O Sol, semanário de referência por terras angolanas, destapa na sua última edição, o «buraco negro» monetário que (embora de forma não tão «misteriosa» como sugeriram há dias no mesmo jornal) induziu a inflacção galopante da última semana, sob o esclarecedor título «Produtos importados estão a desaparecer das prateleiras».
Os supermercados de Luanda estão já a ficar vazios de produtos alimentares importados e as prateleiras não são repostas. Os importadores dão indicações de que os stocks estão a acabar. Também nos mercados informais, os preços dos produtos estão a subir em flecha, chegando a registar aumentos de 100% (ou mais, nalguns exemplos apresentados, nada que não se soubesse já, aliás, ridicularizando as previsões de 7 a 9% de inflacção anual divulgadas por ocasião da aprovação do OGE rectificativo, a semana passada... qual a credibilidade de um governo cujas estimativas para o ano inteiro são ultrapassadas - mais de 10 vezes mais - em apenas uma semana?).
Todos os actores económicos parecem estar empenhados em antecipar, livrando-se dos seus activos tóxicos (kwanzas) em troca de qualquer produto (cujos juros são claramente superiores aos do Banco de Angola - seria, aliás, interessante, saber como está a correr a colocação de Títulos do Tesouro, esboçada há uns dias... as pessoas não são burras! é que nem a 1000%!), que (ainda) exista no mercado a preço mais ou menos «antigo» ou «oficial».
Pelo andar da carruagem, a economia formal irá parar, por falta de «combustível». As autoridades monetárias perderam o controlo da situação, ao deixarem o «gap» formal/informal avolumar-se para mais do dobro e permitirem ao «sistema» embalar. Será agora muito difícil desacelerar: qualquer tentativa de travagem poderá bloquear as rodas e surtir o efeito contrário.
Tal como em qualquer doença, o diagnóstico precoce é uma das melhores armas. Adiar a ida ao médico, deixando apodrecer a ferida, pode revelar-se fatal. Para a crónica de uma falência anunciada, basta ler o que foi sendo publicado neste blog ao longo das duas últimas semanas. Quem souber prestar atenção, conseguirá ouvir o crescente clamor das trompas fúnebres, entoando o requiem pelo regime, que se desmorona como um baralho de cartas. Isso mesmo traduziu Orlando Castro, na Folha 8, com um esclarecedor «Até um dia» (destes), despedindo-se do «camarada» Presidente.
Há 24 minutos
4 comentários:
É pena se Angola não sobreviver a todas as asneiras "petroleiras" nestes poucos anos de paz tribalista.
Orlando Castro pode ter muita razão, e tem de facto muita, em tudo o que diz, mas para tudo o que se passa em África neste momento, parece que Angola e em geral aquele cone africano, ainda é o que se tem aguentado melhor.
Pelo menos Angola não andou como a Nigéria a poluir os rios de petróleo.
Foi pena a mania das grandezas que fizeram de Luanda um monstro de futuros "muceques" na vertical "quimbos fechados", quando quimbos fechados apenas havia no meu tempo no sul, e era por causa do leão e da onça.
Angola sobreviverá. O ditador é que não. Esperemos que isso se passe sem grandes confusões e que o novo poder evite os erros do passado; aproveitando algumas virtualidades do «modelo», preservando ciosamente o interface humano com Portugal.
Só que, já sem esse perverso apartheid invertido configurado pelos condomínios fechados, de que fala, tão pouco merecedor da alma universalista portuguesa. Isso é bom para inglês, alemão ou holandês...
Angola não poluiu os rios porque 99% do petróleo vem do mar. Há quem reclame que o cuidado tem sido pouco, na selagem dos poços abandonados, com os inevitáveis riscos ambientais de derrames e fugas. Só que, como é no mar, o efeito nota-se menos do que onshore, compo na Nigéria...
Não entendi bem essa da "alma universalista portuguesa".
Ao que me lembro do meu tempo de colonialista, não colonizador, que eu tinha pouco jeito e vontade e capacidade nenhumas, a minha alma não alinhava com o apartheid.
Tanto que para brancos e pretos, não havia 2 WC, era só um para todos.
Era no mato (a traz da bissapa).
Só espero que nunca naquela terra apareça um caruncho a que chamam bokoharam.
Uma característica dessa «alma» de que falava é precisamente essa: não alinhar em apartheids...
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