quarta-feira, 25 de abril de 2012

Declarações extemporâneas em Assembleia ordinária

José Eduardo dos Santos, que não pediu licença à «sua» Assembleia para enviar Blindados e Forças Especiais para assegurarem os seus interesses na Guiné, mas para «sair» já precisa de se legitimar perante a Assembleia (ordinária)? Mais valia acrescentar à lista de segredos e tabus a conservar. Mas se é para «sairem», para que é que a sua secretária de Estado das Relações Exteriores para a Cooperação, Exalgina (parece nome de medicamento; ah, deve ser terapia do mau hálito: _Não exale, Gina, tanta barbaridade, se tivesse um filho em Bissau não falaria assim...) acabou por declarar que a missão militar de Angola na Guiné-Bissau, MISSANG não será retirada enquanto não for restabelecida a «legalidade» constitucional neste país?

http://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=10857:missang-nao-sai-em-breve-da-guine-governo-angolano&catid=23:politica&Itemid=123

Ora se está extinta, segundo declararam, é incongruente assumir essa posição (e extremamente perigoso). O nível está a baixar: uma posição de força assumida por uma Secretária de Estado? Se se poderia compreender a escolha de uma mulher, numa perspectiva de pacificação, não se compreende é que vão descendo na hierarquia, para tratar de um assunto tão importante para o Presidente (não eleito); qualquer dia aparece o porteiro do Palácio a servir de pombo-correio. Mas estas afirmações não deixam de poder ser vistas como uma provocação. Refira-se que toda a oposição se absteve... Não saem? É que pode demorar um bocadinho a cumprir a condição que querem impor; estão a preparar-se para uma longa estadia na Guiné, pelos vistos...

Presume-se que seja essa mesma MISSANG, já enterrada mas agora ressuscitada, que vai aplicar a terapia proposta por Georges Chikoti (que chacota), ex-UNITA... para a Guiné. Aparentemente a ex-ex-MISSANG passou de novo a estado de prontidão, só espera os reforços da Comunidade Internacional para ir buscar pelas orelhas os chefes desta revolta militar tão veementemente condenada no cenário mundial; ou José Eduardo dos Santos descobriu algum supositório especial para a malvadez dos militares guineenses?

Quanto ao documento pelo qual a aliança Paulo Portas / José Eduardo dos Santos tanto anseiam na ONU, arriscam-se fortemente a que a sua formulação esteja claramente aquém do que esperam. É que o Conselho de Segurança, para além, claro, de Portugal e dos Estados Unidos (veja-se Nota Prévia da declaração da Presidência desse orgão: a declaração não obriga o Conselho) tem mais países... alguns dos quais, aliás, ultimamente muito susceptíveis (gato escaldado da água tem medo) no que toca a mandatos «em branco» ou a redacções demasiado vagas. Face às divagações sem nexo das diplomacias portuguesa e angolana, que têm empregue tesouros de retórica para esconder o osso que têm atravessado na garganta (comâ lobu co sê okessa comê um dia tork oss trabessal na gargante...), o mais provável mesmo é que o Conselho opte pelo bom senso a que se referia Daba, e se limitem à condenação vaga e improcedente da praxe, para não hipotecarem mais o já muito abalado crédito da ONU. Em diplomacia, nunca esperem ouvir um rotundo e terminante «NÃO»; hão-de sempre arranjar maneiras para vos «empatarem».

Talvez possamos dar uma ajudinha, na clarificação da situação: a questão gira em torno da dialéctica (redutível à teoria dos jogos, quanto à forma do emprego da força: passiva ou activa?), muito precocemente e bem apresentada (em nome do Exército português) por sua Excelência o Almirante na reforma Melo Gomes, herói da evacuação, debaixo de fogo senegalês, do Ponta de Sagres, em 1998, desmentindo assim imediata e categoricamente a arrogância belicista de Paulo Portas que transpareceu para os Telejornais que assustou tantos guineenses.

Se houvesse algum conflito local (o que há realmente, foi importado) talvez conseguissem uma força de manutenção de paz; se conseguissem encontrar uma «facção» para organizar em segurança um «comité de boas vindas», talvez fizesse sentido pedirem uma força de interposição; agora, inventarem uma figura que não existe: «força de reposição da ordem»? Parece-me exalar um odor demasiado «activo»; o Conselho não é muito dado a novidades, terão decerto de pedir um parecer a uma qualquer comissão jurídica, de qualquer forma isso arrisca-se a constituir um precedente perigoso, pelas múltiplas leituras que poderiam ser feitas no futuro no sentido de agredir outras soberanias; ou seja, têm muito pouco futuro no Direito Internacional, talvez devessem contratar Daba para vos dar umas explicações. Só a dor de cabeça que seria estudar e detalhar as condições e modalidades de um Mandato desse género...



MISSING MISSANG?

terça-feira, 24 de abril de 2012

Poesia com ALMA

Estão todos convidados para Santarém, no próximo dia 2 de Maio.

O 7ze vai declamar poesia portuguesa, sem microfone, no Bar Xantarim.

Camões, Bocage, Fernando Pessoa, e mais alguns, inseridos numa pequena retrospectiva da «ideia» de Portugal.


Lamentável coro de meninos

Estão a tornar-se cada vez mais patéticas as declarações do auto-denominado «governo legítimo da Guiné-Bissau»: a situação está a evoluir depressa, ainda há dois ou três dias ênfase e esperanças eram confiadamente depositadas no «povo»; agora é colocada na «fortaleza» da unanimidade da comunidade internacional, que, afirmam, «nenhuma força consegue vencer». Em princípio, há dez anos, talvez tivessem razão.

Mas a comunidade internacional tem-se prostituído demasiado: o veto de simples bom senso, pela Rússia e pela China, de uma resolução para a Síria, apenas vem demonstrar até que ponto a  ........  internacional na figura da ONU perdeu legitimidade para a resolução de conflitos locais, sobretudo quando meia dúzia de países desenvolvidos e ricos pretendem invocar uma suposta «unanimidade» (muitas vezes apenas ilusão de propaganda) para atropelarem a soberania de países que não se vergam à sua lei, sem quaisquer regras (nem resultados, diga-se em abono da verdade); quando se perceberá no mundo que a Paz e a concórdia não se constroem com base na hipocrisia, na primazia absoluta dos interesses económicos, mas antes no respeito das regras de não ingerência?

Portanto, nem será preciso responder-lhe, sr. ex-homólogo de Paulo Portas, pois já o fez na própria formulação da sua afirmação. Essa será a maior força da Guiné-Bissau, para a qual se poderá gabar de ter contribuído (pela negativa, claro): ter desafiado com sucesso o mundo inteiro: «_Nem que venham todos». Assim é que é falar: «Vamo-nos deixar de tretas?» A legitimidade do Comando Militar passou a provir, precisa e paradoxalmente, desse desafio à              internacional. A ONU morreu e não foi por culpa dos russos e dos chineses, a CPLP morreu e não foi por culpa dos guineenses. Que essas organizações descansem em Paz, e os guineenses viverão muitos anos também em Paz.

Quanto ao Comando Militar, não estaria na altura de promover a reintegração de todos os elementos das FA com valor político-militar e renovar um pacto de unidade, alargando a sua representatividade e legitimidade no seio das próprias FA, chamando aqueles que se afastaram para as tabancas, nomeando para a chefia um militar claramente não conotado com o apelidado «golpe»? É preciso avançar com um nome... Mas para depois ser respeitado, sobretudo na tropa. Talvez seja altura de deixar de actuar preventivamente, pois o perigo de genocídio balanta foi definitivamente (e literalmente) enterrado. Um sinal de abertura, mesmo mantendo a irredutibilidade das legítimas posições de fundo, seria bem vindo, pois a situação arrasta-se e vai começar o ano agrícola e todos se lembram da kansera, fomi e foronta provocados pela guerra. Como homenagem à mulher guineense, permitam-me que me inspire numa linda canção de José Carlos Schwarz:

Matchu, matchu garandi
Kombatenti di povo
Ma tugas ruma se kargu
pa e riba si tera
No ka djuntu na nada
ma e mas nos na tudu.

Com os devidos créditos a Moema Parente Augel num magnífico E-Livro (só clicar na capa para ler):
http://books.google.pt/books?id=TkP6NAsbQskC&hl=pt-PT

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Legitimidade II

Mais umas reflexões sucintas em termos de legitimidade: o ex-PAIGC não tem qualquer legitimidade para se opor, sem alternativas e praticando a política da avestruz da «cadeira vazia», à normalização da situação, situação essa criada pelo ex-Primeiro-Ministro e presidente desse antigo Partido. Em que deu a governação do ex-PAIGC, desde a Independência? Que desenvolvimento trouxeram para justificar a confiança que o povo em tempos depositou nesse Partido auto-dissolvido? Ao optarem por se auto-excluir do processo político oportunamente em curso apenas revelam a sua fraqueza: parecem crianças, que fazem uma birra porque lhes tiraram o brinquedo, ao ponto de retirarem a confiança política a um militante com uma opinião divergente e de bom senso, que poderia servir de ponte. Parecem infelizmente decididos a cortar todas as amarras com a realidade agarrados a um sonho extinto e a empregos miseráveis. Voltando ao tema: se me perguntassem como classificar o «democrático» reino do seu «campeão» Cadogo Jr, teria de optar por defini-lo como uma cleptocracia. A liberdade de opinião (não de manifestação) que hoje existe na Guiné não se compadeceria com a opacidade dos contratos de cedência do sub-solo (a granel) consentidos... Mas pronto, talvez fosse aceitável viver numa cleptocracia com aparências de democracia, se o brilhante condutor dos destinos da nação se contentasse em roubar metade e fizesse aproveitar os guineenses do resto do maná: mas não, entrega, sem a mínima perspectiva de controlo técnico, todo o sub-solo da Guiné a estrangeiros, sem dar minimamente conta do assunto? Resumidamente: 5% para Cadogo e 95% para os estrangeiros. Não se terá esquecido de alguém? É que surripiar alguns dos ovos de ouro, ainda vá, mas matar a galinha? Pelos vistos deixou-se seduzir pelo modelo angolano de distribuição de riqueza, na pessoa do «carismático» (o nível de hipocrisia induzido pelo dinheiro é tramado) líder José Eduardo dos Santos.

Não: os guineenses preferem reduzir a dose de arroz de pilão, a hipotecar todas as suas riquezas a troco de «democracia» que esses senhores dizem vir implementar pela força das armas. Na Guiné, a legitimidade estará sempre do lado da estabilidade. O que vemos, de um lado, são discursos inconsequentes; do outro seriedade e vontade de resolução endógena, sem violência, do grave problema político-militar com laivos de traição, herdado in extremis do anterior Governo. Fortes da confiança que os guineenses acabarão por depositar numa proposta séria e tecnicamente bem fundamentada de Governo, garantida por uma liderança militar forte e esclarecida, de forma a em pouco tempo dar provas aos investidores, para que possam investir em condições bem definidas de partilha dos rendimentos e das responsabilidades inerentes à exploração das muitas riquezas que todos sabem existirem na Guiné e que poderiam aliviar as necessidades dos seus filhos, as quais, desgraçadamente, não podem ser exploradas por falta de estabilidade. A tropa percebeu que tem de ser ela a garantir isso e está cada vez mais a mostrar uma face humana e confiável; se o conseguir a confiança dos investidores chegará depressa, não sendo sequer preciso apostar em Portugal ou Angola; temos muitos técnicos que sabem russo fluentemente, os chineses também são bastante sensíveis a conversações sobre matérias-primas e recursos energéticos. São também os ordenados da tropa que estão em causa, que nos garantem que o país trata com dignidade os seus militares, é todo um futuro que está em jogo. Revi várias vezes a entrevista do Daba e... não sei: inspira-me confiança, a forma como fala do futuro, parece-me um bom técnico político-militar.

Já alguém pensou que aquele que apontam como o problema do país (as FA) se possa constituir como solução, se legitimado pela nação? Os militares que escolham (e lhe jurem fidelidade) um dos muitos patriotas desinteressados, militares cultos e de bom senso que há na Guiné; não poderá, claro, ser da etnia maioritária na tropa (não é por Amílcar Cabral o ter desaconselhado, mas a mentalidade inerente à sociedade horizontal que deu à Guiné os melhores guerrilheiros do mundo, não se compadece com a chefia do estado). Até por aí vemos como pode ser falacioso falar de democracia em África: imagine-se um país onde há 2 etnias apenas; uma com 51%, outra com 49%; se o voto for exclusivamente étnico, a vencedora das eleições fica com o Estado, beneficia-se a si e prejudica a outra. Nesse sentido, seria muito mais equilibrado implementar uma «anti-democracia» e dar o poder aos minoritários, pois esses iriam de certeza ser mais equilibrados, conscientes da sua situação. Embora a grande diversidade étnica guineense seja a maior herança, é preciso estarmos atentos e não deixar que qualquer confusão nessa área se sobreponha aos interesses de desenvolvimento e de estabilidade, prevenir quaisquer intrigas como as que conduziram sucessivamente à morte ou prisão de vários Comandantes da extinta Junta Militar. Portanto, a Guiné, que já deu exemplos ao mundo, que tem os melhores guerrilheiros do mundo dispostos a defender a sua soberania, torna-se virtualmente inatacável, se todos estiverem convencidos e confiantes numa nova forma de resolver as coisas. Claro que nesse caso, ficaria a cargo dos novos orgãos de soberania definir uma transição (que não para uma «democracia») e qual o período mais adequado para uma estabilização sustentável e internacionalmente credível.

domingo, 22 de abril de 2012

A questão da legitimidade


Como os «intransigentes» defensores da tolerância ZERO reconhecem, cada vez mais pessoas na sociedade guineense começaram a perceber de que lado está o interesse pátrio, passando a apoiar a Junta Militar. A atitude de Pascoal Correia Alves, economista, cuja opinião o Aly acabou de publicar, insere-se nesse jogo de apaziguamento e de redução das clivagens que o PAIGC e os seus esbirros têm vindo a tentar agudizar. Engraçado é que todas as críticas se parecem centrar no 7 de Junho, diabolizado como origem remota da actual situação, recorrendo ao argumento que o sonho e a épica aventura que encarnou desiludiram depois toda a gente na prática. Ora porque não colocar a questão ao contrário e pensar que a Guiné, forte da sua experiência, saberá corrigir os erros do passado, arranjando meios mais equilibrados, bem como étnica e religiosamente representativos, do que uma democracia importada, sem correspondência com a realidade, e sobretudo propensa a ser apropriada por qualquer um? Pascoal pergunta-se (e com razão) que sentido faz este esticar da corda por parte do ex-PAIGC, esta sucessão de manifestos, esta tentativa de irritação do povo contra as forças armadas republicanas? Essa atitude, denuncia Pascoal, só poderá virar-se contra o povo, que é quem paga o preço; haja bom senso, pede… Uma coisa boa nisto tudo é decerto a reflexão política que este «golpe» já promoveu, claramente mais intensa que durante a última e inacabada campanha eleitoral; reflexão política cuja necessidade Pascoal também traduz bem no seu título: Vamos pensar a Guiné-Bissau.

A confiança ganha-se. É o que está cada vez mais a acontecer: cada vez mais gente confia na consistência deste Comando Militar, desprezando as tentativas de intoxicação promovidas pela velha nomenclatura caduca. Mas pensando a Guiné-Bissau, para fazer jus ao título de Pascoal, comece-se por louvar a atitude discreta e proactiva de Serifo, Presidente da ANP, que aí tem precisamente mantido acesa a chama da esperança no diálogo: primeiro nome apontado para Presidente pelo CNT, preferiu declinar e manter uma certa distância, o que manifestou a sua independência e lhe aumentou os créditos na bolsa de uma futura solução (e irritando o ex-PAIGC: um partido extinto não pode tomar deliberações e o acto de retirada da confiança política é ineficaz em democracia, pois os visados não são obrigados a abandonar os cargos para os quais foram indigitados; quem retirou a confiança política foi o povo, ao PAIGC). No entanto, no momento actual, a legitimidade passa pela situação de facto, ou seja pelo poder dos militares: há que chamar os bois pelo nome, para quê disfarçar e vir a ser acusado de hipocrisia? A transição pode perfeitamente ser assegurada por um Chefe de Estado militar, que ouviria para as questões de governação tanto o Comando Militar como o Conselho Nacional de Transição. No CNT, onde o Comando Militar também poderia estar representado, poder-se-ia ensaiar uma diversificação da sua representatividade, no sentido de incluir chefias religiosas, os mais velhos e respeitados, representantes de ONG a actuar no terreno, etc, para além dos já apontados partidos e organizações sindicais, sendo as suas sessões abertas à Imprensa, de forma a permitir que todos os guineenses acompanhassem os debates, num clima de saudável liberdade de expressão e de verdadeiro fórum de discussão dos problemas da Guiné-Bissau e não uma «bolsa» de emprego para desocupados e incompetentes. Faz lembrar Kikia Machu, o romance histórico de Filinto de Barros publicado pouco antes do 7 de Junho, pela boca de Joana, que mesmo emigrada respeita tradições: cumprindo o Choro de 'N Dingui, seu tio, recorda: «A ilusão da Independência durou muito pouco, esfumou-se nos discursos repetitivos dos novos senhores que tudo prometiam, mas nada de concreto acontecia. (...) no serviço reina a incompetência, os chefes percebem de tudo menos do assunto».

G3: um tiro no barco de três



No agressivo contexto da presença, nas imediações das águas territoriais guineenses, de barcos de guerra cujas intenções se desconhecem, torna-se urgente resolver o problema do enclave extra-territorial onde se encontra um contingente com cerca de duas centenas de estrangeiros armados. No velho Oeste, os Xerifes exigiam as armas aos forasteiros que entravam na cidade, para evitar problemas no Saloon, armas que eram depois restituídas à saída.

Com Angola e Portugal a tentarem apagar com gasolina o fogo que atearam, levaram às últimas uma situação já de si intolerável: não parece prematuro considerar o último dia de Abril, dia em que a ONU se pronuncia sobre a Guiné, como um dia adequado para proceder ao desejável desarmamento desse contingente (por uma questão de acautelar a disciplina, talvez devesse ser dada aos oficiais a opção de conservar as pistolas, as quais poderiam apenas utilizar, claro, no interior do perímetro do seu aquartelamento): para desanuviar o ambiente, talvez se pudessem emitir vistos de turismo, garantindo as Forças Armadas a segurança e tranquilidade dos visitantes, e mantendo os seus elementos a liberdade de circulação na capital; talvez até pudessem aproveitar para se associar às comemorações populares do 1º de Maio.

Convém, de qualquer forma, dar-se-lhes o prazo de uns dias para se irem habituando à terapia… na certeza, no entanto, de que deverão respeitar ao minuto o prazo que o Comando Militar decidir para salvaguardar os interesses da Guiné-Bissau e acautelar a calma, a ordem e a soberania nacionais. Aos soldados angolanos em Bissau, por favor, não façam nada de que se possam arrepender, pois os guineenses não têm nada contra vós, mas sim contra José Eduardo dos Santos, que, com um par de duques, parece disposto a fazer All In (e a ser depenado). Cooperem, entreguem as armas e nada vos acontecerá: José Eduardo dos Santos que resolva as alhadas em que se envolve.

Qualquer outra atitude seria despropositada e o vosso sacrifício essencialmente inútil: recomenda-se nesse caso que todos façam um curso rápido de primeiros socorros, com especial ênfase em como fazer garrotes. De resto, para se entreterem, vejam as revistas portuguesas de Dezembro, pois trazem uns artigos interessantes e elucidativos sobre o cinquentenário da queda de Goa às mãos da União Indiana, facto que acabaria por dar o sinal de partida para o arranque da Guerra Colonial em Angola: Salazar, como agora José Eduardo dos Santos, pediu nessa ocasião aos seus soldados o sacrifício máximo… gratuitamente, assim, por arrogância e autismo político? Leiam o que acabou por acontecer… à excepção da lancha Vega e do seu comandante, cujo sacrifício consciente consistiu no ritual de regar com o melhor sangue pátrio o fim de um Império, os soldados preferiram a rendição a uma morte estúpida, inútil e inglória. Tendo em conta a situação, em nada desprestigiaram o exército ou a nação, só Salazar saiu chamuscado…

Por outro lado, José Eduardo dos Santos, o militarista, se calhar tem razão: para a sua mente perversa e mesquinha, talvez seja melhor que morram (tal como pretendia Salazar no seu autismo), em primeiro lugar para desaparecerem as provas da sua própria humilhação, em segundo lugar porque um exército humilhado tem meios para resolver o problema… E aqui temos o magnífico exemplo da Guiné: esta quarta-feira comemora-se o o 25 de Abril; ora o MFA (Movimento das Forças Armadas) nasceu da humilhação que constituiu a retirada de Guiledge e da consciência de a guerra ali estar perdida (ao contrário do que acontecia em Angola): a imensa maioria dos seus capitães vinha de Bissau. E que teriam achado os portugueses se a Quinta Esquadra americana, que largara da barra do Tejo poucas horas antes, tivesse feito meia volta e voltado atrás para «Repor a ordem constitucional» e «Devolver o poder às autoridades legítimas»? Opor-se-iam à ingerência estrangeira com todas as suas forças!

Quanto ao alienado que está convencido que é Ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau (há lá um no Júlio de Matos em Lisboa que julga que é Napoleão), este tem-se multiplicado em declarações imbecis, da qual a mais flagrante é a condenação do 7 de Junho. Borganha! Bu ossa nomi suma lubu. Como é possível que desafie assim o sentir de todo o povo, à época? É o mesmo que diz falar em nome do povo? O mesmo que, num gesto de total irresponsabilidade, pede à população para desobedecer às autoridades militares? Desmascara-se sozinho! Com «representantes» deste calibre, lamenta-se a triste figura a que está reduzido o ex-PAIGC, agora PAGA (o José Eduardo dos Santos); Amílcar Cabral deve estar aos saltos na tumba. Uma vez mais, tal como aliás em 1998, perderam o comboio da história. A infeliz pretensão de representar alguma coisa para além da sua miserável e anti-patriótica incompetência está condenada à chacota. Relembra tristemente a situação de Salazar no fim da sua vida, depois de cair da cadeira, fazendo para a televisão, no Hospital, discursos patéticos e sem nexo, julgando que ainda era Presidente do Conselho. Pois sim. Não se devem contradizer os malucos. O povo guineense saberá distinguir de que lado estão os verdadeiros patriotas.

Felicita-se a atitude da TAP e a sua aposta na normalidade vigente em Bissau. Recomenda-se a Portugal que se iniba de enviar «espiões» no voo previsto para Segunda, pois as chegadas serão filtradas, em Bissau o ritmo é outro e o ambiente é de cortar à faca. Também mandá-los agora, seria a mesma coisa que colocar-lhes crachás ao peito: ninguém quer ir para Bissau para além dos jornalistas… E já agora, permitam-me lembrar-vos que Paulo Portas foi o veículo da publicitação das vossas moradas e telefones pessoais (que raio de espiões, com os dados pessoais publicados nos jornais), numa fuga de informação (de dentro do próprio Governo, ou já não se lembra?) para castigar a atitude «política» de apoio a Nino Vieira, encarnada por certos sectores. Uma vez mais, e sempre, a Guiné. Volta di mundu i rabu di pumba. Parafraseando um ditado guineense, para não estar sempre a falar crioulo «Quem tem rabo de palha não brinca com tição» (até Paulo Portas começou a aprender crioulo para ir falar à ONU; que reconhecimento da identidade guineense! Crioulo na ONU pela boca do tuga. Só por isso mais ficamos devendo ao Comando Militar, por esta saudável dose de orgulho nacional! Nem Amílcar Cabral faria melhor! Em Angola Paulo Portas já não faz isso, lá tem de ser tudo muito mais formal, não é, Senhor diplomata? Respondo-lhe em português que sim, portugueses e guineenses estão juntos na luta por um mundo melhor, mas não será de certeza pela sua mão e agora em crioulo: Nô djunta mon!)

A paciência tem limites




O Porta-Voz do Comando Militar esteve na Sexta-Feira à tarde em estúdio, em Bissau, para participar por vídeo-conferência num programa especial da RTP dedicado à Guiné. Os guineenses, antes de «emprenhar pelos ouvidos» da comunicação social portuguesa, ou de alinhar pelo diapasão do discurso irresponsável do PAIGC, deveriam ver o programa com atenção


e dar graças a Deus por surgirem sempre guineenses à altura nos momentos certos: um simples Porta-Voz do Comando tem mostrado ser bem mais consistente, sério e de confiança, carismático e melhor político que qualquer presidente «democraticamente» eleito nos últimos 20 anos.

Também em 1998, num primeiro tempo, pareceu a muita gente que a razão estaria do lado do Presidente «democraticamente» eleito. Mas a legitimidade democrática acaba onde começa o carácter inalienável da soberania nacional: todos se lembram de como o apelo a forças estrangeiras acabou por desequilibrar a balança e fazer pender unanimemente a opinião pública a favor da Junta Militar.

Se repararem na linguagem corporal de Daba Na Walna, a mensagem evidente é de que a paciência tem limites: o porta-voz foi sempre disfarçando, sob a capa de um discurso aparentemente calmo, a sua forte (e legítima) indignação e irritação quanto à situação: Portugal porta-se como um elefante numa loja de porcelanas; Angola brinca com o fogo… Mas porquê essa irritação? Imagine-se que, no jogo de xadrez, temos xeque-mate em um lance, independentemente do que jogar o adversário; seria irritante se este, enquanto ainda não se apercebeu do que o espera, continuasse a gabar-se de que é muito melhor jogador do que nós…

Caros patriotas do Comando Militar e a todos os heróis das Forças Armadas de quem a Guiné-Bissau se pode orgulhar: neste momento grave da história do país, felicito-vos pelo vosso espírito de sacrifício e pela tarefa que tomaram a peito, desejo-vos força e coragem na defesa intransigente da integridade e da soberania nacional, contra uma agressão externa cujo fito está claramente provado ser, uma vez mais e tal como em 1998, a confiscação aos guineenses dos seus recursos minerais.

Será que alguns guineenses na diáspora acreditam mesmo que a «ajuda» de Paulo Portas é desinteressada e apenas para repor a democracia? Aqueles que se deixarem confundir arriscam-se a um despertar doloroso. A Guiné tem bastante mais recursos per capita que Angola… ou será que acreditam no Pai Natal? É o futuro, não apenas como nação, mas também económico, que está em causa, depois das posições extremas, perigosa e impensadamente assumidas por Angola e depois, a reboque, por Portugal (numa hipocrisia sem limites, um desplante e um descaramento que ofende o verdadeiro sentir universalista português: primeiro iam «salvar portugueses», depois da rápida falência dessa tese; iam para salvar a democracia; depois, como quem vai por aí não vai a lado nenhum, foram para a ONU bater à portas e incomodar as pessoas, que têm assuntos mais importantes a tratar; isto para além de acusarem os guineenses de serem um «Narco-Estado»; contudo, nenhum dos argumentos que apresentam têm a ver com as suas motivações reais… Realmente irritante, não acham?)

E os portugueses, como muito bem lembrou o Porta-Voz do Comando Militar, será que sabem de quem são os petro-dólares que agora José Eduardo dos Santos parece disposto a largar com tanta facilidade, para mover estes mundos e fundos contra a Guiné? São vossos! Vêm de Cabinda, que não pertence a Angola, pois a sua Casa Real assinou em Simulambuco um Protectorado que, ao preservar o seu estatuto de autonomia como Estado (nunca teve o estatuto inferior de colónia, como Angola), torna nulo qualquer acto de cedência de soberania não previsto. Foi entregue um cavalo de raça a Portugal, que não deu dele boa conta, e pior, o sujeitou a um burro.

Em vez de intimidar civis na Guiné, Cabinda seria um objectivo militar bem mais glorioso para a esquadra portuguesa, que os delírios neo-colonialistas de Paulo Portas condenaram à inactividade nas proximidades da Guiné (podem sempre dedicar-se à pesca, o peixe é bom!). É que lá em Cabinda, ao contrário da Guiné, há um conflito (ainda há pouco tempo o Ministro da Defesa foi morto pela guerrilha no assalto a uma coluna militar governamental), podiam interpor-se primeiro, devagarinho, depois logo viam como corriam as coisas, já lá tinham um pezinho… Logo a seguir repunham a paz, dando uma valente tareia nos criminosos dos angolanos que por lá andam a violar as mulheres, e pronto, resolviam o vosso défice energético (olhem que é uma boa parte do todo). É um plano bem mais fácil de concretizar do que aquele que, por desespero de causa, ainda não fizeram para Bissau.

Quanto ao problema da desmobilização dos excedentes das Forças Armadas talvez se possa resolver com a colocação de uma Força Expedicionária de Guerrilha Guineense em Cabinda. Lá se iam 80% do rendimento do coitado do Zé Diabo! Mas, para já, há um assunto pendente mais actual: que resultado, para além de uma desgraça para o seu lado, espera obter José Eduardo dos Santos? Já fez contas à vida? Acha que os angolanos lhe perdoam? Já encomendou 200 caixões? Já preparou uns cartõezinhos debruados a preto para enviar às mães da parte da presidência? Não acha que está a ficar cada vez mais isolado?

Por fim, parabéns ao Comando Militar, na pessoa do seu Porta-Voz, pela paciência que têm demonstrado! Que prova de civilização: os fortes são serenos. Noutro lado qualquer, depois dos ultrajes sofridos, os responsáveis já estariam enterrados. Esperemos que Angola e Portugal não tomem a paciência e benevolência por prova de fraqueza, pois ela parece estar realmente a atingir o seu limite, face a atitudes tão pouco propositadas e sem dignidade. Será que, depois de acabarem aí com o serviço, não podiam dar uma ajudinha para varrer também Portugal do lixo de políticos que, desde há mais de três décadas, lhe tem sugado a seiva? Voto nessa.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A verdade sobre a Guiné-Bissau


O que está realmente em jogo, perguntam-se os portugueses, face ao discurso arrogante e belicista de Paulo Portas? Estranham todas estas movimentações diplomáticas em torno da Guiné, de Angola, a CPLP, a ONU, a OUA, a CEDEAO… Porquê este esforço todo para «repor a democracia»? Será mesmo isso que está em jogo? Não. De certeza que também não é para salvar os portugueses que nunca foram incomodados. Mas então o discurso de Paulo Portas será pura hipocrisia? Que irresponsabilidade! De facto, ofereceu-se para ir «salvar» 200 angolanos das «garras» dos guineenses. e agora está aflito e manietado, exposto ao público opróbrio e terá de engolir a seco as secas palavras que endereçou aos guineenses.

Na realidade houve apenas uma movimentação militar sem qualquer efusão de sangue (nem sequer novidade, apenas um remake de um facto inteiramente decalcado, há dois anos atrás), a ordem e segurança públicas estão agora asseguradas, bem como uma transição política e pacífica.

Gostaria apenas de lembrar que as autoridades de facto na Guiné já fizeram claramente constar que não aceitam a presença, neste contexto, de qualquer força estrangeira em território nacional, advertindo que qualquer intrusão terá resposta militar. Qualquer agressão inconsiderada sentida em território guineense, decerto agravará substancial, senão mesmo irremediavelmente, a já de si pouco famosa situação do contingente expedicionário angolano in loco.

Um eventual desembarque, a tentativa de criação de uma testa de ponte, para além dos riscos implícitos e dos imponderáveis maiores que se lhe adivinham, transformaria o contingente no terreno num perigo militar à retaguarda, que se tornaria absolutamente necessário eliminar, dando origem ao seu rápido desarmamento compulsivo, que esperemos, se tiver mesmo de vir a acontecer, possa vir a ser realizado sem derramamento de sangue.

Claro que não há arroz que chegue no Hospital, nem condições de garantir essa logística para tanta gente, obrigando a que a sua alimentação tenha de ficar a cargo de Angola, pelo que, por considerações humanitárias, decerto se toleraria a criação de uma ponte aérea para esse fim, se forem solicitadas as devidas autorizações às entidades competentes, evitando assim uma tragédia humana de maiores proporções.

Talvez esteja na hora de o Ministro português adequar as suas expectativas neste caso, à sua capacidade militar (e poder para a empenhar), num cenário confuso e sem nada em jogo (pela positiva) para o seu país. Ou então assuma, ponha-se à frente dos marinheiros, leve-os atrás e vá conquistar África de volta; se a nação já não estava muito convencida quanto à oportunidade de Alcácer Quibir, duvido que o siga nessa duvidosa aventura, tal como o exército, aliás, a quem agora pede (a troco de um reles ordenado e de falta de respeito) para serem mártires de uma causa alheia (e perdida). Esperemos que prevaleça o bom senso e que a cegueira e autismo de que tem vindo a dar provas não empurrem Portugal para um impensável desastre.

E mais: aconselha-se-lhe a leitura dos velhinhos manuais de estratégia. Admitindo, pelo absurdo, que os guineenses eram apenas meia dúzia de oficiais sem controlo efectivo sobre a tropa, sem meios militares eficazes, estaria a fazer um primeiro erro de subestimar o adversário: mesmo que o adversário seja uma pulga, deve ser sempre considerado como um elefante; mas pior, estaria a fazer uma coisa altamente desaconselhada: nunca se encosta ninguém à parede, senão desperta-se-lhe a propensão para lutar até à morte… Já Sun Tzu recomendava prudentemente que nunca se fechasse completamente um cerco; há que deixar sem vigilância um carreirinho por onde, pela calada da noite, os sitiados se possam escapar sem glória.

Manobras de manipulação

Anda a circular em Portugal uma «convocatória» assinada pelos «cidadãos guineenses residentes em Portugal» convocando uma MARCHA INTERNACIONAL PELO RESPEITO AO POVO GUINEENSE, convidando ainda todos os «amigos» lusófonos. Esperemos que seja desmascarada esta manobra de manipulação visando apenas dar uma ideia de «unanimidade» (depois da triste votação na Assembleia da República Portuguesa, das declarações infelizes de Mário Soares em nome da CPLP,  das declarações de Paulo Portas na ONU, «condenando» - por unanimidade, claro está - a Guiné ao «isolamento», UA, CEDEAO, etc). É abusivamente que os promotores assinam genericamente «cidadãos guineenses residentes em Portugal»... São sim, provocadores, estranhamente associados a uma ONG portuguesa financiada por fundos comunitários... Muito estranho, senão mesmo suspeito. Agora querem transformar os guineenses que vivem tranquilamente em Portugal em marionetas? Respeito pelo povo guineense seria, sim, realizar uma MARCHA PELO DIREITO À NÃO INGERÊNCIA DO POVO GUINEENSE. Caros portugueses e verdadeiros amigos da Guiné: impõe-se desmistificar estas provocações e não colaborar ou participar, deixando-se abusar na sua ingenuidade e boa vontade, na hipocrisia em curso que só pode prejudicar a Guiné, mas antes denunciá-las e combatê-las, de forma a que nenhum guineense participe nesta farsa, a soldo de obscuros interesses e da cegueira e estupidez da actual classe política portuguesa, que pelos vistos quer arranjar uma guerra para tapar os olhos aos seus concidadãos, em relação à desastrosa situação do país.

PAIGC muda de nome


Paulo Portas anda pelo mundo a implorar que o deixem meter o bedelho na Guiné. A política internacional faz-se de realismo, de pragmatismo, e não de ameaças que não podem ser cumpridas. Parece-me legítimo e actual manifestar curiosidade quanto à forma como pensa «conquistar» a Guiné-Bissau (já agora, também, como pensa mantê-la…). Está-se a ver o cenário idílico que vai na sua bucólica mente: os barcos portugueses desembarcam os angolanos, estes matam toda a gente que encontrarem pelo caminho, fazem a junção com a MISSANG, instalam-se em Bissau e vivem todos felizes para sempre.

A independência da Guiné-Bissau custou muito suor e lágrimas, se os angolanos são hoje independentes, devem-no essencialmente à luta do povo da Guiné-Bissau contra o colonizador. Ninguém vai deitar fora essa independência apenas porque, um dia, Paulo Portas o novo campeão da democracia no mundo, acordou mal disposto.

José Eduardo dos Santos continua a fazer charme, desta vez convidou Durão Barroso para o Planalto. Na Guiné, o único Planalto são as colinas de Boé, onde nasceu a única Independência uni-lateral africana, exactamente sete meses antes do 25 de Abril. E os angolanos vão dar-se boé da mal, se insistirem na desaforada afronta: estão dispostos a sacrificar a MISSANG? E o exército português estará mesmo disposto a cumprir ordens imbecis? Lamentável…

É que, da parte do Comando Militar, para além da humildade, dignidade e bom senso que tem caracterizado a sua actuação, não duvidem da sua determinação e capacidade para impedir a «internacionalização» da Guiné-Bissau: hoje poderia ser muito bonito, mas amanhã? Quem deseja ver o seu (pequeno) país invadido por uma mole dessas? Aliás, conforme já esclareceu o Comando Militar, através do seu porta-voz, foi precisamente esse o único objectivo do «Golpe»; estas movimentações vêm apenas confirmar a posteriori a veracidade das apreensões que o motivaram, ou seja que o ex-Primeiro-Ministro, depois das várias intrigas que promoveu, dos vários complots que dirigiu e assassinatos que comanditou, estava a orquestrar uma invasão estrangeira do seu próprio país contra a sua hierarquia castrense.

O PAIGC, pelos vistos, vai ter de mudar de nome, por contracção das siglas para PAGA (Partido Africano da Guiné e Angola). Tirem Independência do nome do Partido e depois então façam declarações irresponsáveis, pois ofenderam a memória independentista da Amílcar Cabral, quando, num claro gesto de desafio interno, ousaram apelar à invasão e agressão externas: é a dissolução de uma grandiosa ideia; no entanto, antes a dissolução do Partido, que a do País. O novo Presidente e ex-militante decerto poderá ajudar a esclarecer todas estas questões, calmamente, claro, no quadro de um retorno à normalidade civil e no contexto de inequívoca liberdade de imprensa, com a reabertura das rádios (gostaria de acrescentar: «e com a devolução ao Aly do material apreendido»).

Paulo Portas, perdeu todo o contacto com a realidade e encontra-se em plena espiral esquizofrénica: ameaça, tentando engrossar a voz de menina, a torto e a direito, tudo e todos; julga que as palmadinhas nas costas que pelo mundo fora lhe têm dado, «incentivando-o» a avançar, são outra coisa para além de hipocrisia… Dom Filipe II de Espanha fartou-se de dar dessas palmadinhas ao seu sobrinho D. Sebastião: «Queres levar a guerra para África? Vai, vai…». Ninguém, pura e simplesmente, o leva a sério (mas também ninguém lhe vai dizer isso). O facto indisfarçável é que não tem meios: os guineenses se for preciso, aguentam mais de um ano a comer apenas um pouco de arroz, mancarra e banana; já Portugal não tem orçamento que suporte um simples «bloqueio» do Porto de Bissau por mais de um mês.

Engraçado é o resultado de uma hipotética comparação da Guiné com Angola: se o que actualmente se passa na Guiné se passasse em Angola, já os portugueses que lá moram estavam todos em campos de concentração… Isto apenas para que se dê mais valor à presença lusa na Guiné e não seja um Ministro claramente doente que a desprestigie gratuitamente, pois tem pelo menos cinquenta anos a mais que a amizade com todos os outros PALOP, já dura desde Afonso o Africano, em meados do século XV! Os guineenses não são tão susceptíveis quanto os angolanos, mostrando que ultrapassaram (melhor, que nunca foram sujeitos) melhor os traumas do colonialismo; mas não lhes pisem os calos!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Novo Xerife ou erro crasso?

Se bem que a coberto de boas intenções, a promoção de um dissidente do PAIGC (mesmo tendo-se individualizado e desmarcado a tempo) marca, pela negativa, a ausência do próprio Partido maioritário na nova agenda política, como se se quisesse colmatá-la, revelando-se um gesto mais de fraqueza que de afirmação.

Os mentores falharam decerto a melhor opção: no entanto, a cama estava preparada; todo o discurso do candidato que entregou a candidatura no último dia, assumindo-se como continuador da obra de Malan Bacai Sanhá contra Cadogo, deixava presumir que trazia uma carta na manga. Esta agenda parece-me evidente e maquiavélica demais.

Talvez, na sua génese, o plano tivesse a sua plausibilidade. No entanto, desde que foi pensado, a situação evoluiu muito. Temo dizê-lo, mas, na minha opinião, o Comando Militar, na sua responsabilidade colectiva, se estivesse preocupado com a integridade territorial, com todas as possibilidades agressivas que se perfilam no horizonte, ressuscitava Ansumane Mané, rememorava a gloriosa Junta Militar que reafirmou a identidade guineense, a qual, se etnicamente não existe, política e continentalmente, para além de ser uma paideia, constitui, como se viu no momento, um factor de ponta na mentalidade do sub-continente, qual David desafiando Golias...

Para quê esta submissão? Por quenão uma afirmação pura e dura?

Reviravolta na CEDEAO

Reviravolta e (apenas) a primeira humilhação para Paulo Portas. A CEDEAO deverá reconhecer dentro de poucas horas o novo Estado guineense: na sequência da delegação de alto nível enviada, impressionados com a dignidade da recepção a que tiveram direito em Bissau, com a disciplina, a unidade, o rigor e o aprumo do Comando Militar, os nigerianos, que também aspiram ao estatuto de potência regional, e não estavam nada a ver com bons olhos o expansionismo angolano para norte do ecuador, e muito menos agora forças europeias a voltarem para África sabe-se lá com que intenções, decidiram: qual democracia, qual carapuça: estes homens estão decididos a salvar a sua independência!

Na mesma altura, Paulo Portas tenta mover mundos e fundos para a sua guerrinha de algibeira, que não passará disso mesmo, um arrufo inconsequente. Não acha que está a esticar a corda? Senhor Primeiro-Ministro de Portugal, está na hora de demitir este autista e irresponsável antes que faça mais asneiras. O discurso está a perder todo o contacto com a realidade: primeiro queria uma força de interposição onde não havia ninguém à briga (claro que é lamentável a morte do cão do ex-primeiro ministro, ninguém diz o contrário); agora quer uma força de reposição da paz (???) para onde não há outra guerra senão aquela que para lá pretende levar... Já os militares portugueses, julgo que têm uma autonomia profissional que lhes permitirá dizer um «Não» terminante aos seus (ir)responsáveis políticos.

Talvez agora percebam as declarações de Passos Coelho no Montijo, que tão mal caíram, por serem tomadas num sentido abstracto e genérico: não, o senhor Primeiro-Ministro não estava a falar em termos genéricos e filosóficos, mas em termos muito actuais, de venderem as carcaças a troco de dá cá aquela palha: a constituição não obriga a uma autorização para declarar guerra a outro país? Recusem-se a alinhar nesta estupidez, sem honra nem glória, que só pode envergonhar os quase novecentos anos de história militar do exército; caso contrário, se de lá voltar algum, vai direitinho para o manicómio; perguntem aos mais velhos...

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Fuga para a frente



Despudoradamente, embora já tenha percebido que errou, Paulo Portas optou pela fuga para a frente. Ao contrário do Rei de Espanha, que é quem é, e depois de errar, não teve dúvidas em pedir desculpa, insiste em levantar a voz: não está, senhor Ministro, em posição de levantar a voz em direcção aos guineenses. Irrite-se consigo próprio pelo beco sem saída em que caiu. A enumerar condições quem apenas deveria ouvir? Está em coordenação com o seu mentor e padrinho do hemisfério Sul? Julgo que neste momento, o discurso não é adequado: como é que ele encomendou as postas? Fininhas? São para assar ou para fritar? Quanto aos tugas, não é preciso descarregarem mais carne branca para aqueles lados, a que já está no frigorífico em Bissau chega para muito tempo, se calhar até vai dar para enjoar meio mundo. Portanto vamos lá a ver se traçam bem os cenários, se se informam do que é que estão a fazer. Não se espicaça o leão com a vara curta.

Mas num ponto, senhor Ministro, bateu os guineenses aos pontos, temos de confessar; é quando se refere ao «legítimo» Ministro dos Negócios Estrangeiros: ahahahahah... Agora a legitimidade guineense é decidida no seu gabinete. Mais uma ofensa imponderada aos guineenses: tem lido as declarações da sociedade civil? Está a começar a tornar-se odioso. Já morreram 5 crianças por causa de si...

Finalmente foi publicada a principal peça da acusação, obrigado Aly!: O ex-PM assume o documento? a assinatura e a rubrica correspondem? Galinha ta guarda si frangas bas di si asa. Estamos perante um apelo indecente e indecoroso, sem dignidade, formal onde deveria ser sentimental, que apenas reflecte o desespero de alguém agarrado ao poder, a todo o preço (talvez tivesse vendido a pele do urso antes de o ter morto...). Nenhum líder se pode apoiar em forças estrangeiras: e na Guiné havia um exemplo recente, Nino aprendeu-o à própria custa; escrever uma carta destas, demonstra apenas autismo e estupidez. Devido às drásticas consequências que daí advieram, convenhamos que merecia ser executado graças a uma condenação sumária num tribunal militar de excepção, por alta traição, agravada pelo cargo que ocupava; mas felizmente na Guiné, não mais se quer dar o exemplo da guerra, mas sim o da tolerância. É engraçado que aquilo a que chamam «Golpe de Estado» se resuma à prisão do Primeiro-Ministro, feito sem outro sangue para além do canino que não se calava.

Reportagens & Mensagens

Francisco Fadul, a residir actualmente em Portugal, acaba de dar uma entrevista ao Expresso felicitando o Comando Militar pela forma decidida como resolveu a perigosa situação que se vivia em Bissau antes da sua actuação, poupando aos guineenses outras confusões mais graves.

O «Expresso de Bissau» está sem meios de reportagem e lançou um S.O.S. Realmente, fazem falta as imagens a que o Aly nos vinha habituando. Julgo que a entrega de todo o material ao jornalista, um pedido de desculpa pelo excesso de violência empregue, seria decerto considerado um gesto de boa vontade, contribuindo para reforçar a sua imparcialidade e o corajoso e bom trabalho que tem vindo a desenvolver.

José Eduardo dos Santos continua a enviar cartas secretas por Ministros... segundo a própria Angop: desta vez ao seu homólogo do Benin, Thomas Yayi Boni, que preside actualmente à União Africana, sobre a situação na Guiné-Bissau. Engraçado que, mais ao menos à mesma altura, o porta-voz do Comando Militar, acusava-o de ter usado esse procedimento pouco adequado na Guiné-Bissau...

Quanto ao triste e senil Mário Soares, por favor não faça mais figuras tristes nem propaganda em torno deste assunto pois não prestigia de maneira nenhuma o país: a CPLP não aprovou nada por «unanimidade» pelo simples facto de que a Guiné não tem presentemente representante legítimo e a organização ainda não expulsou ou suspendeu a Guiné.

Exemplo de humildade para Paulo Portas


O Rei de Espanha, muito contestado internamente por, em tempos de crise, ter efectuado uma caçada ao elefante no Botswana, onde acabou por fracturar a bacia, fez questão, num gesto inédito e sem precedentes na monarquia espanhola, de pedir desculpa ao povo em termos muito lacónicos. «Sinto muito. Equivoquei-me. Peço desculpa ao povo espanhol. Não voltará a acontecer.» Não lhe caíram os parentes na lama: pelo contrário, recuperou mesmo uma legitimidade abalada.

Caro Ministro Paulo Portas, é em nome do respeito que lhe tinha antes de se tornar um mau político, quando era um bom jornalista no Independente, que lhe peço encarecidamente que caia em si, que se deixe penetrar pelo bom senso, que retire a força que infeliz mas reconhecidamente desperdiçou, que vá até Bissau pedir desculpa aos guineenses por os ter alarmado com sugestões de que os portugueses iriam «atacar» a Guiné-Bissau, conduzindo ao êxodo, muitas vezes em condições infra-humanas, para o interior. Já agora, peça também desculpa ao exército português pela sua incompetência política e inépcia diplomática. Se a consciência ainda em si tiver parte, retire as devidas ilacções e demita-se, como a decência recomenda, tal como, aliás, recomendou em tempos a outros por bem menos que esta palha: apresente-se no altar da pátria para ser degolado como borrego expiatório, sacrificando-se pessoalmente para poupar ao país as consequências desagradáveis do seu impensado e infeliz gesto.

Moral da história: mais vale usar de humildade que vir depois a ser humilhado.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Humildade, precisa-se

O Presidente de Angola já deve ter percebido: os tugas roeram a corda no que toca a darem o corpinho ao manifesto por um assunto que não é deles... ora outra coisa não seria de esperar, pois, senhor Presidente, as suas expectativas eram demasiado elevadas, fez o erro de sobreavaliar a disponibilidade de Portugal, aferindo-a apenas com base nas palavras do Ministro Paulo Portas (uma coisa boa, pelo menos por uma vez, agora que precisavam, deram crédito aos portugueses - exagerado, pelos vistos - mas perdoe ao senhor Ministro, senhor Presidente, pois em criança tinha um fetiche por soldadinhos de chumbo, mesmo se mais tarde se baldou ao SMO; é o ambiente de QG que o excita) e o bluff fez pufff logo à saída do Alfeite; foi tudo um pouco mal feito e conduzido, pelo lado político e diplomático, delapidando um capital de confiança, o qual, explorado com as devidas reservas e distâncias, poderia ter ajudado a resolver a crise no seio da CPLP, em vez de a agravar. Em Conakry também adiaram a consolidação da forte e recente amizade que Angola benevolentemente descobrira pelos nossos homopatrínimos do Sul. Quanto à democracia, vejam lá se não se enganaram na Guiné que escolheram, pois há três e esta é a mais afastada: se a ideia é invadir o continente, talvez possam começar pela que está aí mesmo ao vosso lado... É que Bissau é pequeno, não chega para a cova de um dente e os guineenses são duros de roer. A isso chama-se ter mais olhos que barriga. Encontra-se assim outra vez na estaca Zero, sem ninguém para lhe acudir em tempo útil.

Egas Moniz foi tutor de Afonso Henriques (há quem defenda mesmo que era o seu próprio pai), e ficou conhecido na história de Portugal pela célebre «humilhação» a que se sujeitou a si, à mulher e aos filhos, ao entregar-se com uma corda ao pescoço para compensar o Rei de Leão, a quem o infante de quem era aio prometera uma vassalagem que não era oportuno concretizar: como ficara fiador da promessa, sujeitava-se ao inimigo, pagando com a sua vida e dos seus. Na corte de Leão, passada a primeira surpresa com o gesto, conhecendo a irascibilidade do Rei, todos esperavam um desfecho rápido e violento para esse desplante do português; mas o Rei, graças a Deus, acalma, tem um lampejo de magnanimidade e perdoa-lhe, trata de gasalhá-lo e manda-o de volta para o seu Rei com grandes elogios, e, virando-se para os seus súbditos, suspira: «_Tivesse eu meia-dúzia destes.»

José Eduardo dos Santos deveria mandar aprontar o seu jacto pessoal, pedir autorização para aterrar em Bissalanca, sugerir uma entrevista à TV guineense, assumir a responsabilidade pelo deslize da sua política externa, pedir desculpas a todos os guineenses por aquela que acabou por configurar ou, pelo menos, parecer (à mulher de César, não basta ser séria, tem de o parecer), uma ingerência externa nos assuntos internos da Guiné-Bissau; para não deixar contas por saldar, clarifique e quantifique os interesses angolanos na Guiné-Bissau, predisponha-se a ver anulados todos os contratos que eventualmente tenha assinado, que não sejam transparentes para todos os guineenses (pois estes querem legitimamente saber - e controlar - para onde vão parar os frutos da sua terra, não querem uma cópia deslavada - quanto mais imposta à força - do modelo angolano: torna-se realmente difícil discernir quais as suas vantagens).

Já agora, não fique ressabiado e mantenha a sua disponibilidade para colaborar com o povo guineense na base de um entendimento de igual para igual, de forma bem clara e transparente quanto aos objectivos, e sempre em prol da Paz e de um Desenvolvimento sustentável para o Continente. Um mea culpa sentido (sem exageros de retórica) não o desprestigia, senhor Presidente, antes pelo contrário, mesmo em termos internos, mostraria o seu lado humano de grande estadista. Ninguém vai notar grande coisa (no mundo ninguém está a perceber nada, de qualquer forma, desta situação), a coisa resolve-se sem ninguém se magoar e fica tudo amigo outra vez. Não custa nada: sai-lhe imensamente mais barato que qualquer outra opção. Rezo sinceramente para que o pragmatismo que sempre o orientou, o possa agora iluminar e guiar neste passo complicado da sua carreira. Vai lá, leva consigo as tartarugas de volta para casa e para as mães, e esta história tem um final feliz.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Kakre na Guiné - Cancer en Guinée

Fechou-se a tenaz. O território está selado. A ameaça paira. Será que agora José Eduardo dos Santos já se apercebeu do que o espera? A sua oposição, sim. Já exigiram a comparência no Parlamento, do Ministro que teve o triste comportamento em Bissau. Cheira-lhes a sangue. Bem sei que não é o de JES, como desejariam (ou da sua família: porque não manda para estas coisas os sobrinhos e afilhados? ...pensam os angolanos), mas a humilhação internacional parece motivo suficiente para rufarem os tambores, depois da cagança que a nomenclatura quis ostentar... Entradas de leão, saídas de palanca. Claro que o referido Ministro, bem como o Embaixador, acabarão por pagar com o cargo: desde já uma nota de desagravo; de simples vítimas da situação passarão rapidamente a bodes expiatórios.

A libertação do cidadão guineense (retirado do seu domicílio na Quinta-Feira e retido pelo Comando Militar) tão insistentemente solicitada pela comunidade internacional parece estar por um fio: condicionada apenas, claro, a uma pequena formalidade: a sua demissão; de um cargo que desonrou e de outro para o qual já não tem qualquer legitimidade, traduzindo nesse acto o saneamento tranquilo de uma situação na qual tem grandes e iniludíveis responsabilidades. Julgo que, nesse caso, em vez de lhe designar residência compulsiva ou de o proibir de deixar o país (também, como?), a sua experiência deveria ser reconhecida e ser convidado para Ministro (parece que não vai haver disso no novo regime, apenas Comissários) da Educação ou da Saúde; seria uma outra forma de dar um sinal ao exterior de coesão interna; e Cadogo deveria pensar seriamente na proposta, neste momento a Guiné precisa de todos os seus filhos.

Já a actuação de Portugal não está ainda completamente comprometida. A colagem a Angola parece ter sido desmentida pelas declarações extemporâneas do Primeiro-Ministro, à hora do almoço, garantindo que não está implícita nenhuma ameaça, no envio da Força (então para que a enviou?). Acordou agora, caro Primeiro? Também o Almirante Melo Gomes, com o saber de experiência feito (estava no porto de Bissau em 1998) insistiu em frisar que está fora de questão qualquer intervenção activa. Senão iria parecer que na tropa, contentes com a oportunidade para demonstrar a sua «utilidade» e contrariar o downgrade de 40% no respectivo orçamento, se tinham apressado a dizer que sim, sem saberem muito bem a quê... Os camiões que se viam passar numas imagens da televisão portuguesa, com peças de 85mm atreladas, não andavam a passear-se para serem filmados à sucapa de um segundo andar... Não queiram experimentar a pontaria dos guineenses pois os últimos que o fizeram, os senegaleses, deram-se mal.

Depois da inoportuna diabolização de um avião de transporte, eminentemente «civil», como o Orion, transformado pela propaganda desadequada de Paulo Portas num terrível avião-espião, não se confundam relativamente a uma suposta «abertura» do espaço aéreo: isso refere-se apenas à normalidade que se pretende conservar em Bissau, no sentido também de não prejudicar a TAP, que é uma companhia comercial (e tem nessa carreira uma linha bastante lucrativa); dificilmente essa «abertura» pode ser entendida como beneplácito para voos não autorizados por quem de direito. Portanto, parece um risco inconsequente tentar fotografar as posições da artilharia guineense, pois primeiro, felizmente, ainda há muita gasolina em Bissau (ainda ontem abriu um novo posto de combustível) e podem sempre ir mudando de localização, e além disso os guineenses não acreditam em OVNIs, ou seja, se insistirem em tão insensata «missão», estejam alerta, com os flairs na mão, não vão os guineenses ao Museu da Guerra Colonial e descubram algum Strella não muito podre; ah, e se virem um MIG, não se assustem (muito), porque em princípio, segundo informações com mais de dez anos, os guineenses não têm nada para o armar (a não ser que as providências junto da Ucrânia por parte do Chefe de Estado Maior da Força Aérea, à época da Junta Militar de Ansumane Mané, no sentido de colmatar essas carências, se tenham revelado frutíferas). Por via das dúvidas, recomenda-se aos tripulantes que se untem bem com repelente, pois o ambiente é um pouco hostil: a terra está cheia de canibais, os rios de crocodilos e o mar de tubarões. Consulte-se também, já agora, o breve apanhado de armas e munições que os russos deixaram, publicado ontem na internet,

http://movv.org/2012/04/16/estado-das-forcas-armadas-da-guine-bissau-exercito-marinha-e-forca-aerea/

Uma coisa são as missões de Paz a que o exército português já se habituou, isto não é bem a mesma coisa...

Agora não há mais nada a fazer senão desenganar o recém constituído galifão da política internacional acoitado nas necessidades... Não faz qualquer sentido o pretexto apresentado de «salvar os portugueses» (o repórter da RTP bem tenta fazer-lhe a vontade, incentivando as pessoas a irem ao Consulado, mas não viu nenhuma por lá, só estava mesmo ele... aliás, a reportagem efectuada a esse propósito foi esclarecedora: ninguém quer ser «salvo») porque não vai à televisão e explica aos portugueses o que está realmente em jogo? É tabu? Há na Guiné um ditado que diz: Ku mati garafa na jugu di pedra, s'i ka kebra ki misti? Também é válido, claro, para Angola; traduzindo a moral da história: não te metas nas contendas alheias, pois mesmo sem motivo, podes magoar-te. Sr. Ministro: se Angola tinha um problema grave nas mãos, não valia a pena ir-se lá inscrever para o castigo, arrastar todo o país com o seu masoquismo. País que anda a mendigar pelas instâncias internacionais não abre assim o erário público a despesas militaristas, aventureiras... e inúteis (esperemos que o bom senso dos militares prevaleça e não se tornem desastrosas).

Na boca ficadu i ka ta entra mosca. O Ministro dos Negócios Estrangeiros português não apenas caiu numa «armadilha» ao «unir» os seus esforços a Angola «na procura de uma solução»; como falou demais quando a situação aconselhava contenção, discrição e, sobretudo, distanciamento de Angola. Agora é tarde e já está «agarrado à carroça» ou «pregado na cruz»: tem uma Força de Inacção, Lenta e inutilizável, que vai ficar a coçar a micose em Cabo Verde. Um navio mercante, desarmado, mas com gente decidida, teria um valor muito maior, neste contexto: que o diga o senhor Almirante. Talvez valha a pena pensar em carregar um cargueiro com comida não perecível e água engarrafada: para além de eventualmente poder servir para aliviar minimamente uma sempre possível crise alimentar, sempre me parece um pretexto melhor (e infinitamente mais barato, acrescente-se) para ter ali à mão, com a vantagem de ser considerado um gesto de boa vontade, impedindo a espiral gratuita de promessas violentas a que se tem assistido; nem é preciso ir roubar a comida aos pobres, ou ao Banco Alimentar, apresente a conta ao seu amigo angolano, que o meteu nesta embrulhada. Quem não pode ser leão, não lhe veste a pele.

Dizem que o caranguejo anda para trás... mas é impressão. Do cardápio comunista constam algumas bocas interessantes, no campo da estratégia: uma delas é decerto que, às vezes, «é preciso saber dar um passo atrás, para poder dar dois à frente». Kakre, caranguejo são signos do Zodíaco, cancer, mas é a designação guineense que mais se aproxima de cancro. A Guiné já foi uma vez um verdadeiro cancro para o exército (e para o regime) português. É que os guineenses podem ser pobres, mas são tenazes.

Não Vaz por aí, Fernando


As reuniões dos partidos (com e sem assento) na Assembleia da República, à margem da ilegalidade constitucional que representam, revelam, neste contexto, uma grande maturidade política. No entanto, o seu Porta-Estandarte, esquivou-se a revelar a sua abrangência e representatividade, pois falou-se de partidos a abandonarem os trabalhos: isso também não é o mais importante, mas sim uma presença política não militar nesta situação. As intenções apresentadas parecem claras: assumir a demissão do governo, presidente da república, bem como a dissolução do Parlamento; ou seja, acabar com o Estado (a que as coisas tinham chegado), o que é louvável e o momento o indicado; já o segundo ponto da ordem de trabalhos para hoje, a transição (e para onde, um retorno ao passado «democrático» que já foi espezinhado?), parece mais desadequada: é impossível, neste momento, chamar juristas e alimentar discussões estéreis em torno da delineação de uma «Carta» proto-constitucionalista...

Passemos às coisas importantes: a figura proposta de um Conselho Nacional de Transição, a quem competiria apenas nomear um Presidente e um Primeiro-Ministro para um certo período (não muito curto, sejamos pragmáticos). Não parece convincente meter mais fantoches nas mãos dos militares, seria como virar o disco, e continuar a tocar o mesmo... Neste momento, grave, face às ameaças que pairam sobre a Guiné, é preciso dar provas ao mundo de uma consistência sem falhas. Nem é preciso multiplicar as figuras: para quê querer fingir a velha ordem, com todos os prejuízos já sofridos? Para quê Presidente e Primeiro-Ministro? Já agora também um Presidente da ANP... A figura legal a escolher deveria antes reflectir a necessidade de encontrar consensos na sociedade multi-étnica, dar voz à expressão das várias preocupações e sensibilidades. Para conjugar com sucesso o poder político-militar, como se pretende, basta uma única figura, que não seja Presidente nem Primeiro, centralizando as decisões, pois não precisa de ser nada disso, devido ao Estado (de excepção): consagre-se a situação de facto e chame-se-lhe «Chefe de Estado» (MFA). Já o CNT poderia ser um orgão de discussão a reunir na ANP, alargando a escolha dos conselheiros a figuras eminentes da sociedade civil e aos mais velhos, cuja função seria escolher o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, e ajudá-lo na governação. Não faz, Vaz, qualquer sentido, neste momento, julgar que se pode continuar a insistir na «palhaçada» de civis manobrados por militares. Há que inventar algo de novo; em tempo de «guerra», só um militar faz sentido ser escolhido para assumir o poder. Seja mais original e antecipe-se!