Publicado pelo Didinho (para ler, seguir nexo à direita), de leitura obrigatória. Tentativa de esconjurar alguns fantasmas, espectros à espreita na sombra. Com recados óbvios para Angola, sobressaindo aquele que reage a um certo sentimento (quase «omnipotente») de superioridade proporcionado pelo dinheiro: isso tem limites, há coisas que não estão à venda, nem se podem trocar por dinheiro, sem perder a dignidade.
Mas sempre com uma forte nota de esperança, rimo-nos com a anedótica proposta de aproveitar o barco que está em Bissau para «exportar» para Luanda alguns políticos da praça, e apreciámos especialmente a figura utilizada para descrever a atitude de indiferença dos guineenses para com os seus dirigentes: como se estivessem à frente de uma montra, com dinheiro no bolso (ena!), e... (bem mais improvável ainda, pois, na boa lógica político-económica maltusiana, se os recursos são forçosamente limitados, já as necessidades são ilimitadas) ...não lhes apetecesse comprar (xi!): é a moral da história de Pedro e o Lobo, ou do provérbio «tantas vezes o cântaro vai à fonte, alguma vez se há-de partir», tantas vezes foram enganados...
A principal mensagem parece ser a necessidade de não perder este «comboio», de pensar bem o futuro, de escolher tanto as pessoas certas como um modelo adequado de sustentabilidade política para um desenvolvimento credível... Estamos, claramente, perante um problema de governança, de
responsabilidade, de elites, de competência, de liderança, de mérito, mas também, amor pela Guiné.
Há 24 minutos
4 comentários:
Titina:
Respondo aqui ao comentário inserido no artigo anterior, por o assunto ser o mesmo a que se refere o convite à leitura:
http://236043.guestbooks.motigo.com/
comentário também ao artigo de Filomeno Pina.
Em primeiro lugar, gostaria de realçar que a leitura da tua reacção, tal como aliás, o nível dos teus comentários aqui, me deixa bastante esperançoso quanto ao futuro.
Embora formal e aparentemente se trate de uma crítica, já reparaste como estás tão perto do discurso de Filomeno? O essencial da crítica constroi-se essencialmente em torno de dois eixos:
Chega de nos elogiar como povo para depois nos entregar às bruxas.
&
Deixe ver se consigo fazer entender a nossa “reposição obsessiva”
Em relação ao primeiro ponto, talvez os mais novos não possam perceber algum «pragmatismo» dos mais velhos...
Em relação ao segundo, julgo que vão pelo caminho errado... Encurte as aspas apenas para "reposição", pois não lhe fica bem defender algo que é "obsessivo". Há muita coisa "genérica" para defender sensatamente, como a reposição da esperança no futuro, da degradada confiança nas instituições, etc, etc, etc, num rol sem fim...
Mas, o que mais me entusiasmou foi, sem dúvida, a afirmação denotando reflexão colectiva «Somos um novelo de guineenses, algo latente, que ressurgiu e se expande»... Parabéns. Nesse contexto, quero dar os parabéns pela política de comunicação «moderada» adoptada (eu sou um «sobrevivente» de guerras cibernéticas sem quartel 98/99, com imensa «roupa suja» e ofensas mesmo feias entre guineenses, que motivaram imensa censura de webmasters e mesmo o fecho de alguns dos fóruns). E é decerto com esperança que encaro a atitude.
Parabéns! Continue(m) a pensar! É bom a disposição para o sacrifício, no bom sentido; no entanto, o elemento «estaca zero» parece dissonante no resto do discurso, com uma (suave) nota de ameaça velada. Vamos expurgar a guerra do nosso vocabulário? Nem que a título de «maus exemplos», como defende Filomeno Pina, a Guiné dispõe de um grande património, do qual se pode fazer uso, nem que seja para evitar incorrer nos mesmos erros do passado. O governo actual parece ser uma solução híbrida? Pense e defenda que novas fórmulas de equilíbrio, de legitimidade, poderiam razoavelmente emergir no actual contexto...
P.S. Já o nick escolhido como porta-voz da «organização», não sei se será de bom ou de mau augúrio... Titina foi assassinada (por quem? ... mas enfim, acompanhou Amílcar, não teve tempo para ver no que acabariam por dar todos os seus sonhos: não terá sido por esses dias que se começou a desenhar o actual cenário?) para não falar, porque a sua jovialidade era incontrolável!
Emplastro:
Deixe-me começar pelo P.S. e por Titina Silá. Como guineense que se preze, quando me fala de augúrio e assassinato: assusto-me. Sabendo que o nome saiu-me porque não desconheço a história; tive ocasião, na pós-independência, de gritar Viva Titina Silá, heroína Nacional; e não sou muito dessa história de “Anónimo”. Agora, o resto, o futuro o dirá. E, parafraseando Kumba Yalá: “Ou morremos todos, ou vivemos todos em paz”. Afinal estamos, de novo, entregues a ele.
O acima dito leva-me à questão da “obsessão”.
Sem prejuízo das vias “genéricas” que aconselha e que terei em devida conta (duas cabeças pensam melhor do que uma), as situações que vêm ocorrendo na Guiné-Bissau, infelizmente acarretam um âmago que não nos tem deixado muitas opções, pelo menos a curto e médio prazo. Notadamente para os que querem manter-se coerentes em relação a demarcados valores e princípios básicos, indispensáveis a qualquer sociedade e civilização, ainda que seja a Guiné-Bissau, na cauda do Índice de Desenvolvimento Humano.
Este golpe, que terá mais justificações do que as que já leu e escutou, deixou-nos obsessivos pela causa comum: Paz e Desenvolvimento. Posto que, desde 1 de Abril, os mais atentos já tinham visto este filme. Sabíamos que se aguardava o momento oportuno para fechar o cerco, faltando apenas os que se viessem juntar aos autores principais para preparar e servir o prato.
Claro que gostaríamos de ser comedidos e contidos, pois assim faríamos diferença no frenesi que existe dos dois lados da barricada. Porém, nada, mesmo nada, nos ajuda a ser outra coisa que não os obsessivos pela Causa. Essa obsessão nos faz falar de “estada zero”, preconizando a refundação do Estado e das Forças Armadas. Esse desafio leva-nos a utilizar vocabulário eventualmente menos adequado, mas o único que é inteligível para os nossos identificados e privilegiados receptores.
É lógico que sabemos que nada será como o antes do 12 de Abril. E, permita-me a franqueza e os termos: muitos de nós estamos nas tintas para o antes. A questão é o agora e o depois. E aí, repito, estamos obcecados.
Para um melhor alcance da nossa irreverência, permito-me desafiar-lhe a conhecer a história da CEDEAO, a história da Guiné-Bissau com a CEDEAO, ler o Pacto de Transição Politica e o Acordo Politico, saber quem é quem nos órgãos de transição, quem e o quê e o que está por detrás deles. Não se esqueça, se algum tempo lhe sobrar, de peneirar o Comando militar. E esta a minha resposta sobre uma solução híbrida. Deixando para trocar mais impressões consigo, caso seja do seu interesse e conveniência.
A situação está mesmo complicada! Escreva o que lhe digo hoje: não haverá eleições daqui a 12 meses. Excepto se outra solução se impuser às “recomendações” da CEDEAO. Mesmo que seja apenas a de o excluído e auto-excluído, o PAIGC, entrar no barco.
Agradeço o seu apreço e os seus parabéns. Senti-me encorajada. Apenas não gostei de sentir algo que me cheirou a um paternalismo que vem do lado de muitos que, do outro lado (se me entende), me são chegados.
Quanto à reflexão conjunta, o novelo continua a rolar e a ganhar forma. Lógico está que Pina não poderá estar de fora. Mas isso é outro assunto, que continuará com a réplica que lhe darei das suas contestações às minhas observações.
Last but not lest: Obrigado por todos estes anos dedicados à Guiné-Bissau e à causa guineense. Um dia, a nossa sociedade terá critérios que nos permitirão homenageá-lo como «sobrevivente» de guerras cibernéticas sem quartel 98/99. E falo isto do coração.
Titina Silá.
Cara Titina:
Como editor do Emplastro, preferia que me tratasse 7ze, por uma questão de consonância histórica.
Permita-me que comece igualmente pelo fim. Obrigado, do fundo do coração, por esse elogio.
No ponto do paternalismo, da velhice associada ao pragmatismo, queira desculpar, tive claramente essa sensação, logo após tê-lo escrito... só depois pensei que não sabia a idade da pessoa a quem me dirigia. Pelos vistos, para além do deslize, ainda me enganei, pois quem gritava Titina Silá em 1974 já não pode ser tão nova assim quanto presumi.
Por essa altura nos bancos da escola primária, filho de cooperante, eu apenas tentava não destoar do coro do hino do partido, abrindo a boca (sem sair nenhum som) e remoendo um pouco os lábios, esperando que não reparassem em mim... já bastava o facto de não saber a letra e de ainda não ter apanhado o ritmo, para além, claro, de a cor da pele ser dissonante para o efeito. Mas tinha uma t-shirt de Amílcar Cabral que usava com orgulho.
Mas então temos realmente uma plataforma de entendimento: diz que o antes não interessa, que devemos falar do agora e do depois. Mas isso é muito interessante e muito diferente! Em vez de deixar cair o «obsessiva» do fim, propõe deixar cair o «re» do princípio: defende então apenas uma «posição obsessiva» e já não uma simples «reposição», o que parece uma posição bem mais construtiva.
Gostaria de perguntar, sem malícia, se, do outro lado da barricada, não vê igualmente elementos construtivos, intenções semelhantes, potenciais objectivos comuns? Parece-me mesmo que até já assumiu tranquilamente essa postura, ao mitigar a sua visão do posicionamento de Filomeno Pina, não enjeitando a sua possível reciclagem «do seu lado» da barricada.
Mas a minha opinião, já que a solicita, dou-a passo a passo: e o primeiro deveria ser dado pelos depostos (fica quase tão mal como defuntos), resignando a cargos que já só exercem no papel. Esse gesto de boa vontade, faria cair por terra as intrigas mesquinhas levadas a cabo no seio da CPLP, permitindo assim, talvez até pela mão dos próprios interessados, uma reconciliação com Portugal, após a inevitável demissão, mais tarde ou mais cedo, do seu Ministro dos Negócios Estrangeiros (Paulo Portas ficaria assim sozinho no papel de vilão); depois, ambos os lados da barricada se juntariam em torno de uma agenda que contemplasse os verdadeiros problemas, num clima de liberdade de opinião e de expressão, incluindo todas as elites, novas ou velhas, mas onde se debateria até à exaustão, com cobertura interactiva na Televisão (nacional e local), Rádio, Imprensa, Internet, em todo o lado, com garantias de segurança dos militares, os quais, evidentemente, também teriam, legitimamente, a sua palavra a dizer.
Mas já me alonguei e vou usar o seu subterfúgio para me despedir: fico à espera do troco, para me voltar a alargar sobre estes assuntos tão melindrosos...
Um grande abraço
P.S. Quanto aos seus medos em relação a Kumba, julgo-os injustificados, as declarações de Daba à RTP África, logo na primeira grande entrevista após o 12 de Abril, julgo que o desmentem. Depois, as movimentações «civis», na ANP, isso já é outra coisa.
Já quanto a Tagma, alguém me observou que, numa opinião emitida no contexto desta troca de ideias, parecia querer branqueá-lo: não era essa a minha intenção (aliás, não sou o único que não esqueceu o caso do Comodoro Lamine Sanhá, ou, precedente mais remoto, mas relacionado, da morte do Brigadeiro Ansumane Mané). Na altura desse post, estive quase para nomear os 7 nomes de comandantes da desgraçada Junta Militar: Ansumane Mané, Lamine Sanhá, Veríssimo Seabra, Tagma Na Waie, mortos; Melcíades Fernandes, Zamora Induta, Bubo Na Tchuto, já estiveram presos por longos períodos. Daí a pretensa sugestão do «tenho sete namorados e não gosto de nenhum», logo de se ter de arranjar um namorado em condições à rapariga da canção. Mas, tendo a honra de ser amigo pessoal de Manel Mina (mesmo admitindo que o próprio esteja do «outro lado da barricada», o seu), não podia fazê-lo, até porque acho que estava a faltar à verdade, sendo ele um grande «amante» da Guiné, mesmo que um pouco ressentido (como todos os guineenses) com tantas injustiças pelas quais esta tem passado.
Djarama
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