segunda-feira, 8 de junho de 2015

Economist Intelligence Unit (LUSA)

安哥拉总统若泽·爱德华多·多斯桑托斯,敲开每一扇门,世界银行高盛,希望能募集了总计约25十亿美元。

domingo, 7 de junho de 2015

Im(p)unidade selectiva

De imunidade a impunidade, vai um simples letra. A VOA dá parte dessas preocupações, enquanto a LUSA, depois de contactar vários responsáveis judiciais guineenses, refere a estranheza manifestada por estes quanto à libertação do Secretário de Estado Idelfrides Fernandes, preso dois dias antes.

Não ficando claro de quem partiu a ordem para a sua libertação, apenas surgiram (do nada?) algumas «explicações», invocando razões de saúde e as más condições de detenção (o dúbio e oportuno papel da Liga na denúncia dessa situação, uns dias antes, traz igualmente água no bico)...

E se fosse o vulgar cidadão, deverá presumir-se que igual complacência se manifestaria? O que é facto é que essa «doença» se manifestou de forma súbita, pois um dia antes da sua prisão, fôra visto a jantar, com óptima disposição, num restaurante de Bissau, e no próprio dia, à saída da ANP (armado em deputado para insinuar imunidade, aliás incompatível com o seu estatuto de membro do Governo) não patenteava qualquer sinal desse mal que repentinamente o acometeu (decerto do foro alérgico).

A confirmar-se a sua saída para tratamento (fuga ao Tribunal) para Dakar, será um grande golpe na credibilidade da Justiça guineense, em reconstrução. Este senhor, pelos vistos com razão, julga-se acima da Lei do país, sem pudor em fazer gala de ter as costas quentes, depois de tecer uma teia de cumplicidades nos últimos três governos: Cadogo, Transição, DSP.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Carta aberta a José Eduardo dos Santos

«Senhor JES, inicio esta carta com as mesmas dificuldades que sempre tive em tratar-lhe como presidente da república. Tudo isto porque não conheço um único compatriota meu que o tenha legitimado uma única vez, para o cargo que o senhor ocupa abusivamente há mais de 35 anos. E também porque não reconheço no senhor qualidades exemplares para o tratar como presidente da república, dado o alto significado que esta palavra tem para mim. Através desta carta quero-lhe dizer também que cada vez que leio um discurso do senhor, chego quase sempre à mesma conclusão. E acho que ainda bem que a maioria dos angolanos não leva muito a sério as suas palavras que, repito; não têm passado de palavras ao vento. E é lamentável que o senhor não saiba aproveitar as tantas oportunidades que tem tido para se desculpar perante o povo angolano. Pelo sofrimento que tem causado, desde que o senhor e seu bando de bajuladores, incluindo o seu clube de amigos (MPLA), se transformaram em novos colonizadores. Ao implantar em Angola um regime baseado no assassinato, na mentira, prisões, perseguições, humilhação, intolerância, mortes, e uma corrupção cada vez mais assustadora chefiada pelo senhor. Aproveito para lhe perguntar como é que um mau carácter e corrupto do tamanho do senhor, tido como responsável pela grande disparidade, que aumenta cada vez mais entre os tantos pobres da minha terra e os poucos ricaços (na sua maioria seus familiares e amigos). Como pode ter um descaramento tal? Ser tão arrojado ao ponto de se dar ao luxo de pensar que pode dispensar-nos? Pelo contrário, deveria convidar, desafiando-nos para uma reflexão conjunta sobre várias questões que jamais serão prioridade do regime sob sua gestão... Porque a ordem, como tudo indica, é para roubar o mais rápido possível, perseguir, prender e matar tudo quanto seja contra. Ou será que o senhor perdeu noção do que diz, quando afirma que isto é normal, compreensível : isso é comportamento próprio de corruptos, ou então quem lhe escreveu o discurso não lhe foi bem explicito. É caso para repetir! Ainda bem que os angolanos nunca levaram muito a sério os discursos feitos pelo senhor que não têm passado de palavras ao vento. E é exactamente com este tipo de discurso que JES tem procurado esconder sempre o seu verdadeiro rosto evitando falar-nos dos seus assaltos aos cofres públicos. Da maldade que institucionalizou no país e porque razão nunca condenou uma única vez um corrupto ou assassino, e nunca repudiou qualquer assassinato de um seu adversário politico. Mas também com que moral poderia um presidente de um país, responsável pela falta de tolerância, fome, miséria e morte de tantas crianças, convidar essa mesma nação para uma reflexão? Quando esses males todos que essa nação vive são consequência directa dos actos praticados por este mesmo presidente e pessoas que o rodeiam? Senhor JES, aproveito dizer-lhe que os angolanos têm esperança e confiança sim num futuro melhor que passa pela alternância do poder. E que estão cansados de tanta demagogia falaciosa do senhor, e da colonização de bajuladores que chegam a considerá-lo como figura do ano. Apenas porque a sua estadia no poder garante a estabilidade financeira e o aumento de contas em bancos estrangeiros de toda essa corja que militantemente segue os maus exemplos do senhor e sua família. Também gostaria que soubesse que os angolanos igualmente ainda não perderam as esperanças e confiança em qualquer dia honrar os nomes de todas as vitimas do senhor e seu regime brutal. Pessoalmente não defino como presidente de uma república um homem com tão mau carácter como o senhor, que institucionalizou inclusive a maldade para satisfação das suas necessidades, negócios em nome dos seus filhos e para agradar a alguns estrangeiros que por enquanto o vão mimando. A nossa história nos ensina sim que nunca os angolanos viveram assim tão humilhados na sua própria terra e foram tratados piores que os cães de alguns semi-analfabetos que nunca se imaginaram um dia no banco dos réus. Se o senhor demagogicamente considera legítimo que cada angolano alcance um nível de vida digno, porque razão os manda arbitrariamente prender? E não raramente, até matar, professores, policias, bombeiros, antigos combatentes, jovens, funcionários públicos e outros, quando esses reivindicam os seus legítimos direitos? O senhor disse numa das suas passagens que com determinação, coragem, firmeza e grande vontade de vencer, os angolanos conquistariam a independência e a paz. Será que o senhor está lúcido do que diz ou o mandaram dizer? Será que paz para o senhor significa aprisionar até os tantos cadáveres e vitimas do seu regime que se recusa a entregar aos seus entes queridos para que sejam condignamente enterrados? Será que paz significa matar, mandar matar e deixar matar quem é da UNITA, FLEC, BD, PROTECTORADO, apenas porque não concordam com o senhor e o querem ver fora do poder? Se é legitimo que ninguém cruze seus braços porque se dão ao luxo de criarem uma espécie de esquadrão da morte e são treinados para torturarem? Sinceramente só me resta defini-lo como um dos piores demagogos que já conheci na minha vida, desde que nasci, há mais de 50 anos. Não posso definir como presidente da república alguém que não garante a estabilidade no meu pais, porque é falso, populista e mentiroso. Alguém que usa e abusa das leis constitucionais para tirar proveito próprio e partidário, que teme deixar o poder para não perder imunidade e ser forçado a prestar contas pelos crimes cometidos. Alguém que não tem consciência limpa não se pode sentir à vontade para punir com justiça os corruptos e os assassinos, nem condenar o vandalismo, o servilismo e a intolerância, qualquer que seja. Alguém que não utiliza critérios legais para fazer nomeações de figuras como ministros, Presidente do Supremo Tribunal, diplomatas, presidente da CNE. Presidente da república para mim tem que ser um homem livre, capaz de se comunicar com todos os angolanos sem olhar se são da UNITA / BD / FNLA, se são mulatos, pretos, brancos, sulanos, cabindas ou lundas, ou se são de origem cubana, chinesa, caboverdiana, santomense, portuguesa, sul-africana, acreditando ou não nas suas palavras. Nunca ouvi, uma única vez sequer, o senhor condenar um qualquer acto de agressão física ou moral contra os seus adversários políticos... como posso considerá-lo presidente da república? Se, quanto se sabe, o senhor odeia os antigos combatentes que foram da UNITA, FNLA e inclusive seus próprios camaradas que pertencem à linha do Marcolino Moco. E alguns têm desaparecido para sempre de forma estranha e duvidosa, enquanto suspeitos de saberem tanta coisa, que poderiam servir de trunfo para os considerados inimigos do regime. Sinceramente, fico pasmado como é que ainda há angolanos que se declaram aberta e publicamente como estando ao lado e partilhando das ideias do senhor. Como democrata devo aceitar isto? Mais : não me vou esforçar para perceber até aonde chegará a bajulação em Angola e qual o tamanho da falta de vergonha de certa gente. Numa linguagem simples, quero dizer : num país onde quase tudo é perverso, nada mais reina do que essa mesma perversidade.»

Esta carta (inserida nos comentários a este artigo), enviada de Berlim por Jaime Osvaldo Armando da Cunha, embora pareça actual, é de Janeiro do ano passado. Muitas coisas soam a premonitórias, demonstrando à saciedade que a eternização do regime, a falta de alternância, só poderão exacerbar cada vez mais o actual estado de coisas, piorando as condições de vida de todos os angolanos e de todas as angolanas. 

BES@-me mucho

Alerta SPORTING ! O «sobrinho» de José Eduardo já enterrou uma instituição portuguesa mais antiga que o vosso Clube. Aceitam-se apostas sobre quem irá agora enterrar primeiro: o tio dos Santos ou o menino Jesus... Até os cardos riem salgado! A factura do enterro? Mandem para Pequim!

A grande conspiração contra o povo do Burundi

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Burundi acaba de emitir um comunicado, no qual «deplora» a recusa da oposição em relação ao mediador proposto por Nkurunziza, descaradamente parcial a favor do Presidente e da sua inconstitucional ambição. O documento fecha com a hipocrisia total, ao afirmar «o empenho do governo do Burundi na condução do processo eleitoral da forma o mais óptima possível e nos limites da constituição em vigor». Mais óptima? Limites da constituição, depois de grosseiramente violada?

Que a Conferência dos Grandes Lagos esteja interessada em apoiar Nkurunziza, não admira, dado os Presidentes em situações homólogas, a começar pelo vizinho Rwanda, cujo hipócrita Presidente Kagame, igualmente obrigado pelo acordo de Arusha, pretende também atropelar a constituição e o seu povo para se eternizar no poder. Não esquecer outro vizinho, arqui-inimigo deste último (embora em concordância neste caso), igualmente começado por Ka - bila... E o maior apoiante deste último, José Eduardo dos Santos, que na reunião que convocou em Luanda da mesma conferência, agitou o espantalho da «desestabilização externa» para sugerir a constituição de uma secreta comum, dirigida pelo seu homem de mão, Miala.

Diz este artigo que não ficou claro quem sugeriu este nome como o «mais» indicado, ficando-se na dúvida se o próprio José Eduardo dos Santos, se a representante do Burundi... A mim palpita-me que foi o próprio. José Eduardo dos Santos está senil, com os pés para a cova, já não manda nada e exposto a um golpe dos seus próprios (envenenamento? - ninguém estranharia, diriam que foi uma dose mal calculada de fisioterapia): assiste-se já a uma luta pelo poder dos mais «espertos»... Este regime abominável sem o seu mentor só se pode tornar pior ainda, em todos os seus vícios, logo obrigatoriamente mais repressivo.

Da União Africana, que há muito perdeu a sua identidade, já tudo se pode esperar. Agora que o Conselho de Segurança das Nações Unidas vá na conversa, já custa muito mais a aceitar. Passando o irrelevante voto de Angola (que não tem condições para ser «potência regional», como pretende, segundo recente avaliação oficial dos Estados Unidos), como é possível trair um povo que, em peso, manifestou legítima e unanimemente a sua repulsa por um acto ilegal? Deixando-o às mãos sanguinárias de um detestável tirano?

Depois de silenciar todas as rádios não controladas, hoje, a televisão francesa foi obrigada a retirar do terreno, por lhe ter sido retirada a acreditação, sob pretexto que estariam a fomentar as manifestações. Depois, virão as lágrimas de crocodilo... chorando sobre o leite derramado. A única solução será abandonar o povo do Burundi à sua sorte?

Kofi Annan dá o alarme

I believe President Nkurunziza has lost his legitimacy and should step aside. Burundi needs to find a new leader for the country. What is happening could be tragic.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Elogio público

Quero fazer um elogio a Sonia Rolley, corajosa jornalista francesa da RFI, que acompanhou os protestos no Burundi, contra o terceiro mandato de Nkurunziza. Esses protestos foram curiosamente decididos a 25 de Abril, mantendo-se ininterruptamente até hoje. A Sonia foi afastada do cenário, decerto por superiores hierárquicos temendo pela sua vida (lembre-se que a RFI perdeu dois repórteres no Mali há bem pouco tempo), mas continua a acompanhar a situação pelo Twitter. Publicou agora um resumo áudio de seis minutos (em francês), o qual recomendo vivamente, com os momentos mais emocionantes dessa revolução popular em curso, até à «inventona» que serviu para queimar os verdadeiros patriotas no exército e a sua empatia com o povo.

Neste pequeno mas emocionante resumo, destaco o relevo dado ao papel das mulheres, a partir do 3'48''. Transcrevo o discurso galvanizador e cheio de firmeza, deixando transparecer a sua fúria e raiva, discurso verdadeiramente político (do qual o Presidente seria inteiramente incapaz pois enquanto mandava matar o povo na rua, fazia-se fotografar a jogar futebol, inteiramente equipado, para transmitir a ideia de tranquilidade) de uma anciã: «Queremos a Paz, o respeito pela Constituição e pelos Acordos de Arusha, que nos concederam a paz que tanto desejámos, depois de tanto sangue derramado e que continua a ser derramado». Uns dias depois, uma jovem manifestava a sua indignação pela actuação da Polícia, massacrando a jacto de água, gazeando a lacrimogéneo e assustando as mulheres com balas reais: «É uma vergonha! Viemos até aqui marchando pacificamente, somos mulheres "armadas" com lenços brancos. Há apenas mulheres e raparigas em toda esta multidão. Viemos exprimir pacificamente a nossa recusa do terceiro mandato, que está a violentar o nosso país»

Quando os homens tentam fazer a junção com as mulheres, no centro de Bujumbura, a notícia cai como uma bomba: o ex-chefe da secreta de Nkurunziza declara um «Golpe de Estado», aos microfones de uma rádio privada. A «inventona», oportunamente encenada para silenciar as rádios privadas, criou uma dinâmica revolucionária que assustou os próprios mandantes. O entusiasmo popular era contagiante: cantava-se o hino e os alegres slogans inventados na hora fazem lembrar o 25 de Abril. Para terminar, a Sónia escolheu as declarações de um manifestante empolgado, que traduziam perfeitamente o sentimento do povo: «Este é um dia inesquecível, que vai entrar para a história! É a primeira vez que o povo decide uma coisa e essa coisa se realiza. Foi o povo que disse não! Estamos fartos desse gajo!» Imagine-se que, a 25 de Abril, a Cavalaria 7 tinha obedecido à ordem de fogo? Solidariedade com o Burundi, onde o povo não larga a rua, apesar da repressão e das provocações e assassinatos evidentemente promovidos pelo odiado ditador.

Entretanto, no Rwanda, a máscara do Presidente parece ter caído: já tinha aqui realçado o seu papel dúbio na crise do vizinho, ao deixar Nkurunziza utilizar o seu território para chegar ao Burundi. Ontem, silenciou definitivamente a Rádio BBC. A oposição tenta prevenir o mais que óbvio aproveitamento político que este se prepara para fazer, baseado no precedente do seu parceiro: pretendem inviabilizar qualquer alteração constitucional que tolere o terceiro mandato de mais um candidato a usurpador. Os ditadores parecem estar a apoiar, de todas as formas, sob a vergonhosa passividade da comunidade internacional, o «abcesso de fixação» no Burundi, tentando evitar o efeito de contágio. No entanto, nesta era de novas tecnologias e internet, as pessoas já não dependem apenas dos mass media, facilmente manipuláveis ou silenciáveis. O povo rwandês, calejado pelo genocídio, saberá satisfazer o pedido formulado onomasticamente pelo ditador: Kagame! Ok, seja feita a sua vontade.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Evidentes sinais de desespero

José Eduardo dos Santos, desesperado para arranjar dinheiro fresco, tirou o dia para tratar do assunto. Como já deve ter percebido que os chineses não estão para ser chantageados (como costuma fazer com os corruptos vendilhões da soberania portuguesa), lançou também um apelo a Putin, tentando apostar nas rivalidades entre as duas potências emergentes... No entanto, não deverá ter mais sorte do que com os chineses, pois Putin também se encontra com graves dificuldades financeiras, pelas mesmas razões. Uma simples miragem, tal como a banana, que se pode ver na foto em cima da mesa, aos seus pés, que não passa do reflexo da catana.

Entretanto, o discurso atabalhoado do Governador do Banco de Angola, prometendo aumentar o número de leilões, embora não a quantidade de dólares (supostamente) vendida, com vagas e inconsistentes promessas de desafogo monetário a curto prazo, baseadas em premissas falaciosas, vem apenas reforçar a ideia de que se trata de uma despudorada manobra de contra-informação, para ocultar a banca rota iminente. A LUSA, como nos vem habituando neste caso em particular, cumpre um vergonhoso papel de voz do dono, não se percebendo como pode uma agência noticiosa estatal lidar com esta clara corrupção da mais óbvia verdade.

Efectivamente, com dois artigos perfeitamente redundantes, publicados em dois dias úteis consecutivos (passada sexta e esta segunda), temos gato escondido com o rabo de fora: para bom entendedor, basta reconhecer o tipo de jornalismo que enviesa sempre no mesmo sentido. No seu afã justificativo, o idiota que produziu a primeira notícia, nem sequer foi capaz de se reler e pelo meio de frases totalmente sem sentido, produz pérolas como «devido à projeção inicial macroeconómica devido à quebra na cotação do barril de crude no mercado inicial». O artigo resume-se a pura propaganda, repetindo a tanga do regime sem o mínimo espírito crítico.

A segunda notícia é do mesmo nível ou pior ainda, pois embora introduza alguns rearranjos, conserva as piores redundâncias do anterior (do devido «ao quadrado», até ao descomprimir, com e sem aspas, em sítios diferentes). As alterações são de «extrema» relevância: onde estava  «apontou o governador, em declarações aos jornalistas» pode neste encontrar-se «apontou José Pedro de Morais Júnior.» Onde era referido «para breve o anúncio de novas medidas» passa a ser referida a passagem de dois para três leilões semanais, embora essa já constasse igualmente do texto inicial. Mesmo muito mau, isto de copiar e colar o lixo já produzido...

A «flexibilização», ou «descompressão» do mercado cambial, é agora possível, segundo a LUSA, porque no OGE foi considerada uma cotação do petróleo de $40 e esta se encontra «estabilizada» nos $60. Ahahah. «Estabilizada»? Só se for no fim-de-semana, que separa os dois artigos, quando os mercados estão fechados! (ver gráfico na barra lateral à direita) [se assim fosse para que precisa tão desesperadamente do empréstimo dos chineses? não esquecer que, mesmo com o petróleo a $60, ainda está abaixo do custo de produção] Para além de desinformar, ainda pretende fazer futurologia? Para jornalista, não serve, talvez dê um bom bruxo ou adivinho.

Por outro lado, ao mesmo jornalista, parecem ter escapado as conclusões da 44ª reunião ordinária do Comité de Política Monetária, que surge na página do Banco de Angola logo por baixo do relatório semanal, e que comporta uma informação importante: apesar de a situação da Senhora Dona Maria Odete Patrocínio ter sido pontualmente resolvida, a banca continua a chular todas as outras pessoas em situação similar: ao longo do mês de Abril a banca forçou a conversão de 113 milhões de dólares em divisas, ao câmbio oficial, prejudicando largas dezenas de milhar de angolanos que recebem pequenas quantias para sua sobrevivência...

A favor de quem? dos poucos que usam o cartão no exterior, comprando as divisas à cotação oficial (a metade do valor real). Portanto, enquanto os pobres têm de comprar o Kwanza ao dobro do seu valor, os ricos compram o Dólar a metade do seu valor! Antes, o regime era comunista, havia a justificação «moral» para a repartição da fome... Em Inglaterra, ao tempo da visita do Rei Ricardo Coração de Leão, a Saladino, na Palestina, surgiu um revoltado contra o usurpador da terra, que ficou conhecido por roubar aos ricos para dar aos pobres. Já o Robin do Futungo, rouba aos pobres para dar aos ricos! No entanto, se não consegue rapidamente dinheiro...

Até os dóceis deputados já reclamam de salários em atraso.

sábado, 30 de maio de 2015

José Eduardo dos Santos hipoteca Angola a Pequim

O pseudo-presidente angolano, ou dragão de papel, como lhe mandou chamar o Rei de Marrocos, irá brevemente à China negociar a venda do país, em troca de 25 mil milhões de dólares, almofada financeira que o colocaria ao abrigo da crise do petróleo por mais de um ano. Segundo artigo do Club-K, o Ministro das Finanças fez deslocação «secreta», ignorada pela Imprensa oficial... 

Talvez devesse compreender que, dada sua avançada idade, as garantias são escassas: existindo um apreciável risco que venha a deixar esta vida a curto prazo, o PCC deveria considerar seriamente, numa balança de probabilidades, as vantagens e desvantagens da concessão de um crédito de natureza política neste montante astronómico. É que, à falta do signatário, será mais difícil obrigar legitimamente os seus sucessores, sejam eles quais forem.

Já tinha aqui alertado discretamente os decisores da República Popular (não a de Angola) para os riscos de crédito, quando pela primeira vez se aventou publicamente essa hipótese (embora, por essa altura, se falasse de apenas um décimo dessa quantia), bem como aqui, embora com outros destinatários.

Para gastos sumptuários, despesas perdulárias, compra de sucata militar, prémios com o seu nome, legando a dívida aos angolanos e alienando o país? O senhor pseudo-presidente não se entusiasme... Nunca se ouviu um chinês dizer que não, aliás, é uma palavra que esse povo diplomático desconhece, por isso Pequim rima com sim. O que não quer dizer que seja sempre assim. Ou julga que é o único esperto habilitado a não cumprir com aquilo que promete?

Andar a cantar de galo, armado em carapau de corrida, não fica bem a quem depende de dinheiro emprestado...

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Adivinha quem é o pseudo-dragão?

A quem se destina o seguinte recado, hoje saído na imprensa marroquina, a propósito da visita do Rei de Marrocos?

«Quels sont ces pays africains, qui se déclarent faussement des puissances régionales,
qui en ont fait de même? Aucun !
Des pseudo "dragons" africains
qui n'arrivent même pas à assurer
le minimum vital à leur peuple!»

«Que países africanos, entre aqueles que falsamente se proclamam potências regionais, deram o seu apoio [à Guiné-Bissau] como está Marrocos a fazer? Nenhum! Pseudo-"dragões" africanos que não conseguem sequer garantir o mínimo vital para o seu povo!»

Se o plural pode ajudar, esclareça-se desde já que, apesar dum incidente diplomático recente entre os dois países, o principal destinatário da carapuça não é o novo presidente da Nigéria, muçulmano do Norte e que o Rei apoiou nas eleições contra a boa sorte do antigo.

Ao desesperado apelo de fundos das autoridades guineenses,

reforçado pelos intempestivos avisos à navegação que o agente duplo Trovoada emite pela CPLP em nome da ONU , pelos quais ficamos a saber que DSP nada pode fazer sem meios, pois as promessas da mesa redonda não passaram disso mesmo e está completamente sem dinheiro (tudo bem misturado com as ingerências do costume, tentando chantagear com o fantasma da «reforma» da defesa «as condições não estão ainda reunidas para que se possa avançar com margem de sucesso no apuramento das responsabilidades e na punição de culpados ["golpistas"]. (...) Injai foi removido e está tranquilo. (...) Outras altas patentes estão a ser mudadas»)

respondeu o monarca (decerto depois de ouvir as queixas surdas dos seus anfitriões) apontando o dedo a quem muito promete e nada cumpre...

Apenas uma dica: lembre-se que Angola tinha prometido, com pompa e declarações de circunstância (gabando o seu papel de potência regional, o seu lugar no Conselho de Segurança, o seu papel na «paz» do continente), quase dois mil homens para a força centro-africana; uma pequena nota de rodapé meio esquecida do Jornal de Angola veio recentemente anunciar que afinal, «desistiram». Tal como a Garantia ao BES, ou as muitas comissões de inquérito (evidentemente inconclusivas) extintas à dúzia por decreto sibilino.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Meia-Haste

Podemos ver a Bandeira guineense a meia altura da marroquina, no Palácio Real.

A semi-óptica imperial marroquina, transposta para além do Sahara, fica igualmente bem patente no próprio tamanho escolhido para as bandeiras.

Embora esta possa ser considerada uma simples ilusão, pois as bandeiras não estão na mesma haste, nem no mesmo plano, não deixa de ser significativo que, embora as duas bandeiras estejam representadas ao mesmo nível no balcão, uma outra, bastante maior e mais alta, encha a praça.

As relações entre os países devem-se de reciprocidade, portanto Sua Majestade deve-se de retribuir o protocolo a Sua Excelência o Presidente da Guiné-Bissau, convidando-o para uma visita de Estado.

Cedendo-lhe a sua residência principal e sobrepondo a bandeira da Guiné-Bissau à sua própria.

Ocorre-me o célebre provérbio imperial e soberano: «À mulher de César não basta ser séria, também tem de o parecer»

terça-feira, 26 de maio de 2015

O poder do preconceito

Tive hoje uma reflexão que partilho. Partiu de um texto de Nuno Dala, intitulado África, a realidade e o afrocentrismo irracional e bacoco, publicado no FaceBook:

«São neste momento 22h55. Passei o dia a pensar como daria minha contribuição no debate do Dia de África como forma de celebrar o continente que durante séculos foi colonizado, pilhado e humilhado pelos europeus. Ocorre-me apontar que a REALIDADE de África é visível nos seus indicadores em matéria de governação, transparência, direitos humanos (DH), índice de desenvolvimento humano (IDH), estado da infância (IF), índice de democracia (ID) etc. E o balanço já todos sabemos: ÁFRICA ESTÁ MAL, MAL, MAL! (Há felizmente excepções, embora raras). 

Mas afinal, por que será que DEZENAS DE ANOS DEPOIS de o colonizador ter-se ido embora África continua estagnada? Há várias razões, que são sobejamente conhecidas. O que de facto devo aqui trazer à atenção é um sério problema que acaba contribuindo para a estagnação do continente. Trata-se do que eu chamo de AFROCENTRISMO IRRACIONAL, uma "corrente" que tem muitos representantes também em Angola. O afrocentrismo irracional chega a ser patético, trágico e cómico. É ver gente que glorifica até mesmo os aspectos negativos e perniciosos das culturas africanas (poligamia, excisão, machismo, magia "negra" etc.). É ver esta gente a fingir que não está a ver que o continente nos últimos tempo teve (tem) muitas "espécies raras" do piorio (Idi Amin Dada, Bocassa, Mobutu, Robert Mugabe, Botha, Abacha, Banda, José Eduardo dos Santos etc.) que só ajudaram a consolidar a ideia de que o africano está parado civilizacionalmente, não progride! É ver esta gente a falar de "colonização cultural" e "académica", quando muitos deles (francamente) se perfilam em autoridade científica infalível (ou lago assim), defensores irracionais de algo que também não compreendem ou acham que compreendem. É daí que os vemos a dizer disparates como estes: 'Havia escravos brancos no Reino do Kôngo' (como se isto fosse mesmo razão de orgulho para nós!); 'a Rainha de Sabá era africana ou mukongo' (mas o que isto tem de útil?); 'havia democracia no Reino do Kongo' (que ridículo!); 'os afro-americanos devem retornar às raízes' (mas nem percebem que os afro-americanos desenvolveram uma nova identidade com o passar dos séculos!)...Minha pergunta é: para quê inventar tudo isso? É mesmo com estes disparates que vamos recolocar África na estrada da civilização?
»


Ao que Kayenga Kamalamba respondeu: 

«Cleptocracia, são os modelos de governação do continente " Berço da Humanidade". Diz- se que quem está no berço dorme! Será que nós os africanos ainda estamos dormindo? Estamos à espera que alguém nos venha a acordar, para que nos despertemos?»

Ao que respondi:

«A monarquia não é forçosamente má, no que se distingue da cleptocracia. Embora a cromatologia seja uma linguagem enformada por brancos (na qual o preto representa as trevas e o mal), pode dizer-se que, tal como na magia, que pode ser distinguida entre branca e negra, o mesmo acontece com a monarquia. Há uma monarquia boa e benéfica «branca», assente num contrato, em que o governado se obriga a obedecer, mas o governante se obriga, em troca, a bem governar. Rompido esse contrato, o governante, ordenado não ao bem comum mas apenas ao seu interesse particular, perde a sua legitimidade e o seu regime torna-se numa patocracia (o poder patológico), numa monarquia «negra», má e maléfica, um feitiço do qual pode ser bastante difícil os povos se livrarem. Em relação às cores, sugiro que se proceda a uma inversão valorativa do espectro cromático, e se comece a valorizar eticamente, junto das crianças, o preto. Black is beautiful. Antes que se fizesse luz, existiam as trevas, onde reside todo o potencial... Nem a Luz o seria, se não houvessem Trevas primordiais. A humanidade nasceu em África, ser branco não passa de uma «doença» de adaptação a latitudes mais frias, cujo sintoma é a falta de melanina (a qual se corrige, num sentido ou no outro, em poucas gerações)... Isso começa nas histórias que contamos às crianças: em vez de «branca de neve», porque não contar a «preta de carvão» (ou de petróleo, ehehe), que representaria as mesmas qualidades de pureza, etc? Num novo protocolo linguístico, circunscrito ao Continente (se um africano for à Europa, poderá usar o protocolo local, para se fazer compreender, mas em África, podemos esperar que, reciprocamente, respeitem novas idiossincrasias) diremos Magia «Negra» para significar (ao contrário do que até aqui se faz) magia benfazeja, e magia branca (para significar o diabólico). 

Inspirado, ainda produzi uma réplica, tentando aclarar alguns aspectos menos claros:

«A magia não tem forçosamente apenas conotações negativas. Isso parece-me ser reduzir demais as coisas. Claro que não devemos acreditar no Pai Natal, que tudo se resolverá por «magia». Parece-me que é sobretudo preciso lutar contra a forma como o africano encara o mundo moderno: de forma mágica, como «caixa negra», o que o inibe que querer aprender a técnica de dele se apropriar e o colocar ao seu serviço. Se a razão pode explicar muita coisa, não explica definitivamente tudo. Um dos erros em que caiu a geração «científica» foi precisamente a des-sacralização, privando as pessoas de uma faceta mágica, que permitia explicar de forma acessível o modo como o Cosmos possui uma natural propensão para o equilíbrio. A desidentificação é altamente perigosa, neste contexto, como sugere Nuno Dala, pois conduz à negação (da qual podemos constatar um caso paradigmático com Michael Jackson). Pode ser uma explicação de contos de fadas, mas a magia, concebida como capacidade de abstracção mas também de operação, de receptividade perante o maravilhoso, de abertura à utopia, não é forçosamente contra-producente. Trata-se apenas de, através de um ritual propiciador, criar o ambiente legitimador adequado, agindo sobre as mentalidades e introduzindo uma dinâmica de desenvolvimento consistente. Que dizer dos jovens americanos que se suicidam porque não foram preparados para as sequelas da guerra estúpida para onde os enviaram sem preparação adequada? Não podemos estimar que um «simples» pele-vermelha (como lhes chamavam), estava melhor preparado, iniciaticamente, para a guerra e para a morte e suas consequências psicológicas? O ritual de desenterrar o machado de guerra preparava o guerreiro para a excepção que representava a guerra, permitindo-lhe manter a sua humanidade... sabe sempre que aquele momento pontual passará e as coisas voltarão à ordem normal, depois de enterrado o referido machado e fumado o cachimbo da paz. Tal como o legionário do Império Romano, para quem, depois do ritual de lançamento de uma lança, do lado de cá da fronteira, para lá, estava oficialmente declarada a guerra, ficando isento de crimes de guerra «mentais». A magia tem a ver com o poder de convicção (que alguns resumem a uma fé cega), cuja consistência opera inevitavelmente sobre a realidade, a qual, como toda a ferramenta inclusive a ciência, pode ser usada para o bem, ou para o mal.


Em tempos, desenhei e fabriquei um jogo de xadrez de viagem em madeira, sem brancas nem pretas, porque isso é apenas convenção. O jogo tem apenas pequenos buracos nos sítios das casas, e, embora de perfil as peças sejam iguais, umas são torneadas e vistas de cima são redondas, e as outras são trabalhadas à tupia e apresentam secção quadrada. As peças são transportadas dentro da caixa, que por ser facilmente transportável e as peças não caírem, mesmo na vertical, digo que é «de viagem». O rei das esferas tem um cubo por cima, e o rei dos cubos, uma esfera. Muita gente, mesmo após explicações mais que convincentes, recusa-se a ver no objecto um tabuleiro de xadrez, embora eu demonstre jogando com outra pessoa, aderente do «protocolo» e ambos os jogadores possam evidente e individualmente, proceder à notação oficialmente reconhecida das jogadas, em plena sintonia (não havendo portanto dúvidas de que aquilo que estão a jogar é xadrez). Produzi meia dúzia e ainda tenho dois para venda. Madeira de Pinho e Mogno. Lado do cubo e diâmetro do esfera de 2,5cm. Preço 250€.

sábado, 23 de maio de 2015

Regime a falar para as paredes

Ontem, na cidade do Dundo, uma importante cerimónia oficial ficou às moscas, boicotada pela população, apesar da cerveja e comida à borla. Imagem bem representativa da legitimidade actual do MPLA.


A não perder, a opinião de Marcolino Moco, quanto aos recentes desenvolvimentos, ainda um pouco confusos em termos de desenlace, do caso Rafael Marques.

«Minha idéia sobre o fim do caso Rafael Marques:

Devido às ocupações que me preenchem o tempo, no presente momento, não pude aprofundar a situação reflectida do que captei nas redes sociais sobre o caso. Mas se bem o entendi, chamaria a isso a vitória do bom senso. No quadro da situação geral que o país vive, é por uma solução desse tipo que eu torcia, especialmente quando vi que estavam agregadas ao caso pessoas de um bom senso proverbial, como os generais Ndalo, Matos, Nunda e outros. Quem nos dera que conseguíssemos resolver de forma semelhante o problema mãe de todos esses problemas: devolver a soberania ao(s) povo(s) de Angola, sem ser necessária mais uma revolução sangrenta; acabar de vez com a repressão contra manifestantes pacíficos, acabar com a continuação de presos de opinião em Cabinda e nas Lundas, assistirmos ao fim da entrega de todas as instituições a uma família e pouco mais! Na verdade, este é o problema fundamental que temos de resolver, preferencialmente, de forma pacífica. Mas o que se observa é que o Presidente José Eduardo dos Santos acha que a solução é controlar cada vez mais poder (vejam isso de controlar mais pessoalmente o sistema eleitoral?), controlar pessoalmente a comunicação social de Angola e de Portugal; enfim, usar de chantagem contra nacionais e estrangeiros, na base dos recursos naturais do país. Há melhor exemplo de como utilizar a soberania nacional capturada, para chantagem à comunidade internacional do que aquele comunicado do governo de Angola, sobre o caso Kalupeteka? Quando, seja qual seja a gravidade do acontecido, o que se exige, legitimamente, é apenas esclarecimento sobre vidas perdidas?»

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Intentona ou Inventona?

Quem liderou a tentativa de Golpe de Estado no Burundi? Aquele que ainda há três meses atrás, era Chefe da Secreta do Presidente «deposto».  Aparentemente perito em diversões e golpes de teatro, num momento em que se arriscava a ver a capital inundada, lançou o isco, para ver aqueles que cairiam. Desde o primeiro momento que nunca se percebeu bem de que lado estavam «as tropas»; o blindado abandonado em frente à sede da Rádio-Televisão, como consequência de «violentos combates», não apresenta qualquer dano visível, parecendo óbvio que tudo não passou de encenação para abusar o povo do Burundi e quebrar a revolta popular, como alguns, mais clarividentes, logo denunciaram. Tratava-se apenas de purgar a tropa dos elementos patrióticos que aderissem de boa fé. No entanto, devido às circunstâncias, a dimensão da adesão excedeu largamente a expectativas, mostrando à evidência a falência da legitimidade presidencial. E não será outro ditador nojento que o vai salvar.

Com o país em plena insubordinação civil, os activistas conseguiram realizar manifestações em muitos locais.

Num primeiro tempo, fugiam perante os tiros de intimidação para o ar.

Num segundo tempo, passaram a sentar-se no chão, de cada vez que os militares disparavam, partindo depois novamente contra as barragens avançando devagar, com os braços no ar (para mostrar que estavam completamente desarmados) e cantando o hino nacional.

Em vários locais conseguiram chegar ao contacto com os militares e parlamentar, expondo os seus sólidos argumentos.

Entretanto, continuando a dar provas de autismo, Nkurunziza comete mais uma inconstitucionalidade flagrante: demitiu dois ministros (o que significa que, para além de violar os acordos de Arusha, face à dissolução do Parlamento, os novos «indigitados» não poderão tomar posse). O dos Negócios Estrangeiros e o da Defesa (este último, por ter afirmado, no curso dos acontecimentos: «o exército é o último reduto do povo»). Depois de ter chamado aos manifestantes «insurrectos», chamou-lhes «bandidos», depois «golpistas», ainda ontem «terroristas»  d'al Shabaab, e hoje, deu o último passo da farsa genocidária, classificando-os como «tutsis»!

É a cartada do desespero.

Créditos Twitter : Sonia Rolley.

Saudamos a defesa da Ordem Constitucional pelas forças leais ao Presidente da República, cuja legitimidade não pode ser posta em causa

José Eduardo dos Santos, hoje, sobre a situação no Burundi, por ocasião da Cimeira Extraordinária da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos, publicado pelo Portal de Angola. Sustenta ainda a diversão lançada por Nkurunziza:

«Convido Vossas Excelências a inscrever na nossa agenda como ponto de destaque o fenómeno do terrorismo e a encarar com muita seriedade a forma de o prevenir e combater. O massacre de cerca de centena e meia de estudantes no Quénia e outros actos terroristas perpetrados pelo grupo Al Shabab, são crimes que condenamos com veemência.»


Em termos de massacres, comparado com o terrorismo de Estado de José Eduardo dos Santos, no grupo Al Shabab, são uns meninos. É o próprio José Eduardo dos Santos que está a atar o seu destino ao de Nkurunziza. Não deverá pois admirar-se, se os angolanos se inspirarem no povo burundês para se libertarem da tirania.

Cumprimento do OGE = 1 / 1000

Segundo o relatório semanal do Banco de Angola, o resultado do financiamento interno no período em consideração foi equivalente a um Título do Tesouro efectivamente colocado por cada mil emitidos.

Amanhecer em Bujumbura

Hoje prepara-se para se tornar um dia histórico para o Burundi e para África em geral. O povo deverá sair à rua em Bujumbura e dar uma lição ao ditador.

Para contrariar aqueles que insinuavam que não se encontrava no país, Nkurunziza fez uma fugaz aparição no Palácio Presidencial para dar uma entrevista, tentando passar a ideia de normalidade. Na imagem, por detrás do Presidente deposto, os seus antecessores, que o desmentiram; podia ter puxado a cortina... Numa última tentativa, em desespero de causa, agitou o fantasma de uma ameaça terrorista somali a interesses americanos no Burundi... a organização visada veio já, em jocoso desmentido à Reuters, garantir não passar de uma manobra de diversão para distrair as atenções da situação interna no seu país.

[Não resisto a transcrever o original «We think that this is an attempt by him to appease his people, who are standing in the streets protesting against his dictatorship, to divert the world's attention from him while he possibly prepares his mass revenge», al Shabaab spokesman Sheikh Ali Mahamud Rage]

Embora a BBC tenha publicado uma notícia segundo a qual o presidente «will hold onto power», este abandonou o Palácio imediatamente após a Conferência de Imprensa, denotando evidentes sinais de stress... Apesar de ter conseguido conter o golpe, graças à sua guarda pretoriana extremamente bem paga e armada, comporta-se como um animal acossado.

Para o Aujourd8 do Burkina Faso, «muitos farejaram um autogolpe orquestrado pelo próprio Nkurunziza» mas, ainda segundo o mesmo jornal, a ter sido o caso, o tiro saiu-lhe pela culatra, pois a acalmia do fim-de-semana poderá ser apenas o prenúncio da tempestade que se avizinha, uma trégua passageira, na onda que varrerá a praia do Grande Lago.

domingo, 17 de maio de 2015

Inconformismo patriótico

O que é demais, é demais. Até Jesus Cristo se irritou, perante a profanação do Templo. Um jovem patriota anticonformista angolano diz no seu FaceBook que começou a escrever um simples comentário, mas que acabou por se exceder... publico na íntegra o magnífico artigo que escreveu, indignado com a resposta do regime de José Eduardo dos Santos às graves acusações da ONU.

Acho que o governo angolano é composto de brincalhões.

Primeiramente, um governo democrático ou num país democrático um governo não vinga. O papel dum governo é deter os criminosos e traduzi-los à justiça para serem julgados. Pouco importando a gravidade do crime ou dos crimes cometidos por estes últimos. A severidade da pena que será pronunciada é que punirá a gravidade do crime. Mas o governo angolano, no caso Kalupeteka, vingou-se através da sua policia, matando assim dezenas ou centenas de cidadãos indefesos e isso é gravíssimo.

Segundo, nesta declaração o governo fala em "direitos das crianças" e de "crianças fora do sistema escolar". Meus senhores, desde quando é que o governo de Angola se importa seriamente com as crianças fora do sistema escolar ? Se tal fosse o caso, porque não faz quase nada com tantas crianças que passam a vida nas artérias da cidade de Luanda ? Muitos até fumando substâncias ilícitas em tenra idade ? Agora querem fazer-se passar por defensores dos direitos das crianças ? Porque razão, volvidos 13 anos desde o advento da paz em Angola, ainda continuamos a ter crianças fora do sistema escolar ? Mas também crianças que têm que levar bancos na escola para sentar ? Depois falam em direitos das crianças ? Isto é apenas para inglês ver.

Terceiro, o governo de Angola já entendeu que o povo angolano está mesmo farto da guerra mas também que ficou traumatizado com o longo conflito armado que o país conheceu. Assim, o governo ou seja, o Partido MPLA, tem utilizado (instrumentalizado) este facto para cometer manipulações e violações dos direitos dos angolanos, e cada vez que as pessoas ou a Oposição reivindica ou organizam manifestações, argumenta que querem pôr em perigo a paz. Desde quando é que uma manifestação, que o próprio MPLA consagrou na Constituição que impôs aos Angolanos em 2010, põe em perigo a paz? Isto é apenas manipulação. E nós angolanos atentos já entendemos isso e pedimos que isto possa cessar o mais rapidamente possível. O MPLA não pode continuar a provocar a Oposição e a violar os direitos dos angolanos e em seguida quando as pessoas reclamarem aproveitar o medo que habita em muitos angolanos para enganar os menos atentos dizendo que estão a ameaçar a paz. Isto é maquiavélico !

Quem realmente está a ameaçar a paz e a estabilidade em Angola é quem está sempre a violar as leis do país, a cometer injustiças e desigualdades, a excluir todos aqueles que pensam diferente ou que não pertencem ao Partido MPLA, a roubar o dinheiro público que podia servir para resolver os infinitos e graves problemas de água, eletricidade, educação, saúde, estradas esburacadas, engarrafamentos sem fim, pobreza, falta de habitação, saneamento básico, lixo, poeira... que afligem todos os dias os angolanos na sua generalidade e sobretudo os habitantes da cidade capital, Luanda.

O governo pediu "provas" à ONU no caso Kalupeteka. Mas também à Oposição, noutras circunstâncias ou contextos do caso acima referido. Posso aqui inverter o papel e pedir ao MPLA que apresente provas contrárias das acusações que são levantadas contra si. Se não devem, porque razão não deixaram os primeiros angolanos que chegaram no local do massacre irem visitar este lugar tão logo que o massacre fora perpetrado ? Porque deixaram passar alguns dias antes de começarem a autorizar o acesso a este sitio ? Com certeza que era para enterrarem os corpos a fim que ninguém, fora dos assassinos, soubesse o numero exato de Angolanos que foram barbaramente assassinados naquele dia. Conforme diz o ditado, quem não deve, não teme. Se o governo está a temer é porque deve sim alguma coisa. E a verdade sempre vence. A verdade é teimosa e ela virá à tona.

Peço aos agentes da Policia Nacional que participaram deste massacre ou que detêm informações preciosas, que sejam patriotas e que denunciem o que realmente se passou. Se possível juntem as provas. Porque muitos destes elementos da Policia Nacional perderam também os seus familiares nesta carnificina.

Para terminar, gostaria dizer que, relativamente ao caso Kalupeteka, a minha convicção é a seguinte : para além dos que mataram e/ou os que enterraram os corpos, ninguém mais pode dizer com exactidão quantos angolanos morreram naquele dia. Mas uma coisa é certa, morreram sim centenas de Angolanos. O número avançado pelo governo de 13 mortos é uma mentira vergonhosa. Num universo de mais de 2 000 (duas mil pessoas) face à Policia Nacional e ao Exército com helicópteros e outros meios bélicos sofisticados, dizer que só pereceram 13 indivíduos é fazer prova de pouca inteligência ou esperteza.

Enfim, desde que Angola acedeu à independência em 1975, o Partido MPLA já cometeu muitos massacres contra o povo angolano. O primeiro massacre foi o do 27 de Maio de 1977, apenas dois anos após a independência. Morreram muitos inocentes que nada tinham a ver com a suposta tentativa de golpe de estado.


Em seguida, houve o massacre contra os fiéis da igreja Tocoísta em Luanda nos anos 80. Eu era muito jovem mas lembro-me como se fosse hoje as imagens que vimos na televisão naquele dia; elementos das FAPLAS no templo da igreja Tocoísta dando tiros em todos os sentidos e matando assim dezenas e dezenas de cidadãos angolanos.


O antepenúltimo massacre foi o perpetrado depois das eleições de 1992, durante o qual o regime do MPLA distribuiu armas à população para atacar uma outra franja da população angolana. E nomeadamente os Bakongos e os originários do Sul de Angola ou seja os "Sulanos".


 No dia 16 de Abril foi cometido um massacre suplementar da nossa história, num momento em que se fala da paz e da reconciliação nacional. Que tristeza ! Isto para não citarmos os assassinatos políticos seletivos.

À laia de conclusão, digo que isso não pode continuar assim. Os angolanos não podem continuar a ser assassinados por aqueles que deveriam os proteger e proporcionar melhores condições de vida.
O MPLA nao respeita a vida humana. E os seus abusos de poder e de autoridade já estão a ultrapassar os limites do aceitável.


Povo angolano, meus irmãos, minhas irmãs. É mais de que hora de acordarmos e reagirmos. Metamos o fanatismo de lado e façamos algo para o nosso querido país Angola. Não podemos continuar a aturar um regime que pouco se importa do povo que (des)governa !


Como prova disso, olham o estado dos bairros onde eles (os governantes) vivem, e olham também para o estado dos bairros onde vive o essencial da população de Luanda e de Angola em geral. A diferença é que eles vivem no luxo total e o povo vive nos bairros sem saneamento básico, nem água e luz elétrica. Em suma, o povo vive nos bairros sem condições de habitabilidade.

É mais do que tempo de termos um governo que pensa no povo e que terá como única preocupação resolver os problemas dos angolanos. Mas também e sobretudo, um governo que irá respeitar e proteger a vida humana. Pedimos o respeito da vida humana.

Aos fanáticos deste regime, peço que mudem de posição ! Porque o problema não é partidário. Não estamos aqui a falar de Partidos políticos, mas sim a defender os direitos e interesses de TODOS os angolanos contra as práticas maquiavélicas deste regime.

Devem ter em mente que hoje estão a defender as práticas maquiavélicas do regime, mas amanhã estas mesmas práticas poderão ser perpetradas contra vocês mesmos ou contra os vossos familiares. O regime apenas se importa com os seus próprios interesses. As vidas dos outros não lhe interessam.


Estamos a defender uma Angola onde os direitos de quem governa como daqueles que são governados serão respeitados da mesma forma. Defendemos uma Angola governada por leis e na qual ninguém estará acima das leis, e não aquela onde impera a vontade de quem governa o país.

Não tenho nenhum problema contra o Partido MPLA nem contra os seus dirigentes. Sei que no seio deste Partido existem angolanos patriotas e que querem o bem de Angola e dos angolanos. Tenho até amigos e familiares que são membros do MPLA. 


Estou é contra a má governação do país por este Partido e contra as suas políticas maquiavélicas, calculistas, de exclusão e divisionistas que prejudicam sobremaneira (muito) o nosso país.

Quero e luto apenas para termos um governo que vai amar o seu povo. Que vai governar para o bem-estar de todos os angolanos sem exclusão ou discriminações de quaisquer espécies.


O atual governo do Partido MPLA é antipatriótico, insensível ao sofrimento dos angolanos, altamente corrupto, calculista, divisionista, incompetente na governação, esbanjador do erário publico... Assim sendo, já não tem a legitimidade moral de continuar a governar os angolanos...

Obrigado.


[com a autorização do autor]

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Recepção «triunfal» a Nkurunziza

No centro de Bujumbura, a chegada do autocrata é festejada por uma «grande» multidão. Compare-se com a densidade humana no mesmo local, há dois dias atrás.

Revolução popular no Burundi continua

Confirmada a entrada no país do Presidente deposto Nkurunziza, por via terrestre, com o cínico beneplácito do Presidente do Rwanda (apesar de há cerca de uma semana este lhe ter pedido para dar ouvidos ao seu povo), entrando pela cidade fronteiriça de Negozi, seu bastião; foi entretanto anunciada a sua partida para Bujumbura, um percurso de pouco menos de 100Km. Puderam-se ouvir, partindo ruidosamente do centro de  Bujumbura, algumas viaturas de apoiantes fazendo-se à estrada para o irem receber. Elementos de uma sinistra milícia presidencial com vocação para esquadrões da morte, esperam a chegada do presidente: comparem-se as dezenas de milhar de anteontem com as dúzias de que falava há pouco o correspondente da BBC.

Enquanto isso se passa, um importante documento (que pode mesmo ser considerado de precedente a nível mundial), uma carta aberta assinada por quatro ex-presidentes do Burundi, vem desautorizar Nkurunziza e reforçar as firmes convicções da revolução popular, que exige que Nkurunziza retire a sua candidatura a um terceiro mandato. Enquanto isso, neste momento, as milícias gritam na rua, em jeito de provocação: «Acabou-se o reinado de Niyombare [chefe dos amotinados, cujo paradeiro é de momento desconhecido], viva o PRIMEIRO MANDATO de Nkurunziza».

Após o lamentável caso da surreal rendição da segunda figura golpista, que terá atraiçoado o líder e sido cooptado pelo Presidente deposto, teme-se, à boca pequena, segundo o jornalista do Le Monde Jean Pierre Remy, uma sangrenta repressão. Em muitas zonas do país, a própria polícia tinha aderido ao Golpe de Estado consonante com o desejo de Revolução Popular (muitos dos chefes de posto foram presos). O que provocou uma reacção popular de indignação e repúdio, acusando o falhanço militar de ter quebrado o levantamento popular. Em Musaga, a população interpôs-se entre a polícia, que vinha prender os «cabecilhas» e a barragem dos militares golpistas. Num momento de tensão, a polícia chegou a disparar por cima da multidão. Os militares acabaram por ser eles próprios a levantar a barragem e a sugerir à polícia que se acalmassem...

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Tentativa de intoxicação

Após o anúncio via Twitter do retorno ao país do Presidente Nkurunziza, a jornalista Sonia Rolley está a publicar, desde há cerca de meia hora, informações imprecisas que estão a ser largamente difundidas e propagadas. Resta saber se a jornalista da RFI foi desinformada ou é cúmplice de uma manobra de contra-informação, dando conta de um «reconhecimento da derrota», por parte do General Cyrille Ndayirukiye (apresentado como número dois da revolta), com declarações surreais como «Notre initiative même si elle a échoué a mis à nu une armée qui est inféodée au parti au pouvoir.» Alguém que ouviu o mesmo audio, disse que não era ele, mas alguém que o citava... Parece óbvio que estas «notícias» se destinam a a desacreditar e desmoralizar a revolução, travando as várias colunas militares de apoio à revolução, que se dirigem para Bujumbura, originárias de vários pontos do país.

Polícia vandaliza, no Burundi

Elementos da Polícia afectos ao ex-Presidente incendiaram as instalações de duas Rádios favoráveis aos rebeldes: que dizer de uma polícia que, em vez de defender a propriedade, é a própria a promover a pilhagem? As operações da polícia contra as rádios foram efectuadas em estilo guerrilha: «bate e foge» (da fúria da população). Desde ontem que aparentemente se luta pelo controlo dos meios de comunicação. O assalto rebelde à Rádio-Televisão (único meio de chegar a todo o país) parece ter falhado, mas demonstra claramente que são os revoltosos que estão ao ataque, tentando acabar com as bolsas de resistência pró-Nkurunziza, e não o contrário, como afirmava ontem o Chefe de Estado Maior lealista.  Face à escalada da violência a população parece ter optado por ficar em casa, para já.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Revolução popular no Burundi

Aproveitando uma deslocação de Nkurunziza à Tanzânia, o General Godofredo Niyombare, proclamou esta manhã a destituição do Presidente do país. Ex-Chefe de Estado Maior das Forças Armadas e companheiro de partido de longa data de Nkurunziza, fora nomeado em Dezembro passado para a chefia do Serviço de Informações, mas acabou demitido em Março, por divergências com o Presidente.

A noite caiu em Bujumbura e, segundo os vários media que estão a reportar, o desfecho não é claro. O centro das atenções transferiu-se entretanto para o aeroporto, ocupado pela tropa. Se o Presidente conseguir aterrar, conseguirá eventualmente agarrar-se ao poder; mas ninguém sabe para que lado estão virados os militares que ocuparam o aeroporto, ou se Nkurunziza arriscará a viagem.

Tudo começou bem cedo, esta manhã. A grande originalidade deste dia foi decerto o importante papel desempenhado pelas mulheres, que tinham marcado uma jornada de luta contra a pretensão do Presidente de concorrer a um terceiro mandato, e pela reabertura da RPA, rádio contestatária fechada pelo regime. Ocuparam o centro de Bujumbura, tendo sido dispersas a canhão de água, reagrupando-se em seguida.

Mais tarde, o grosso dos manifestantes tentou fazer a junção com as mulheres, sendo impedidos pela polícia. Alguns elementos revoltosos do Exército, com um blindado, juntaram-se aos populares e enfrentaram a polícia, avançando muito lentamente com a multidão. A polícia entretanto desapareceu das ruas. As chefias militares reuniram-se para discutir a saída para a crise, sem que se perceba muito bem, para já, para que lado pende a situação.

Parece que o Presidente conseguiu assegurar a fidelidade de algumas unidades, mesmo se duvidosa: quando um repórter francês perguntou, há pouco, a um dos soldados de guarda ao Aeroporto (entretanto fechado e de luzes apagadas, tendo um avião belga sido desviado para Nairobi) de que lado estava, se do lado do povo se do lado do Presidente, este não soube responder... Aterrará para continuar a aterrorizar?

Se em termos militares as coisas estão confusas, já em termos de controlo dos meios de comunicação, as coisas parecem correr melhor para os revolucionários. A polémica RPA voltou a emitir, o que foi festejado com alegria por toda a população; enquanto, por outro lado, a REMA, pro-governamental, que tinha vindo a dar notícias enganosas sobre a revolução e a apelar a uma «guerra de catanas», foi silenciada.

A televisão, defendida por um contingente leal ao Presidente, continuou aparentemente com a sua programação, como se nada se passasse. A população festeja ruidosamente nas ruas a desgraça pública do Presidente e julga que o Golpe foi um sucesso. Os slogans dos manifestantes a que foi dado maior relevo no Twitter, foram, para as mulheres, «Pierre Nkurunziza para Haia»; já para os homens, foi destacada a consciência de que «Pela primeira vez o povo decide e é respeitado», ou «Somos hutus, somos tutsis, somos o Burundi!». 

O que levou o jornalista do Le Monde, Jean Pierre Remy, a exclamar, traduzindo o sentimento geral «O que se joga em Bujumbura é o futuro virtual de vários outros poderes africanos».





Créditos Twitter: Sonia Rolley @ RFI e Jean Pierre Remy @ Le Monde

Taxistas taxativos

A tensão social, com o agravamento do autismo das autoridades, está em plena explosão. Os tiros no pé que esta política induzirá serão consecutivos e rapidamente deitarão abaixo qualquer estrutura repressiva, por mais eficiente que seja. O caso dos taxistas é paradigmático.

Numa tentativa para conter o descontentamento popular, as autoridades pretendem congelar o preço das corridas de táxi, importante fatia do orçamento familiar na cintura de Luanda, apesar dos fortes aumentos de preço no combustível. Face à negação, a classe dos taxistas, na sua generalidade, passaram a desrespeitar a tabela oficial, que deixou de ser economicamente sustentável. Numa operação de intimidação ocorrida ontem, vários foram presos «com a boca na botija» e obrigados a pagar uma pesada multa. A solidariedade profissional entra agora em campo, gerando a revolta.

ONU dá o alarme

A ONU acaba de exigir em comunicado a abertura de um inquérito independente para apurar a dimensão do massacre ocorrido na Caála, em Angola, chamando a atenção para os relatos alarmantes dando conta de centenas senão mesmo mais de um milhar de mortos, como estimou o principal partido da oposição, a UNITA. Numa subtil alusão à responsabilidade de José Eduardo dos Santos na carnificina (já denunciada por Justino Pinto de Andrade), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos denunciou ainda que o tratamento dado à questão, nos media estatais, terá contribuído para criar um ambiente persecutório, que continua até hoje.

Apesar de a LUSA não ter ignorado a notícia, a imprensa portuguesa continua cobardemente surda, cega e muda perante o caso. Só o Correio da Manhã lhe dedicou um envergonhado minuto. Aparentemente, a entrada de capital angolano na estrutura accionista indígena comprou todas as consciências.

Se a UNITA viu o acesso à zona do massacre barrado (pois precisavam de tempo para ocultar as provas), já a CASA-CE produziu um relatório descrevendo circunstancialmente o ocorrido, concluindo pela premeditação, baseando-se nas movimentações militares prévias, acusando a Presidência de pretender criar um bode expiatório - que servisse para desviar a atenção das pessoas dos graves problemas económicos internos que o país atravessa, servindo ainda como intimidação para qualquer acção de contestação da oposição, como evidencia a tentativa de colagem de Kalupeteca à UNITA.

Relatório que o Presidente se recusou a receber. O ditador entrou em total negação, a todos os níveis. Num diabólico autismo, deita alegremente achas para a fogueira, caindo no ridículo de criar prémios com o seu próprio nome, comprando aviões de luxo, ou insistindo no seu discurso belicista de potência regional (em segunda mão). À beira do precipício, José Eduardo dos Santos enceta uma fuga para a frente. O resultado será inevitavelmente desastroso.