domingo, 22 de abril de 2012

G3: um tiro no barco de três



No agressivo contexto da presença, nas imediações das águas territoriais guineenses, de barcos de guerra cujas intenções se desconhecem, torna-se urgente resolver o problema do enclave extra-territorial onde se encontra um contingente com cerca de duas centenas de estrangeiros armados. No velho Oeste, os Xerifes exigiam as armas aos forasteiros que entravam na cidade, para evitar problemas no Saloon, armas que eram depois restituídas à saída.

Com Angola e Portugal a tentarem apagar com gasolina o fogo que atearam, levaram às últimas uma situação já de si intolerável: não parece prematuro considerar o último dia de Abril, dia em que a ONU se pronuncia sobre a Guiné, como um dia adequado para proceder ao desejável desarmamento desse contingente (por uma questão de acautelar a disciplina, talvez devesse ser dada aos oficiais a opção de conservar as pistolas, as quais poderiam apenas utilizar, claro, no interior do perímetro do seu aquartelamento): para desanuviar o ambiente, talvez se pudessem emitir vistos de turismo, garantindo as Forças Armadas a segurança e tranquilidade dos visitantes, e mantendo os seus elementos a liberdade de circulação na capital; talvez até pudessem aproveitar para se associar às comemorações populares do 1º de Maio.

Convém, de qualquer forma, dar-se-lhes o prazo de uns dias para se irem habituando à terapia… na certeza, no entanto, de que deverão respeitar ao minuto o prazo que o Comando Militar decidir para salvaguardar os interesses da Guiné-Bissau e acautelar a calma, a ordem e a soberania nacionais. Aos soldados angolanos em Bissau, por favor, não façam nada de que se possam arrepender, pois os guineenses não têm nada contra vós, mas sim contra José Eduardo dos Santos, que, com um par de duques, parece disposto a fazer All In (e a ser depenado). Cooperem, entreguem as armas e nada vos acontecerá: José Eduardo dos Santos que resolva as alhadas em que se envolve.

Qualquer outra atitude seria despropositada e o vosso sacrifício essencialmente inútil: recomenda-se nesse caso que todos façam um curso rápido de primeiros socorros, com especial ênfase em como fazer garrotes. De resto, para se entreterem, vejam as revistas portuguesas de Dezembro, pois trazem uns artigos interessantes e elucidativos sobre o cinquentenário da queda de Goa às mãos da União Indiana, facto que acabaria por dar o sinal de partida para o arranque da Guerra Colonial em Angola: Salazar, como agora José Eduardo dos Santos, pediu nessa ocasião aos seus soldados o sacrifício máximo… gratuitamente, assim, por arrogância e autismo político? Leiam o que acabou por acontecer… à excepção da lancha Vega e do seu comandante, cujo sacrifício consciente consistiu no ritual de regar com o melhor sangue pátrio o fim de um Império, os soldados preferiram a rendição a uma morte estúpida, inútil e inglória. Tendo em conta a situação, em nada desprestigiaram o exército ou a nação, só Salazar saiu chamuscado…

Por outro lado, José Eduardo dos Santos, o militarista, se calhar tem razão: para a sua mente perversa e mesquinha, talvez seja melhor que morram (tal como pretendia Salazar no seu autismo), em primeiro lugar para desaparecerem as provas da sua própria humilhação, em segundo lugar porque um exército humilhado tem meios para resolver o problema… E aqui temos o magnífico exemplo da Guiné: esta quarta-feira comemora-se o o 25 de Abril; ora o MFA (Movimento das Forças Armadas) nasceu da humilhação que constituiu a retirada de Guiledge e da consciência de a guerra ali estar perdida (ao contrário do que acontecia em Angola): a imensa maioria dos seus capitães vinha de Bissau. E que teriam achado os portugueses se a Quinta Esquadra americana, que largara da barra do Tejo poucas horas antes, tivesse feito meia volta e voltado atrás para «Repor a ordem constitucional» e «Devolver o poder às autoridades legítimas»? Opor-se-iam à ingerência estrangeira com todas as suas forças!

Quanto ao alienado que está convencido que é Ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau (há lá um no Júlio de Matos em Lisboa que julga que é Napoleão), este tem-se multiplicado em declarações imbecis, da qual a mais flagrante é a condenação do 7 de Junho. Borganha! Bu ossa nomi suma lubu. Como é possível que desafie assim o sentir de todo o povo, à época? É o mesmo que diz falar em nome do povo? O mesmo que, num gesto de total irresponsabilidade, pede à população para desobedecer às autoridades militares? Desmascara-se sozinho! Com «representantes» deste calibre, lamenta-se a triste figura a que está reduzido o ex-PAIGC, agora PAGA (o José Eduardo dos Santos); Amílcar Cabral deve estar aos saltos na tumba. Uma vez mais, tal como aliás em 1998, perderam o comboio da história. A infeliz pretensão de representar alguma coisa para além da sua miserável e anti-patriótica incompetência está condenada à chacota. Relembra tristemente a situação de Salazar no fim da sua vida, depois de cair da cadeira, fazendo para a televisão, no Hospital, discursos patéticos e sem nexo, julgando que ainda era Presidente do Conselho. Pois sim. Não se devem contradizer os malucos. O povo guineense saberá distinguir de que lado estão os verdadeiros patriotas.

Felicita-se a atitude da TAP e a sua aposta na normalidade vigente em Bissau. Recomenda-se a Portugal que se iniba de enviar «espiões» no voo previsto para Segunda, pois as chegadas serão filtradas, em Bissau o ritmo é outro e o ambiente é de cortar à faca. Também mandá-los agora, seria a mesma coisa que colocar-lhes crachás ao peito: ninguém quer ir para Bissau para além dos jornalistas… E já agora, permitam-me lembrar-vos que Paulo Portas foi o veículo da publicitação das vossas moradas e telefones pessoais (que raio de espiões, com os dados pessoais publicados nos jornais), numa fuga de informação (de dentro do próprio Governo, ou já não se lembra?) para castigar a atitude «política» de apoio a Nino Vieira, encarnada por certos sectores. Uma vez mais, e sempre, a Guiné. Volta di mundu i rabu di pumba. Parafraseando um ditado guineense, para não estar sempre a falar crioulo «Quem tem rabo de palha não brinca com tição» (até Paulo Portas começou a aprender crioulo para ir falar à ONU; que reconhecimento da identidade guineense! Crioulo na ONU pela boca do tuga. Só por isso mais ficamos devendo ao Comando Militar, por esta saudável dose de orgulho nacional! Nem Amílcar Cabral faria melhor! Em Angola Paulo Portas já não faz isso, lá tem de ser tudo muito mais formal, não é, Senhor diplomata? Respondo-lhe em português que sim, portugueses e guineenses estão juntos na luta por um mundo melhor, mas não será de certeza pela sua mão e agora em crioulo: Nô djunta mon!)

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