
Graças ao mito da «dependência», querem hipocritamente fazer-nos acreditar que a Guiné precisa de estrangeiros para financiar (os próprios estrangeiros) a virem dar prémios de bom comportamento à manutenção das aparências. Que valor ou validade, que legitimidade têm eleições pagas por estranhos? Como pode esse acto pretensamente estruturante da soberania popular estar dependente de circunstâncias estranhas e vontades alheias?
Não há almoços gratuitos (excepto para os deputados, na cantina da ANP).
Inoperância ou irresponsabilidade?
Os dois maiores partidos, no seio da ANP, mostram-se incapazes de se entenderem, demonstrando claramente a sua caducidade (partidos e ANP) face à actual situação do país.
Na ANP, continuam a ser inviabilizados pedidos de levantamento da imunidade a alguns deputados, requestados pela justiça para responderem em casos de corrupção.
Ora a Guiné sofreu mais uma violenta catarse, dano colateral de uma cabala urdida pela agência norte-americana DEA, que culminaria na acusação lançada ao actual CEMFA.
O futuro do país não pode continuar adiado, refém de interesses mesquinhos e de «consensos» frágeis. Há que cortar com o passado e recolocar os contadores a zero.
Antecipando uma eventual passagem do testemunho no cargo de CEMFA (da responsabilidade, por cooptação, do Comando Militar, que assumiu a situação), essa rotação seria idealmente acompanhada por:
1) Dissolução da ANP pelo Presidente da República
2) Demissão do Presidente da República
3) Tomada de posse de um Presidente e Governo de Tecnocratas de «sentimento» nacional com projecto claro e mandato transparente de reorganização e estabilização do país
4) Reunião de um Fórum Constituinte
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Fontes?
A publicação de Cabo-Verde A Semana, perdeu hoje uma boa ocasião para ficar quieta. Recomenda-se-lhes a leitura das notas soltas de Corsino Tolentino.
Rapidamente denunciam a encomenda, num artigo sobre a Guiné, oferecendo-nos uma pérola de retórica barata disfarçada de pleonasmo básico «é cada vez mais crescente»... Como o texto não passa de uma compilação de fontes desactualizadas (e algumas desmentidas), não liguem muito. Porque não seguem o recente exemplo de transparência que vos vem da blogoesfera guineense e começam a colocar as vossas fontes, para podermos medir a sua actualidade e credibilidade?
Mas por outro lado, não percam os comentários! Poderão aferir da hipocrisia dos governantes cabo-verdeanos, rapidamente desmascarada pelos seus próprios cidadãos.
Sinais muito positivos
Daba Na Walna abordou, em entrevista reportada pelo PN, o tema quente da subordinação do poder militar ao político, já levantado pelo ex-Oficial Rui Ndem
dia ku no tene politicos responsaveis, militaris na para ronca malcardessa.
sugerindo ainda que os militares também podem ser estadistas.
Bombástico!
Notícia, no Progresso Nacional, dá conta de possível deslocação do actual CEMFA, até um país da Região onde poderá eventualmente permanecer, frisando ser uma decisão tomada de livre vontade.
A confirmar-se essa intenção, o General daria mostras de ser um verdadeiro patriota, colocando acima dos seus interesses (e mesmo direitos) o bem-estar do seu povo, ultrajado por uma conspiração mundial, envolvendo espiões, movimentações de contornos pouco claros e o país mais poderoso do mundo. Tendo-se tornado num «alvo» para alguns, a atitude de afastar a «mira» seria reveladora de um sentido de Estado que muitos o acusaram de não ter.
PS Escolhi este título por conter em si e pela ordem certa, a palavra bo(mb)á(s)t(ic)o. Acredito perfeitamente na honestidade do Progresso Nacional, bem como que possa ser verdade (e já aproveitei a boleia para dar a minha opinião quanto ao cenário), mas julgo que a reacção das pessoas a esta notícia vai ser como a de São Tomé: «Ver para crer».
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Visão pragmática
Estava eu a olhar para as Estatísticas devido às actuais solicitações (o que não é muito frequente), quando reparei num padrão de acessos um pouco diferente do habitual. Em vez de ter origem no simples didinho.org ou /link, o mesmo endereço tinha continuação para um artigo. Curioso, fui investigar e descobri que, pela primeira vez, tive a honra de um link para o meu blog inserido no texto de um artigo. Desde já queria agradecer ao Marcelino Monteiro pela gentileza.
Gostei da brincadeira entre os crescimentos: económico; e como povo. Aproveitando a deixa para puxar a brasa à sardinha, julgo que, na realidade, neste momento, não há na Guiné outra instituição digna desse nome, para além da castrense, que se mantém forte e disciplinada. Por isso já defendi que esse deveria ser, por simples bom senso e sem hipocrisias, o pilar institucional para uma experiência política diferente, não fiquem os guineenses com a sensação de mais do mesmo.
E claro que tem razão, quanto à promiscuidade dos políticos-empresários = associação criminosa. Volta tudo à vaca fria? Voltamos (não avançamos) à casa de partida (sem receber nada, claro, como no jogo do Monopólio)? Onde não há instituições fortes, só um poder forte pode dar confiança aos empresários numa certa estabilidade sem (muitos) sobressaltos, evitando uma percepção generalizada de grande incerteza nos investimentos, derivada de riscos políticos.
Guerra do «refresh» na blogoesfera guineense
Os blogs guineenses envolveram-se numa guerra de números, na qual estatísticas e contadores são brandidas como armas de arremesso.
Desde já confesso, neste contexto, que estou mais ou menos habituado a que ninguém me leia, excepto um ou outro curioso da Casa do Xadrez, como o Russo ou o Gonçalo, que de vez em quando dão uma vista de olhos, ou algum cibernauta perdido, passado muito tempo da publicação, porque cruzou inadvertidamente duas ou mais palavras nalgum artigo. Esporadicamente aparecem também motores de pesquisa «privados» que pescam «à linha» (graças à presença de palavras chave, ou através de «marcação»).
Também é verdade que passo longos períodos sem escrever absolutamente nada, em total hibernação bloguista. Tenho o blog desde há cinco anos, com pouco mais de 27000 visitas, na última semana, tive 880, mas este número excede largamente a média, porque tem a ver com os momentos do «ressuscitar» da mosca. A «mosca» estava adormecida desde o chocante assassinato de Ansumane, mas em 2008 cheirou-me a esturro e voltei à Guiné, fiquei na Pensão da Dona Berta: logo nessa noite houve bazucada, foi o «assalto» ao Palácio Presidencial; depois vi o Tagma a passar irritadíssimo, etc. Estou com o Doka, quando afirma «Eu não vim para ser amado», mas para dar a minha opinião, é para isso que servem os blogs e parece-me respeitável.
Os meus números semanais estão pontual e largamente sobreavaliados: excluindo alguns(mas) poucos(as) guineenses que seguem desde há muito a mosca tsé-tsé (quando ela dá sinais de vida), devem-se sobretudo aos links que o Didinho tem partilhado para o meu blog com os seus assíduos frequentadores, sofregamente em busca de informação credível. Julgo que, sendo a postura do Didinho de transparência total, ao tornar acessíveis todas as suas estatísticas, não se importará que divulgue os dados que se seguem.
Os leitores regulares do Didinho, serão entre 800 a 900, dos quais um pouco menos de metade numa base diária (mal o Didinho publica um link para o meu blog os acessos disparam e atingem entre 300 a 400 nas 24h seguintes) isto aferido em média pelos acessos que tenho recebido na sequência da publicação dos referidos links. O padrão de actualização do Didinho é aproximadamente diário: os mais curiosos virão portanto uma vez por dia.
Já com um blog ao estilo de uma agência noticiosa, com pequenos despachos de hora a hora, os mais curiosos terão propensão a actualizar («refresh») a página de meia em meia hora, para se manterem «actualizados». Enquanto de um lado, temos um visitante, que faz uma visita demorada para ler artigos extensos, pelo outro temos um visitante que faz múltiplas visitas à procura das últimos «telex». São portanto coisas diferentes em todos os sentidos.
Tal como com os jornais, que consoante o tipo, podem ser lidos por apenas uma ou muitas pessoas, a briga é de facto a ver quem tem mais impacto sobre a opinião, e isso depende mais da profundidade das impressões, da credibilidade atribuída, do tipo de pessoa que frequenta cada blog, se essa pessoa depois propaga a sua opinião, etc. Mas há lugar para todos e estou certo de que a maior parte dos guineenses ficarão contentes de dispor das mais variadas e diversas fontes de informação, de maneira a poderem assim construir um opinião própria mais sólida, fiável e informada do que no passado.
Conhecem a história dos caranguejos no cabaz? Mal vêem que um tem a possibilidade de sobressair um pouco, sentem-se diminuídos da sua posição no fundo; em vez de manter a ordem e esperarem calmamente que ele se eleve e saia da miserável situação em que se encontra, para depois seguirem ordeiramente os seus passos, um por um, não, penduram-se naquele que parece ter sucesso para o puxar para baixo (desequilibrando e destruindo a rampa). Vamos torcer por uma oferta diversificada de informação, pelo sucesso dos diferentes projectos, pela honestidade e seriedade.
Neste sentido, depois desta festa de transparência, gostaria de fazer um apelo no sentido de colocar um fim a querelas inúteis entre irmãos. Todos devem trabalhar para a Guiné, dando o seu melhor à sua maneira, e melhorando, aprendendo com os erros. Senão qualquer dia há uma escalada e apanham-vos feitos tolinhos a actualizar repetidamente o vosso próprio blog, com outra identidade, para incrementar o contador.
Depois de comparar o gráfico com o seu equivalente em Estatísticas, constatei que os gráficos são sempre referentes ao último mês, independentemente do período escolhido para a apresentação dos totais numéricos. Nesse sentido, e constatando a normalização dos contadores, sugiro que todos afinem os seus contadores para esse período. O meu gráfico traduz o adormecimento da mosca, até que acorda subitamente, a 22 de Abril, com dois artigos.
A concorrência saudável é boa, todos se vão doravante esforçar por ganhar não só a batalha contra o tempo, para fazer chegar mais depressa a informação, para a ilustrar, para a credibilizar com links ou emails, etc. É a comunidade Diáspora - Pátria, mais unida que nunca, graças à internet, na esperança e na busca inquieta de um futuro para o país.
Corsino volta à carga
O dia 30 de Abril, parece ser um dia especial para o investigador cabo-verdeano e amigo da Guiné-Bissau, Corsino Tolentino.
Depois de algumas tomadas de posição equívocas de Cabo-Verde, o ano passado, já tinha avisado:
http://www.portugues.rfi.fr/africa/20120430-comando-militar-da-guine-bissau-nao-aceita-pressoes-da-cedeao
Como não lhe ligaram nenhuma, voltaram a dar mais umas bordoadas na já de si complexa e susceptível relação com a Guiné-Bissau. E Corsino, exactamente um ano depois, dia por dia, volta à carga, exactamente com o mesmo discurso.
http://noticias.sapo.mz/lusa/
Se o aparelho de Estado parece estar na mão de hipócritas, ainda há verdadeiros amigos da Guiné.Bissau, em Cabo-Verde: está na altura de os seus governantes começarem a ouvir a voz do bom senso.
Bravo, Corsino! Haja alguém! Viva o povo cabo-verdeano, que em 1998 ajudou os seus irmãos necessitados, sem querer «cobrar» ou imiscuir-se dos seus assuntos.
O perfil do futuro CEMFA
Acho que o mérito principal, até agora, do blog Progresso Nacional, foi o de ter conseguido lançar o debate interno, trazendo muitas pessoas da Guiné para a internet, onde predominava claramente a Diáspora.
Neste sentido, julgo louvável e encorajadora a mensagem que Rui Ndem deixou, no âmbito do desafio do PN Futuro Dirigentes. Louvável porque o antigo oficial adere em tudo à proposta original, que era a da definição de um perfil, enumerando depois os vários candidatos possíveis de enquadrar nesse perfil. Encorajadora porque traduz uma profunda reflexão e é feita de forma muito ética e com muito tacto, evitando tomar partido na questão política, ou seja restringindo-se à militar. Não resisto a citar: «Ma na fala bos kuma, dia ku no tene politicos responsaveis, militaris na para ronca malcardessa.»
No entanto, julgo que a questão ultrapassa a opinião individual, para revelar um potencial mal-estar entre a hierarquia castrense, quando à possibilidade aventada de poderem vir a ser comandados por um Oficial de patente inferior. É caso para perguntar, neste caso, se todos os CEMFA que a Guiné conheceu respeitaram essa lista de critérios tão especificada. Ou, pelo contrário, não terá sido precisamente esse o problema? A não emergência de uma elite militar realmente «qualificada»?
Tal como os critérios inicialmente avançados pela DPN para esse cargo se pareciam enquadrar com o perfil de Daba Na Walna, também estes critérios parecem especificamente elaborados para excluir Daba Na Walna e Melcíades Fernandes. Ora querer puxar dos feitos da guerra colonial hoje, parece fazer pouco sentido. Parece especialmente injusto porque de resto, em termos de formação, línguas, combate, os dois cumprem generosamente os requisitos.
Quanto à questão hierárquica, temos por exemplo o precedente, em Portugal, durante o período revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril, da graduação a título provisório de Otelo Saraiva de Carvalho em General para poder comandar pontualmente patentes superiores, após o que voltou à patente inicial. O que está em causa, não é uma parada, nem uma feira de vaidades, mas o futuro da Guiné-Bissau. Na minha opinião, os mais velhos deveriam, por outro lado, cerrar fileiras com orgulho em torno destes jovens saídos da sua «escola» e acreditar que algo de novo se prepara para a Guiné.
terça-feira, 30 de abril de 2013
Povo diverso e disperso
É incrível a quantidade de informação hoje disponível para quem edita boletins de informação virtuais. Os editores de blogs podem utilizar a funcionalidade Estatísticas para conhecer melhor as preferências dos seus utilizadores, os seus locais de origem...
Mas o mais interessante é o padrão de dispersão, por todo o mundo, da Diáspora. Há guineenses pelo mundo inteiro: sem ser necessário clicar, basta contemplar um pouco os contadores / globo do site do Didinho, para o perceber. A Guiné-Bissau é sem dúvida não só um povo maximamente diverso (etnias por quilómetro quadrado), como também disperso!
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Futuro dirigente
O último nexo que fiz para um blog, aqui no painel de ligações do lado direito, foi para o Progresso Nacional, um colectivo de jovens cheios de boa vontade, que estão a preparar-se para revolucionar a informação sobre a Guiné na internet. Prometem notícias on-line e in-loco, para além de seriedade e honestidade, e embora tenham começado há pouco mais de três meses, o seu entusiasmo parece estar a recolher a adesão de muita gente.
Apenas para propagar (não esquecendo a fonte, claro) um dos contributos para um desafio que lançaram «Futuro - Dirigentes», do Neivaldo Lima, com o qual concordo plenamente.
«Boa noite a todos,
Pessoas com provas dadas a nível internacional, pessoas que não têm telhado de vidro e que por isso não hesitarão em atirar pedras ao vizinho se necessário, sem medo de represálias, pessoas cujo o único compromisso seja para com o povo da GB e cuja missão seria a de reformar e organizar o Estado da Guiné-Bissau.» .
PS Acrescento que este artigo é apenas um exercício de imaginação quase «privada», portanto os nomes propostos são-no sem autorização dos(a) nomeados(a), visando demonstrar como não é difícil encontrar, fora do círculo dos grandes partidos de clientela fixa, quadros à altura de um grande desafio como aquele que se impõe actualmente à Guiné. Por muito absurda que possa parecer a minha proposta, é o meu contributo, com os desejos, do fundo do coração, que o futuro prove que afinal, todos estes padecimentos da Guiné não foram em vão. Julgo mesmo que a Guiné se encontra perante uma oportunidade histórica sem precedentes para renascer das cinzas.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Descubra as diferenças
Transcrição literal, ipsis verbis, tal e qual, sem tirar nem pôr (perdoem os múltiplos pleonasmos) dos dois excertos da entrevista de Rusty Payne, da DEA, à Radio France Internacional (em português) em torno das acusações pendentes sobre:
RP / DEA - Temos informações indicando que ele está envolvido em várias formas de tráfico e tráfico de armas, nomeadamente mísseis, tráfico de droga e contactos com indivíduos que ele acreditou serem membros das FARC, da Colômbia.
RFI - Tiveram contactos com o Governo guineense para os ajudar a capturá-lo?
RP / DEA - Não, não tivemos contactos com o Governo da Guiné-Bissau, a Guiné-Bissau é considerada como um narco-estado pelos Estados Unidos, portanto não temos cooperação com a Guiné-Bissau.
RFI - Recentemente capturaram outro militar da Guiné-Bissau, Bubo Na Tchuto. Em que condições isso aconteceu?
RP / DEA - Ele foi detido em águas internacionais num navio e pôde ser imediatamente levado para os Estados Unidos para responder às acusações de tráfico de droga e crimes ligados a esse tráfico.
RFI - Diz-se que ele foi capturado em território guineense...
RP / DEA - Só lhe posso dizer que ele foi capturado em águas internacionais e levado para os Estados Unidos.
RFI - Também se diz que Cabo Verde cooperou com os Estados Unidos nessa captura.
RP / DEA - Não, não tenho a lista de países que participaram.
RFI - Não está seguro da participação de Cabo Verde?
RP / DEA - Não, não estou. Não sei, é muito possível, mas não tenho a certeza.
RP / DEA - As acusações que pesam sobre Bubo Na Tchuto são: conspiração, narco-terrorismo, conspiração com vista a exportar droga para os Estados Unidos, conspiração com vista a apoiar as FARC, uma organização terrorista, ele arrisca-se a uma longa pena de prisão.
RFI - Não incorre em pena de morte?
RP / DEA - Não, ele enfrenta uma pena máxima de prisão perpétua.
RFI - Qual é a sua leitura da reacção do governo guineense, que se mostrou chocado com o método utilizado pelos Estados Unidos para capturar um cidadão guineense como Bubo Na Tchuto?
RP / DEA - A Guiné-Bissau é um narco-estado, há certas coisas que podemos fazer ou não podemos fazer noutros países, é por isso que esta detenção ocorreu em águas internacionais. Mas para todos os efeitos a Guiné-Bissau é um narco-estado envolvido em actividades terroristas que representam um perigo para os Estados Unidos, portanto não gozam de muita credibilidade junto de nós.
RFI - Qual é a sua resposta quando o governo guineense diz que quer que os seus cidadãos sejam julgados em território guineense?
RP / DEA - Não do nosso ponto de vista, não quando estão a conspirar contra os Estados Unidos, não quando estão ligados a organizações terroristas que querem prejudicar os EUA, não quando fazem tráfico de droga destinado aos Estados Unidos.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Já descobriu as diferenças?
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Sinto-me abusado, desta vez, quanto à interpretação feita no blog Ditadura do Consenso, da peça da RFI. Como frequentador do blog desde o início, acreditava que a honestidade do Aly não estava em causa, que estava apenas a ser um pouco tendencioso, ou sensacionalista. Agora inventar de todas as peças, para conseguir deturpar o sentido das declarações da DEA, nunca julguei que o fizesse.
É completamente abusivo colocar na boca do porta voz da DEA «tanto os seus dirigentes políticos como militares estão todos ligados ao narco-tráfico e ao terrorismo» (claro que, não havendo «aspas», não estamos perante uma citação literal, mas procure-se no texto esta interpretação fantasiosa). Tal como «é um país de narco-traficantes». Em lado algum se encontra qual a parte do texto que poderá ter dado origem a «Os EUA têm muitos meios ao seu alcance para capturar e traduzir o António Injai perante a justiça», mas o pior é que, mesmo que não estando entre «aspas», é referido como uma «resposta com convicção» aos jornalistas... idem para «salientando estarem já no terreno meios e homens para consumar a sua detenção no mais curto espaço de tempo» (neste segmento não se percebe a utilização dos negritos - para camuflar não citações?).
Aly, por favor, apaga esse artigo. Todos erramos. Bem sei que tens por política «deontológica» do blog nunca apagar nada, o que é bom, porque assim fica para a história. Mas neste caso julgo que se justifica uma excepção. Todos compreenderíamos, quem nunca se enganou? Logo a seguir apagaria também este artigo aqui, para não ficar pendurado, e não se falava mais nisso... Se manifesto a minha indignação é porque julgo que o Ditadura do Consenso deve ser considerado património nacional, e é sem dúvida uma peça essencial para a história recente da Guiné-Bissau. Mas neste momento, mal grado alguns reparos, o seu editor parece estar engrenado numa lógica alheia, da qual acaba por ressentir os altos e baixos, acabando por se tornar revelador de algum «desajustamento» face a expectativas goradas...
Estamos perante um pico de desespero de Cadogo e Companhia Mundial, ou melhor, a ponta de um iceberg... «A última oportunidade» soa a nome de código da conspiração C&CM. Cadogo foi para Cabo Verde para estar por perto e se apresentar como «salvador da pátria» porque esperava que a publicação do nome de Injai conduzisse à sua entrega aos americanos (bem embrulhadinho, claro) - a lógica destes «estrategas» da moral militar era a de que haveria rapidamente uma insubordinação na qual o CEMFA seria traído e capturado, ou teria uma oportuna morte em funções (para não dizer em «combate»), pois não passaria pela cabeça a nenhum «soldado» resistir aos americanos.
Pelos vistos o «cataclismo» que atingiu a Guiné-Bissau foi forjado, com grandes quantidades de boatos e contra-informação. Nem quero pensar nesse cenário, pois teria sido mesmo muito mau, com a força da CEDEAO a assumir «temporariamente» a segurança (enquanto se esperava por uma da ONU, sim, sim) tchau soberania, e para sempre. Cadogo passaria a ser um palhaço da situação e a Guiné desapareceria do mapa, com muita violência pelo meio... Mas a «espera» de Cabo Verde saiu gorada e Ramos Horta apercebe-se de que já ninguém quer Cadogo na Guiné... usurpando-lhe assim a «coroa» e o slogan: apresenta-se como salvador da pátria, apenas para cair imediatamente com o próprio Cadogo, sendo rapidamente desmascarado como agente encoberto dos actuais donos da CPLP, deitando fora todo o trabalho que vinha desenvolvendo ao serviço da ONU. Recomenda-se à entidade empregadora, em dificuldades financeiras, a sua transferência para a China, para que possa aprender o idioma local antes de voltar à Guiné, sempre ficando assim mais perto de casa, permitindo à organização cortar nas despesas de deslocação.
Um último parágrafo, apenas para frisar que uma leitura atenta, a fazer «nas entre-linhas» desta entrevista é precisamente a inversa daquela que o Ditadura do Consenso nos quis apresentar, e foi isso aquilo que mais me chocou. Os americanos dizem que há certas coisas que não podem fazer noutros países (leia-se uma intervenção directa para ir buscar o António Injai) por isso insistem tanto que o Bubo foi preso em águas internacionais. De qualquer forma, não é o estilo dos americanos fazer ameaças: o que não quer dizer que não as executem (eles nunca ameaçaram prender o Bubo). Até pode provar-se, daqui a uns tempos, que o Aly tinha razão quanto aos americanos terem mais acções em preparação, mas deve afirmá-lo, sem confusões, como opinião sua e não colocando-o na boca dos outros. De outra forma, o que faz com o Ditadura do Consenso deixará de se chamar jornalismo, para passar a chamar-se desinformação, ou mesmo intoxicação. É lamentável ver o Ditadura do Consenso desbaratar assim o seu capital de confiança, é caso para lembrar ao Aly a história de Pedro e do lobo...
quarta-feira, 24 de abril de 2013
Ground Zero
O senhor procurador de Manhattan não veja neste título uma provocação, pois este exprime a sincera esperança de muitos guineenses de conseguir reconstruir um novo país (tal como os EUA construíram um monumento sobre as ruínas do World Trade Center), sobre as cinzas do Estado, uma vez dissipada a névoa de pó que lhe hipotecou os destinos.
A questão não é nova e vinha sendo insistentemente denunciada por muitas pessoas. Quem quiser relembrar basta seguir os links que o Didinho deixou em comentários nas mensagens anteriores. Depois da desgraça que constituiu o assassinato de Ansumane, Veríssimo seguiu o mesmo caminho, por não ter conseguido pagar a tempo os salários aos seus soldados. Nino Vieira mostrava assim o «pau»: «querem morrer à fome?»; depois, inteligente (para o mal) como era, mostrou a cenoura, trazendo o cancro da droga para as altas instâncias do poder militar na Guiné, como forma de remunerar «discretamente» os favores relativos ao seu retorno. Mas não há almoços gratuitos...
Nino rapidamente perdeu o controlo da «galinha dos ovos de ouro», sendo a coisa primeiro interpretada como uma questão pessoal com Tagma, mas depois este irritou-se com a concorrência de outros free-lancers, que andavam a traficar debaixo do seu nariz. Até que lhe chegou a mostarda ao dito. Hoje alguns guineenses parecem ter-se deixado intoxicar por um clima de «colaboração» forçada com a América, diabolizando responsáveis militares em funções, a quem se deve a presunção de inocência, até eventual condenação em tribunal legítimo. Ora se nada disto é novo (nem sequer a ameaça dos americanos), não se percebe o porquê desta reacção de tão viva «admiração».
Mas o que pretendem agora? Entregar o Chefe de Estado Maior num embrulho aos americanos? A expatriação, neste contexto, é uma tremenda humilhação para uma pessoa, e na minha opinião, todos os guineenses se deveriam sentir solidários com António Injai. Como é possível querer expatriar alguém? A pátria, a pertença à terra, é um direito inalienável. Neste contexto, como para bom entendedor meia palavra basta, permitam-me que partilhe a lamentável história de Humberto Delgado, candidato à Presidência da República portuguesa, em 1958. Durante algum tempo encarado por Salazar como um potencial delfim, este general da Força Aérea foi enviado para West Point nos Estados Unidos. De retorno a Portugal foi instrumentalizado pela maçonaria e pela oposição para se candidatar contra o regime. O próprio Salazar parecia disposto a tolerar ser afastado do poder e a deixar o lugar a sangue novo. Até que, numa fatídica entrevista, aquele a quem chamavam «General sem Medo», cometeu o maior erro da sua vida, demonstrando mesmo, na minha opinião, que não merecia a confiança que os portugueses ingénua e esperançadamente nele depositaram: quando lhe perguntaram o que pensava fazer com o Presidente do Conselho (Salazar), respondeu: «Obviamente, demito-o».
Quem, em duas palavras, é capaz de dizer uma a mais, gratuita e desnecessariamente, não merece governar. Foi precisamente o que achou Salazar e foi por isso que tratou de viciar as eleições e afastá-lo do poder. Para além disso, há uma regra de ouro: não se humilha quem ainda está no poder. Salazar poderia, no fundo da sua alma cristã, ter aceite o «Demito-o». Para que foi o «Obviamente»? Já não tem a ver com a história mas vem igualmente a propósito a forma como morreu o General, que se tivesse Medo (ou fosse mais desconfiado e matreiro) talvez ainda pudesse estar vivo, como o Manuel de Oliveira: foi atraído a uma armadilha, em Espanha, na fronteira com Portugal, onde agentes da PIDE o abateriam, bem como à sua secretária brasileira.
Permito-me especular, como exercício meramente académico: mesmo se admitíssemos (não vou acrescentar «pelo absurdo») que o senhor General Injai esteve realmente conscientemente implicado nalgum caso de proventos com origem em facilidades concedidas no âmbito do tráfico de droga, não lhe poderá servir de atenuante o ter eventualmente utilizado parte desse dinheiro para pagar despesas dos quartéis? Neste momento, parece-me que a solução terá de ser ferranhamente (evitámos o ferozmente) endógena, convencendo os americanos de que os guineenses são capazes de varrer a casa sozinhos, dispensando «ajuda» (evitámos utilizar «ingerência») externa, dando rapidamente provas dessa boa vontade com uma verdadeira refundação do Estado.
Quanto aos métodos utilizados pelos americanos, são no mínimo discutíveis. À luz do direito português, por exemplo, são ilegais as armadilhas como meio de produção de prova, ou seja, criminosos seriam, neste caso, os agentes americanos que montaram toda esta tramóia. Atente-se em pormenores que saíram à luz como a «oferta de fardas para o exército»: aqui já não estamos perante métodos «pouco ortodoxos» mas simples má fé. É como colocar um prato de comida à frente de um esfomeado, dizer-lhe que é proibido comer e ficar à espera que morra de fome por questões éticas e morais. Se não fosse trágico, poder-se-ia achar engraçado perguntar aos americanos, face à sua disponibilidade em meios ultra-sofisticados, porque não controlam as origens do tráfico, ou o fazem em águas internacionais. Um avião para atravessar o Atlântico leva umas boas horas, dando claramente tempo para ser interceptado e seguido para fiscalização, em caso de suspeita, quiçá por drones especializados nessa função, que se «agarrariam» ao avião como «lapas».
Imaginando, num golpe de sorte, apanhar dois coelhos de uma cajadada, os americanos tiveram de se contentar com uma coxa de coelho (que de si era um pouco coxo). Mas parecem querer manter a pressão, pela classificação de «traficante» oficialmente atribuída agora a Injai por um (sublinha-se) procurador (e não Juiz), supostamente baseadas em confissões de Bubo. Mas aqui lembramos que os Chefes dos Estados Maiores da Marinha e da Força Aérea já estavam indiciados há bastante mais tempo, só agora se tendo cumprido a ameaça. Depois dos acontecimentos na Somália, parece-me que a visão geo-militar americana não concebe operações convencionais em solo africano (excluindo obviamente, pelos vistos, operações encobertas). O que não quer dizer que não usem vias diplomáticas, recorrendo a organizações sub-regionais, como parece ser neste momento o caso, havendo quem sugira que o discurso americano implica uma ameaça para a CEDEAO, de esta se ver desautorizada, no seu próprio terreno, por uma intervenção americana, (talvez oportuna, para mostrar aos franceses, em retirada do Mali, que também têm uma palavra a dizer no continente; ou mero bluff?).
Suspeita-se que os vários CEMFA que anunciadamente se preparam para aterrar em Bissalanca venham imbuídos dessa missão. No entanto, que vão pedir ao seu congénere guineense? Que se exile? O senhor General, caso pense em aceitar alguma proposta mais generosa, não deve deixar de acautelar a continuidade da sua função no âmbito do Comando Militar, assegurando a passagem do seu «bastão», último bastião da Nação. Esta saberá ficar-lhe grata se, num gesto de generosidade, considerar afastar-se tranquila e humildemente, para evitar mais sobressaltos, tratando depois de defender por vias legais a sua honra ofendida. Fora das «negociações» parece-me que deve manter-se a questão da integridade da soberania, que, por princípio, não é partilhável com forças estrangeiras, que vieram com a missão formal de proteger as personalidades de transição. Dava um palpite: que Daba vai estar à altura; chegados a uma encruzilhada, não é hora para deitar fora aquilo que se começou. Deve-o ao futuro, aos jovens guineenses, que esperam uma defesa intransigente dos direitos aos seus recursos minerais (parece pertinente, a este propósito, a comparação feita com Noriega: depois de ter sido um menino querido dos americanos, quando puxou a brasa à sua sardinha - canal neste caso - aos interesses do seu país, aí a porca torceu o rabo, sendo rotulado de narco-traficante e rapidamente deposto pelos seus ex-patrões da CIA).
A «falta de comparência», nesta altura, no país, do Presidente da República, ou a má prestação ( e o mau gosto) de Fernando Vaz chamando ao seu próprio país «última nação do mundo», não enfraquece, de forma alguma, a posição negocial do Estado-Maior guineense. Também a recente atitude dos dois maiores partidos, que parecem ter entrado em negociações, parece ser construtiva, no sentido de se entenderem para apoiar uma solução de transição e evitar a dissolução do Estado. Já aqui defendi no blog que, na minha opinião, o estado de excepção (renovado, neste caso) deveria prever a concentração momentânea do poder civil com o militar. A Guiné não é muito grande, segundo dizem não há lá Estado, só tropa, portanto essa realidade deveria, como já defendi aqui há um ano, ser assumida pelo Comando Militar, reunindo as figuras de Presidente e Primeiro-Ministro, mas responsabilizando-se «operacionalmente» e pessoalmente por um «caderno de encargos» político, num espaço relativamente curto. Parece a melhor garantia relativamente ao muito trabalho que há para fazer: uma nova constituição para o desenvolvimento, que contemple umas Forças Armadas fortes e capazes de defenderem o país e garantirem a segurança nacional e o continuado respeito dos países vizinhos, que alicerce uma aposta no mérito e na competência e não na inveja, o envolvimento e participação de todos no progresso social e económico, um apelo à diáspora para um retorno ao país, um apelo, consistente pelas suas garantias de estabilidade, aos investidores para confiarem numa nova fórmula e «pacto de regime», que faria da Guiné um paraíso à face da terra e onde todos teriam reconhecidamente o seu valor na diversidade. Está na hora de recomeçar do zero!
Djarama
P.S. Que quereria dizer Cadogo com «a última oportunidade para a Guiné», expressão depois retomada (para evitar dizer usurpada) pelo representante da ONU? Estaria a falar do desaparecimento «jurídico» do país? (em espírito, soou quase a «físico» - perdoem-no, ainda não ultrapassou o trauma da rejeição de que foi «vítima») Para quem se auto-intitula Primeiro-Ministro em exercício, é caso de traição! Para além de ter sido o principal responsável (pelo menos moral - porque não pensam os americanos em incriminá-lo?) por toda esta situação, no sentido de ter sido quem esteve melhor posicionado para lidar com o problema, com toda a legitimidade adquirida nas urnas: mas que se enredou numa teia de condescendências as quais rápida e previsivelmente se transformaram num beco sem saída. Há um provérbio que encena uma prostituta veterana dirigindo-se a uma novata e desculpem o vernáculo: «_Ó filha, puta por um dia, puta para o resto da vida.» O que parece ser preciso, na Guiné, é precisamente o contrário: seriedade e honestidade intelectual, bem como a necessária firmeza para as sustentar.
Mais lenha para a fogueira
Como afirma um comentário ao anterior post, também me parece que o blog Ditadura do Consenso tem vindo a perder a sua imparcialidade, assumindo cada vez mais uma orientação de actor na cena «política».
Como todos os guineenses insatisfeitos com a realidade actual, fruto de quatro décadas de regime PAIGC, não estou a dizer que essa vocação «política», que chegou a assumir contornos de intenções de eleição presidencial, seja má. De forma alguma! Mas há que saber distinguir os papéis.
Aly: sabes que respeito o teu trabalho e admiro a tua coragem, e só por isso me atrevo a estes reparos: pareces apostado em seguir o persurso de Paulo Portas, que abandonou o jornalismo pela política. Eu também trabalhei para o Independente (não num lugar tão destacado como o teu) e já manifestei neste blog o que acho sobre isso: nós, portugueses, perdemos um bom jornalista e ganhámos um mau político.
Quem se mete em política «activa» (ainda para mais na actual Guiné-Bissau), acaba invariavelmente com as «mãos sujas». Compreendo que o «media» é um blog e não um jornal ou revista, deixando-te portanto margem de manobra para fazeres dele o que bem entenderes. No entanto, por respeito pelo teu próprio trabalho, julgo que não deverias «jogar» nesse «tabuleiro».
Uma solução talvez pudesse ser manter uma linha de imparcialidade e objectividade jornalística no Ditadura do Consenso, e abrir outro blog desdobrando essa tua vocação, onde poderias dar aso às tuas emoções e fazer actividade «política». Ocorreu-me «Democracia da Divergência», que daria um bom título...
O que já não posso é concordar com esta maneira de utilizar a tua reconhecida e merecida capacidade mediática, com a manifesta intenção de tentar criar um clima de tensão política, fazendo apelo à opinião pública mundial (já não só guineense), para uma intervenção em solo guineense, o que não me parece adequado às circunstâncias actuais. Para quê acirrar mais os ânimos?
segunda-feira, 22 de abril de 2013
Perigoso megalómano
«Eu nem gosto de falar disso porque o povo reagiu em função das suas
necessidades. Nós, como somos um partido democrático e que já enfrentou
sérios desafios, entendemos que o povo da Guiné-Bissau não devia ser
confrontado com outras situações» (ver blog Ditadura do Consenso - hoje um pouco atrasado na difusão das notícias). Cadogo diz que nem gosta de falar... mas vai confidenciando. A maior parte das verdades, que entretanto se souberam, vieram porque esta comadre se zangou com a vida.
Eu, o povo, nós, o partido... E é sempre o homem que fala e opina (e «manda»), tudo uma mesma pessoa. E este fim-de-semana, teve uma grande apoteose na conferência para decidir o futuro do «seu» país, apresentado como uma «grande» vitória contra os desígnios da maléfica CEDEAO, a qual terá sido «obrigada» a enveredar por um diálogo «inclusivo». Como é possível querer apresentar as coisas precisamente ao contrário do que foram! Mas os guineenses não se deixam intrujar, sabem muito bem que quem se recusava a negociar era a CPLP, Portas e Cadogo, que se enclausuraram a si próprios numa posição autista e sem saída, que agora querem esconder virando o bico ao prego.
Cadogo parece pensar que se aproxima um desenlace e joga forte, sacando um «trunfo» da manga, documento da Presidência da República (do tempo de Malan Bacai Sanhá - será verdadeiro? ou um embuste do photoshop? o Presidente já cá não está para desmentir) que Injai terá assinado para se livrar de responder por desobediência ao então CEMGFA seu predecessor, na altura, Zamora - terá sido ele a guardar cópia do documento (ou mistificação) como forma de futura defesa? porque, se bem me lembro, os comunicados, na altura dos factos, mostram um Zamora ultrapassado e confundido com a sua desautorização relativamente às apreensões do Lamu Star (e não esquecer, no actual contexto, que Zamora era o menino bonito - peão - dos americanos) e não queria correr riscos futuros como os incorridos por Bubo.
Cadogo parece apostado na intriga interna e na subversão das Forças Armadas, tentando dividir o Comando Militar, numa aparente estratégia de ruptura hierárquica, sem considerar os inúmeros perigos que poderão advir de um colapso de comando e de o poder cair na rua. Ou seja, para este pária, não interessa todo o mal que possa fazer à Guiné-Bissau, desde que aumentem as suas possibilidades de voltar ao poder.
Nunca mais conseguiria lavar as mãos! E engana-se nas suas expectativas, pois, mesmo a dar-se o caso da «dissolução» das FA e de um improvável protectorado da ONU, também já não precisariam de Presidente... continuaria portanto desempregado. Já quanto a Daba, é sem dúvida um bom estratega, um bom militar, um bom porta-voz, um bom advogado. Um indispensável e insubstituível trunfo do Comando, na esperança de uma transição digna e tranquila, após estes sobressaltos sem precedentes.
Onde o Ditadura do Consenso pretende sugerir e diabolizar antecipadamente uma traição de Daba, intrigas e guerras viscerais, eu vejo antes uma transição natural, face ao cansaço e vontade já manifestada por Injai de se reformar: Daba tornar-se-ia o garante da soberania (graças à sua própria independência) da nação, único capaz de enfrentar os americanos e garantir aos agora acusados na Praça os seus legítimos direitos de defesa e julgamento em território nacional, depois de observados os trâmites protocolares, graças a um «empowerment» (para usar um termo em voga nos EUA) da Justiça guineense, lavando assim a cara da nação.
Chefe reforça chefia
«Não gosto de pronunciar-me sobre os meus subordinados. Os meus subordinados têm de respeitar a hierarquia e eu sou o Chefe» Carlos Gomes Junior, respondendo aos jornalistas, em Cabo Verde, que lhe pediam para se pronunciar sobre as acusações mediáticas de tráfico de droga a António Injai.
Patético! Salazar, depois de cair da cadeira, também julgava que continuava a governar. Senilidade e arrogância. Já quanto a autoridade, o ex-Primeiro-Ministro deve estar esquecido, ainda antes do 12 de Abril do ano passado, o primeiro do mesmo mês dois anos antes...
Não passa de um palhaço falhado, agente do neo-capitalismo mais grosseiro, que só conseguia manter o poder comprando as boas graças do General António Injai com chorudas gorjetas (isto segundo inconfidências do próprio Cadogo - o tal que não fala dos subordinados - ao Ditadura do Consenso).
Tal como vem agora confessar que afinal, tinha ganho as eleições presidenciais à primeira volta, com 54% dos votos, e que «só» terá «aceitado» falsear os resultados para manter a «paz»... isso sim, diga antes por espírito pouco probo (para não lhe chamar aldrabão) para um candidato a Presidente.
Para além da falta de seriedade e coragem, faltava-lhe também «autoridade». É que autoridade e legitimidade conquistam-se com actos, não com corrupção (estamos a falar de corrupção intelectual, que a financeira, essa, já não seria novidade).
Chefe é chefe. Presume-se que tenha assumido a chefia das conversações estrangeiras e alheias à Guiné, insistindo na sua retórica de governo no exílio que não passa de uma tremenda fantochada, ofensiva da simples realidade. Um chefe assim só pode morrer na Praia.