segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Comunicado do MFDC



Comunicado do MFDC de Salif Sadio, intitulado


Acordo da vergonha assinado em papel higiénico


Este domingo, 23 de fevereiro de 2025, o primeiro-ministro senegalês, Ousmane Sonko, anunciou a assinatura de um ilusório acordo de paz entre o Senegal e o Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MFDC). Este acordo, apresentado como um grande passo no sentido da resolução do conflito em Casamança, teria sido finalizado em Bissau, sob a égide do presidente guineense Umaro Sissoco Embaló. No entanto, por detrás das declarações triunfantes e dos apertos de mão formais, existe uma realidade muito mais sombria: um acordo sem legitimidade, assinado por interlocutores sem representatividade, e que corre o risco de perpetuar um ciclo de violência e de desconfiança.

Um acordo assinado com quem e para que fim?

O primeiro-ministro Ousmane Sonko saudou o acordo como um "grande passo em direção à paz duradoura em Casamança". Mas a questão mantém-se: com quem assinou o governo senegalês este acordo? Em 2022, sob o comando do ex-Presidente Macky Sall, foi assinado em Bissau um primeiro acordo com um grupo que afirma ser do MFDC, composto por Cesar Atoute Badiate, Rambo Bassène e Lansana Fabouré. Este grupo, alegadamente designado por "Comité Provisório das Alas Políticas e Combatentes do MFDC", não tinha nem tem qualquer legitimidade no terreno. Hoje, o governo de Bassirou Diomaye Faye parece estar a repetir os mesmos erros, ao assinar um novo acordo com interlocutores cuja representatividade é mais do que duvidosa.

Um líder independentista em Ziguinchor, declarou: "Vamos ser sérios! Todos aqueles que acompanham os acontecimentos em Casamança percebem a inutilidade de uma abordagem política à paz baseada em rios de dinheiro e em acordos de paz com pessoas insignificantes. A situação é tão grave e o descuido das novas autoridades tão flagrante que a paz não está no horizonte." 

Uma paz a duas velocidades

O governo senegalês parece acreditar que a paz pode ser comprada. Mas a paz não se resume a assinar documentos. Este acordo não parece cumprir nenhum dos requisitos de verdadeiras negociações de paz, após 43 anos de conflito armado imposto a Casamança. Esta passada em Bissau é o resultado de negociações opacas, conduzidas na sombra, sem a participação dos verdadeiros actores do conflito.

O MFDC, que luta pela independência de Casamança desde 1982, condenou esta abordagem. Para os separatistas, este acordo não é mais do que uma manobra política que visa legitimar um governo senegalês em busca de credibilidade internacional. "A paz não se constrói sobre mentiras e pretensões", disse um porta-voz do MFDC. "Não reconhecemos este acordo e continuaremos a nossa luta até que os nossos direitos à autodeterminação sejam respeitados."

O papel obscuro da Guiné-Bissau

A Guiné-Bissau, sob a presidência de Umaro Sissoco Embaló, desempenha um papel ambíguo neste processo. Apresentada como mediação neutra, a Guiné-Bissau parece, na verdade, servir os interesses do governo senegalês. Em 2022, já tinha facilitado a assinatura de um acordo falso com este mesmo grupo fantoche do MFDC. Hoje, está a repetir a mesma comédia, ao insistir uma plataforma para negociações que não têm qualquer hipótese de conduzir a uma paz sustentável e duradoura.

"Esta é a segunda vez que as partes em conflito assinam um acordo em Bissau, desde 2022", disse Umaro Sissoco Embaló. Mas esta repetição não é sinal de progresso. Pelo contrário, é a prova de que os mesmos erros são repetidamente cometidos. Como diz o ditado: "Só os tolos fazem a mesma coisa e esperam um resultado diferente."

Paz impossível sem justiça

Casamança merece mais do que acordos baratos: merece uma verdadeira paz, baseada na justiça e no respeito pelos direitos humanos. O governo senegalês deve parar de brincar com as esperanças do povo de Casamança e iniciar um diálogo sério com os verdadeiros representantes do MFDC. Sem esta, este acordo não passará de mais um capítulo numa já longa história de violência e desilusão.

Este acordo de paz assinado em Bissau não passa de uma farsa política: não resolverá nada e só piorará a situação, já de si explosiva. A paz em Casamança não pode assentar sobre mentiras e falsas premissas: deve ser o resultado de um diálogo inclusivo, transparente e que respeite as legítimas aspirações das populações. À falta disso, Casamança não deixará de sofrer e a paz continuará a ser uma miragem.


PS Comentário anota que não se assiste à assinatura de qualquer documento no vídeo divulgado sobre o evento.

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