domingo, 22 de abril de 2012

A paciência tem limites




O Porta-Voz do Comando Militar esteve na Sexta-Feira à tarde em estúdio, em Bissau, para participar por vídeo-conferência num programa especial da RTP dedicado à Guiné. Os guineenses, antes de «emprenhar pelos ouvidos» da comunicação social portuguesa, ou de alinhar pelo diapasão do discurso irresponsável do PAIGC, deveriam ver o programa com atenção


e dar graças a Deus por surgirem sempre guineenses à altura nos momentos certos: um simples Porta-Voz do Comando tem mostrado ser bem mais consistente, sério e de confiança, carismático e melhor político que qualquer presidente «democraticamente» eleito nos últimos 20 anos.

Também em 1998, num primeiro tempo, pareceu a muita gente que a razão estaria do lado do Presidente «democraticamente» eleito. Mas a legitimidade democrática acaba onde começa o carácter inalienável da soberania nacional: todos se lembram de como o apelo a forças estrangeiras acabou por desequilibrar a balança e fazer pender unanimemente a opinião pública a favor da Junta Militar.

Se repararem na linguagem corporal de Daba Na Walna, a mensagem evidente é de que a paciência tem limites: o porta-voz foi sempre disfarçando, sob a capa de um discurso aparentemente calmo, a sua forte (e legítima) indignação e irritação quanto à situação: Portugal porta-se como um elefante numa loja de porcelanas; Angola brinca com o fogo… Mas porquê essa irritação? Imagine-se que, no jogo de xadrez, temos xeque-mate em um lance, independentemente do que jogar o adversário; seria irritante se este, enquanto ainda não se apercebeu do que o espera, continuasse a gabar-se de que é muito melhor jogador do que nós…

Caros patriotas do Comando Militar e a todos os heróis das Forças Armadas de quem a Guiné-Bissau se pode orgulhar: neste momento grave da história do país, felicito-vos pelo vosso espírito de sacrifício e pela tarefa que tomaram a peito, desejo-vos força e coragem na defesa intransigente da integridade e da soberania nacional, contra uma agressão externa cujo fito está claramente provado ser, uma vez mais e tal como em 1998, a confiscação aos guineenses dos seus recursos minerais.

Será que alguns guineenses na diáspora acreditam mesmo que a «ajuda» de Paulo Portas é desinteressada e apenas para repor a democracia? Aqueles que se deixarem confundir arriscam-se a um despertar doloroso. A Guiné tem bastante mais recursos per capita que Angola… ou será que acreditam no Pai Natal? É o futuro, não apenas como nação, mas também económico, que está em causa, depois das posições extremas, perigosa e impensadamente assumidas por Angola e depois, a reboque, por Portugal (numa hipocrisia sem limites, um desplante e um descaramento que ofende o verdadeiro sentir universalista português: primeiro iam «salvar portugueses», depois da rápida falência dessa tese; iam para salvar a democracia; depois, como quem vai por aí não vai a lado nenhum, foram para a ONU bater à portas e incomodar as pessoas, que têm assuntos mais importantes a tratar; isto para além de acusarem os guineenses de serem um «Narco-Estado»; contudo, nenhum dos argumentos que apresentam têm a ver com as suas motivações reais… Realmente irritante, não acham?)

E os portugueses, como muito bem lembrou o Porta-Voz do Comando Militar, será que sabem de quem são os petro-dólares que agora José Eduardo dos Santos parece disposto a largar com tanta facilidade, para mover estes mundos e fundos contra a Guiné? São vossos! Vêm de Cabinda, que não pertence a Angola, pois a sua Casa Real assinou em Simulambuco um Protectorado que, ao preservar o seu estatuto de autonomia como Estado (nunca teve o estatuto inferior de colónia, como Angola), torna nulo qualquer acto de cedência de soberania não previsto. Foi entregue um cavalo de raça a Portugal, que não deu dele boa conta, e pior, o sujeitou a um burro.

Em vez de intimidar civis na Guiné, Cabinda seria um objectivo militar bem mais glorioso para a esquadra portuguesa, que os delírios neo-colonialistas de Paulo Portas condenaram à inactividade nas proximidades da Guiné (podem sempre dedicar-se à pesca, o peixe é bom!). É que lá em Cabinda, ao contrário da Guiné, há um conflito (ainda há pouco tempo o Ministro da Defesa foi morto pela guerrilha no assalto a uma coluna militar governamental), podiam interpor-se primeiro, devagarinho, depois logo viam como corriam as coisas, já lá tinham um pezinho… Logo a seguir repunham a paz, dando uma valente tareia nos criminosos dos angolanos que por lá andam a violar as mulheres, e pronto, resolviam o vosso défice energético (olhem que é uma boa parte do todo). É um plano bem mais fácil de concretizar do que aquele que, por desespero de causa, ainda não fizeram para Bissau.

Quanto ao problema da desmobilização dos excedentes das Forças Armadas talvez se possa resolver com a colocação de uma Força Expedicionária de Guerrilha Guineense em Cabinda. Lá se iam 80% do rendimento do coitado do Zé Diabo! Mas, para já, há um assunto pendente mais actual: que resultado, para além de uma desgraça para o seu lado, espera obter José Eduardo dos Santos? Já fez contas à vida? Acha que os angolanos lhe perdoam? Já encomendou 200 caixões? Já preparou uns cartõezinhos debruados a preto para enviar às mães da parte da presidência? Não acha que está a ficar cada vez mais isolado?

Por fim, parabéns ao Comando Militar, na pessoa do seu Porta-Voz, pela paciência que têm demonstrado! Que prova de civilização: os fortes são serenos. Noutro lado qualquer, depois dos ultrajes sofridos, os responsáveis já estariam enterrados. Esperemos que Angola e Portugal não tomem a paciência e benevolência por prova de fraqueza, pois ela parece estar realmente a atingir o seu limite, face a atitudes tão pouco propositadas e sem dignidade. Será que, depois de acabarem aí com o serviço, não podiam dar uma ajudinha para varrer também Portugal do lixo de políticos que, desde há mais de três décadas, lhe tem sugado a seiva? Voto nessa.

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