Não é só o FMI, que, na tradução lusa (referida no post anterior) se preocupa com a possibilidade de o vírus "ceifar um pesado número de vítimas" em África... vários líderes europeus responderam ao apelo do Secretário-Geral da ONU no Financial Times, preocupados que o continente se torne num foco de infecção.
Obviamente que todos estes hipócritas não estão preocupados com as vidas dos africanos. A fome, as guerras por recursos que financiam, matam muito, incomensuravelmente muito mais gente em África do que este ou qualquer outro vírus, para já não falar do paludismo ou outras patologias (até aquelas que poderiam ser prevenidas, como o tétano).
Contudo, neste caso, tudo não passa de uma vil efabulação. E posso avançar com o meu caso pessoal. Na Europa, sempre fui afectado pela gripe, que invariavelmente me deixava terrivelmente prostrado duas vezes por ano: no princípio do Outono, com as primeiras correntes de ar, vagas de chuva e de frio; e no fim da Primavera. Altamente contagiosa, bastava ter alguém contaminado por perto, para a apanhar. Contudo, desde que fui viver para Bissau, nunca mais me constipei...
A abordagem estatística desta cambiante do vírus tem sido completamente paranóica e irresponsável, como já neste blog tinha sido sugerido e ontem defendeu no Observador um insuspeito epidemiologista português formado em Harvard a trabalhar em Oxford (apesar de pouco expert em estatística). Desenvolvendo esta abordagem relativamente a África, será fácil constatar que a incidência viral se concentra (e muito fracamente) a norte do Sahara (é Verão no sul do continente). Basta olhar para o gráfico de mortalidade que apresenta a mesma fonte utilizada no referido artigo, para constatar que essa mortalidade, se relativizada (e não normalizada - como refere Pedro Caetano - que é outra coisa) pela população, é ínfima, irrelevante, para não dizer inexistente, tal como, aliás, também já aqui havíamos defendido. Ainda no mesmo Financial Times, pode ler-se artigo no qual cientistas defendem que a chegada do calor travará o vírus...
Feliz e finalmente começam a aparecer visões contra corrente do politicamente correcto. As pessoas começam a abrir os olhos, mas já tarde demais para travar a desgraça económica que toda esta paranóia infalivelmente acarretará. É o caso do pedagogo e ex-director da Escola Superior de Educação de Santarém, em muito actual artigo de extrema lucidez, que (estranhamente) a direcção do Público deixou passar, mesmo contrariando a sua linha editorial.
Aqueles que em África estão habituados a ver morrer por dá cá aquela palha não deveriam, de forma alguma, alinhar nestas alucinações. Pelo contrário, deveriam considerar este pandemónio como uma janela de oportunidade, tanto em termos económicos, mantendo-se em actividade (na Guiné-Bissau esta poderá ser a melhor campanha de sempre do caju, se não for desperdiçada... arranje-se maneira de o conservar), como em termos de renovação e de re-estruturação sociológica, em bases mais sãs e sustentáveis.
Coisa que decerto não poderá ser feita de mão estendida, a inventar casos de Covid, ou a mendigar falsas promessas de dinheiro, dinheiro esse que pouco ou nada valerá amanhã.
PS Não esquecer que, para lhes apropriarem as terras, os indígenas norte-americanos foram ceifados em grande escala pela gripe (não tinham quaisquer defesas imunológicas contra essa doença importada) premeditadamente disseminada em cobertores oferecidos, a coberto de uma pseudo-caridade.
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