sábado, 30 de março de 2013

A génese de um mártir

Às autoridades angolanas, ao seu responsável máximo, o Presidente: qualquer coisa que possa acontecer ao Luaty só vai reforçá-lo. Se o matarem e fizerem desaparecer, vão nascer dez como ele; se o magoarem, ele fica mais forte; o melhor mesmo para os responsáveis, na própria perspectiva da repressão, é soltá-lo já.

Para quem não conhece, o Luaty Beirão é um corajoso rapper angolano que encarna um espírito de inconformismo e revolta contra o regime de José Eduardo dos Santos. Já o ano passado fora vítima de uma cabala, da qual aqui demos conta neste blog. Passado quase um ano sobre o desaparecimento de dois activistas, que também aqui denunciámos, esperemos que não façam agora, mais uma vez, «desaparecer» a pessoa mais incómoda para o regime. É que hoje de manhã, na sequência da dispersão pela polícia de uma manifestação pacífica convocada para Luanda para pedir esclarecimentos sobre o seu paradeiro, o Luaty Beirão e o Nito Alves, entre outros, foram presos e levados para parte incerta...

Fica mal à «nomenclatura» ter medo de um simples músico!


Libertem as mentes dos angolanos! Libertem Luaty!

segunda-feira, 11 de março de 2013

Aero Bio Grafo III - Nelson Mandela

No dia 28 de Fevereiro apresentámos outro grande líder africano, nascido antes de Cabral, mas ainda vivo. Oportunamente colocarei aqui a respectiva crónica.

Bio Aero Grafo II - Amílcar Cabral

A sessão do Aero Bio Grafo prevista para 14 de Fevereiro, de homenagem a Agostinho da Silva (um dia depois da data do seu aniversário de nascimento) não se realizou, devido à presença obrigatória numa Assembleia Geral de convocação intempestiva. No entanto, passou-se uma coisa curiosa: depois da Assembleia, lembrei-me de ir beber um copo até ao Xantarim... onde encontrei o Fernando Romão, com um livro na mão; quando fui ver o que era, era uma recolha sobre Agostinho da Silva, cuja foto de capa foi precisamente a mesma que dera origem ao graffiti! O «pulgão» tinha ouvido na rádio a notícia do aniversário e lembrara-se de ler um pouco... Combinámos logo que faríamos uma apresentação em conjunto, na primeira semana de Junho, para dar continuidade a esta presença, às quintas, no Xantarim.

Ou seja, o segundo evento desta série acabou por ser uma semana depois, no dia 21 de Fevereiro, dedicado a Amílcar Cabral, o grande líder guineense. Nasceu a 12 de Setembro de 1924, filho de um cabo-verdeano, Juvenal Lopes Cabral, e de uma guineense, Iva Pinhel Évora, que este conhecera no continente, por lá exercendo como professor primário (mesmo sem habilitações). Era um homem motivado para a política, que se mobilizara no ensejo de melhorar as difíceis condições de vida do seu povo, procurando uma solução para as grandes fomes endémicas que assolavam o seu arquipélago, chegando a propor, aquando da visita de um Ministro, a construção de sistemas de irrigação e de armazéns que conservassem os alimentos produzidos em anos bons e permitissem atenuar as carências em anos de seca. O Ministro deve ter deitado o papel para o lixo...

Portugal perdeu, em pleno século XX, a oportunidade de se distanciar e distinguir do modelo colonial europeu que nunca fora o seu. Há colonialismos e colonialismos...Os coitados dos alemães (ou sortudos, talvez por não terem tido propriamente mercados coloniais protegidos, estão onde estão...), que chegaram atrasados, depois da sua unificação, só começaram a sua experiência no fim do século XIX, depois das conclusões do Congresso de Viena, na qual o Direito Internacional deixou de reconhecer como legitimidade para a soberania o simples facto de ter sido o primeiro a chegar para passar a basear-se na ocupação de facto; uma boa comparação é a coluna que desembarcou na Namíbia e foi exterminada a poucos quilómetros da costa; já, pela mesma altura, Capelo e Ivens fizeram a travessia integral, de costa a costa, do continente. Quem tem boca (e respeito) vai a Roma.

Para tentar ilustrar essa diferença, apontei o exemplo de Honório Barreto, também ele nascido de mãe guineense e pai caboverdeano, mas um século antes: em colónias de franceses ou ingleses, seria impensável uma carreira como a sua; pura e simplesmente impossível um preto (pedi desculpa à assistência, incluindo um distinto convidado guineense, por usar termos que poderiam ser confundidos com racismo, mas é esse mesmo o assunto!) aceder ao cargo máximo da administração colonial, o de Governador da província. Envolveu-se em polémicas com políticos da Metrópole, a quem chegou a dar lições de patriotismo; até à independência, funcionou como exemplo e expoente de uma certa «igualdade» de oportunidades e de respeito pelo mérito, devido independentemente da raça. Foi mesmo nomeado comendador da Ordem de Cristo, alta distinção honorífica.


Lembrei depois que quando visitei a Guiné, em 2009, na minha incursão até Jemberém, no Sul, passei por Bafatá, para visitar a casa na qual viveu Amílcar Cabral, até aos oito anos, a qual encontrei num estado de lastimável ruína, invadida pelas ervas; também a antiga cidade parecia quase deserta e abandonada (ao contrário de Gabu que prosperou bastante). Esse casarão pertenceu a uma família de Santarém, os Pita Soares. Quando Amílcar Cabral fez oito anos, surgiu uma oportunidade para a família em Santiago, Cabo Verde, para onde se mudaram. Já depois, o Liceu, viria a acabá-lo em São Vicente, com uma média altíssima, após o que arranjou trabalho na Imprensa Nacional.

No entanto, esse emprego não duraria muito, pois em 1945, no fim da Guerra, surgiu a oportunidade de uma bolsa de estudo, que aproveitou para se mudar para Lisboa, inscrevendo-se no curso de Agronomia, no qual era o único aluno «preto». A sua paixão e jeito para o futebol levam-no a inscrever-se na equipa de Agronomia, na qual não passa despercebido: chega a ser convidado para jogar no Benfica, convite que recusa, mantendo a camisola académica. Os seus colegas de curso lembram-no como muito activo, de uma alegria e simpatia contagiantes. Em 1950, acabado o curso com distinção e nota a um ponto do máximo, vem trabalhar para Santarém, para a então Escola de Regentes Agrícolas, por aqui se mantendo por dois anos.

Sempre em contacto com Lisboa, onde frequentava a Casa dos Estudantes do Império: aquele que estava desenhado para ser um clube da elite colonial indígena (esse era o plano ultramarino de Adriano Moreira como Ministro, durante algum tempo apoiado por Salazar: formar uma elite de quadros que pudesse vir a assumir os destinos das suas nações, mantendo os vínculos históricos que as uniam a Portugal), acabou por se tornar numa incubadora de líderes revolucionários. Uma fugaz aproximação ao Partido Comunista Português, por parte de Cabral, não teve continuidade, por o Partido ter mantido a sua política nacionalista e se recusar a encarar seriamente a luta anti-colonial nas províncias ultramarinas, reduzindo o problema ao «todo» da metrópole, a resolver pela «democratização» do regime.

Foi aqui, em Santarém, que sentiu a saudade e o irreprimível desejo de voltar à sua terra natal, plenamente imbuído já da missão política que sentia ter sido chamado a desempenhar. Como viria mais tarde a referir numa conferência dada no mato, poderia ter adoptado por projecto de vida aburguesar-se no âmbito de uma carreira profissional na sua área, com um bom ordenado... mas não, optou por se apresentar ao lado do seu povo, na luta contra a injustiça de que era alvo. Iria voltar para a Guiné! Rapidamente arranja emprego e em 1953 percorre o país, por conta do Instituto Nacional de Estatística, realizando o Recenseamento Agrícola desse ano, ainda hoje uma fonte documental de grande interesse histórico para o conhecimento do regime de agricultura tradicional, na Guiné.

No entanto, o seu empenho, a evidência do seu carisma e simpatia, o seu envolvimento activo com os problemas das pessoas, rapidamente lhe atraíram o ódio do Governador da Província, Melo e Alvim, que não vê com bons olhos a ascendência que o jovem estava a ganhar no seio do seu povo: em 1955 obriga Cabral a abandonar a Guiné, apontando o seu carácter subversivo; Cabral troca assim a Guiné por Angola, onde se relaciona com aqueles que viriam a ser os futuros líderes do MPLA, começando por defender, tal como o ANC de Mandela, uma luta política pacífica, possibilidade que foi definitivamente a enterrar com o massacre de Pidjiguiti, em 1959. Quantas oportunidades perdidas...

Em 1960, ainda antes do estalar da crise da Índia e dos massacres em Angola, desloca-se à Conferência Internacional de Londres, na qual denuncia o colonialismo português, mas também afirma que essa luta não é contra um povo, mas sim contra um regime, o colonial. Em Janeiro de 1963 dá início à luta armada, com a abertura da frente sul, num ataque ao quartel de Tite a partir da fronteira com a Guiné Conacri, graças ao apoio do Presidente pan-africano Sékou Touré. É aí, no mato, que em 1965 é visitado por Che Guevara, curioso com aquele líder africano; um ano mais tarde é Cabral que retribui a visita, deslocando-se a Cuba, onde se faz fotografar ao lado de Fidel Castro. Aceita a ajuda técnica cubana, mas mantém o seu espírito crítico, não sem humor: uma vez confessou o seu «erro político», ao aceitar, num «pacote» de formação em guerrilha, um módulo de sabotagem de comboios; só depois se teria lembrado que na Guiné não haviam (nem existem) caminhos de ferro.

Também em relação ao marxismo e à sua aplicabilidade em África, mantinha as suas reservas: afirmava peremptoriamente que «Marx não vivia numa sociedade tribal». Cabral sentia-se mais um pedagogo do que propriamente um engenheiro social compulsivo, como Estaline: a revolução seria um facto eminentemente orgânico, deveria vir de baixo para cima, e não ser imposto de cima para baixo. Isso mesmo reconhecia Paulo Freire, grande filósofo e pedagogo brasileiro, que fazia questão de partilhar a sua grande admiração por Cabral, lamentando com desgosto nunca ter chegado a conhecê-lo pessoalmente. Admirava essencialmente a qualidade de liderança que evidenciava Amílcar Cabral, sempre a falar com todos os do seu povo.

Paulo Freire viria depois a trabalhar na Guiné, num revolucionário projecto de alfabetização de adultos, que o deixou bastante desiludido: vai uma grande distância da teoria à prática... por isso, recomendo a quem não conheça esta experiência, mais o livro que Paulo Freire escreveu em parceria com Sérgio Guimarães, «África ensinando a gente», no qual avalia o seu falhanço, do que propriamente as «Cartas à Guiné-Bissau», da sua correspondência com o então Ministro da Educação, Mário Cabral. A experiência guineense marcou profundamente Paulo Freire, que defendia que era absolutamente fundamental, como Cabral mostrara, diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, apontando para um ideal no qual fala e prática se confundem eficientemente. Este era um «cavalo de batalha» que Freire tinha em comum com o seu amigo Agostinho da Silva.

Em Julho de 1970, numa grande vitória diplomática, Amílcar Cabral é recebido pelo Papa em audiência privada. Já uma carta apostólica de 1967, Africae Terrarum, tinha irritado profundamente Salazar. Agora dava-se o caso «Insólito e lamentável» de que o DN fez manchete, de o Papa «receber terroristas». Retaliação do regime ou não, em Novembro desse mesmo ano, dá-se a Operação Mar Verde, uma operação de comandos anfíbia que desembarca em Conacri, com vários objectivos: privar o PAIGC do apoio de Sekou Touré (essencialmente eliminando a Força Aérea, destruindo no chão os MIG soviéticos); eliminar fisicamente a direcção do PAIGC; resgatar os prisioneiros portugueses. Devido a fortes falhas na informação disponível (PIDE), só o terceiro objectivo viria a ser alcançado.

Em 1972, em Conacri, numa Conferência de homenagem a outro grande líder africano, Nkrumah, critica o neo-colonialismo que parecia em vias de reconquistar o continente. Uma parte das críticas eram endereçadas aos antigos países colonizadores que agora vestiam outra pele mas continuavam por outros meios as antigas práticas predatórias; mas criticava também os próprios africanos, referindo um provérbio guineense: «O arroz só coze dentro da panela». Como grande pedagogo social, defende que a libertação só poderia ser cultural... entrando para a prática «mental» do dia-a-dia; deixando assim antever, nas entrelinhas do seu discurso, o seu «amor» por Portugal, ao afirmar, neste contexto, que era necessário não subestimar os contributos da cultura opressora (e outras, claro).

No princípio do ano de 1973 a guerra estava perdida para Portugal. Ao contrário de Angola, quase inteiramente pacificada, ou mesmo de Moçambique, onde os cenários da guerra estavam circunscritos e bem delimitados, na Guiné-Bissau o PAIGC ocupava vastas áreas de território. Mas Cabral estava prestes a desferir o golpe de misericórdia na já de si precária situação do exército colonial no terreno: graças à sua simpatia e diplomacia conseguira obter alguns mísseis Terra-Ar portáteis, conhecidos pela NATO como SAM 7 «Grail», ou Strela. O apoio aéreo ao combate ao solo era a mais importante vantagem de que dispunham os soldados portugueses. Mal chegam as baterias são imediatamente utilizadas com sucesso: o piloto contou depois a sua surpresa, dizendo que só tinha visto uma «coisa» a vir contra ele e mal tivera tempo para se ejectar; surpresa também do seu asa ao constatar o «misterioso» desaparecimento do seu parceiro.

Com dois caças FIAT perdidos em menos de 10 dias, a Força Aérea sofre fortes restrições à sua actuação, sobretudo em termos de tecto, ou seja passa a actuar a altitudes muito maiores, perdendo grande parte da sua eficácia operacional (antes chegavam a fazer voos rasantes para reconhecimento de contacto). Na frente Norte, os helicópteros deixam de evacuar os feridos (e os mortos) e o abastecimento passa a ter de se efectuar por meios exclusivamente terrestres, com maior exposição ao inimigo; por essa altura o exército português controla apenas alguns quartéis, onde se entrincheiram, evitando as saídas e abandonando o resto do território aos guerrilheiros, os seus soldados com uma moral já bastante afectada, sujeitando-se a uma terrível flagelação noturna (sobretudo pelos efeitos psicológicos da falta de sono e constante estado de sobressalto) pelos conhecidos «orgãos» de Estaline.

Quartéis como o de Guidage, na fronteira com o Senegal, para serem reabastecidos, necessitavam de organizar colunas, que se tornavam alvos fáceis, na sua lenta deslocação pelas estradas minadas que tinham de ser picadas. A estratégia de Cabral, decerto inspirada na guerrilha vietnamita, era a de fustigar essas colunas em várias vagas sucessivas, até que os soldados ficassem sem munições, lançando depois o ataque final. Salgueiro Maia, na sua «Crónica dos feitos por Guidage», conta bem as dificuldades por que passou o soldado português, que muitas vezes combatia em condições adversas: sem querer antecipar-me, pois também vai ter direito a uma sessão do Aero Bio Grafo, a 25 de Abril, lembro que Maia «encostara» a G3 e combatia com uma AK apreendida ao inimigo, muito mais leve e manuseável; que inveja que tinham também do cantil em alumínio que usavam os guerrilheiros do PAIGC, com muito maior capacidade mas bastante mais leve de transportar... Maia conta como era difícil comandar uma equipa quando metade dos seus homens estavam desmaiados de cansaço e desidratação, ou à beira disso...

Quando o General Spínola se afasta, voltando para a Metrópole para redigir o seu livro Portugal e o Futuro, que alguns associaram erradamente ao 25 de Abril, em entrevista com Marcelo Caetano, tê-lo-á avisado de que Portugal estaria à beira de um «colapso» militar na Guiné-Bissau. É essencialmente esse o motor do 25 de Abril: alguns jovens oficiais, saídos da Academia Militar, que se haviam batido com brio na Guiné, aperceberam-se da vergonha que representaria para o exército português a inevitável derrota, num prazo mais ou menos curto. Essa atitude patriótica parece-me ter sido a sua principal motivação, sem querer escamotear que foram também apontados pretextos de classe e de defesa dos seus interesses «corporativos», colocados em causa por Decreto-Lei que pretendia empurrar os milicianos para o oficialato e a continuação do esforço de Guerra.

A conclusão inevitável é a de que o próprio povo português deve a sua libertação a Amílcar Cabral e à  guerra de guerrilha que travou com sucesso na Guiné-Bissau contra o tardio e anacrónico regime colonial português. Mas Cabral não viveria o suficiente para ver a independência do seu país. A 20 de Janeiro de 1973 seria assassinado em Conacri, quando voltava para casa. Embora a PIDE tenha sido acusada pelos guineenses, esta, se é que tenha tido realmente algum vago conhecimento do assunto, como defendem alguns, não foi, de forma alguma, a mandatária. Uma série de programas sobre o assassinato de Cabral, passou há bem pouco tempo na Televisão portuguesa, com entrevistas a muitos dos actores realizadas ao longo do tempo (alguns, como Nino ou Tagma, morreram entretanto): fica-se com a clara impressão de que Sekou Touré é a peça chave nesse puzzle; em franca perda de prestígio, a sua estrela parecia abafada pelo sucesso de Amílcar, que se preparava para «tomar posse»...

A transcrição da apresentação das biografias aqui no blogue está um pouco atrasada, porque tenho tido imenso trabalho; o «boss», no Xantarim, diz que não faz mal, que o evento é lá, e que, portanto, quem «está, está; quem não está, estivesse...». Continuarei a colocá-las, mas a um ritmo lento, até porque tenho de preparar, para cada quinta-feira, o homenageado da semana. Esta semana foi o José Estaline, e já na próxima Quinta, dia 14 de Março, será a vez de António de Oliveira Salazar. O cartaz completo do mês de Março é:

  7 de Março - José Estaline
14 de Março - António Oliveira Salazar
21 de Março - Emiliano Zapata
28 de Março - Corto Maltese

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Aero Bio Grafo I - Winston Churchill


Vou estar todas as Quintas de Fevereiro a Maio, no Xantarim, a partir das 22h30, para uma dupla exposição: uma exposição oral sobre a vida de figuras célebres acompanhadas da exposição visual do respectivo aerógrafo. Por isso dei este duplo título à «performance». Isto acompanhado de um sorteio, no qual o primeiro prémio é um magnífico objecto filatélico de colecção (sobrescrito de primeiro dia), o segundo uma tela (16x16cm), ambos alusivos ao personagem homenageado, e o terceiro uma bebida de pressão. Colocarei depois aqui no blog um breve resumo do personagem da semana. Julgo que há fotografias na página do Xantarim no FaceBook. Todos os meses terão cartaz próprio. Este mês de Fevereiro, ainda em cartaz:

14 Agostinho da Silva
21 Amílcar Cabral
28 Nelson Mandela

O primeiro a ser apresentado, Quinta-Feira 7 de Fevereiro, foi Sir Winston Churchill. Escolhi-o pela sua rebeldia e tenacidade: mesmo criado num ambiente conservador victoriano, nunca deixou de pensar pela sua própria cabeça; depois de ser várias vezes gozado como «gago», conseguiu não só dominar o seu defeito, como ainda se tornou num orador inflamado e carismático.

Nascido a 30 de Novembro de 1874, neto do 7º Duque de Marlboro(ugh), o pequeno Winston nasceu prematuro de sete meses, no seio de uma família aristocrática. O seu pai chegou a ser Ministro das Finanças, casou com a filha de um milionário americano e o herdeiro recebeu uma boa educação britânica: distante. Raramente convivia com os pais, foi Elizabete Everest, a governanta a pessoa que mais o marcou, servindo-lhe de mãe adoptiva, contadora de histórias, depois enfermeira (quando esta morreu, Churchill largou tudo para passar uma semana à sua cabeceira).

Descrito como irreverente e rebelde, foi várias vezes sujeito a castigos corporais por maus resultados escolares. Com uma paixão pelas fardas que lhe vinha desde tenra idade, só à terceira tentativa consegue entrar para a academia militar, escolhendo Cavalaria porque esta arma não exigia Matemática. A sua paixão por assuntos militares leva-o a Cuba, com pouco mais de vinte anos, para estudar como os espanhóis estavam a combater as guerrilhas locais. Aí adquiriu o gosto pelos charutos, que haveria de o acompanhar pelo resto da sua vida (ao mesmo título que o whisky).

Logo no ano seguinte, em 1896, está nas fronteiras do Império, participa na batalha de Malakand e começa a escrever em periódicos sobre as suas experiências militares, ganhando alguma notoriedade pública. Rapidamente compreende que o seu magro salário de oficial não lhe permitia manter o estilo de vida sumptuário a que estava habituado, passando a considerar cada vez mais a escrita, tanto como correspondente de guerra, como de extensos volumes de memórias, como uma importante fonte de rendimentos. Sempre ansioso pela próxima guerra, em 1898 está na «reconquista» do Sudão, participando na batalha de Omdurman, onde ocorreu a última carga relevante de cavalaria do exército inglês.

Em finais de 1899, quando rebenta a segunda guerra dos Boers, e os Estados Livres do Transvaal e Orange se opõem ao Império Britânico, embarca rapidamente para a África do Sul, com o chorudo ordenado (para a época) de correspondente de guerra de 250£ mensais. Aceita uma missão de reconhecimento num comboio blindado, mas este é interceptado e assaltado pelo inimigo, sendo feito prisioneiro e enviado para um campo em Pretória, do qual consegue evadir-se, fazendo quase 500 Km até Lourenço Marques.

Depois de uma grande «tournée» por Inglaterra, Canadá e Estados Unidos, contando as suas histórias de guerra, a primeira década do século foi de uma carreira política de sucesso, sendo Presidente da Câmara de Comércio e Ministro das Colónias. Para a história ficou o seu acto de «virar a casaca» em pleno hemiciclo: demasiado independente para deixar de condenar o seu próprio partido, atravessou a Câmara e foi sentar-se num lugar vago do lado oposto.

Em 1911, afasta-se das querelas partidárias e é nomeado Primeiro Lorde do Almirantado, cargo mais importante na então toda poderosa Marinha inglesa. Aí desempenha um papel visionário, ao antecipar a futura utilidade na guerra de novas invenções como os tanques e os aviões, para os quais financia projectos de investigação e desenvolvimento. Quando estala a Primeira Guerra Mundial propõe uma polémica operação contra o Império Otomano, no sentido de controlar as portas do Bósforo e o acesso ao Mar Negro, para garantir o abastecimento da Rússia.

Aquela que ficaria conhecida como a campanha de Gallipoli, começada a 25 de Abril de 1915, viria a revelar-se um inteiro fracasso militar. A ideia era utilizar barcos de guerra ingleses obsoletos (se utilizados contra os alemães), para uma operação de desembarque nessa península, com o objectivo de a ocupar rapidamente. Das forças envolvidas, apenas os comandos eram ingleses, o restante eram Neo Zelandeses, Australianos, Canadianos, Sul Africanos e Indianos. Os combates foram por vezes mortais a 100% do efectivo, mas as testas de ponte nunca conseguiram sair das praias.

Nos países da Oceania, o dia 25 de Abril é feriado nacional, marcando o início de uma certa consciência nacional. Do lado oposto, na Turquia, a alma da resistência foi aquele que viria a reformar o país, virando-o definitivamente para o Ocidente: aqui começou a sua legitimidade como governante, nas vitórias que obteve. E assim se consumou outra morte política de Churchill: afastado do cargo de Primeiro Lorde, pede transferência para a frente de combate ocidental, num posto modesto, com o objectivo, segundo escreveu à esposa, de recuperar a sua reputação.

Em 1919 é nomeado Secretário de Estado da Guerra, posto no qual tentou, sem sucesso, enviar forças para acabar com a experiência soviética. Em 1924, como Ministro das Finanças, impõe um retorno ao padrão-ouro da Libra, contra a opinião de muitos economistas, como o famoso Keynes; o próprio Churchill viria mais tarde a reconhecer ter sido esse o seu maior erro político. Na crise deflaccionista que se seguiu, o aumento da conflitualidade social conduziu a uma Greve Geral, e quando os mineiros entraram em greve, Churchill, com o seu humor negro e um ar expedito, antes de se demitir, perguntou se não poderia utilizar metralhadoras...

Inicia assim uma nova travessia do deserto, que duraria toda a década de 30, dedicando-se, como sempre, a defender o império onde o sentia ameaçado. Foi o caso na Índia, onde criou uma Liga para a Defesa do Império para se opor a Ghandi, a quem chamava de faquir semi-nu. A partir de 1935, começa a avisar do perigo que representava o rearmamento da Alemanha e as pretensões hegemónicas de Hitler, propondo um rearmamento intensivo, no que foi acusado por muitos de belicista. Em finais de 1939, logo após a declaração de guerra, no entanto, acaba a sua travessia do deserto, recuperando o título de Primeiro Lorde do Almirantado e entrando para o Gabinete de Guerra.

No próprio dia 10 de Maio de1940, no qual estala a guerra relâmpago que conduziria em poucos dias o General Rommel às portas de Paris, torna-se claro, para o Rei, que o pacifista Chamberlain não era o mais indicado para estar à frente de um país em guerra e ameaçado: o nome de Churchill ocorre naturalmente. O seu primeiro discurso, na rádio, como Primeiro-Ministro é o famoso «Nada mais tenho para vos oferecer, senão sangue, suor e lágrimas», logo seguido de um outro, o electrizante «Lutaremos praia por praia, rua por rua, casa por casa, mas nunca nos renderemos».

Já no fim da Guerra, reparte a Europa com Roosevelt e Estaline. Mas alguém disse sobre Churchill que era alguém óptimo para os tempos de guerra, mas que, em tempos de paz, o melhor que os ingleses tinham a fazer era livrar-se dele o mais rapidamente possível, e foi precisamente o que aconteceu. Todas as suas campanhas públicas a partir daí se dedicaram a tentar contrariar o declínio do Império Britânico, então já inexorável.. Foi ainda Primeiro-Ministro de 1951 a 1955, vindo a morrer dez anos depois, em 1965, com 90 anos.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

DON'T GOE

Comparem-se, com a mesma origem, a Rádio Renascença, através do SAPO, as prudentes declarações da PSP com as de Paulo Portas, sobre o mesmo assunto. Estará o Sr. Ministro a tentar obter, armando em vítima, com toda esta confusão e incompreensibilidade do seu discurso, notícias ao estilo Correio da Manhã (como a de infeliz memória de que se preparava para atacar a Guiné), para tentar desinformar a opinião pública portuguesa e fazer acreditar que os seus rapazes foram feitos reféns?

Vale a pena lembrar que eles não estão PROIBIDOS DE SAIR da Guiné-Bissau; mas apenas os que estão em Portugal e os deveriam render, esses sim, estão IMPEDIDOS DE ENTRAR. O culpado, um vez mais, é o inepto do MNE: em vez de sujeitar os miúdos às vergonhas da publicidade e da ausência no presépio, poderia assumir ou: a radical retirada da embaixada; ou a ausência de força militar (depois do precedente angolano - e tudo o que fizeram mal em seguida - poderá passar a ser, legítima e reciprocamente, vista como uma ofensa).

Se não têm tomates sequer para esclarecer os leitores acerca das alternativas, não venham tapar a estupidez com peneiras. Muita paciência têm tido as autoridades guineenses para com este incompreensível comportamento diplomático português, que não pára de meter a pata na poça, a ponto de se comprazer em lá chafurdar. Ainda mandam criticar, à boca pequena, uma pretensa aproximação da Guiné-Bissau ao Irão e à China! Já o fiel presidente de Cuba começou por ser um liberal e a história do século XX teria sido outra, se não o tivessem empurrado para os braços de Moscovo.

P.S. Já agora, Sr. MNE, não acha um pouco exagerado abusar da sua posição para mandar piropos? «Agentes magníficos»? Coitados, abandonados em Bissau aos caprichos do Sr Ministro. Talvez a Associação Profissional de Polícia se possa voltar a pronunciar, acusando o senhor Ministro, no mínimo, de sequestro, agravado de assédio.

O PAI recomenda a fusão das principais candidaturas

O «governo» no exílio distribui futuros lugares no seio do PAIGC, como prémio pelo reconhecimento «implícito» da sua autoridade, antevendo que não serão criadas condições para a candidatura de Carlos Gomes Junior.

Pois, sim. Nem o pai morre nem ninguém almoça.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Espermatugazoide III - Culturação versus aculturação

Repare-se que «assimilados» tem duas acepções: uma igualitária, assumindo ser «mais ou menos» tuga ou, pelo menos, «até disfarça bem»; uma outra propriamente gástrica, na qual «assimilado» significa «estar no ventre de» ou «engolido», como o Capuchinho Vermelho na barriga do lobo (noutra versão é o lobo do mar no ventre da baleia).

Note-se que aqui, quando falo de «assimilados», não me refiro apenas ao conceito «guineense», de certa forma descendente daquele que já aqui foi genericamente enunciado para o «Império» português, mas em geral a toda a humanidade «entre duas culturas», envolvendo portanto também toda a Diáspora guineense. Um enorme desafio.

Quem migra de cultura tende a apresentar duas formas diferentes de lidar com a sua diferença de origem perante o outro: uma, negativa, procura ocultar essas origens; outra, positiva, deseja cultivar as suas raízes. Regra geral: na experiência número um, obtêm-se macacos; só é benéfica uma experiência total, cruzando as referências culturais.

Para a identidade do «migrante» pode ser altamente destrutivo, num ambiente sentido como hostil (mesmo que não o seja propriamente), sentir-se humilhado, ou simplesmente desprezado nesse papel. Daí se perceba a tentação de disfarçar, de imitar o maior número possível de sinais exteriores do outro, símbolos da pretendida inclusão.

Contaram-me, em jeito de anedota, mas a título de história verídica, que em tempos coloniais não muito longínquos um comerciante juntou um pequeno cabedal e, tendo ouvido histórias dos bons negócios que por Angola se podiam fazer, decidiu preparar grande encomenda de smokings, que estavam na moda, com os respectivos laçarotes.

O facto é que parte da encomenda extraviou-se e, se bem que não se tenha perdido, acabou por voltar à Metrópole por erro, sem que ao pobre dono, já embrenhado em terras estranhas, tivesse sido dado aviso. Só levara consigo os laçarotes, para poupar a sua fragilidade e também um pouco nos portes. Instala-se numa casa e abre a porta.


Entretanto, depois de gastar tudo o que trazia e nada de chegar o resto da encomenda, deita contas à vida... Parece que o sócio, em Portugal, ao saber do retorno da mercadoria a Lisboa aproveitara uma oferta para a revender com pouco prejuízo e comprou uma viagem para Angola esperando ir encontrá-lo na miséria. Qual quê? Um sucesso.


Tê-lo-á percebido quando chegou e «viu todos de laçarote, mesmo sem camisa, como se andassem de smoking»
.
Um bom vendedor até banha da cobra vende. Enquanto o simples símbolo, o parecer, valer mais que o ser... Não desprezemos nós próprios a nossa identidade, não façamos o ofício «normalizador» do colonizador mental.

Faz parte dessa «ideologia» castrante, o mito de que as culturas são exclusivas, abstraindo a ideia de um possível e desejável «contacto». Quem foram aqueles que levaram o Terror a Nova Iorque? Agentes iranianos, provocadores afegãos, ou loucos paquistaneses? De maneira nenhuma: foram jovens americanos promissores.

A cavalo entre duas culturas, entre civilizações, entre religiões, sentiram a sua identidade tão humilhada pelo discurso hegemónico a que os sujeitaram, que ofereceram as suas vidas em Holocausto julgando agradar ao seu Senhor. Mas não eram pobres, nem excluídos, nem incultos, nem desempregados, nem pouco inteligentes...

Poderiam ter sido, em vez de Anjos da Destruição, Pontes de Paz, ajudando as duas culturas às quais se sentiam pertencer a compreenderem-se melhor. É essa a missão de todos aqueles que estão no «meio», a de mediadores. Mas para isso é essencial redignificar a diferença... Somos incrivelmente interessantes porque somos diversos.

Permitam-me que conte um pequeno facto para o ilustrar... Nos campos de concentração nazis, uma parte anormalmente elevada dos sobreviventes eram diabéticos: a «componente» genética que nos parece negativa, uma doença que ninguém quer ter, pode revelar-se importante, em circunstâncias especiais, para a sobrevivência da espécie...

Também me parecem existir actualmente duas atitudes diferentes e extremas, das culturas de acolhimento relativamente aos migrantes: a francesa, que pretende «despir» o migrante das suas antigas roupas e «vesti-lo» à francesa; e a inglesa, que assume a manutenção das diferenças, mas em apartado, colocando de parte qualquer real integração.

Mesmo assim, num contexto laico, julgo que a atitude dos franceses é mais humana; no entanto, também acho que lhes falta alguma humildade, na exigência de «conformidade» aos seus «parâmetros», que não lhes permite beneficiar da adesão de «corpo e alma» de uma franja importante da população, evidenciando os limites e riscos do modelo.

Quem tem assim tantas certezas acerca da sua superioridade, seja genética, intelectual ou, mesmo, moral, a ponto de poder prescindir da diferença que o Outro oferece? Não é condenável este discurso, nem que por ser revelador de simples ignorância? Não será a intolerância assassina que reina no mundo um reflexo dessas atitudes reprováveis?


Quem não se lembra da virulenta campanha «étnica» contra os burmedjos, há pouco mais de dez anos, promovida pelos verdadeiros fidju di tchon? A retórica utilizada passava pela enumeração dos «vícios» destes; é claro que estou longe de defender essas práticas, que visavam essencialmente afastá-los dos lugares mais importantes...

Pode parecer chato e grosseiro lembrá-lo, mas para o «migrante» o verdadeiro «pacto» só pode consistir em caminhar para uma identidade compósita

1) não sobrestimar a cultura de destino
2) não subestimar aqueles que ficaram na cultura original
3) construir pontes, mesmo no «meio do nada»
4) ajudar o mundo a aderir a uma culturação «global»

Mais do que tornar-se, para sempre, um aculturado, não pertencendo realmente nem a um lado nem ao outro, o verdadeiro desafio está em cultivar-nos em relação ao Outro, sem perda de identidade, para com ele podermos ter algo a partilhar. Uma elite não o é por se mostrar superior, mas sim se respeitar e puxar o resto dos irmãos.

Em vez dos caldos de frustração a que nos quiseram habituar, chegou a hora das sínteses; senão estaremos condenados a ver continuar a crescer exponencialmente a intolerância e o fanatismo (mas também a arrogância e a ganância) os conflitos o terror... Amar ao próximo, como defendem Os Livros, parece decerto uma melhor opção.

Estou lembrado de um passo em particular d'O Corão:«Cremos em Deus e em todas as coisas que nos revelou, a Abraão, a Ismael, a Isaac, às Tribos, naquilo que foi dito a Moisés e a Jesus e naquilo que foi dado aos profetas do Senhor. Os judeus, os cristãos, todos os que acreditaram em Deus e praticaram boas acções terão recompensa junto de Deus».

«Rivalizai portanto nas boas acções. Todos regressarão a Deus que decidirá sobre vossas divergências...E não disputai com os povos d'O Livro, senão do modo mais cortês, excepto com aqueles que agem de forma iníqua, e dizei: _Acreditamos naquilo que desceu sobre nós e naquilo que desceu sobre vós: o vosso Deus e o nosso são Um só.»

sábado, 24 de novembro de 2012

Respeito e inclusão

Retomando as últimas palavras da mensagem anterior.

As autoridades no poder em Bissau deveriam dar um exemplo de serenidade, demonstrando assim a sua força. Já que me referi ao Editorial nº9 do Victor Gomes Pereira, vou fazer o mesmo ao seguinte, o nº10.

Não concordo com a hostilização que alguns cidadãos estão a sofrer. Em relação ao Aly, referi-me a isso logo no dia 13 de Abril, como contra-producente; em relação ao Melcíades Fernandes, que recentemente se refugiou na representação da UE pela urdidura de múltiplas suspeitas e sórdidas cabalas contra a sua pessoa, acho uma barbaridade: Manel Mina, para além de mito, é um elemento essencial da força e qualidade das FAGB.

Caro Daba: não seria possível, nem que por solidariedade com o seu ex-congénere Porta-Voz da extinta Junta Militar, levantar esse círculo de má-vontade e reintegrar com respeito o Major na estrutura e hierarquia (GARANDI) das FAGB? Caso isso não seja possível, pelo menos para já, por uma questão de oportunidade, nem quero pensar na possibilidade que lhe possa acontecer algo de mal: seria um crime de lesa-pátria, perder um homem com as suas qualidades, que ninguém ouse levantar um dedo para ofender a sua integridade física.

Para não dar razão aos críticos, há que fazer um esforço (como, aliás, já aqui defendi, logo após o 12 de Abril) de reintegração de todos elementos das FA que regressaram às tabancas por não se reverem nas recentes orientações hierárquicas. Essa seria a melhor prova de força e de pacificação que poderia ser dada à sociedade, uma verdadeira unidade funcional da tropa, independente de etnias e olhando apenas ao mérito!

Respeitar a Guiné é começar por respeitar aqueles entre os guineenses que têm valor.

Kil ki di nos tem balur?

Balantização das FA

Em comentários a um post aqui publicado, prometi debruçar-me sobre este tema, que embora recorrente (e de longa data), parece estar a ser renovada e insistentemente apontado como fonte de todos os males da Guiné-Bissau (quem não quer cozinhar, vai ao restaurante, ou compra comida enlatada; quem não quer pensar nos verdadeiros problemas da Guiné, recorre a um bode expiatório...)

Mas Victor Gomes Pereira antecipou-se, no seu editorial nº 9, publicado no site do Didinho (link na barra lateral à direita). Muito daquilo que tinha para dizer ficou dito. Apenas, a essas ideias, seja-me permitido acrescentar:

Alguém concorda com o sistema racista das «quotas», que tanto desprestigia os Estados Unidos, disfarçando mal o mal-estar xenófobo económico-social, que (supostamente) serve para exorcizar? Não vamos tirar o lugar aos mais competentes: a competição e o mérito devem surgir por si, não por esse género de «favores», piores que cunhas, por serem baseados em princípios étnicos, ou de género.

A ocupação de lugares proporcional ao que quer que seja (até porque há sempre múltiplas tipologias transversais: raça, sexo, religião - imagine-se o trabalho que daria definir quotas cruzadas por essa diversidade toda) é uma barbaridade incompatível com o orgulho próprio e o reconhecimento do estatuto socio-profissional devido ao titular de um cargo ou função. Os incompetentes que roubarem o lugar a outros graças a esse expediente serão sempre vistos como uns coitadinhos.

Só o esforço próprio, contra todas as adversidades e arbitrariedades, poderá qualificar e dar um exemplo identitário ao sujeito e à própria sociedade, tornando-se um digno motivo de orgulho, para si e para os seus, aos olhos dos outros. Permitam-me que sublinhe ainda duas coisas que considero importantes:

a questão da vocação: o balanta está bem preparado para a guerra, devido a intensos exercícios físicos desde jovem, à cultura da Guerra de Libertação (com uma actualização em 1998-99) dos seus mais velhos, traduzida em experiência e manha; no entanto, é preciso dizer, em abono da verdade, que nunca dará um bom soldado; um óptimo guerrilheiro, sim, mas um soldado obediente e disciplinado, nunca.

a questão da reprodução como «casta»: assim como há castas de comerciantes, de pais para filhos, só o mundo «moderno» e pseudo-científico vê nisso um problema; numa sociedade tradicional, parece ser antes uma forma eficiente não só de manter e aperfeiçoar a vocação e o know-how, como de reforçar os laços no seio da família.

Importante: o facto é que as FA são o principal alicerce dos muito abalados e delapidados orgulho e identidade nacionais; porque não pensar em promover «o produto» para exportação? Não forçosamente o aluguer de mercenários; comece-se pelo contexto regional... Sugere-se desde já à CEDEAO que, no Mali, coloque de lado os oficiais franceses e entregue o trabalho aos guineenses (já estou com pena dos secessionistas).

Levando ao extremo a ideia da «correcção» do desequilíbrio, o ideal para obter um exército disciplinado, seria contratar 100% de quota de fulas (mas esses estavam do lado «errado» na guerra de Libertação - tendo optado em 1998 por uma complacente neutralidade), o que também não seria má ideia, se fosse exequível.

Não é solução: o exército guineense é bom (faz a inveja, entre outros, dos angolanos, o próprio José Eduardo dos Santos o confessou subliminarmente ao referir-se, em Junho último, no calor da disputa MISSANG, ao «mito» de invencibilidade que grassaria no exército guineense) há sim que aplaudi-lo e dar graças a Deus pelo prestígio, fortaleza e unidade das FA e dos seus mitos.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Situação tensa e perigosa em Bissau

Calma apenas superficial.

A ANP declarou-se soberana, reconheceu a alteração da ordem de 12 de Abril, legitimou o instrumento «legal» utilizado: este pacto com os alegados «golpistas» vem reduzir ainda mais o espaço político de manobra do pseudo-governo no exílio.

Numa curiosa conjuntura, em que os militares golpistas, ao contrário de um golpe de estado convencional, NÃO querem o poder, nota-se o mal-estar entre os «políticos»: o problema reside no próprio PODER e como aceder a ele; quem tem legitimidade?

O problema não está no Chefe de Estado Maior, nem sequer em quem é acusado (justa ou injustamente, agora não interessa) de o querer tramar. Para o bem e para o mal, representa o último verdadeiro pilar da nação, as Forças Armadas.

Fosse a classe política, na Guiné, tão boa como a castrense. Essencialmente, o ajuste de contas que parece preparar-se não faz sentido, arriscando-se a traumatizar o pouco que sobra da sociedade guineense... Aprofundar a ferida pode ser sem remédio.

Não será chegada a hora de uma verdadeira reconciliação, de se sentar toda a gente à mesma mesa? Há que lançar uma vasta amnistia, ultrapassar o passado, aceitar um novo começo, novas regras do jogo! A Guiné já pagou um preço exorbitante pela diversidade!

Não é hora para deixar encalhar a canoa. É preciso refundar a Guiné-Bissau, redesenhar o Estado, reencontrar uma legitimidade nacional suficiente que se sobreponha aos interesses particulares e razões étnicas, um PODER também social e economicamente competente e eficiente.

É mau princípio remeter essa decisão para eleições, esperando que o mito europeu da democracia se revele adequado (depois de múltiplas provas em contrário). Esperemos antes que surja uma liderança política forte, que prometa e dê garantias de paz, progresso e orgulho.

Todos fazem parte da solução (até Cadogo, porque não?), felupes, balantas, fulas, mandingas, gentios, cristãos, de fato e gravata ou de tanga, vermelhos, verdadeiros filhos do chão ou não (e até tugas!): os cabelos de todos estão contados, nem um deve cair por terra!

Chega de ver a identidade guineense ofendida, humilhada. Há que varrer a casa, não tolerar mais os erros do passado. E para varrer a casa, começa-se pelo sótão: é pelas mentalidades (pelo sentimento da rua, pela opinião dos mais velhos, pelo boato, pelo rumor, pelos blogues).

Chega de «coitadeza», desse morno sentimento de inferioridade legado pela decadência tuga. A grande diversidade guineense não é um problema, é um desafio. Não deve ser encarada como uma ameaça, mas como uma oportunidade! O mau exemplo vem do Mundo.

Sim, que infelizmente, é esse o caminho, sem regras, cada vez mais «tribal» e violento, a que a falência do liberalismo desenfreado (já sem oposição depois da queda do Muro) nos conduz. Mas estarão os guineenses destinados a servir de paradigma aos piores defeitos do mundo?

A alternativa poderia ser criar uma verdadeira ruptura epistemológica, dar um exemplo de convivência e tolerância (de que o mundo tanto precisa), mostrando como a diferença pode ser enriquecedora: pela cultura podemos aprender outras formas de sentir as coisas.

Reconhecer o outro na plenitude da sua diferença, não nos diminui em nada, só nos engrandece. Um país que quase não se vê no mapa (não olhemos durante a maré alta), abrigar um mosaico humano tão grande é uma verdadeira dádiva de Deus em glória.

Longa vida à Guiné-Bissau e a todos os seus filhos

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Grave atentado à soberania nacional

Depois do Enxovalhanço da Bandeira, em Bissau, desta vez é bem pior: Paulo Portas, o triste MNE português (em última análise, o responsável por toda a situação), tem agora uma (alta) bota para descalçar. O seu amigalhaço de Luanda não gostou de uma notícia vulgar (não percebe mesmo nada de política, porque senão, depois de ler o Expresso e as «luvas» que puseram para o redigir, devia ter reparado que o caso iria envelhecer nas «prateleiras»: «fase de investigação apenas» ou «nenhuma medida tomada» ou os suspeitos poderem «continuar a movimentar as suas contas»), apressando-se a elaborar uma teoria da conspiração, num caso em que o silêncio era de longe a atitude mais aconselhável (acabadas as eleições, foram dispensados os consultores de imagem). O eixo Lisboa-Luanda rompeu? (terá sido a fractura tectónica pelas latitudes de Bissau?) Estão a dar ao mundo uma má imagem da CPLP... (que anda envolvida noutras guerras).


Disfarçado sob a capa das amizades íntimas estabelecidas por este governo, o mal-estar estrutural das relações luso-angolanas fica assim bem patente. É a natureza perversa do «protocolo» que está na base da paranóia publicada por Luanda: julgará o Jornal de Angola que Portugal é um protectorado de Angola? Que o dinheiro é suficiente para tudo comprar? Que podem ofender assim, para além das instituições da República, cidadãos portugueses em particular e a nação em geral? É que o referido pasquim, o Jornal de Angola, é tido por órgão oficial do país, para além de ser o único com tiragem diária. É um acto grave, a frisar o hostil, exigindo uma reparação rápida e consistente. Quem esperam ameaçar (ou melhor, tomar por reféns)? Os portugueses que trabalham em Angola? Precisam mais deles em Angola que os portugueses deles em Portugal: cozam-nos com batatinhas, como fizeram em 1975.

A quem cabe a resposta, do lado português? À PGR? Ao presidente da república? Ao MNE? Depois de uma escalada gratuita destas, terá forçosamente de ser uma coisa à altura. E o melhor é mobilizar já a Força de Intervenção Rápida, mandá-la para o largo de Cabinda, porque temos muitos cidadãos em Luanda, havendo que garantir a sua segurança (ou não foi esse o princípio aplicado em Bissau?).

Agora na minha humilde opinião, embora as «elites» portuguesas não estejam isentas de culpa, o problema, neste caso específico, é mesmo das «elites» angolanas: o caso, para além de uma imensa falta de tacto, é altamente revelador da senilidade que atinge o regime angolano: a descolagem da realidade faz lembrar os discursos do Xá da Pérsia no fim da década de 70: prenúncio de derrocada?

Espermatugazoide II

Afonso de Albuquerque, capitão da guarda de Dom João II, foi para a Índia com a intenção de cumprir os desígnios, não de D. Manuel (o qual, venturoso, herdara a coroa), mas da própria nação, concretizando o sonho (apenas) de um plano imperial. Tentou, por todos os meios, criar uma elite local, que falasse português e assumisse uma verdadeira e positiva miscigenação, potenciadora das férteis experiências civilizacionais dos dois povos, o português e o indiano.

Deste feliz cruzamento, logo resultou um belo estilo artístico, conhecido por indo-português, e talvez mais frutos não tenha gerado devido à infeliz intervenção da inquisição. Este era o verdadeiro sonho português: não se limitava a «mostrar o mundo ao mundo», mas mostrava-se inquieto de dar o exemplo na prática. O português tem muitas anedotas sobre o mestiço, todas tentando disfarçar o inegável orgulho que o português sente por ser pai dessa invejável «raça».

Mais do que o mundo, e, dele, as riquezas transaccionáveis, o sonho português aspirava à universalidade, concebida como o contrário do tribalismo. Isso era também uma crítica à Europa desse tempo, comprometida e exausta pelas guerras ainda feudais. Ora isso implica um profundo respeito pelo outro, que estava presente nos primórdios da colonização portuguesa, respeito que nunca alimentaram holandeses, ingleses e franceses, para quem o indígena é sempre inferior.

Este é o dilema essencial do colonizador: supostamente, o atrasado (social, mental, industrial) estaria (desesperada e essencialmente, acrescente-se) à espera dos seus bons ofícios. Se a «civilização» serviu de legitimação para o colono, essa ingénua e altruísta motivação opunha-se, quase por definição, à vontade de domínio, a qual acabava sempre por se sobrepor; esse antagonismo, exarcerbado por factores económicos, prejudicou a sã convivência multi-racial.

Mas não era ainda esse o espírito, nos inícios de quinhentos. Para o demonstrar, bastaria invocar a troca de embaixadores com o reino do Congo, com a admissão em Coimbra (a elite portuguesa) dos príncipes congoleses, vindos expressamente, com todas as honras, para aprender o português, com o objectivo de virem a servir como futuros mediadores. Essa ideia generosa e universalista viria a ser rápida e inteiramente corrompida pelo poder do dinheiro, que o tráfego mundial gerava.

P.S. Continua. Tenho muito mais a dizer sobre o assunto, mas tem de ser devagarinho, porque tenho de organizar as ideias. Continua brevemente (vai ter mais umas tantas partes).

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

PAIGC para o museu que Cabral está no Inferno

Citação de uma irritação justificada: 

«Querem ter lucros e direitos de monopólio colonial! Será que até agora não acertaram o passo com o mundo? Continuam agarrados aos sonhos quinhentistas? Dão-se mal com a democracia? Acautelem-se, porque os sinais de aviso são muito graves dentro da própria sociedade dos vossos patrões, dentro da vossa metrópole»

(vide Doka - um dos 3D's da Guiné, link ao lado direito)

Frase que resume o essencial. Assente-se o passivo; logo lembraremos também o activo (em Espermatugazoide II ou III - em preparação). Já se adivinhou, claro, os destinatários da mensagem... Claro que há uma pequena injustiça (quando se fala de «sonhos quinhentistas», pois esses eram belos, ecuménicos e multiraciais), mas compreende-se o sentido, no contexto da libertação.

Espermatugazoide - Assimilados ou Burmedjos? Parte I

Conta uma fábula que uma vez houve uma guerra entre os animais da terra e do céu. Enquanto parecia que os do ar estavam a ganhar, lá andavam os morcegos a esvoaçar, gritando e apoiando o ataque. No entanto, veio a acontecer que os da terra recuperaram terreno e acabaram por ganhar; no fim da guerra, aquando do ataque final contra os últimos ninhos de resistência, viram-se os morcegos na frente de combate, do lado dos da terra, dando vivas sobre as patas e tentando disfarçar as asas o melhor que podiam. Claro que os bichos não eram parvos e criaram um tribunal para julgar o caso, que condenou, para sempre, os morcegos a só poderem viver de noite.

Reparem que a condenação à escuridão não aconteceu por causa da maravilhosa capacidade de adaptação dos morcegos: em si, a polivalência é uma boa qualidade (quantas espécies não se extinguiram por estarem demasiado dependentes de certas condições ou nichos particulares? quantas firmas ou mesmo países não faliram por estarem dependentes de um único comprador ou de um único produto?); o que tramou os morcegos foi terem utilizado essa competência para tentar enganar os outros. Em português há um provérbio (ou melhor, uma única palavra utilizada como epíteto) que ilustra bem a atitude dos morcegos neste caso: «vira-casacas».

Parece que, na origem da expressão, terá estado um aristocrata alemão, o qual, vivendo numa zona de conflito, com avanços e recuos de ambas as partes, terá mandado fazer, a um alfaiate, um casaco com a particularidade de ser «retro-verso»: quando vinham os soldados de um dos lados, era azul, quando vinham do outro, também não havia problema, virava-se o casaco, ficava vermelho. Esperto. Se calhar safou-se melhor que os morcegos, mas o acto ficou-nos plasmado na língua e no espírito como pouco deontológico (se bem que muito comum). Também em Angola, em 1975, a maior parte da população era multi-filiada, com cartões de vários partidos (em bolsos diferentes).

(Continua)

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Fraternidade

Tenho a dizer (ou talvez devesse dizer lamentar) que, embora em geral alheio à Guiné, conheço pessoalmente as duas vítimas de espancamento dos últimos dias.

O Silvestre Alves conheci em Lisboa, no ano de 1998... Na altura, apresentou-se nas reuniões da Diáspora como representante pessoal de Ansumane, primando por uma actuação bastante auto-centrada. Ainda me lembro de o ter visitado, em Bissau, no ano de 2001, infelizmente após um outro espancamento (julgo que também por intrigas políticas) numa discoteca.

Com Iancuba, acompanhei a conversão ao Islão, chegando a discutir, ainda me lembro (com o Mamadu), o abandono do álcool como questão teológica... Aparentemente, a adesão ao monoteísmo não o terá tornado mais tolerante (isto não implica qualquer consideração contra essa religião, em muitos aspectos bem mais tolerante que a católica, que é a minha).

Julgo despropositada, indecorosa (e contraproducente) a forma como ambos foram tratados. Aos dois o sincero desejo de um rápido restabelecimento.

Instigação da violência

Lamentável.

Aparentemente, poderosas forças de destabilização estão em jogo.

A teoria da conspiração em curso, quer fazer crer, recorrendo a artificiosas lembranças da guerra colonial (quando os felupes derrotaram realmente uma coluna do exército português com arcos e flechas), que há uma guerra de foro tribal. Simples constatação étnica de mortes anunciadas no Simão Mendes.

Sim, os felupes são calmos, de uma fidelidade a toda a prova, por isso eram etnicamente preferidos pelos colonos para o convívio intra-muros. Mas a teoria apresentada não tem pernas para andar, porque o capitão que supostamente os comandava era balanta, ou estaria simplesmente disfarçado de inimigo?

Os felupes não pedem guerra a ninguém: mesmo etnicamente preteridos (para não dizer ofendidos), é uma população evoluída (peço desculpa pela «forma» colonial), toda fala crioulo (tão bem como os «guineenses» de gema), e, para além disso, a maior parte chama-se Silva, como o Presidente de Portugal.

Tal como muitos povos africanos, não têm a culpa que as suas fronteiras tenham sido traçadas a régua e compasso, noutro continente. Bem sei que me senti bem em território colonial francês, como quando tomei banho frente a Cassine; mas lamento a contra-partida, Ziguinchor.

7ze chora Ziguinchor? Não. Prefiro de longe o chão Balanta. Verdadeiro, genuíno. Falso, traiçoeiro, também. É sempre difícil conviver com a liberdade do outro. Já Cabral distinguia a horizontalidade balanta da verticalidade fula (esses, como sempre, na retranca, do lado do poder instituído)...

Tagma era respeitado em São Domingos e Varela. À bruta, mas era; além disso, tinha legitimidade. Não queiram pois, quem quer que seja que ordena estas «políticas», atiçar rastilhos, num contexto «pós-colonial», porque o felupe é (isto é, claro, um elogio) homem de uma vida inteira.

Quanto aos diolas (les mêmes): jamais (jamé, em francês) se deixem intoxicar por caciques locais... a guerrilha em casa (mansa, porque violenta chateia) cansa: nunca seria razão para chatear os donos do chão. Feel up! Não se passa nada. Isso é o que pretendem os intoxicadores: vão engolir o anzol?

A paz é mansa. Não queiram guerra com aqueles que apenas com arco e flecha fazem frente a metralhadoras! Melhor que isso, no mundo inteiro, só guerrilheiro balanta na defesa do seu chão. A paz é boa, nada de kansá-la com despropósitos. E eu não mendigo!

Um óptimo professor da minha faculdade (mesmo se eu não era dessas áreas) é o Prof Doutor Costa Dias, que tem um conhecimento aprofundado destas questões: não estará na altura de um jornalista esperto o abordar com meia dúzia de perguntas inteligentes (deixem estar que ele faz o resto)?

Estou céptico: consegui disfarçar bem a minha preocupação? Ninguém lucra realmente com esta intriga, a não ser os mesquinhos que por incúria se acoitam nas Necessidades, mais os seus amantes sub-tropicais, cuja infeliz história talvez tenham tornado insensíveis à vida.

Quem faz a guerra dentro para agradar aos de fora? Como diria o cúmulo (perdão, o Kumba), estamos todos condenados a viver juntos: quem quer salpicos de sangue na roupa e/ou na consciência? Já ouvi dizer a entendidos que são mais ou menos indeléveis.

Vamos acordar um por um?*

*Bela expressão guineense face aos (crónicos) tempos de instabilidade: se o primeiro que acordar, acordar o outro, quer dizer que não houve crise durante a noite; que mais pode um homem pedir, face ao omnipotente, senão um dia de cada vez?

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Enxovalhanço da bandeira

Bem sei que me acusam de não explicar bem os contextos e de isto ser só para entendidos... Ok, mas isso é uma crítica de tugas. Não me apetece explicar nada. Aviso que isto tem apenas a ver com a realidade guineense, infelizmente, hoje, sob ameaça de um infeliz candidato a ditador com origem portuguesa.

A bandeira nacional de Portugal foi triste, mas merecidamente, enxovalhada, em Bissau. Sim, porque a bandeira é um símbolo físico, uma imagem actual, não uma herança estrutural, como o português. É o coroar da triste orientação externa deste governo, já desgovernado em negócios estrangeiros desde a Líbia...

O lamentável inspirador desta política de atrofio, Paulo Portas, só e pretensamente orgulhoso, foi aparentemente conivente em mais uma manobra recente (esta semana) de Angola para ocupar militarmente a Guiné-Bissau, numa (portanto inimaginável) operação aero-transportada em aviões pesados Ilyushin?

Para isso era necessário tomar conta do perímetro de Bissalanca, garantindo a aterragem dos blindados da testa de ponte da CPLP, ONU ou qualquer coisa que se inventasse a seguir, sempre muito baseado na retórica da reposição da legitimidade (fica sempre benzoca, claro, Catarina).

Sem qualquer consideração pelas consequências dos seus actos, fizeram avançar um peão (por isso é vendida a «contra-história» no Ditadura) a quem fizeram acreditar na sua «beleza» e super-potência (claro que há comunicação entre actores mas isso não garante argumento sólido a qualquer ficção!).

Já agora, as declarações emanadas das Necessidades, segundo o insuspeito Aly, são perfeitamente histéricas, inconsistentes e «à coté de la plaque»: depois de recusar laconicamente qualquer comentário, sobre o seu envolvimento no caso, vêm desmentir o «estatuto» de exilado político do bicho?

Então não reconhecem o assunto mas discutem-lhe os meandros? Sim, o implicado não era simples refugiado, era pior: tratado com especial deferência, senão mesmo acarinhado, pela hierarquia; um bom peão para avançar na altura certa. O exército português não sangra, gangrena.

Reconhecem portanto, que, mais que um simples refugiado político, teve formação e «inspiração» militar em Portugal... Tinha, como muito mais gente, o número de telemóvel do CEMGFA. Toda esta situação faz-me estranhamente lembrar do provérbio «vira-se o feitiço contra o feiticeiro».

Depois de algum tempo de ausência, aderindo ao impasse, um abraço grande ao Didinho, ao Doka, à Titina, ao Filomeno, e a todos em geral, mas um em especial ao irmão de Gabu, Sancho Fula, de quem não resisto a citar a poesia:

«Bo purdan. Ma ê cuça di squirbi na criol i cuça di brincadera di Didi.
Língua câ tem duno.
Bu pudi raiba cu políticus di Portugal. Ma língua ca tem culpa. Língua e ca di çels.

Português i di nos tudo.»

Que calor na alma.

Saudades & Mantenhas di ermondade

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Resposta ao pedido de adiamento das eleições de Samakuva

O líder do maior partido da oposição pediu ontem uma entrevista com o Chefe de Estado, para legítima e justificadamente lhe pedir o adiamento das eleições, face às graves irregularidades que mancharam a sua organização e ferem de ilegitimidade quaisquer resultados a publicar.

A resposta veio agora, não como um desejável telefonema da parte de José Eduardo dos Santos, mas pela boca do Comandante da Polícia Nacional (numa injustificada escalada verbal por parte das autoridades) ameaçando defender «até às últimas consequências» o Presidente...

Sente-se encurralado, Senhor Presidente? Face ao autismo de que tem vindo a dar mostras, já todos lavaram as mãos. Não feche a porta ao diálogo, não queira sujar as mãos; pegue no telefone e poupe Angola a inevitabilidades das quais se constituirá como único responsável moral.

Ti Zé, arreda o pé, tô prazo expirô há bué...

Tzé aconselha Luaty: melhor que licor Beirão!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

terça-feira, 28 de agosto de 2012

As opções de José Eduardo dos Santos

70 anos, metade deles de poder…     Não farta?   Não estará na hora de aproveitar aquilo que a vida, o dinheiro podem proporcionar? Uma saída em beleza não é preferível ao opróbrio?


O respeito também deve ser levado em conta. Mas isso estaria garantido! José Eduardo dos Santos tornar-se-á sem dúvida um grande estadista se perceber que chegou a hora de abandonar o poder.

Não julgue que sai mal, Senhor Presidente! Se sair neste momento, negociando as condições em que o faz, será muito mais proveitoso, para o seu orgulho, que outras opções mais arriscadas…

Espero que o pragmatismo que tem demonstrado ao longo da vida e lhe permitiu os sucessos que se lhe conhecem, o possa benevolamente aconselhar neste momento crítico da sua carreira.

Espero que o exemplo do seu amigo Nelson Mandela o possa inspirar e lhe evite trilhar um momento de desespero que só poderá acabar mal (para si, a sua família e, infelizmente, para muito mais gente).

Na disposição de todas as suas faculdades (e hoje que é o seu dia de aniversário, muitos mais anos de vida, reconciliado com a Nação!), permita que se lhe pergunte se julga que dura para sempre.

Na memória dos angolanos, talvez, mas então que seja para o bem. Se algum genro, ou género de alternativa, se perfilasse, seria outra coisa. Estaria a defender a sua dama e ninguém levaria a mal.

Console-se, reconcilie-se com a morte, como manda a tradição africana, com toda a sua experiência, o bem que fez a Angola (e o mal lhe seja perdoado) e o legado que deixa em tão boa conta…

Aceite um merecido descanso; não espere que a Nação possa aceitar que se arrogue perpetuar o autismo e se disponha a sofrer passivamente senilidades sem sentido e sem futuro.

Angola é uma nação nova bafejada pela sorte (ou azar – como julgava Salazar) de ter petróleo (o qual entretanto subiu bastante nas cotações e nos termos de troca internacionais). Economia, enfim.

Sendo um homem esperto e inteligente, continua a ser a uma chave para uma possível solução equilibrada e negociada. Uma nova Angola, aberta a todos, com o contributo de todos.

Será de facto uma Angola muito mais rica. Em experiências, em saberes, em oportunidades, em competência. Na diversidade. No confronto de opiniões. Apostando no mérito, não no seguidismo.

Não queira hipotecar gratuitamente o valioso contributo de toda a sua vida. Por favor, senhor Presidente, telefone ao General Silva Mateus.

Dos Santos tem pés de barro e se tenta...

70 manter-se no poder, vai ser triste.

Como diria (ou melhor, cantaria) Marilyn Monroe, happy birthday to you, Mr President.

Depois da inauguração da marginal, que decorreu em Luanda esta manhã sem problemas, está na hora da cereja em cima do bolo: o General Silva Mateus conduz (supostamente) os seus «rapazes» para o Planalto, com o objectivo de cantar os parabéns ao Senhor Presidente, numa manifestação de descontentamento (bela diversão: quando for a hora, não saberão que horas são).

É, sem dúvida, um gesto (mudo) pleno de significado, um tranquilo e pacífico apelo ao diálogo. Apelo e diálogo que Eduardo dos Santos tem ignorado senão recusado, sucessiva e sistematicamente: sabendo-se fragilizado, sofre da tentação da fuga para a frente. Agora que deu o flanco, Senhor Presidente, que já sabemos que não é verdadeiramente Deus, está arrumado!

As primeiras manifestações dos Antigos Combatentes da COEMA, em Junho, provocaram grande surpresa, tendo JES visto nelas uma maquiavélica «mão estrangeira». Talvez não devesse ter-se metido com os seus antepassados guineenses: há relações «simpáticas» com os velhos camaradas da(s) Luta(s) de Libertação, em Bissau os Antigos Combatentes são respeitados!

Poderá sempre contar com asilo na Guiné-Bissau, se bem que não como candidato a presidente da República: é que a lei guineense é mais restritiva que o era o sistema nazi para preservar a integridade ariana, sendo necessário provar ascendência exclusivamente nacional por três gerações!

Mas a Comissão de Ex-Militares Angolanos e o seu Alto-Comissário constituiu-se sem dúvida como a principal organização de oposição real, traduzindo a vontade de mudança de toda uma Nação, encarnando a recusa actual da ideia da petrificação da «ordem» e sistema em vigor por mais um mandato; não há pachorra!

As calmas declarações do General-Comandante à Radio France Internacional, enquanto marchava este sábado em Luanda na manifestação da UNITA, são disso prova cabal. Poucos dias antes, dirigira-se pessoalmente a JES, afirmando que só parariam quando recebessem um telefonema pessoal dele.

Este desafio cristalizou assim todas as esperanças da oposição. O cheiro a esturro começou a levantar-se ontem; uma inflacção instantânea dos bilhetes para Lisboa, que dispararam de $1500 para mais de $2200 e a tendência parece ser claramente para a continuação do agravamento brusco, levantando velhos fantasmas.

Por falar em fantasmas, temos a ALCOFA, contra-organização fantasma que traduz claramente o desespero de JES. Do alto do seu pedestal de «Deus», não se apercebeu que sofreu um golpe fatal em Bissau; foi esse sinal de fraqueza que deu origem à convicção de que o seu regime, embora se lhe deva a Paz, já não serve.

A UNITA, depois das cisões internas que inevitavelmente teria de provocar a convicção generalizada da grande fraude que se prepara para (mais) estas eleições, e o seu posicionamento «nas mãos» do aparelho, passou a ter, neste tabuleiro, um papel pouco mais que residual.

JES, como velho estalinista convertido ao Livro Verde, achava que o dinheiro do petróleo pode comprar tudo; enganou-se em Bissau; e enganou-se, se esperava, atirando dinheiro ao ar, desmobilizar Silva Mateus. A dignidade não se compra, Senhor Presidente.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Bons exemplos de Angola

O «modelo» angolano também tem coisas boas. 

Em tempos de crise na «metrópole», avivaram-se as reminiscências da antiga colónia: a relativa paz e estabilidade do regime conseguiu criar o sentimento, junto dos antigos colonizadores retornados, da oportunidade e «viabilidade» de uma nova implantação.

Com a Europa em crise, o óbvio excedente de mão-de-obra qualificada (agora desocupada) permitiu ao Regime angolano dispor de uma base de recursos humanos, de quadros qualificados, dispostos a investir o seu futuro numa economia com grande potencial...

Mas há um grande problema a resolver: essa participação branca no desenvolvimento não pode hoje ser feita como o era há quatro décadas atrás, a coberto de um sistema administrativo colonial. Surgiu então o sistema de «parceria» indígena.

Qualquer empresário estrangeiro que pretenda estabelecer-se, nunca o poderá fazer na base de livre concorrência, pois nunca mais se livrará de um pesado e autoritário sistema de corrupção, apenas destinado a instituir, nessa «troca», o poder «local».

Este protocolo institui um contra-peso formal (a «angolanidade» de parte do «capital») supostamente garante do bom «despacho legal» dos assuntos e da «protecção» da propriedade envolvida, contributos imateriais mas perfeitamente incontornáveis.

Poderíamos acrescentar que, se o princípio parece bom, já a forma como a coisa é feita, graças a um «tributo» mental anti-colonial, é decerto indutora de um elevado nível de «stress», fomentando a manutenção de pseudo-elites e o reforço da teia de corrupção.

A sujeição dos candidatos a «colonos» aos «donos» da terra permite decerto a tranquilizadora visão de uma sustentabilidade endógena, mas a tessitura parece feita de uma ilusória superficialidade... ao basear-se numa compensação histórica (por inversão).

É que a afirmação de uma identidade não pode ser feita exclusivamente com base no poder que o dinheiro consegue comprar, por imenso que possa parecer (sobretudo quando a imensa maioria dos angolanos se vêem excluídos de participar dos seus benefícios).

O orgulho de ser angolano terá de buscar outras origens, num desenvolvimento económico-social credível, na formação de quadros competentes, na aposta de o seu país se tornar um bom exemplo para África (que talvez possam então ajudar a «crescer»).

Uma identidade não pode basear-se na simples promoção de um mito de superioridade traduzido num discurso tipo «Se quiserem o nosso dinheirinho, têm de se agachar», sem correr o risco de relançar um outro apartheid (de auto-exclusão em condomínios).

Angola teve o mérito de mostrar um caminho possível para África: chamar quadros europeus competentes mas desocupados para ajudar no seu desenvolvimento, partilhando os benefícios da exploração inteligente dos seus recursos (sobretudo minerais).

Mas esse «modelo», perfeitamente plausível, teria tudo a ganhar em ser pensado em bases mais saudáveis, de verdadeira parceria e cooperação, facilitanto a inserção dos europeus na sociedade angolana, numa verdadeira partilha de objectivos comuns: Angola!

A pessoa melhor colocada para o fazer, para uma alteração estratégica e humana de fundo, essencialmente mental (como se vê reclamar no cartaz da juventude: «Libertem as mentes dos angolanos»), é sem dúvida o artífice da estabilidade política do país.

Justificar-se-ia, no contexto das eleições, uma grande reflexão e debate sobre o assunto, evitando os lugares comuns, os discursos vazios, os projectos sem amanhã, as promessas eleitoralistas gratuitas, tudo efectuado na certeza dos resultados a emanar das urnas.

Angola poderia ser um país de oportunidades para todos, sem complexos (de inferioridade ou de superioridade, vai tudo dar ao mesmo), sem reservas mentais, sem se manter como refém de uma mentalidade essencialmente mesquinha. E teria tudo a ganhar.


domingo, 24 de junho de 2012

Manatim X

Sim.

É bom saber da prontidão das FAP para atender a qualquer situação. Outra coisa não se esperaria, na boa tradição do exército português. Ainda bem que a Guiné proporcionou a oportunidade para o treino e aferição da qualidade e disponibilidade dos meios mobilizáveis. No entanto, no interesse da segurança dos potencialmente interessados (ao contrário da Guiné, onde mal-grado muita insistência não houve qualquer aderente) cidadãos portugueses eventualmente carentes de evacuação tempestiva (embora possam dormir descansados) terão eventualmente de fazer fila (aliás, uma segunda vez, já em 1975 foi a mesma coisa, houve filas em Angola, não na Guiné - deverão ter reparado que evito propositadamente o termo «bicha», para evitar ferir susceptibilidades). Nem ouso avançar com a designação Manatim II, pois arriscar-me-ia a pecar por defeito; o melhor mesmo, caso venha a ser necessário, é chamarem-lhe Manatim 10 (a contar com o desdobramento dos meios, as idas e vindas...) presumindo que a evacuação pelo ar estará interdita (os sírios* lembraram-nos há pouco a eficácia dos velhinhos SAM, invocando esquecidas glórias guineenses)... permitam-me já agora especular um pouco nas entrelinhas das notícias: o bom senso turco, ao reconhecer por via presidencial o próprio erro parece-me altamente louvável! Humildade ou guerra. A paz é sempre a melhor e mais barata opção, mesmo que se tenha de dar o braço a torcer. Isto tudo num curto espaço de tempo, antes sequer de se tornar notícia: as más línguas verão uma inevitável «mão» russa, atalhando cientificamente qualquer «mito» em gestação. Estão todos de parabéns. Um facto que poderia gerar uma guerra (a Turquia pertence à NATO). Finalmente, no mundo, algo a merecer destaque, neste blog, para além da actualidade guineense.


*Ver notícias: DAK síria abate jacto turco sobre a «linha» de fronteira marítima

P.S. Outra leitura possível para o caso do F4 Phantom abatido é tratar-se de uma «encomenda», para justificar uma intervenção militar na Síria. Mas nesse caso, não vai ser tão «simples» como na Líbia; e os russos não vão gostar mesmo nada dessas mexidas no frágil equilíbrio actual... Esperemos que não sejam prenúncios de mau agouro.

sábado, 23 de junho de 2012

Maquiavelismo de Estado

Antecipando a atenção que as eleições vão despertar no seio da Comunidade Internacional, o estado angolano tem-se vindo a manifestar cada vez mais maquiavélico face aos contestatários. A palavra de ordem parece ser «disfarçar» a verdadeira face do Regime, numa operação de cosmética para «inglês ver».


A repressão ao movimento de contestação dos jovens vem da parte de milícias (supostamente incontroláveis mas com a mão do Regime), instrumento que também começou por ser utilizado contra os promotores originais da contestação dos Antigos Combatentes (AC). Ler notícia

Mas os requintes de malvadez tomam proporções draconianas contra os seus cidadãos: um jovem e conhecido rapper, Luaty Beirão, Ikonoklasta de nome artístico, contestatário do Regime, vendo-se pressionado pelo Estado, quis abandonar o país, o que primeiro lhe foi negado; posteriormente autorizado, apanhou o avião para Lisboa, mas enfiaram-lhe 1,7Kg de cocaína na mala e (pasme-se) a denúncia veio de uma instituição oficial. Ler notícia


Também a detenção do General Silva Mateus, no contexto da repressão dos Antigos Combatentes, seguiu um esquema parecido: acusado de porte ilegal de armas (um general!), conseguiu ainda fazer um telefonema para um outro general, no qual nega veementemente a acusação, garantindo que lhe colocaram a arma no carro, tendo depois sido realizada uma «oportuna» vistoria ao seu carro... Alguém acredita ainda? A hipocrisia parece galopante... Ler notícia Não parece bem... Quem brinca com (armas de) fogo, arrisca-se a queimar-se. Se os AC não levaram as armas para a manifestação, talvez tenha sido por civismo, pois muitos deles guardaram a arma.

Estará José Eduardo dos Santos a perder o pé? Desespero? O fim de uma era? Se o sentimento alastra, os «yes, sir» nos quais se apoia o seu regime vão começar a abandonar o navio, seguindo o seu instinto de ratos...