A CPLP, que se pretendia uma instituição cultural, está irremediavelmente a perder a poesia.
Ao ser instrumentalizada por interesses económicos pouco claros; ao pretender assumir uma função militar, policial e de controlo da soberania (assumindo foros de ingerência) dos estados membros, para a qual não foi mandatada; ao dar cobertura diplomática, com pompa e circunstância, a representantes de Governos depostos; ao manter aceso um nível de pressão exagerado sobre uma situação que lhe escapou, abrindo assim, legitimamente, caminho a todas as suspeitas acerca das suas reais motivações...
apenas reforça a posição contrária, gerando uma onda de simpatia já manifesta tanto na oferta da Nigéria para ajudar a pagar salários em atraso, como na da França, que se dispôs a ajudar em força aos primeiros sinais de se começarem a resolver os verdadeiros problemas.
Na reunião de ontem, em Abidjan, esta organização continuou a insistir num diálogo de surdos (versão III ou IV). Insistem em incomodar as pessoas, na casa delas, sem acrescentarem nada de novo para além do já estafado ressabiamento da instituição, arrastada assim para a lama da baixa diplomacia... Nota-se um ligeiro barulho de fundo, mas pouco mais. Mais uma reunião? Para quê? Para voltarem à vaca fria? De alto nível? Isso quer dizer o quê? Que Paulo Portas participa? Mas isso então é de baixo nível!
A CPLP deveria estar mais ocupada na promoção da língua portuguesa (ou mesmo no estudo dos vários «crioulos»). Onde estão as estratégias interculturais de real alcance? Onde um intercâmbio escolar significativo? Onde está uma verdadeira cooperação para além do novo eixo Lisboa/Luanda (com participações cruzadas)?
Para não ser fastidioso, transcrevo só os primeiros pontos dos seus objectivos constitutivos, segundo o publicado na página oficial cplp.org:
Igualdade soberana dos Estados membros;
Não-ingerência nos assuntos internos de cada estado;
Respeito pela sua identidade nacional;
Reciprocidade de tratamento;
O pleonasmo no objectivo de promover uma «cooperação mutuamente vantajosa» (pois havia de ser o quê? isso está implícito na própria palavra) apenas demonstra o grande vazio de ideias desta organização, mesmo se decerto nascida de intenções generosas... Fizeram-se a voz de um novo modelo neo-liberal de colonialismo político-económico? A recente postura da organização relativamente à Guiné configura, no mínimo, uma flagrante e grave violação dos quatros primeiros princípios da organização!
Triste. A língua portuguesa é muito traiçoeira, mas não merecia este descrédito. Não haviam necessidades! Note-se que o Brasil se fez representar na reunião, por via das dúvidas...
P.S. Para quando a adesão de Cabinda à CPLP? Sobre os últimos acontecimentos, as sevícias impostas a esse povo nesta nação de língua portuguesa ocupada e esquecida, ver o blog de Orlando Castro (sempre actualizado), seguindo o nexo à direita.
Há 12 minutos
3 comentários:
Please! Please! Ajude-nos!
Ajude! A nós que votamos num Presidente, ainda que morto e substituído, e no Presidente de um Partido para Primeiro-Ministro, ainda que candidato a Presidente.
Ajudeno-nos a nós, um povo que, digam o que disserem, tinhamos um PR, um Presidente da ANP, um PM e uma Presidente do Supremo.
Ajude-nos nesta tumultuosa "Transição Imposta". Ajude-nos a dizer à CEDEAO o que diz para a CPLP:
Igualdade soberana dos Estados membros;
Não-ingerência nos assuntos internos de cada estado;
Respeito pela sua identidade nacional;
Reciprocidade de tratamento.
Contamos consigo.
Gostaria de poder ajudar, mas duvido muito que possa, dada a minha insignificância. Se ler bem os textos que fui publicando, perceberá que era contra (como a maior parte das pessoas em Bissau, segundo um artigo que transcrevi) a chegada de tropas da CEDEAO, compreendendo no entanto que a conjuntura diplomática do momento a isso obrigou.
Neste momento, conforme declarações da própria organização (também aqui referenciadas), o principal trabalho para que foram convocados está feito: chamei-lhe «baby sitting», correu tudo bem, os aviões lá vão, mais a bagagem (toda...), a missão está completa com 100% de sucesso da CEDEAO; deveriam partir já, pois a partir de agora, esse nível tem inevitavelmente tendência a baixar; parece-me que a própria França não deixará de perceber isso e, até como terá de ajudar a pagar a factura, lá verá o que poderá fazer para reduzir esse efectivo; enfim, alguma presença (para inglês ver) terá de ser mantida, pelas aparências.
Quanto à «legitimidade» democrática, se ler o que tenho escrito no blog desde 12 de Abril, verá que bateu à porta errada: não quero (nem poderia, também), ajudar. Essa legitimidade tem limites, sobretudo na Guiné: não pode ser comprada todos os dias, nem andar em cadeiras de rodas compradas no estrangeiro... Para ser mais esclarecedor, sou anti-democrático, julgo que as urnas na Guiné, pelo menos de forma directa, nunca poderão dar bons resultados, yá, já se viu de tudo. Poderia acrescentar, com o risco de me perceber mal, que acho que o melhor sistema político é o daqueles povos que, quando o seu soberano comete erros que põem em perigo a própria sociedade, pura e simplesmente os matam, não por maldade ou inveja do poder, simplesmente como «sacrifício» propiciatório, como troca simbólica, ao mesmo título que um derma tchon, ou um toca tchuru.
Brevemente darei troco (no bom sentido). Mormente no referente à questão da "legitimidade" na Guiné-Bissau.
Entretanto, permita sugerir-lhe a leitura da minha resposta a um artigo de opinião.
http://236043.guestbooks.motigo.com/
Titina Silá
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