domingo, 12 de julho de 2020

Sinais dos tempos

Para todos os efeitos de análise da situação política do país, ontem foi um dia farto.


Depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter dado o mote, com o reconhecimento do bom trabalho da CNE na eleição do seu homólogo guineense, finalmente o governo português foi obrigado a recuar, na atitude dúbia e desleal que vinha mantendo até agora, pela mão do seu MNE.

Mas, mais que a recepção "de cortesia" entre governos CPLP, a principal notícia foi o vazamento de fotografias de um frugal repasto, no qual se vêem Paulo Portas, Fernando Negrão e José Lamego, em amena cavaqueira com a delegação governamental de Nuno Nabian.

Quem diria! Será o mesmo Paulo Portas, o Napoleão frustrado que há oito anos pretendia invadir a Guiné-Bissau para a entregar aos angolanos? Para a sua "plasticidade", decerto contribuem os trocos que recebe dos negócios que representa, agora que já não tem comissões em negócios subficiais.

Mas esquecendo por uns momentos os gostos caros do ex-ministro: haverá alguma dúvida daquilo que está por detrás desta diligência, reunindo gente politicamente tão diversa, representando uma verdadeira "maioria absoluta" PS, PSD e CDS? Trata-se simplesmente de assumir a vitória.

Que vitória? A inflexão da política estrangeira em relação à Guiné. O condicionamento de SS, que, agarrado a miríficas promessas de DSP, teimava em atrasar um processo já consumado, consumindo tempo precioso. Ora, para os empresários, tempo também é dinheiro...

Todos têm a ganhar, mesmo se, obviamente, uns mais que outros. Coloca-se assim, consensualmente, uma pedra sobre a promoção da instabilidade crónica, que ainda há bem pouco tempo o MNE tuga continuava furiosamente a instilar, recorrendo aos ofícios da galinha tonta do PE.

Estão assim criadas as condições para o definitivo encerramento de um ciclo político de oito anos de crise sistémica, resumida no bloqueio das instituições, em reiteradas acusações de golpismo, em perpétua vitimização de um Partido, que, não sendo já único, se tornou um peso.

Paulo Portas apoiou o PAIGC de Cadogo. Tanto ele como Cadogo apoiam agora o novo status quo. O PAIGC de hoje é definitivamente uma carta fora do baralho, um empecilho para a nova fase de desenvolvimento da Guiné-Bissau, que se pretende institucionalizar sustentavelmente.

PS Para enfrentar o desespero, Domingos tem o exemplo de PP. Tomar o partido popular de os ex-governantes colocarem a sua "experiência governativa" e agenda de contactos, ao serviço dos empresários que pretendam fazer negócios na Guiné-Bissau, contribuindo assim, de forma positiva, para compensar todo o tempo perdido que fez a malta desperdiçar. Se não os consegues vencer...

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