O presidente da Comissão Permanente da ANP pode presidir, mas não tem competência para decidir por esta. Contudo, nada pode já surpreender vindo do usurpador-mor, que tem fama de habitué em manter a casa trancada para andar com as chaves no bolso. É que a Comissão Permanente também tem Plenário, respeitando aliás a proporcionalidade de 2/3 (ou 10/15) já invocada precedentemente pelo Partido que aventou a hipótese de resolução do impasse da vacatura na CNE por via da convocação do Plenário da casa mãe.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2022
segunda-feira, 19 de dezembro de 2022
GTAPE escondido com rabo de fora
Então o senhor DG acha que está a recensear para umas "eleições legislativas antecipadas"? Tal afirmação só faria algum sentido se até aqui tivesse normalmente desempenhado funções o governo eleito para a legislatura, numa estabilidade que está longe de ser a prática da Guiné-Bissau. Será para escamotear que se tratam, isso sim, de eleições postcipadas, as quais deveriam ter ocorrido há muito, por o sistema assentar no funcionamento ordinário do Plenário representativo? O senhor DG inventou, ouviu ou assanharam-no para dizer isso? É que tem piada... pois fica tudo dito, sobre a curiosa e muito particular perspectiva que parece enformar a pretensamente autoproclamada "CNE".
PS Esse design político origina becos sem saída, como a vacatura na CNE... precisamente porque presume a relevância parlamentar. Lembre-se que, precisamente para evitar bloqueios, haviam acordos tácitos a propósito tanto da constituição da mesa e Comissão Permanente da ANP, como dos corpos da CNE.
Agenda reconstituinte
O Plenário aspira aparentemente a reconstituir-se, sob a pressão de mais de dois terços dos deputados. Uma eventual auto-proclamação constituiria um facto consumado de difícil negação.
Pelas novas idiossincrasias reinantes, já por aqui foram vistos saltos bem maiores que esta perna...
A constituição, que estatui a soberania nacional guineense no seu artigo primeiro, estabelece pelo seu artigo segundo que esta pertence ao povo, e acessoriamente, aos seus representantes na ANP.
Aspirante despromovido a suspirante
Rende-se duplamente, ao reconhecer que, na Guiné, «estamos habituados a trabalhar com aquilo que é possível», normalizando como premissa a possibilidade de a mediocridade poder servir de pretexto para qualquer bárbaro atropelo dos mais elementares princípios básicos. Pela boca morre o peixe. Um partido constitucionalmente assim só pode prejudicar o país. Felizmente está obsoleto e o actual regime já conseguiu pelo menos uma coisa boa!
!exterminar o PAIGC.
domingo, 18 de dezembro de 2022
A provação do OGE
quinta-feira, 15 de dezembro de 2022
Suprema jurisimprudência
Numa fatal improcedência, o Presidente da CNE (sim, esse que não cumpriu a única função formal que implica o seu posto, para o qual foi eleito pela ANP: fazer assinar as actas) disfarçado noutras vestes, assenta despacho numa lei inexistente (pois revogada meses após sua entrada em vigor), despacho entretanto parcialmente revogado para os partidos que o contestaram. Revogar "parcialmente", por conveniência, um despacho ferido de inexistência? E que mais faltará para desacreditar por completo a magistratura guineense, entregue à mediocridade e ao burlesco?
segunda-feira, 5 de dezembro de 2022
IVT
quarta-feira, 2 de novembro de 2022
Perigos da democracia
O momento é o ideal. Os pretextos óbvios. O resultado garantido. Toda a gente aplaudirá, de um lado e do outro. É a sobrevivência da nação, de dois séculos e dois meses, que está em causa. De outra forma, com tanto ódio, para evitar uma potencial guerra civil, teremos de arranjar uma fronteira para o Brasil 1 e o Brazil 2. Os mapas eleitorais sugerem uma pista. Eu sugiro o meridiano de Tordesilhas, que não anda lá muito longe.
Apresento uma sugestão salomónica de repartição da bandeira e do slogan. O triângulo da maçonaria fica assim mais evidente. De certa forma, seria uma "homenagem" sem ambiguidades ao idiota de Dom Pedro I e IV, que sendo herdeiro da coroa de Portugal e do Brasil, resolveu dar um tiro no pé, auto-amputando-se. Arrependimentos tardios e corações trasladados não pagam o prejuízo nem abafam as suas culpas secessionistas.
quinta-feira, 27 de outubro de 2022
Restituir os antigos a seus Estados
Escolhi para título uma fórmula usada por Dom Sebastião nas cortes da Igreja de Marvila, em Santarém, que traduz o espírito da narco-boca de Elon Musk na sua rede social.
domingo, 23 de outubro de 2022
O velhíssimo Príncipe
Morreu o pai das independências africanas, cujas ideias convenceram Salazar a apostar na formação universitária daqueles que viriam a ser os seus líderes, como Amílcar Cabral. Franciscano de grande humanidade e humildade, era a árvore que poderia ter feito frutificar o Estado Novo, não tivesse sido cortada pela lógica belicista que engendrou a revolta angonala e a guerra colonial. O seu pedido de demissão como Ministro do Ultramar é uma história épica, evidenciando a sua dignidade, simplicidade e espontaneidade. Depois da queda e senilidade de Salazar, poderia ter emergido como delfim, mas ao contrário de outros, que o não mereciam, não mexeu uma palha para isso; teria aceite, se lho pedissem. Uma vez mais e infelizmente, a Nação desencontrou-se.
Caro professor, homem grande e santo: bem haja pelo Vosso exemplo, eterna e merecida Glória.
sábado, 22 de outubro de 2022
Pior a emenda que o soneto
O facto de o suposto proponente da decisão (dissonante do tomador) ter colapsado da nota que dava conta do Decreto, implicaria desfazer a quadratura e uma nova numeração para a rectificação (ou reunificação?). A simples possibilidade de um decreto poder ser amanhado a posteriori, não apenas desvirtua o conceito, como retira força ao instrumento.
domingo, 16 de outubro de 2022
Reencarnação
domingo, 9 de outubro de 2022
Black star
Para além da estrela preta na bandeira; o vermelho significa o sangue dos heróis caídos em combate pela independência - e também o dos mártires fuzilados, incluindo Cabral; o verde o tarrafe; ...
já o amarelo refere-se à flor nacional.
quinta-feira, 6 de outubro de 2022
Exemplo de Marrocos
Mesmo que embrulhado num discurso hipócrita para estrangeiro ler, o Rei dá o exemplo, legalizando a produção de cânhamo, pretensa e exclusivamente para "fins médicos, farmacêuticos e industriais" (note-se que a aparente redundância do médico com farmacêutico esconde a relevante nuance de poder ser receitada para consumo por via "convencional") e apenas para proteger os honestos plantadores dos "traficantes de droga" (quando se conhece o peso do haxixe no PIB "informal" marroquino, cotejando os fosfatos...).
É que desta maravilhosa planta (com uma incrível fotosíntese) também se pode, com vantagem, fazer tapetes, t-shirts, papel... mesmo que alguns possam considerar tais fins como puro desperdício. Para além disso, a ciência provou que o THC tem virtudes, entre outros contra o Alzheimer. É um primeiro passo até à legalização definitiva: bastará, a quem lhe der vontade de fumar tranquilamente umas ganzas, sem se esconder, visitar o seu médico e pedir para este lhe passar uma receita dessa substância activa, ao natural ou prensada.
segunda-feira, 3 de outubro de 2022
A paz e a benção estejam contigo
São dignas de registo as declarações do Capitão-Presidente: Abraão do Islão não desejou o cargo, foi escolhido pelos pares. Qual o currículo? Bravura em combate, precisamente aquilo que é preciso! Antes um capitão no terreno - humilde, conhecedor dos limites e bom avaliador das situações, como transparece das empáticas entrevistas que concedeu nas últimas 48h - que generais de aviário formados em Saint-Cyr ou sucedâneos parisienses, resfastelados nas poltronas em Ouaga...
2em1
Depois de uma fina análise da situação, o Quay d'Orsay teve o bom senso de largar o osso. O traidor Damiba, que desautorizou o poder judicial de transição, ao permitir que Blaise abandonasse o território nacional, foi autorizado a voar para Lomé depois de assinar a carta de demissão.
Só para mostrar a ridícula impotência das sanções e a reles palhaçada em que se tornou a CEDEAO, o novo padrão de golpe na África ocidental parece ser o dois em um: por vezes, mostra-se necessário aprofundar o espírito que esteve na origem da motivação para o golpe inicial.
O comunicado emitido é não apenas patético, ao estilo ONU, como impotente. Com três membros suspensos e outro a caminho, não têm sequer poder para fazer valer essas abusivas intromissões na esfera soberana nacional. E ainda bem. A CEDEAO morreu. Paz à sua alma.
sábado, 1 de outubro de 2022
Junta acusa formalmente a França pela Televisão
Paris pretende colocar Ouagadougou a ferro e fogo? Ter-se-ão esquecido dos 4 a 5 mil "ressortissants"?
Tonton Macron au Faso
Dans une reédition de mauvaise qualité de Tintin au Congo, Paris semble s'imiscuer à Ouaga pour essayer de sauver la face dans la sous-région (et le franc CFA). Après avoir corrompu Damiba tout au long de huit mois, on dit l'avoir sauvé d'un assassinat (qui l'a condamné? l'objectif annoncé était sa démission, pas sa mort). Jusqu'où pense aller la France? Les manifestants populaires que l'on entendait dans la rue étaient clairs sur l'essence de la mouvance: anti-française. L'accusation de trahison se justifie donc envers le déchu et quiconque prendra son parti s'expose à être traité de même. Quelles que soyent les inventions de Macron et Ouattara en ces circonstances, c'est jeu perdu d'avance face au patriotisme des burkinabés et au fantôme de Sankara. Macron ferait mieux de partir à Niamey pour tenter d'enrayer le prochain coup sur sa figure, que tardera pas...
sábado, 20 de agosto de 2022
Crítica literária
Parque Nacional Marinho
As ilhas do Parque Nacional são propriedade tradicional de quatro das dezanove tabancas do sul da ilha de Canhabaque — que ali cultivam arroz de sequeiro, e um pouco de mandioca e abóbora, em regime de agricultura itinerante — e, por isso, receberam como contrapartidas a construção de escolas e casas para farmácia comunitária, comércio, alojamento ocasional e comunicações rádio VHF. Outros apoios vieram mais tarde, da parte da UNICEF, mas sobretudo proporcionados por instituições com preocupações ambientalistas, como o Banco Mundial e a União Europeia (projecto «Gestão da Biodiversidade e da Zona Costeira»), o United States Fish and Wildlife Service, o World Parrot Trust e, como vimos, a fundação MAVA, com programas dedicados às aves aquáticas e às tartarugas. E com toda a razão: por ano há, só no ilhéu de Poilão, algo como entre 4 mil e 40 mil ninhos de tartaruga-verde (p. 117)... e a tendência é de crescimento (fig. 4, p. 122).
Este livro é por isso, de alguma forma, o resultado desse enorme investimento científico multidisciplinar e de cooperação internacional, com resultados apresentados em 2018 (v. ©, p. 6). Bem documentado fotograficamente, com belas imagens dos ambientes florestais e lagunares (p. 90, entre outras), permite perceber num simples folhear a rica biodiversidade daqueles recantos da Guiné-Bissau, nos diferentes domínios abordados, desde a flora vascular em savana arborizada, com 212 espécies registadas — admiráveis as flores da liana Strophanthus sarmentosus DC (p. 62)! —, às aves migrantes, como o abelharuco-de-garganta-branca Merops albicollis, que ali passa na época seca (p. 201), ou residentes, como o muito cobiçado papagaio-cinzento, «um tesouro das florestas bijagós» (p. 248). O modelo de descrição das espécies varia consoante os autores, e ainda que essa falta de unidade estilística entre os capítulos possa ser vista como um lapso do ofício editorial, a informação é em geral bastante rica quanto a classificação, origem, população, hábitos e distribuição geográfica.
Secções finais intituladas «Discussão» fazem uma síntese, quantificam o grau de risco de extinção das espécies e apontam pistas, por exemplo, para a «utilização moderada e sustentável dos recursos naturais nas ilhas do Parque» (p. 77), atendendo aos meios e modos das populações vizinhas e alertando para os malefícios de expansão de plantas exóticas potencialmente invasoras. O pequeno cacho-caldeirão (Ploceus cucullatus), «residente, presente e nidificante em todas as ilhas» (p. 234), é visto como uma pragapelos agricultores bijagós, por gostar de bicar nos seus arrozais... Em contrapartida, o devastador bico-carmin (Quelea quelea), que vive em colónias de milhões, jamais lhes causará prejuízo, pois prefere ambientes secos e áridos e até ali praticamente não vai.
O eventual risco dum turismo de natureza além da conta não é por enquanto considerado, muito embora as melhores noites de desova, com mais de 1000 tartarugas subindo as praias do Poilão, sejam «um espectáculo fabuloso» (p. 119), e os bird watchers nas orlas e florestas de todo o Parque Nacional tenham muito com que se entreter (é também «terreno fértil para quem procura aves perdidas ou achados novos», p. 240). Tartarugas marinhas, adultas ou ainda juvenis, porém, correm sérios riscos de serem capturadas por pescadores do Senegal e da Guiné-Conacri activos na região (p. 135), e só na última década a «captura sistemática» por gente de Canhabaque foi bastante reduzida.
Registos de fotogrametria aérea feitos em 2016 antecipam que no tão preferido mas bastante pequeno ilhéu de Poilão, a área de desova será reduzida — optimisticamente?!... — em 43 % até ao fim do século. A avifauna do Parque Nacional Marinho de João Vieira e Poilão parece ser uma parte menos estudada (e também muito pouco fotografada, em proporção — e é grande pena!), apesar das 164 espécies identificadas («um número muito apreciável», p. 240). Com dados que remontam quase todos às campanhas de observação e registo de 2015, durante as quais as ilhas de Cavalos e do Meio não foram abordadas consistentemente, não há por isso estatísticas sobre como a presença dessas espécies residentes ou migratórias evoluiu desde então — 35 pelicanos-cinzentos, 305 maçaricos-galegos e 400 fuselos (Limosa lapponica) foram vistos no Parque naquele ano; v. pp. 164, 172, 176. Neste admirável mundo em franca expansão, em que certos avistamentos são recebidos como privilégios de toda uma vida, o dos 400 garajaus-de-bico-laranja poisados numa única praia de João Vieira em Março de 2014 terá sido, pelo menos, inesquecível. Nada de menos se poderá dizer da visão de papagaios-de-timneh, em extinção, percorrendo «corredores de passagem regulares» (p. 257). Os chamamentos e os cantos dos melros-metálicos-esplêndidos (Lamprotornis splendidus) «acompanham em permanência os visitantes das florestas das maiores ilhas do Parque, sendo mesmo o elemento predominante do ambiente sonoro florestal em João Vieira», lê-se à p. 224. Os tordos-de-cabeça-nevada (Cossypha niveicapilla) revelam-se como «os melhores pequenos cantores do PNMJVP» (p. 226).
Garajaus e gaivinas são as aves marinhas mais abundantes no arquipélago, e «um dos maiores valores ornitológigos do Parque» (p. 242), pelo que a criação de condições para a sua nidificação local preocupa os cientistas. Trezentos antipáticos abutres-das-palmeiras instalam-se no Parque na época das chuvas em busca de tartarugas infantis para a sua dieta variada, que inclui serpentes, caranguejos, peixes sortidos e chabéu, o fruto da palmeira que apreciam particularmente e é quase metade do que comem. Há muito menos variedade de mamíferos terrestres neste Parque do que no arquipélago como um todo, é a conclusão preliminar duma inventariação que os investigadores reconhecem como recente e tardia, e sem aprofundamento dos habitats particulares ou das variações sazonais na presença e abundância de espécies mais móveis, como alguns morcegos. Mas as suas interacções específicas com os restantes grupos de animais e plantas baseiam-se em ecossistemas com estrutura e funcionamento únicos, «de grande valor científico e natural» (p. 288), que importa conhecer e preservar. Os mamíferos marinhos da Guiné-Bissau são também muito pouco conhecidos, isto cientificamente falando, pois manatins-africanos (Trichechus senegalensis) são caçados — apesar da proibição, por serem considerados uma espécie vulnerável desde 2015 — com arpão ou gamboa, por causa do valor comercial da sua carne e por partes do seu corpo valorizadas pela medicina tradicional dos bijagós, ou morrem, como os golfinhos, presos em redes de pesca artesanal, por acidente ou pretenso acidente. Neste caso, os autores sugerem a criação de «áreas marinhas protegidas funcionais, onde a pesca seja cuidadosamente regulamentada e controlada» (p. 302).
Nos Bijagós coexistem 172 espécies marinhas e estuarinas de peixes, 74 das quais capturadas por pescadores locais ou desportivos na área do Parque Nacional Marinho. Raias, quimeras e tubarões têm sofrido declínios populacionais acentuados, pois a diminuição drástica dos recursos piscícolas em toda a África Ocidental tem criado grande pressão sobre o arquipélago, com a chegada de pescadores estrangeiros com o fito de capturarem tubarões e venderem as suas célebres barbatanas no mercado asiático, por exemplo. Pesca de subsistência ou comercial de pequena escala — com redes de cerco ou com cana (fotos pp. 308-9 e 315) — foi consentida e regulamentada com o objectivo de conservar stocks comerciais e deixar crescer até grandes dimensões alguns peixes de referência, ao mesmo tempo que se interditou o uso de certas redes e a circulação de barcos em zonas de concentração de tartarugas marinhas. Na entrelaçada e fascinante ecologia do mar, peixes predadores como becudas, sareias e cachurretas e aves marinhas como os garajaus e as gaivinas conjugam-se, voluntária ou involuntariamente — com «benefício mútuo» (p. 320) —, no assalto aos grandes cardumes de Sardinella maderensis (o djafal; fig. 6, p. 313) perto da tona da água, espécie classificada como vulnerável a nível mundial, mas «a mais abundante no Parque Nacional Marinho», o que faz deste um lugar «relevante para a sua conservação» (p. 308).
Um retrato antropológico dos bijagós da ilha de Canhabaque (2478 habitantes no censo de 2009) ilustra como o sistema de crenças rege a exploração dos recursos naturais, «contribuindo para a sua conservação» (p. 336). Peixe e carne não entram na dieta quotidiana. «A caça de aves (excluindo os papagaios) é ainda rara, mas tende a aumentar» (p. 344), sobretudo as de maior porte. As quatro ilhas principais do Parque têm um estatuto cultural-religioso muito forte, e hierarquizado, na medida em que o ilhéu de Poilão, considerado sagrado, estava reservado a longas cerimónias de empossamento de régulos e rainhas de tabanca, e a outras menores, implicando o sacrifício ritualizado mas propiciatório de tartarugas. Por negociação com o Parque, para facilitar a monitorização das tartarugas marinhas e o «desenvolvimento do ecoturismo» (p. 348), a última cerimónia importante teve lugar em 2009. Por outro lado, foi concebida em 2014 autorização de pesca comercial na área do Parque aos habitantes das quatro tabancas — seus proprietários por tradição —, o que tem sido sido incrementado (3 canoas Nhominka em 2015, 7 em 2019), comportando abusos dum privilégio antigo por conluio com armadores de Bissau (p. 375). Preferem tainhas, sareias e cachurretas, mantidas em gelo até à capital (p. 354). É também verdade que novas facilidades de transporte entre Canhabaque e as ilhas do Parque tem aumentado a presença humana e a pressão sobre os seus recursos naturais, que crescerá ainda mais se condições de fixação e outras ali forem sendo instaladas, em vez de nos lugares de partida.
A situação geográfica ultraperiférica daquelas ilhas e os esforços recentes de conservação gerados pela criação e gestão do Parque têm sido, por enquanto, uma boa almofada contra impactos sobre os recursos naturais, mas no longo capítulo final, «Ameaças e conservação» (pp. 359-95) — subscrito, entre outros autores, pelos organizadores deste livro —, o cenário paradisíaco, quase idílico, é impiedosamente desmontado peça a peça. Desbravamento e exploração florestal, aumento da presença e sedentarização humana nas ilhas, caça e captura ilegal de animais selvagens, ausência de estatísticas sobre pesca comercial a pescadores desportivos sem licença, «embarcações turísticas pescando ilegalmente em redor de Poilão» (p. 373), lixo marinho localmente produzido ou trazido à costa nos períodos de ventos provenientes do largo. Uma colónia de 20 mil casais de belos garajaus-reais Thalasseus maximus na ilha dos Cavalos terá sido afastada dali por uma população de porcos assilvestrados, colocados ali por mão humana. Alterações no nível do mar submergiram o Banco das Gaivotas, sacudindo dali «grandes colónias» (p. 384) de garajaus e de colhereiros-africanos. Perante isto e após algumas recomendações de «medidas que seriam desejáveis aplicar, em função das ameaças já detectadas», a conclusão é clara, e tem suficiente força de letra para ser lida como um reenvio global: «Os desafios de gestão do PNMJVP afiguram-se imensos. Adivinha-se que o Parque só sobreviverá como espaço privilegiado para a biodiversidade se for adoptada uma estratégia de alguma intransigência na defesa dos seus valores excepcionais. Se a resposta perante as pressões crescentes for a cedência permanente aos valores da exploração comercial, dentro de algumas décadas pouco ou nada restará».
segunda-feira, 15 de agosto de 2022
De pequenino é que se torce o penino
quinta-feira, 4 de agosto de 2022
Macrooooo'onen aaa maaaaaarre
De tes ignobles chantages et minables trafics d'influence sur l'Union Européenne, au sujet de l'Afrique.
PS Tradução do título para português: "Estamos fartos de ti, ó chulo".
sexta-feira, 29 de julho de 2022
Mais depressa se apanha...
Não, não é o que estão a pensar.
Este é outro provérbio, se bem que igualmente cheio de razão...
"Mais depressa se apanha um homem com as calças para baixo, que uma mulher com as saias para cima."
PS Já agora, o hilariante marido da senhora Clinton foi alvo de processo de impedimento, não pela pouca vergonha na sala oral, ah, perdão, na sala oval, mas por ter mentido. Sim, que isso da traição não passava de assunto doméstico: que se entendessem, lá em casa... os juízes deram o benefício da dúvida, perante a alegação de que, na percepção do coxo, só haveria sexo com penetração.
Superabundância atípica
Um printscreen ao calhas do directo da Rádio Bantabá permitiu detectar uma misteriosa proliferação de tshirts brancas na noite de recepção ao presidente francês. Acrescente-se que os guineenses em geral, no seu quotidiano, preferem cores garridas...
Não deixa de ser um progresso, em termos de segurança rodoviária, no alcatrão nocturno de Bissau. Quanto ao "mistério", é fácil de desvendar: as referidas tshirts tinham custo negativo de 1500FCFA.
PS Quem tiver dúvidas sobre o conceito de "custo negativo" passe com cursor, na app da coluna à direita, referente ao Petróleo Bruto WTI, mudando em baixo de 1 m(ês) para 5 y(anos). Bons velhos tempos, esses de há pouco mais de dois anos atrás, em que ofereciam petróleo a quem o quisesse ir buscar e ainda pagavam. Uma possibilidade não prevista pela teoria económica...
Ressabiados no país de João da Fonte
Publicamos uma fábula de Esopo, à qual um francês conseguiu dar uma graça especial... tradução e metro livre.
Uma velha raposa, das mais astutas
grande apreciadora de galinhas
acabou presa numa armadilha.
Com muita sorte conseguiu escapar
mas não ilesa pois lá deixou a cauda.
Perdida a cauda pela boa causa
envergonhada, quis disso fazer moda
e um dia, no conselho das raposas
fez uma rábula contra esse peso inútil
vassoura arrastada pelos atalhos:
_Para que nos serve isso? Corte-se!
Se concordam, cada qual o faça,
parece que é a última moda em Paris.
Levantou-se uma conviva na assistência
sugerindo que se começasse por ela,
essas palavras levantaram confusão
e todas exigiram que voltasse costas.
A desrabada coitada teve de o fazer
para grande e geral gargalhada.
PS Vem isto a propósito das declarações de Macron em Bissau:
"... force est de constater que les choix faits par la junte malienne aujourd'hui et sa complicité de fait avec la milice Wagner sont particulièrement inefficaces pour lutter contre le terrorisme, ça n'est d'ailleurs plus leur objectif et c'est ce qui a présidé à notre choix de quitter le sol malien"
Vamos analisar a liberdade com que Macron utiliza o termo "escolha", por ser palavra repetida nesta construção:
1ª ocorrência
A Junta, no Mali, fez uma má escolha (apesar de ser no seu próprio país).
2ª ocorrência
A França saiu por escolha própria (apesar de expulsa e querer permanecer).