terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Mangueirada no cócó

Rui Mangueira, Ministro da Justiça, à frente de um elenco governamental angolano, deslocou-se a Paris para apresentar a nova Legislação angolana sobre Branqueamento de Capitais às instâncias internacionais.

A incoerência legal e a inconsistência moral parecem ser regra em Angola. Senão veja-se: a 28 de Janeiro deste ano, era aprovado na Assembleia esse pacote legislativo, relativo à lavagem de capitais. Apenas um dia depois, a 29 de Janeiro, a mesma já estava a servir, hipócrita e muito oportunamente, de «bode expiatório» para a crise monetária que se avizinhava: escrevia a Lusa «As limitações [à convertibilidade do Kwanza] introduzidas em Janeiro de 2014 visavam nomeadamente travar o branqueamento de capitais, através de Angola.»

A lavagem do dinheiro, em Angola, é «cultural», como defende Orlando Castro, na Folha 8. Para um regime todo ele baseado na liberalidade informal de apropriação dos recursos públicos, parece ser «normal» ter um alto funcionário comprovadamente implicado no tráfico de seres humanos, ou outro alto funcionário a quem são interceptadas pela polícia algumas (entre muitas) malas de milhões de euros a caminho do Casino (atenção, não sei porque insistem alguns em «lavagem»... uma pessoa já não pode divertir-se?). Simples rotina. [Haverá dinheiro limpo, no país dos diamantes de sangue?]

A sangria dos recursos foi a receita de «sucesso» da seita presidencial, implicando fechar os olhos aos maiores desmandos, mesmo se inequivocamente comprovados e publicamente expostos, pois, de outra forma, esses casos flagrantes poderiam servir de perigoso precedente, relativamente à «higiene» da apropriação original (logo, tornando-se prejudicial à «saúde» do regime). Como é preciso «matar o mal pela raiz», o branqueamento é feito na origem: não há dinheiro sujo em Angola, nem nódoas de petróleo, nem uma má repartição dos frutos do chão pelos filhos da terra.


Só gente séria, que vivia no meio de vacas bem gordas, até ao dia... em que as tetas secaram e as vacas emagreceram, o sol desapareceu e o céu toldou-se ... e o fantasma da fome à espreita, do outro lado do arame farpado.

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