Numa inqualificável paranóia, assumida pelo Director Geral de Saúde, este deixou claro que houve uma «reunião de topo» (em declarações à Lusa nas quais o tecnocrata dá a entender que terá mesmo colocado o lugar à disposição, reunião na qual eram mais os conselheiros que propriamente os portugueses considerados em risco, que se contam pelos dedos da mão), na qual foi decidido manifestar preocupações «sanitárias» e sugerir à TAP que adie sine die a retoma da ligação aérea a Bissau. Para gente de vistas curtas, esta é a decisão mais confortável. A mediocridade adora imaginar-se protegida por sugestões de «escudos miraculosos» que os colocariam ao abrigo de perigos imaginários. Como o Didinho perguntava, há uns tempos: e se a epidemia for declarada em Espanha, vamos fechar a fronteira? (como somos dependentes de tudo, antes de morrermos do vírus, presumivelmente morreremos, mais trivialmente, de fome) Mas como a Guiné-Bissau é o «elo mais fraco»...
Que a TAP, como companhia privada, venha assumir acriticamente, em comunicado, decisões políticas deste calibre, deixando de explorar uma rota altamente lucrativa e um dos seus destinos identitários e tradicionais (ininterruptamente há mais de meio século) num momento crítico do país, votando-o ao isolamento e encarecendo ainda mais a maior parte dos géneros, é precisamente contra a sua missão (pelo menos enquanto ainda pertence aos contribuintes): a manter-se a dificuldade de acesso a Lisboa, os comerciantes de Bissau terão de procurar outros esquemas de fornecimento, atendendo a rotas e ligações, enfraquecendo assim, não apenas a actividade económica derivada, mas também a relação (anteriormente umbilical) a Portugal. Os correios guineenses, por seu lado, tendo anunciado prematuramente a normalização do correio exterior no pressuposto dessa retoma, serão igualmente prejudicados.
Imagine-se que, em 1975, em plena crise de refugiados do ex-Ultramar, a TAP, em vez de montar uma ponte aérea, tinha simplesmente decidido que «não existiam condições de segurança» (e não existiam, de facto!) para voar. Os ingleses têm meia dúzia de gatos pingados na Serra Leoa e mantêm os voos, com preocupações adicionais de segurança, mas mantêm. Largamente subestimados, há pelo menos três mil portugueses (que já quiseram salvar com a Armada, numa operação fútil que custou aos contribuintes seis milhões de euros - dois mil euros «por cabeça» de português) na Guiné-Bissau e bem mais do que outro tanto, de guineenses em Portugal (dos quais uma parte já adquiriu a nacionalidade). Tudo isto revela muita falta de respeito pela mobilidade das pessoas e pela integridade do espaço «CPLP».
PS Que ninguém se tenha lembrado de informar (já nem digo de partilhar a decisão) o Primeiro-Ministro guineense (que chegou a vir expressamente a Lisboa para tratar deste assunto) é de uma grande falta de ética... Um simples telefonema de pré-aviso tê-lo-ia poupado ao mal estar de ser apanhado de surpresa pelos jornalistas, num assunto sensível e crucial para o país. É que Machete não trata destes assuntos tão triviais como voos civis. Talvez haja ilacções a tirar (em relação a certas «proximidades») por parte de Domingos Simões Pereira.
Há 13 minutos
2 comentários:
Mais papistas que o Papa!
Segundo o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, citado pelo Público, «impor um bloqueio aéreo contra os países da África Ocidental afectados, é algo que “não está sequer em causa”, pois impediria o envio de materiais e de pessoal de auxílio para aquela região.»
A mais forte razão, impor um bloqueio aéreo a um país onde não foi sequer sinalizado qualquer caso, é uma autêntica barbaridade.
Sr. 7se,
É das poucas vezes que estamos de acordo!
Os meus parabéns pela sua opinião que asseguro-lhe, é partilhada por todos, até pela própria TAP!
Vá se lá entender...
Enviar um comentário