sexta-feira, 26 de abril de 2013

Descubra as diferenças


Transcrição literal, ipsis verbis, tal e qual, sem tirar nem pôr (perdoem os múltiplos pleonasmos) dos dois excertos da entrevista de Rusty Payne, da DEA, à Radio France Internacional (em português) em torno das acusações pendentes sobre:

António Injai

RP / DEA - Temos informações indicando que ele está envolvido em várias formas de tráfico e tráfico de armas, nomeadamente mísseis, tráfico de droga e contactos com indivíduos que ele acreditou serem membros das FARC, da Colômbia.

RFI - Tiveram contactos com o Governo guineense para os ajudar a capturá-lo?
RP / DEA - Não, não tivemos contactos com o Governo da Guiné-Bissau, a Guiné-Bissau é considerada como um narco-estado pelos Estados Unidos, portanto não temos cooperação com a Guiné-Bissau.

RFI - Recentemente capturaram outro militar da Guiné-Bissau, Bubo Na Tchuto. Em que condições isso aconteceu?
RP / DEA - Ele foi detido em águas internacionais num navio e pôde ser imediatamente levado para os Estados Unidos para responder às acusações de tráfico de droga e crimes ligados a esse tráfico.

RFI - Diz-se que ele foi capturado em território guineense...

RP / DEA - Só lhe posso dizer que ele foi capturado em águas internacionais e levado para os Estados Unidos.

RFI - Também se diz que Cabo Verde cooperou com os Estados Unidos nessa captura.

RP / DEA - Não, não tenho a lista de países que participaram.

RFI - Não está seguro da participação de Cabo Verde?

RP / DEA - Não, não estou. Não sei, é muito possível, mas não tenho a certeza.


Bubo Na Tchuto

RP / DEA - As acusações que pesam sobre Bubo Na Tchuto são: conspiração, narco-terrorismo, conspiração com vista a exportar droga para os Estados Unidos, conspiração com vista a apoiar as FARC, uma organização terrorista, ele arrisca-se a uma longa pena de prisão.

RFI - Não incorre em pena de morte?

RP / DEA - Não, ele enfrenta uma pena máxima de prisão perpétua.

RFI - Qual é a sua leitura da reacção do governo guineense, que se mostrou chocado com o método utilizado pelos Estados Unidos para capturar um cidadão guineense como Bubo Na Tchuto?
RP / DEA - A Guiné-Bissau é um narco-estado, há certas coisas que podemos fazer ou não podemos fazer noutros países, é por isso que esta detenção ocorreu em águas internacionais. Mas para todos os efeitos a Guiné-Bissau é um narco-estado envolvido em actividades terroristas que representam um perigo para os Estados Unidos, portanto não gozam de muita credibilidade junto de nós.

RFI - Qual é a sua resposta quando o governo guineense diz que quer que os seus cidadãos sejam julgados em território guineense?
RP / DEA - Não do nosso ponto de vista, não quando estão a conspirar contra os Estados Unidos, não quando estão ligados a organizações terroristas que querem prejudicar os EUA, não quando fazem tráfico de droga destinado aos Estados Unidos.


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 Já descobriu as diferenças?


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Sinto-me abusado, desta vez, quanto à interpretação feita no blog Ditadura do Consenso, da peça da RFI. Como frequentador do blog desde o início, acreditava que a honestidade do Aly não estava em causa, que estava apenas a ser um pouco tendencioso, ou sensacionalista. Agora inventar de todas as peças, para conseguir deturpar o sentido das declarações da DEA, nunca julguei que o fizesse.

É completamente abusivo colocar na boca do porta voz da DEA «tanto os seus dirigentes políticos como militares estão todos ligados ao narco-tráfico e ao terrorismo» (claro que, não havendo «aspas», não estamos perante uma citação literal, mas procure-se no texto esta interpretação fantasiosa). Tal como «é um país de narco-traficantes». Em lado algum se encontra qual a parte do texto que poderá ter dado origem a «Os EUA têm muitos meios ao seu alcance para capturar e traduzir o António Injai perante a justiça», mas o pior é que, mesmo que não estando entre «aspas», é referido como uma «resposta com convicção» aos jornalistas... idem para «salientando estarem já no terreno meios e homens para consumar a sua detenção no mais curto espaço de tempo» (neste segmento não se percebe a utilização dos negritos - para camuflar não citações?).

Aly, por favor, apaga esse artigo. Todos erramos. Bem sei que tens por política «deontológica» do blog nunca apagar nada, o que é bom, porque assim fica para a história. Mas neste caso julgo que se justifica uma excepção. Todos compreenderíamos, quem nunca se enganou? Logo a seguir apagaria também este artigo aqui, para não ficar pendurado, e não se falava mais nisso... Se manifesto a minha indignação é porque julgo que o Ditadura do Consenso deve ser considerado património nacional, e é sem dúvida uma peça essencial para a história recente da Guiné-Bissau. Mas neste momento, mal grado alguns reparos, o seu editor parece estar engrenado numa lógica alheia, da qual acaba por ressentir os altos e baixos, acabando por se tornar revelador de algum «desajustamento» face a expectativas goradas...

Estamos perante um pico de desespero de Cadogo e Companhia Mundial, ou melhor, a ponta de um iceberg... «A última oportunidade» soa a nome de código da conspiração C&CM. Cadogo foi para Cabo Verde para estar por perto e se apresentar como «salvador da pátria» porque esperava que a publicação do nome de Injai conduzisse à sua entrega aos americanos (bem embrulhadinho, claro) - a lógica destes «estrategas» da moral militar era a de que haveria rapidamente uma insubordinação na qual o CEMFA seria traído e capturado, ou teria uma oportuna morte em funções (para não dizer em «combate»), pois não passaria pela cabeça a nenhum «soldado» resistir aos americanos.

Pelos vistos o «cataclismo» que atingiu a Guiné-Bissau foi forjado, com grandes quantidades de boatos e contra-informação. Nem quero pensar nesse cenário, pois teria sido mesmo muito mau, com a força da CEDEAO a assumir «temporariamente» a segurança (enquanto se esperava por uma da ONU, sim, sim) tchau soberania, e para sempre. Cadogo passaria a ser um palhaço da situação e a Guiné desapareceria do mapa, com muita violência pelo meio... Mas a «espera» de Cabo Verde saiu gorada e Ramos Horta apercebe-se de que já ninguém quer Cadogo na Guiné... usurpando-lhe assim a «coroa» e o slogan: apresenta-se como salvador da pátria, apenas para cair imediatamente com o próprio Cadogo, sendo rapidamente desmascarado como agente encoberto dos actuais donos da CPLP, deitando fora todo o trabalho que vinha desenvolvendo ao serviço da ONU. Recomenda-se à entidade empregadora, em dificuldades financeiras, a sua transferência para a China, para que possa aprender o idioma local antes de voltar à Guiné, sempre ficando assim mais perto de casa, permitindo à organização cortar nas despesas de deslocação.

Um último parágrafo, apenas para frisar que uma leitura atenta, a fazer «nas entre-linhas» desta entrevista é precisamente a inversa daquela que o Ditadura do Consenso nos quis apresentar, e foi isso aquilo que mais me chocou. Os americanos dizem que há certas coisas que não podem fazer noutros países (leia-se uma intervenção directa para ir buscar o António Injai) por isso insistem tanto que o Bubo foi preso em águas internacionais. De qualquer forma, não é o estilo dos americanos fazer ameaças: o que não quer dizer que não as executem (eles nunca ameaçaram prender o Bubo). Até pode provar-se, daqui a uns tempos, que o Aly tinha razão quanto aos americanos terem mais acções em preparação, mas deve afirmá-lo, sem confusões, como opinião sua e não colocando-o na boca dos outros. De outra forma, o que faz com o Ditadura do Consenso deixará de se chamar jornalismo, para passar a chamar-se desinformação, ou mesmo intoxicação. É lamentável ver o Ditadura do Consenso desbaratar assim o seu capital de confiança, é caso para lembrar ao Aly a história de Pedro e do lobo...

6 comentários:

Mamadu Ali disse...

Gostei muito, vou comentar mais logo....

Anónimo disse...

BRAVO IRMÃO! CONTINUE NESSA LUTA... É PRECISO CHAMAR A RAZÃO CERTOS INDIVIDUOS...

OBRIGADO!

Anónimo disse...

Só falta saber porquê que um Português se presta a marketing político dos narcotraficantes instalados no poder na Guiné-Bissau.

7ze disse...

Eu fiz o marketing político da Junta Militar, desde 7 de Junho de 1998. Ao lado de pessoas como José Ampa, Florentino Mendes Pereira, Geraldo Martins, Silvestre Alves, Leopoldo Amado, Carmelita Pires.

E, sim, fiz o marketing político do Comando Militar, desde o dia seguinte ao 12 de Abril, com um artigo defendendo a libertação de Aly Silva.

É que para além de português, sou um verdadeiro amigo da Guiné, e da magnífica diversidade do seu povo acolhedor, um admirador de Amílcar Cabral e da sua luta de libertação... e tenho há muito a firme convicção de que a Guiné ainda há-de dar um exemplo a África e ao Mundo.

E custar-me-ia muito ver a Guiné desaparecer... numa ignóbil conspiração apenas destinada a apropriar-se dos seus recursos: terra queimada, terra de ninguém.

Já ouvi comparar o tráfico de droga na Guiné a um cancro: na Guiné há algumas células mortas, mas também muitas vivas e com vontade de viver; graças aos fortes sinais emitidos pela comunidade internacional, o crescimento das células mortas foi interrompido; valerá a pena aplicar a quimio-terapia, que deixará o organismo, já debilitado, de rastos? ou apostar na vitalidade, no crescimento imparável e geométrico das células saudáveis?

Aliciar pessoas com parcos recursos é demasiado fácil.

Anónimo disse...

Quando a esmola é demais, o santo desconfia.
Porquê que apoia desde a primeira ‘hora’ os narcotraficantes instalados no poder na GB?
E poupe-nos de tergiversações .

7ze disse...

Pela mesma razão que apoiei imediatamente o 7 de Junho. Por patriotismo. Quem quer soldados estrangeiros a mandar na sua própria terra?