sábado, 15 de fevereiro de 2020

Se os guineenses acordam...

Após vários anos decorridos sob o signo da usurpação do plenário do primeiro órgão de soberania, a ANP, eis que o mau exemplo vira precedente e contagia o quarto órgão, o STJ. Já o segundo órgão, o presidente, foi corroído e corrompido durante todo o seu mandato, o qual terminou; quanto ao terceiro órgão, o governo, foi (atipicamente) indicado para organizar eleições, as quais sabotou e retardou consecutivamente, recebendo como prémio a continuação indefinida em funções. Face à acelerada erosão da legitimidade de todos os orgãos legais de poder (simultaneamente sintoma e consequência de uma falência orgânica do Estado, histórica e instrumentalmente concebido como propriedade de um Partido), necessário é constatar a desintegração do poder político e alertar para os elevados riscos que isso comporta para a soberania do país.

Enquanto a CEDEAO falava em fechar o ciclo eleitoral, hoje, dia 15 de Fevereiro, parece haver um mau perdedor interessado em eternizar o ciclo de golpismo e de instabilidade (apesar da falta de razão que lhe assiste e dos compromissos publicamente assumidos nesse sentido), inventando para esse fim os pretextos mais descabidos. O GTAPE (tomado de assalto, partidarizado e instrumentalizado em prejuízo da sua autonomia técnica, violando acordo político de princípio assinado e os princípios legais vigentes) conduziu o pior e mais lento recenseamento eleitoral de que há memória, dando provas evidentes de total amadorismo e mediocridade, nomeadamente ao nível da falta de critérios de codificação geográfica e falta de respeito pelas regras de integridade de bases de dados.

A confusão assim gerada induziu uma série de erros no sistema que serve para o apuramento nacional, tais como actas em branco, mesas com um número de votantes superior ao dos inscritos, entre outras discrepâncias. Relatório do representante de um dos candidatos (vencido na primeira volta das eleições), após acto público de recepção de pen com o ficheiro do recenseamento (com a garantia de ser este ser o mesmo utilizado para as legislativas), dava conta desses vícios (com exemplos), uma semana antes do dia 18 de Novembro, do qual se cita pequeno excerto para exemplo.

"A base geográfica

A base numérica adaptada ao terreno, padece de vários vícios notórios, nomeadamente descontinuidades e multiplicação toponímica (violando o princípio da univocidade em ambos os sentidos, ou seja, num certo nível , tanto várias unidades com o mesmo nome, como a mesma unidade com grafias diferentes). No nosso parecer, não há como disfarçar que esta base geográfica é uma amálgama de anteriores códigos geográficos, sem uma preocupação estrutural significante, traduzindo-se num autêntico caos: em todo o caso, uma abordagem reveladora de um enorme amadorismo. Como se constatou mais atrás, foi realmente usado um código unívoco, que depois foi substituído pela respectiva designação (excepto em casos especiais, o que nos permitiu detectar o procedimento). Apenas para reforçar a ideia inicial, refira-se que, no código em epígrafe, com 13 dígitos, 5 são desnecessários e apenas complicam a vida às pessoas: os dois primeiros são a repetição dos dois últimos, e parecem resultado de incompetência informática. O par seguinte, na terceira e quarta posição, corresponde à região e é absolutamente desnecessário para efeitos de identificação, no âmbito da lógica geográfica utilizada. Parece-nos ainda que como não há círculos com mais de cem sectores, bastariam dois dígitos, em vez de três, para identificar o sector, nas 7ª a 9ª posição, se houvesse sido feito um esforço minimamente consistente e coerente em termos de formulação do sistema de informação geográfica (muito simples) utilizado.

Os distritos sem dados

Muitos distritos não apresentam quaisquer dados: por exemplo, no sector 1 do círculo 1, são um total de 27 casos num total de 106.
"

Novo relatório, após a realização da primeira volta das eleições, apresentava números muito similares aos agora denunciados por DSP, com base na análise dos espelhos das actas (que na altura fizeram fé, até por estarem na posse dos candidatos, mas agora são apodadas de "minutas", por inconvenientes). Por exemplo, enquanto o relatório do candidato preterido reporta para a primeira volta das eleições um total de 91 mesas de voto com total de votantes superior ao de inscritos, a primeira versão do relatório forense citado, referente à segunda volta, aponta 98.

Tivemos acesso e publicamos os ficheiros que provam que os factos denunciados pelo relatório forense elaborado pela candidatura perdedora não se resumem à segunda volta, estando já bem patentes desde a primeira volta, aparentando esse relatório "forense" não ser mais que uma imitação do referido relatório, que pouco ou nada acrescentam.

O PAIGC e o seu líder, que esteve na origem de todos os vícios, vem reclamando patética e insistentemente a anulação da segunda volta, quando o mal contaminou também a primeira. Contudo, ainda não fundamentou essa pretensão, baseando-se apenas em suspeitas e suposições convenientes à sua "causa". Para aí chegar, não hesitou em insultar tudo e todos, incluindo o Presidente da CNE (que a lei protege contra qualquer perseguição no âmbito das suas funções) e as Forças Armadas (de quem se vem declarar posteriormente muito amigo), com conjecturas estapafúrdias; já declarou guerra a "alguma" imprensa francófona e ao presidente senegalês; já desautorizou a Ministra que denunciou as falsificações de Armando Mango e as tramas de Aristides Gomes com os passaportes (mas não a Ministra corruptora denunciada pelo vazamento da funcionária marfinense); até já financiou uma miserável mistificação jornalística numa revista portuguesa (só o acrescento por hoje ser Sábado) tentando apanhar a onda do hacker português do Luanda Leaks.

Meta Script: Por falar em Isabelinha (e este blog tem toda a legitimidade para o dizer ou quase tanta como o Rafael, que andou anos a pregar no deserto a "pólvora" que agora "descobriram"), a cidadã angolana tem a minha solidariedade em relação ao congelamento arbitrário das suas contas bancárias em Portugal (trata-se de extorsão pura e simples), abrindo excepção ad hominem (prefiro não adaptar o género à expressão latina) e uma brecha na indispensável independência do sistema financeiro, colocando perigosa e irresponsavelmente em causa a confiança sistémica de depositantes e investidores, nacionais e estrangeiros, isto numa altura em que, para tapar os buracos à banca, se sobrecarregam os contribuintes e se despreza o investimento público. Aqueles que mais a bajulavam, são agora os primeiros a cuspir-lhe na cara. A fronteira que separa o bestial da bestialidade é definitivamente muito ténue.

Quanto ao "relatório forense" encomendado (a um trapalhão, como aqui constatámos imediatamente) para servir de base à impugnação da segunda volta (para além da constatação de que esse relatório é claramente inspirado no já referido relatório do representante de outro candidato, não apurado, cujos anexos publicamos), aperceberam-se dos erros incorridos em simples contas de somar nos próprios dados e corrigiram para 39 mil, no documento submetido ao STJ, as pretensões iniciais que se traduziam por uns pomposos mais de 109 mil inscritos "afectados" . Ou seja, reconhecendo que mesmo que fossem todos votar e todos votassem em DSP, isso não seria suficiente para alterar o resultado considerado definitivo (dando assim razão aos argumentos do STJ no primeiro Acordão do ano, nas suas considerações de não admissibilidade do recurso por ineficácia, condição claramente enunciada na lei).

Nessa base, o Supremo não teve outra alternativa senão desconhecer sucessivamente e liminarmente o mérito das causas: em relação ao primeiro recurso, pela mais elementar ausência de sustentáculo legal; já quanto à fundamentação de um novo e não redundante pedido de impugnação por parte do recorrente DSP, pela simples alegação da ilegalidade dos actos praticados pela CNE para satisfação da CEDEAO (e claramente enunciados a esse título), é simplesmente ridícula, desprezível e manifestamente impotente. A estratégia também é recorrente: substituem o conteúdo legítimo pela forma e depois de esvaziada a estrutura, subvertem a forma pelo vício, arrastando para a lama todo o edifício social. O STJ não podia reconhecer credibilidade às diatribes do prevaricador mas acaba por beneficiar o infractor por vias travessas, ao delongar (sem objecto, para além do razoável, contra o mais elementar bom senso e hipotecando a soberania nacional) o encerramento de outro triste capítulo da história nacional recente, protagonizado por um PAIGC agonizante, que se amarrou doentiamente a um líder falhado, o qual tem vindo a delapidar ingloriamente os vagos resquícios de credibilidade que rareavam já.

Começa-se por alegar que a reunião plenária da CNE na origem do pretenso contencioso "foi convocada à margem da lei" por não fazer menção ao "apuramento nacional" ordenado pelo STJ. Ora a CNE considerou legitimamente já ter efectuado o referido apuramento, referindo-se coerentemente a uma "verificação de consolidação", a qual, contrariamente ao que aponta o Acordão, não se tratou de nenhuma das duas opções propostas: nem de um alegado "reconhecimento do incumprimento"; nem de um "desnecessário cumprimento", uma vez que explicitamente solicitado pela CEDEAO à CNE, a qual se viu entre dois fogos, e tentou assim preservar-se das ingerências externas gravemente atentatórias da soberania eleitoral nacional, provocadas pela actual atitude e comportamento abjecto do ex-candidato vencido, a quem o STJ sinalizara já no anterior Acordão a evidente má-fé e as desavergonhadas manobras dilatórias. A notória parcialidade deste último Acordão é denunciada neste particular não só pelo estilo de redacção do parágrafo em causa, como pelo ponto de exclamação que o termina.

A CNE parece ter feito a sua interpretação do Acordão número 1, limitando-se a repetir as operações da sua esfera de competências (que se resumem a um somatório nacional das sínteses das CREs). O STJ, aparentemente tão cioso das suas próprias competências (mas assumindo ordem judicial à CNE para exceder as suas competências de apuramento nacional em prejuízo das CREs) , se entendia que o "ab initio" se reportava às actas das CREs (no plural, e não à acta da CNE, no singular), como parece agora dar a entender, deveria tê-lo enunciado claramente, preferindo o definitivo ao indefinido. Os saltos jurídicos no escuro operados pela suposta aclaração (que de facto só turvou ainda mais o ambiente pelas suas contradições internas), vieram, para muitos, confirmar suspeitas de que a expressão latina "ab initio" (aliás mal escrita, no texto do primeiro acordão) tenha sido uma deixa devidamente monetarizada (mesmo que declarada isenta de custas).

Apesar de o STJ afirmar pugnar pela Justiça em última instância, está neste caso a transformar-se num perigoso factor de bloqueio, pela ambiguidade introduzida. Contudo, no caso do Acordão número 1, haviam ainda sinais de um plenário funcional, com jurisprudência relativamente consistente, votos de vencido em anexo ao documento, apesar do foco de dúvida introduzido, em torno da falta de acta assinada, prontamente denunciada pelo Didinho, que antecipou a confusão que poderia gerar, conforme se subentendia na expressão "ab initio". Aproveito para proceder a um mea culpa junto do mano Fernando Casimiro pela forma ingénua como me permiti desconfiar da sua já calejada intuição (e me tenha eventualmente excedido a expressá-lo). A minha interpretação correspondeu àquela que fez a CNE (e que o STJ repudia claramente neste novo acordão, mas infelizmente de forma gratuita, arbitrária e sem fundamentação).

Quantos aos erros de ortografia e de consonância, a sua densidade é claramente muito maior no Acordão número 3 deste ano, em relação ao seu congénere número 1. Com a usurpação do plenário do STJ pelo seu presidente, deu-se o abandono de certos juizes descontentes com a política de desgaste conduzida, diminuindo os (melhores) olhos para detectar erros. O Supremo Tribunal de Justiça parece encontrar-se neste momento claramente sequestrado por um discurso encomendado: onde não há discussão, nem sequer se pode falar em Plenário, senão em Bolsa ou talvez leilão. Outra explicação, que alguns parecem ter por plausível, para a superabundância de erros similares em toda a extensão deste novo acordão, poderia ser dar-se o caso de o redactor do "coração" do texto do "STJ" se tratar da mesma pessoa que redigiu as alegações iniciais nele constantes, ou seja, o(s) advogado(s) do candidato (mau) perdedor.

Um tribunal de última instância deve ater-se a uma estrita imparcialidade formal: coisa que o texto deste último Acordão contraria de forma grosseira. A parcialidade fica patente desde o início, na primeira questão prévia, a do mandato. A nova procuração admitida pelo STJ, por extra-processual, é tão válida quanto a acta pós-datada que a CNE apresentou para satisfazer o primeiro Acordão. Apresentamos excerto, todavia, para exemplo do que afirmamos: são expressões como "numa manifesta, incompreensível, injustificada e, por isso, inaceitável atitude"; a um juiz, como imparcial, não se tolera mais de um adjectivo, bem escolhido, para não ser confundido com os políticos.

Neste momento o cerne da questão reside na questão da verdade inerente ao sistema. E essa, se bem que sujeita a erro, não pode já ser obtida por qualquer outro processo mais fiável e partilhado. Julgamos que a CNE deverá investigar os casos reportados e estabelecer um livro negro das eleições presidenciais, no qual assuma os erros incorridos, de forma partilhada com o GTAPE. Contudo, o sistema guineense, conforme confessava a ministra vazada, não permite a ingerência do Governo no acto eleitoral e é essa preocupação de fiabilidade e fidelidade dos resultados, a qual se traduziu na presença de muita gente no apuramento público realizado ininterruptamente (e sem as urnas serem perdidas de vista), que importa preservar. Quem se encarregará de dizer aos guineenses que afinal era a brincar, que vamos deitar fora as urnas e recomeçar, as vezes que forem necessárias, até que ganhe DSP, que se julga DDT? Torna-se por isso anti-patriótico o formalismo orientado do Plenário usurpado do STJ, desacreditando aquela que se esperava constituir a última reserva moral da nação e sujeitando o país a mais uma vaga de atentados à sua soberania, que se adivinham para os próximos tempos.

Se os guineenses acordam, não haverá Acordão que valha perante o exercício da soberania, que a Constituição, na alínea segunda do seu artigo segundo, atribui em primeiro lugar directamente ao povo, e só depois, acessoriamente, aos seus representantes democraticamente eleitos.

ANEXOS 

Mesas com número de votantes superior ao de inscritos, na primeira volta das eleições presidenciais


























































































Mesas com elevada abstenção, na primeira volta das eleições presidenciais



































quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Relatório da carochinha

Um atamancador amador, que se declara ao serviço do PAIGC, publicou um risível relatório no qual não dá uma para a caixa.

Apresenta uma série de tabelas sem nexo, pretendendo dar a entender grande ciência estatística (torna-se muito engraçado quando sugere que introduziu uma correcção "considerando as datas de recenseamento eleitoral e a taxa de mortalidade média adulta na Guiné-Bissau"), quando não acerta simples contas de somar. Trata-se de um verdadeiro lixo informativo, com pretensões de manipulação mediática, desacreditando o Partido que alegadamente o encomendou (e utiliza). Passemos ao crivo o "sumo" do relatório.


Numa primeira tabela, recenseiam-se 98 casos de mesas com o número de votantes superior ao de inscritos (haviam sido registados 91 casos na primeira volta), associando-os ao número de inscritos nessas mesas, quando a informação que pretendem sugerir é a diferença entre votantes e inscritos (a qual se traduziu em 2734 votos na primeira volta).

Na segunda tabela, mesas com uma abstenção inferior a 15%, questão sumamente irrelevante, seguindo-se, numa terceira tabela, a abstenção superior a 60%, sempre realçando os inscritos, a negrito.

Chega-se, finalmente, a uma hilariante tabela IV, com uma suposta diferença de inscritos da primeira para a segunda volta, que resultariam num total de 109 507 eleitores afectados!

É realmente "muito", vai pensar o leitor mais acrítico.


Contudo, todas as contas que resultam em mais de três dígitos de eleitores afectados estão erradas, contando-se mesmo 4294 "eleitores afectados" no círculo 21, onde, pelos próprios dados apresentados, não há qualquer diferença.

Na tabela V basta verificar que a diferença é de menos de 11 000 votos...


O Partido esqueceu-se de apresentar o currículo do subscritor, que assina João L Serras Pereira.

PS Já agora, de quem foi a responsabilidade da confusão no GTAPE e na base de dados, não foi também um tal Pereira?

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Faketory

O mano Doka que me perdoe, mas tem de ter cuidado com as fontes. Ainda para mais, neste caso de "sondagens", conforme o DC já enunciou, é preciso garantir quem faz, credibilidade, competência, metodologia... Depois de levar com a RFI, deveria estar especialmente atento.

É curioso que apresente os pretensos resultados sem casas decimais, ao contrário dos nulos e brancos. Quem faça as contas descobrirá que a verdadeira percentagem, calculada segundo as "projecções" sugeridas, é de 44,71%, ou seja, com a apresentação à unidade, 45% para DSP e não 46%.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Caminhada matinal

A representante da UE lembrou-se de fazer uma caminhada matinal de apoio a DSP. Todos sabem o que significa o "celebrar da parceria" (que já custou 25 milhões de euros, ou seja, mais de 10 000 CFA por guineense) com a CEDEAO. A presença da ECOMIB, ao contrário do que afirma, não "desempenha um papel central" nem "reconhecido" na "garantia da paz e da segurança no país". A CEDEAO, como colectivo de Chefes de Estado, foi militarmente humilhada pelo Chefe de Estado Maior das Forças Armadas guineenses (ao desautorizar o envio de mais tropas de ocupação, aliás contestadas pela aliança parlamentar maioritária). A marcha é uma ofensa à soberania nacional e uma grosseira ingerência na campanha eleitoral em curso. A senhora trocou as voltas ao percurso, o qual deveria acabar no aeroporto, com o embarque para a procedência, pois é indesejável no país, tal como os mercenários que se gaba de pagar. A insónia candidata-se a pesadelo, mas, mais tarde ou mais cedo, terá de pagar a respectiva factura. Para já, marchará sozinha, com o DIPLOmata da CEDEAO.

sábado, 30 de novembro de 2019

Tchur

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

FACTO ou FAKE2

FACTO: 17,35% dos votantes dos candidatos derrotados na 1ª volta, APOIAM e VOTARÃO no candidato Domingos Simões Pereira na 2ª volta.

Contas simples de (des)fazer, passo a passo:

1) calcular a percentagem dos "candidatos derrotados na 1ª volta", ou seja, todos aqueles que não votaram DSP
100% menos 40,13% (votos em DSP) igual a 59, 87%

2) calcular 17,35% desse valor

59,87% vezes 17,35% igual a 10,39%

Os 17,35% em causa correspondem portanto a 10,39%, se reportados aos 100% da primeira volta.

Contudo, pela análise do quadro de resultados, constata-se que, retirando aqueles que já deram o seu apoio ao candidato número 11 (e mesmo admitindo que o candidato número 2 consiga recolher todos esses apoios residuais), estes não chegam a 4%.

Esse valor corresponde apenas e aproximadamente ao mínimo necessário, ao referido candidato, para conseguir vencer.

Confunde-se portanto um simples e irrealizável DESEJO com um FACTO. Matemática bué de Boé.

Conclusão irrefutável: contra factos, não há argumentos, ainda para mais, contrafake2s (ler contra-feiquetos).

Beck to the future II

Replicando a ilustração do proveitoso exemplo aqui mesmo ao lado, no vizinho Senegal.

Mortalidade de eleitores entre a primeira e a segunda volta: 0,6%: Wade não teve nem mais um voto na segunda volta do que à primeira.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Enigma

Por que razão os habitantes da Moita e do Montijo consideram o 11 um número par?

Beck to the future

É de elogiar todo o envolvimento e conhecimento pessoal do Director da DW África lusófona, no acompanhamento de perto da situação na Guiné-Bissau. 

Contudo, discordamos de herr Johannes, quando afirma que DSP é favorito, apenas porque surgiu à frente na primeira volta (com toda a "engenharia" que se conhece... apesar da efémera casa da Guiné no Porto tuga, ninguém foi recenseado por lá, e é apenas um exemplo). Uma vez que parece dar mostras de acompanhar a situação de perto (apesar de algumas ligeiras imprecisões: a ANP esteve bloqueada anos e não "meses"), é curioso que não tenha entrado em linha de conta com a frente anunciada da maioria dos candidatos relevantes contra DSP (parece não ter lido com a devida atenção a hiperligação que estabelece para a magnífica entrevista a Augusto Nhaga, pois esta contraria a afirmação que a sustenta), a qual faz antever a forte probabilidade de Domingos não ter nem mais um voto que aqueles que já teve (descontando uns tantos para um mês de mortalidade). 

Já que parecem estar na moda os palpites, cá vai o nosso, para a posição 2, na volta 2:   222 222 votos. 

Sugestão de apuramento linguístico: evite o "ele" ou "ela"; prefira o "este" ou "esta", ou, como neste caso, simplesmente omita o sujeito, quando este transita. Podia, com vantagem estética, começar a frase por "Ganhou...".

«Domingos Simões Pereira, o eterno rival de Jomav, é agora o favorito na segunda volta das eleições de 29 de dezembro. Ele ganhou 40,1% dos votos na primeira volta [222 870]»

sábado, 23 de novembro de 2019

Print Screen Nº 7

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Flying over a baguera's nest

Se a CEDEAO tiver memória diplomática, recomenda-se vivamente a consulta do documento classificado, intitulado "Appel au bon sens", entregue pelo então Secretário de Estado português para a Cooperação, na V cimeira de Chefes de Estado, realizada em 3 de Julho de 1998, em Abidjan.

É que esse documento profetiza aquilo que aconteceu a 7 de Maio do ano seguinte, muitos milhares de mortos depois.

Se quiserem retirar alguns ensinamentos actuais, basta lerem com atenção. 

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

O velho rôto e as novas rótas

Ainda na página 272, como el-rei despachou o maricas

«Do que el-rei fez a Heitor Borralho

Um Heitor Borralho cavaleiro da casa de el-rei vindo da Guiné por capitão de uma caravela vinha muito alvo; e quando beijou a mão a el-rei e este o viu assim, espantou-se e perguntou-lhe como vinha tão alvo; e ele lhe respondeu "Senhor, fui e vim sempre muito embuçado, com touca e sombreiro e sempre luvas calçadas" e el-rei lhe disse: "Não fôra melhor vir negro como homem, que alvo como mulher? Quem isso faz é néscio e não serve para nada" e o fez levantar e ir sem o querer mais ouvir.»

Black is beautiful!

E ainda, como el-rei despachou as conchas de volta para a Guiné

Há ainda a curiosa história do sistema monetário africano, com base numa célebre concha. O nome científico da antiga moeda local é cypraea moneta (e hoje até consta do "brasão" da CEDEAO).

Os primeiros comerciantes judeus à escala global, deslumbrados pelas imensas oportunidades que os portugueses estavam a criar com as suas novas rotas, atafulhavam as primeiras caravelas de bugigangas e pechisbeque (além de fazerem escala na ilha do Sal para se abastecerem dessa mercadoria e irem até à Serra Leoa comprar cola para vender aos mandingas), sendo a procura sistematicamente superior à oferta solvável, graças aos termos de troca manifestamente favoráveis que estabeleciam. Para além das trocas por ouro, marfim, peles, malagueta, escravos, etc, passaram pois a aceitar e a aforrar a "moeda", com a qual esperavam efectuar compras futuras. Ou seja, estavam a tentar aplicar em África, a acumulação primitiva que faziam na Europa. 

Contudo, brevemente chegaram aos ouvidos de el-rei as conversas que se ouviam em Lagos (na costa algarvia e primeira plataforma comercial intercontinental), estranhando muito o aumento dos preços na Guiné. Efectivamente, o que aconteceu foi que os comerciantes estrangeiros, ao sugarem toda a massa monetária local, deram um rude golpe na economia monetária (outros viriam, como quando descobriram do outro lado do Atlântico que também tinham dessas "conchinhas" - dinheiro, que podiam trocar por pessoas), que havia adquirido uma certa estabilidade (ao nível da África ocidental já conhecida por essa altura, estendendo-se aos reinos do Congo e de Angola, este último, cujo poder assentava na colecta monetária no rio Kwanza), a qual rapidamente foi forçada a regredir ao estádio da troca. Estranhava-se o aumento dos preços, porque as regras da economia de mercado dizem que a escassez de moeda produz o efeito inverso, ou seja, a baixa dos preços. Quanto menos moeda há, menor é o preço que os vendedores estão dispostos a aceitar. Contudo, na Guiné, a coisa estava a passar-se ao contrário. El-rei, que tinha os melhores serviços de informação do seu tempo, rapidamente percebeu como a economia tinha voltado à troca pura e simples, com todos os preços a subir por não haver troco. E, ao receber essa notícia, muito radicalmente irritado, tirou na hora um decreto (cuja cópia se conserva), ordenando o confisco e a restituição imediata das "divisas" acumuladas nos cofres, condenando a pesadas penas quem fosse descoberto na sua posse. Imagina-se a reacção de el-rei, perante a estupidez dos proto-capitalistas desambientados:

_Devolvam já ao raio dos pretos a merda das conchas!

Dom João II e os negros da Guiné

Já que estamos em maré de ferir estereótipos, e só para não cansar muito os leitores como parece ser apanágio deste blog, vamos limitar a dissertação à Crónica de Garcia de Resende. Os eventos referem-se aos anos anteriores a 1492, ainda a América permanecia (oficial e supostamente) ingenuamente ignota e feliz.

p. 262

"e el-rei disse:
_Antão de Figueiredo, tendes vós seis homens de capa, e seis moços, e quatro escravos e duas escravas brancas todos muito bem vestidos e ataviados"

Pergunta ingénua: então mas havia escravas brancas?

Pergunta ingénua 2: então mas os escravos não andavam todos acorrentados?

p. 171

Num banquete da festa de recepção da infanta herdeira (à época) de Castela (pouco depois, Espanha), para casar com o Infante herdeiro (único) da coroa de Portugal, casamento que dispensava aquele que viria a ser o Tratado de Tordesilhas, estando representado todo o corpo diplomático europeu (e espiões de várias origens)


"houve aí uma muito grande representação de um Rei da Guiné em que vinham três gigantes espantosos que pareciam vivos de quarenta palmos cada um com ricos vestidos todos pintados d'ouro que parecia cousa muito rica, e com eles vinham duzentos homens tintos de negro muito grandes bailadores todos cheios de grossas manilhas pelos braços e pernas douradas, muito bem concertados: coisa muito bem feita e de muito custo, por serem tantos."

Pergunta ingénua 3: então mas havia uma representação diplomática de um rei da Guiné acreditada em Portugal?

Pergunta ingénua 4: e era "grande"? quer dizer o quê? maior que a francesa e a de Veneza (potência económica da época)?

Pergunta do 9º ano: Lendo com atenção, os meninos e as meninas acham que o bailado guineense que provocou sensação e mereceu os mais rasgados elogios na mais poderosa Corte da Europa dessa altura, era constituído por escravos?

Pergunta (já pleonástica) ingénua 5: então mas haviam (na Europa) brancos escravos e negros livres?

Os números de página referem-se a uma edição crítica confiável, com a vantagem de estar disponível on-line.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Negros e escuros


A-dos-Negros é uma pitoresca aldeia, perto de A-dos-Cunhados, ou de A-dos-Francos, lembrando o povoamento francês dos cruzados que por cá ficaram, no tempo de Dom Afonso Henriques (como também acontece, nesta mesma zona, com a Atouguia da Baleia e Lourinhã). Muitos estranharão: então mas haviam negros em Portugal no tempo do primeiro rei, meados do século xii? Sim. Livres e alguns bastante ricos. Dom Afonso Henriques, para provocar o Papa e a hierarquia religiosa (que o queriam obrigar a casar com aquela que veio a ser Rainha), chegou a nomear um Bispo negro para Coimbra. O primeiro (e o segundo) senhor(es) de A-dos-Negros era(m) scalabitanos. O título foi concedido por Dom Afonso Henriques, (o documento está guardado na Torre-do-Tombo), agraciando o seu companheiro de armas (negro, espião e o homem mais rico do reino, tal como viria a ser o filho, por sua vez banqueiro do filho de Dom Afonso Henriques, Dom Sancho). Na conquista de Santarém de 1147, notabilizou-se igualmente (se bem que não tanto quanto o primeiro, que foi o primeiro a subir às muralhas) Pedro Escuro, na Porta de Valada, em perseguição do Alcaide que o Grande Abu Zacaria tinha deixado no seu lugar. Em Portugal fala-se muito de almorávidas, mas a sua origem é bem mais a Sul do que a maior parte imagina...

sábado, 28 de setembro de 2019

Vómito

Fernanda Câncio arma-se em inquisidora da arte e é chamada à razão.

Valete, frates!

PS Tenho uma velha colecção de Blitz dos anos 80, faltam bastantes números, mas são muitos. Se alguém estiver interessado em comprar, manifeste-se.

sábado, 24 de agosto de 2019

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Terrorismo na Guiné-Bissau

Chamo a atenção para o ponto 37 do Comunicado Final da recente Conferência de Chefes de Estado da CEDEAO, que diz textualmente "a Conferência decidiu a realização no Burkina Faso, em data a confirmar, de uma conferência extraordinária sobre o Terrorismo, com o objectivo de analisar as diferentes iniciativas até agora empreendidas e redefinir os domínios de intervenção prioritários para dissuadir a propagação de atentados terroristas na região."

Vejamos qual a definição de terrorismo, na legislação guineense (ponto 2 do artigo 203º do Código Penal em vigor, inserido no Título VI, Dos crimes contra a paz e a ordem pública, sob o título "Organização Terrorista"):

"considera-se grupo, organização ou associação terrorista todo o agrupamento de duas ou mais pessoas que, actuando concertadamente, visam prejudicar a integridade ou a independência nacionais, impedir, alterar ou subverter o funcionamento das instituições do Estado previstas na Constituição, forçar a autoridade pública a praticar um acto, a abster-se de o praticar ou a tolerar que se pratique, ou a intimidar certas pessoas, grupo de pessoas ou a população em geral mediante a prática de crime."

A data de aprovação deste Código Penal é de 1993. O "conceito" de terrorismo ainda não tinha atingido a sua "maturidade". O conceito nacional de terrorismo é muito particular. O terrorismo encontra-se tipificado apenas no plano interno. Esta Lei foi feita para proteger Nino Vieira. Mas é a Lei do país. A pena prevista é de 3 a 15 anos de prisão. Curioso é que há no país um caso actual configurando na perfeição (cumulativamente em todos os pontos, o que a Lei não exige sequer, bastando qualquer alternativa: "ou") esta tipificação criminal.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Perigos da retórica incendiária: o exemplo cisplatino

Este artigo foi motivado pela reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, ocorrida no passado dia 14 de Fevereiro, sobre a actual situação política na Guiné-Bissau.

Ainda antes de entrar no assunto, uma pequena nota, apontando a injustificada irresponsabilidade dos termos do discurso emanado da mais alta instância desta instituição internacional, optando pela desqualificação da retórica, uma arte outrora nobre, mas hoje sofrendo o prejuízo de uma forte conotação negativa, devido ao abuso que dela tem feito toda uma escumalha de políticos indecorosos, colocando-a ao serviço da mais boçal propaganda, da reles hipocrisia e da vulgar mentira.

A história é sem dúvida um grande armazém de lições, se bem que muito mal gerido. Quantos erros poderiam ter sido evitados? Quantas mortes? Quantos retrocessos? Não só na Guiné-Bissau, em Portugal... Enfim, no mundo inteiro. É lamentável ver políticos ignorantes e gananciosos, repetindo interminavelmente os mesmos erros, a ponto de desgastarem as teclas do piano. Não admira que este depois desafine, que proliferem os desacordos. O terrorismo não se combate com o terror.

Não precisava de atravessar o Atlântico para partilhar aquilo que quero dizer, pois o espírito poderia ser ilustrado recorrendo a Portugal, onde se passou exactamente a mesma coisa que no Uruguai, nesse início do Século XX. Quem leia a imprensa da época, muito antes do assassinato do Rei Dom Carlos & Filho, constatará que o facto foi prenunciado com antecedência, pela virulência do discurso maçónico e carbonário, escarrapachado sem pejo em letra de imprensa nos mais variados meios.

Efectivamente, muitos outros exemplos se poderiam encontrar, pois não foi apanágio exclusivo destes países, bem pelo contrário, este princípio de século foi fértil em tensões sociais, originadas nas profundas alterações sociais a que dera origem a revolução industrial e a recomposição do corpus social, com o advento do proletariado. Nesse âmbito, o caso mais flagrante foi sem dúvida o russo, cuja alma profundamente religiosa viria paradoxalmente a dar à luz o aborto soviético.

Mas então, por que razão a escolha do Uruguai? Para além das ligações afectivas lusas à colónia de Sacramento, Portugal pode considerar-se o grande patrocinador da independência uruguaia, pela conveniência do estabelecimento desse estado-tampão entre a Argentina e o Brasil, assegurando a navegação e o comércio (ou melhor, o contrabando, grande fonte de receitas) no Rio da Prata, pelo controlo da sua desembocadura, também muito cobiçada pelos ingleses.

A província Cisplatina, na margem esquerda do Rio que servia várias províncias brasileiras, foi assim anexada pouco antes da declaração de independência brasileira e incorporada no Reino Unido (de Portugal e do Brasil). Todavia, aos comerciantes ingleses que operavam na zona, não interessava nem a hegemonia espanhola (ou argentina) em ambas as margens, nem o expansionismo português. Assim nasceria o novo país, pouco mais de meia dúzia de anos depois.

Dom Pedro, passado de quarto a primeiro e já imperador, que se havia empenhado numa longa, desgastante e ingrata guerra, viu a sua popularidade cair em flecha e acabou por desistir da anexação em proveito do seu novo império (no entanto, mais pequeno que aquele que herdara). Porém, garantiria o essencial dos seus objectivos estratégicos, mantendo uma espécie de protectorado sobre o Uruguai, consagrando o direito de intervenção em caso de ingerência argentina.

O intervencionismo maçónico-britânico, motivado pelos seus interesses comerciais, visava a conquista de Montevideo, cidade considerada a chave do Rio da Prata, à imagem da estratégia empregue com Gibraltar, que controlava o tráfego naval no estreito. Contudo, o ferrenho nacionalismo dos gaúchos uruguaios do interior, transformou-se em matadouro para os ingleses. Foi por isso com alívio que o mediador inglês concluiu, em Agosto de 1828: «Colocámos algodão entre dois cristais».

Para não nos afastarmos do tema, resumiremos rapidamente a história do país ao longo do resto desse século XIX, como uma série quase ininterrupta de guerras civis, promovida por caudilhos terra-tenentes de grandes áreas dedicadas à exploração extensiva da pecuária, à produção de carne (salgada para conservação, antes do advento da tecnologia do frio) e de lã, ainda hoje a base da economia exportadora do país, por essa razão muito dependente da cotação dessas matérias.

Mas então, perguntará o leitor, qual a relação com a Guiné-Bissau? Há múltiplos pontos em comum. O Uruguai é um dos mais pequenos países do continente. Também a Guiné-Bissau está actualmente dependente, na quase totalidade (98%, segundo os últimos dados disponíveis) de uma única commodity, a castanha de cajú. Também na Guiné-Bissau os políticos não se entendem. Também aqui há sobretudo dois Partidos, se bem que um deles quase nunca tenha governado.

No Uruguai, no início do Século XX, havia dois Partidos, os Colorados e os Blancos, que traduzi (ilegitimamente). Talvez este seja um caso de daltonismo, pois estes últimos se poderiam chamar, com mais propriedade, de vermelhos, e não é por vos estar a falar por altura do dia de São Valentim, nem pelo sangue que correu, nem por serem índios (os quais foram quase todos exterminados). Os coloridos eram os donos do chão, os brancos sobretudo emigrantes chegados da Europa.

Com efeito, o Uruguai era, por essa altura, um país sub-povoado, visto como destino de excelência pelos emigrantes de uma Europa no extremo oposto, com alta densidade populacional. Se as motivações de muitos emigrantes eram de natureza económica, uma boa parte também o fazia por motivos políticos. Não apenas de forma negativa, como os exilados da Comuna de Paris, mas também por razões positivas, não tivesse Garibaldi, o pai da unidade italiana, por lá passado.

Garibaldi, depois de estanciar na província brasileira de Rio Grande do Sul, que sonhou declarar independente do Brasil, aí se encontrou e se juntou com a companheira da sua vida (passe o romantismo, atendendo à proximidade do dia dos namorados), filha de pescadores açorianos, mulher «divorciada» e exímia manejadora da espada a cavalo, que o iniciou na cultura gaúcha. Daí seguiu para o Uruguai, com a sua legião de voluntários de camisa vermelha e bandeira preta, aliando-se aos coloridos.

Tal como as arquivoltas deste artigo, a fazer-nos lembrar a «pescadinha de rabo na boca», ou o ditado guineense «volta di mundu i rabu di pumba», não nos devemos deixar confundir pelas aparentes contradições do mundo. O revolucionário, que chegou a Grão Mestre do Grande Oriente italiano, foi iniciado numa loja de Montevideo, dependente da Maçonaria irregular brasileira e, paradoxalmente, viria a oferecer os seus serviços militares ao Papa Pio IX, em 1846.

Para evitar mais circunvoluções, e não perder o fio que nos oriente (não, este Oriente não vem da loja nem da designação da República - Oriental - do Uruguai) pois Ariana não nos perdoaria, regressemos ao Século XX. Nô riba Plata (uma graçola bi-linguística luso-crioula com Ribatejo, que inclui ambas as margens do Tejo, aquilo que o Uruguai pretende esconjurar). Neste princípio de Século, havia duas facções antagónicas, do lado de cá do Rio da Prata. Conservadores e subversivos.

Os gaúchos, agarrados às suas tradições, ao seu modo de vida, à propriedade da terra, duramente defendida com o sangue dos seus filhos, são contestados pelos imigrados anarquizantes, chegados da Europa, fertilizados pelas novas ideias radicais e contaminados pela urgência da apropriação política. Contudo, estes últimos encontraram adversários à altura nos primeiros, educados por vários séculos de conflitos fronteiriços. As divergências iriam redundar em guerra aberta.

No entanto, o Uruguai teve a sorte de beneficiar de um líder à altura do desafio, que se chamava José. Que merece por isso o respeito do mundo, a título de paradigma de tolerância, sem por isso degenerar em indecisão ou tibieza. Em termos de Presidentes, o Uruguai teve recentemente como seu sucessor um outro José. Este, se mereceu o respeito global pela sua humildade e honestidade humana, ficando conhecido pelos seus exemplos anti-corrupção, por outro lado, não se pode gabar de tal performance.

Exactamente um século separa estes homónimos, Batlle e Mujica, na presidência do Uruguai. Chegámos então finalmente, depois de tantas considerações preliminares, ao prometido cerne da questão, os perigos da retórica inflamatória. Neste ponto recorreremos ao poder da palavra, que pode ser uma importante arma política, encarnando em especial na poesia. E desde já nos declaramos tributários de um magnífico estudo de Daniel Vidal, da FHUCE-UDELAR sobre a poesia anarquista no Uruguai.

Este autor apresenta-nos a evolução do poeta anarquista Ángel Falco (1885-1971), que na sua juventude havia apelado à violência, com um discurso internacionalista e anti-nacional. Porém, devido à benéfica influência de um líder carismático, o presidente José Batlle, evoluiu e acabou por transformar-se num bom e pacífico patriota. É essa lição que pretendo partilhar hoje aqui. Se queres a paz, prepara-te para a guerra. Mas a verdadeira batalha é a do Verbo encarnado.

Ainda antes de entrar no assunto (correndo o risco de me tornar irritante com tanto preâmbulo), que é a segunda presidência do nosso José (oriundo da casta presidencial, filho de Presidente e por isso Presidente-Rei, como Fernando Pessoa chamaria a Sidónio Pais, passados uns anos do desenrolar desta história) há que dizer que o Uruguai foi precursor em muita coisa, como a separação da igreja e os direitos da mulher, introduzindo o divórcio a simples pedido da mulher sem quaisquer formalidades.

Aconteceu isso por 1907. Enquanto na Europa ainda andavam a sonhar com os soldadinhos de chumbo do Napoleão e a ler um idiota alemão chamado Clausewitz que não percebia nada da poda (erro que conduziria a Europa ao estúpido massacre da sua juventude nas trincheiras, numa guerra estática), equipou o seu exército com metralhadoras, para lidar com uma rebelião de um líder branco que aparecera, eliminando-o sob uma saraivada de balas. Aparício Saraiva morreu em combate a 10/09/1904.

Mas José não humilhou os vencidos. Sabendo que, em qualquer circunstância, mais vale uma má paz que uma boa guerra, chamou os seus adversários, e deu-lhes a escolher entre duas opções: 1) continuavam a esticar a corda e a fazer o que andavam a fazer e matava-os a todos; 2) sentavam-se à mesa a negociar. Já sentados, perguntou-lhes o que queriam. Direitos dos trabalhadores? Sim, senhor. Jornada de oito horas? Sim, senhor. Divórcio? Sim, senhor. Educação gratuita? Sim, senhor.

Era isso que queriam? Parecia razoável. Até porque os seus apoiantes eram fazendeiros paternalistas das pampas e não capitalistas sem coração da cidade. Mas não só. O próprio Presidente vivia em plena ilegalidade, com uma mulher separada, para «escândalo» da sociedade. Vai daí, convidou os próprios vencidos a redigirem as leis que se propunham, mas bem feitas e sustentadas. A do divórcio (1907) levou dois anos a preparar, mas é considerada precursora em todo o mundo.

Voltando ao nosso Anjo da Morte. Em Junho de 1908, o matutino El Día publica uma magnífica caricatura de Ángel Falco, o poeta vermelho, que o mostrava vestido de preto, patilhas generosas, abundante bigode e farta juba, com duas bombas nas mãos, contendo cada uma o título de dois dos seus livros mais famosos, «Cânticos vermelhos» e «Vida que canta». O falcão assumira essa imagem, por exemplo num poema de 1905 no qual opunha à noite russa «a Aurora das bombas anarquistas».

O problema das palavras acaba por ser semelhante ao das bombas. Depois de serem lançadas, não é possível voltar atrás para recuperá-las. O mal está feito. No entanto, há uma profunda diferença entre as respectivas naturezas. O anarquista que lança uma bomba para o meio da multidão, procura o terror indiscriminado; o poeta procura convencer, e para isso aposta na vida do indivíduo e não na morte. Daniel Vidal sublinha o carácter antitético, neste caso, da passagem do escrito ao feito.

Ora já uma década antes, no mesmo diário, Batlle havia enfrentado esta questão, numa polémica lançada pelo então Ministro das Indústrias Eduardo Acevedo, no El Siglo de 8 de Dezembro de 1895, a que este respondeu no dia imediato, 9, voltando à carga dois dias depois. Interessante que se utilizem os termos de «inflacção retórica», para traduzir essa bombástica escalada, que parecia estar irresponsavelmente na moda. Era de temer que das palavras pudessem passar aos actos mas José não estava nem aí.

Por falar em bombas, o próprio Presidente seria vítima de um atentado, com um engenho explosivo composto por várias dezenas de cartuchos de dinamite, ao fim da tarde do dia 6 de Agosto de 1904, o qual explodiu (por precipitação do accionador) a poucos metros do coche que o transportava, com a esposa e dois filhos menores, escapando toda a família milagrosamente incólume. Ao susto dos seus o Presidente reagiu com uma grande calma, como se não fosse nada com ele.

Depois de tranquilizadas as crianças, dirigiu-se aos seus homens, pedindo para tratarem de o levar até à polícia, onde pretendia apresentar queixa. Nessa mesma noite, já perante o chefe interino da Polícia de Investigação Criminal, senhor Salvador Russo, responsabilizou-o pessoalmente não só pela vida dos ignobéis conspiradores, como também pela sua integridade física e moral, o que levou um artigo recente a sugerir que a síndrome de Estocolmo (1973) deveria antes receber o seu nome.

Acabou por se descobrir que os bombistas eram de duvidosa filiação, tendo recebido dinheiro para executar o diabólico plano. Os violentos activistas sofreram assim um rude golpe, ficando desacreditados, coisa que uma repressão cega não conseguiria, transformando-os em mártires. Vários foram os anarquistas que condenaram a tentativa de atentado, entre eles V. Garcia, que afirmou numa conferência que «seria incapaz de empunhar o punhal contra o mais liberal dos Presidentes».

Graças à sua coragem e determinação, o Presidente começou a ganhar o respeito dos seus próprios adversários anarquistas brancos (sobretudo italianos, um pouco à imagem dos sem abrigo, ou «descamisados» argentinos que Evita Péron perenizou) passando a notar-se uma inflexão no discurso destes, com uma maior contenção verbal, circulando a ideia de que se deveriam abster de usar «insultos grosseiros» e preferir uma linguagem «culta e razoável», chegando a auto-censurar-se.

Voltando a Daniel Vidal, este defende no artigo citado que a liberdade poética, implicando uma profusa liberalidade do palavreado, toma por escudo a metáfora. Pode mesmo servir para esconjurar um desfecho sangrento, verbalizando-o. Aparentemente, José Batlle compreendeu-o, mesmo conhecendo os riscos inerentes a uma semântica doutrinária que caía fora da alçada do bom senso. Daí ter tido a boa ideia de dividir as águas entre o escrito e o falado. Exemplar!

O chefe da polícia de Montevideo, Coronel Pereyra, foi instruído para ignorar pura e simplesmente as manifestações culturais, as declamações de poesia nos pontos de encontro anarquistas; mas, por outro lado, recebeu ordens precisas para fazer cumprir com a lei, e nesse contexto se dirigiu pessoalmente aos operários, numa manifestação realizada por ocasião do 1º de Maio: «Podem gritar todos os "vivas" que quiserem, no entanto, estão desde já terminantemente proibidos de gritar "morras"»!

O próprio Ángel Falco, que não tivera quaisquer problemas com a publicação dos seus «Cânticos vermelhos», onde escrevia «Povo, povo, que esperas? / Luta e mata e afoga aos teus senhores / no sangue de todos os teus martírios» acabaria detido no 1º de Maio de 1911, por ter publicamente classificado como «canalhesca» a intervenção policial contra alguns exaltados. Aquilo que pode passar por uma figura de estilo, por escrito, assume outro valor, quando dito de viva voz, alto e bom som.

Nem tudo pode ou deve ser posto no mesmo saco, em termos da instrumentalização bélica do verbo. A 22 desse mesmo mês de Maio, no contexto da convocação de uma Greve Geral, o propagandista Cândido Miguez apelou à queima de vagões dos caminhos de ferro, como em Barcelona; Carlos Casares disse que «abririam sulcos a dinamite nas ruas de Montevideo como o arado faz na terra» e Gregorio del Valle ameaçou «pisar a cabeça dos patrões como a reptéis venenosos». Todos acabariam presos.

Por outro lado, o Código Penal de 1889 prescrevia explicitamente que «quem ofender, de qualquer maneira que seja, com palavras ou com feitos, a honra, a rectidão, ou o simples decoro de uma pessoa, será castigado, ao arbítrio do Juiz, com prisão até seis meses, ou multa até seiscentos pesos». Há uma clara diferença de grau na pressão ideológica, quando se trata da incitação à violência e da passagem da ideia à açção: entre a leitura privada e a pública, entre o genérico e o pessoal.

Por isso é decerto preferível, o termo de activista cívico ao de militante partidário, o qual remete para uma linguagem militar. O activista age através da palavra. Obviamente aspira a conseguir extrair o máximo proveito possível para a sua palavra e as suas ideias, a convencer pelo debate. Mas só tem a perder em confundir-se com um militante, em tornar-se um fanático intolerante, como os exemplos que muitas vezes nos proporcionam os adeptos da bola quando envergam a camisola do seu clube.

Defende Daniel Vidal que «a conotação simbólica depende do contexto de emissão, o discurso poético e cultural neutraliza o insulto e a ameaça com o somnífero metafórico. Pelo contrário, a oratória política ou sindical potencia a sua virulência. A poesia fortalece as mentes, o discurso directo das ruas altera a ordem e a lei». Segundo Alberto Felde, no café Polo Bamba, «quando alguém produzia um discurso de RETÓRICA INCENDIÁRIA de praceta, valia-lhe por vezes a chegada da polícia e a prisão».

A retórica dos políticos guineenses, quando inflamada, excede por vezes os limites do bom senso. Mas a retórica da ONU não é melhor, pois é inoperante, estéril e vazia, sobretudo pela sua especial acutilância em ordem a países pequenos e aparentemente indefesos. Mas há que reconhecer que nunca na ONU se escreveu tão bem, como no passado dia 14 de Fevereiro: uma autêntica pérola, «instar os políticos guineenses a absterem-se de retórica inflamatória». A quem se endereçam?

Às facções em litígio, na aparentemente interminável crise política que mantém o país parado há quase dois anos? Aos dirigentes partidários que promovem o bloqueio das instituições? A Guiné-Bissau tem tudo a ganhar em olhar para o exemplo uruguaio de há pouco mais de um século atrás. Uma das batalhas de Batlle foi contra os governos inclusivos que herdara, pois achava que os membros que os integravam deveriam ser responsabilizados pelos seus actos e pelas suas omissões.

Mas, por outro lado, tudo fazia para fiscalizar os seus próprios partidários. Quando os seus adversários quiseram bloquear a sua legitimidade, chegou a dar instruções aos coloridos para votarem nos socialistas. O primeiro deputado destes, Emilio Frugoni, foi eleito dessa forma, como se pode ler num artigo postado no FaceBook. A sua curiosa engenharia eleitoral pode parecer contraditória, mas teve o seu sucesso. Muitos anarquistas seus adversários acabariam como diplomatas no exterior.

Acreditava que as maiorias legislativas deviam ser cuidadosamente passadas ao crivo e vigiadas, para conservarem a legitimidade obtida nas urnas; e ninguém melhor para isso que as minorias calejadas no pensamento e na acção. O próprio Eduardo Acevedo, já citado, perante a recusa do seu Partido em autorizar aos seus militantes participar da fórmula fiscalizadora, e aceitarem as bancas oferecidas, fez o elogio de Batlle, considerando-o como «o mais avançado da América Latina».

Hoje em dia, na América do Sul, o Uruguai é o país com o maior Índice de Desenvolvimento Humano, com a melhor qualidade de vida, com menos desigualdades sociais medidas pelo Índice de Gini e o maior PIB per capita e ainda, segundo a Transparência Internacional, classificado como o menos corrupto desse mesmo continente. O país é conhecido por ser pioneiro em medidas relacionadas com direitos civis e democratização da sociedade, como o divórcio e o direito de voto feminino.

Ultimamente, mantém intacto esse prestígio, tendo legalizado o cultivo, venda e o consumo de canábis, o que levou a revista britânica The Economist a classificar o Uruguai como o país do ano de 2013, pela promoção de «reformas inovadoras que não se limitam apenas a melhorar um país, mas que, se imitadas, poderiam beneficiar o mundo». A Reader's Digest também classificou o Uruguai como o nono país «mais habitável e verde» do mundo e o primeiro em toda a América.

A Guiné-Bissau tem condições para dar um grande salto para a frente. Os guineenses, que durante muito tempo mantiveram um impressionante nível de analfabetismo, foram alfanumerotizados em pouco tempo, graças à sua pioneira adesão às novas tecnologias da comunicação, aos telemóveis, à internet. Reconhecer os bons exemplos do Uruguai, o qual em tempos se encontrava em condições semelhantes de impasse político, de «retórica inflamatória» e à beira de um ataque de nervos, pode ser uma boa política.

A Guiné-Bissau teve o seu chefe de guerra com Amílcar Cabral, que lhe deu prestígio internacional. Precisa hoje de líderes de paz e tolerância à altura de José Batlle. Contribui tu também: quando vires a hipocrisia, a corrupção, a mediocridade, a intolerância, a inveja; combate-lhe com Batlle!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Lacerda volta a atacar

Rabo escondido com gato de fora. Finalmente, vem-se a perceber que os amigos de Costa e os amigos de Passos Coelho são todos farinha do mesmo saco. À imagem do que fizeram com falso resgate do BAO na Guiné-Bissau, usaram do mesmo expediente para colocarem os portugueses a pagar o buraco na Caixa, que serviu para se financiarem à grande e à francesa, nas suas inconsistentes masturbações maçónicas. E quem aparece, movendo-se na sombra do Primeiro-Ministro? Lacerda novamente, no Golpe, para não variar. A hipocrisia e o cinismo abrangem toda a «sociedade política», que usou e descartou uma equipa de gestão, deitando-lhes um falso tapete, apenas para mais depressa se livrarem dela, depois de cumprida a função que dela esperavam. Quanto ao editor da SIC, tem razão naquilo que diz, mas poupe-nos à vaidade de pretender ter inventado a pólvora! Só não via quem não queria: finalmente retirou a trave que tinha no olho, mas não se gabe tanto, não convence ninguém que seja assim tão, tão, tão, tão pioneiro.

Depois do cancelamento da «garantia soberana» que afundou o BES, quem volta a estar em destaque nos calotes da Caixa e suas redes de beneficiários? Isabel dos Santos, através não só da EFACEC mas de todas as outras ligações, mais ou menos camufladas sob estruturas de sociedades em cascata e de participações cruzadas; ou Sobrinho, do grupo DN... As carecadas começam a aparecer à luz do dia. Interessante é que as revelações da imprensa portuguesa só surjam no contexto já desesperado da falência angolana [Isabel admite em conferência de imprensa a falência da Sonangol], a quem os senhores arquitectos do vento e da espuma do mar se expuseram furiosamente, numa submissão canina que hoje, que a denunciam, parece àqueles que o fazem já há muito tempo, bem tardio. Andavam distraídos? Prognósticos, só depois do jogo acabado? Em equipa que ganha não se mexe? O resultado da sua necedade está à vista...

Depois dos inebriantes «fumos das Índias» que empobreceram o país, o herdeiro dá um tiro no pé e amputa o Brasil, o Marquês de Sá da Bandeira vira o país para África, onde o capital colonial acumulado seria século e meio depois violentamente delapidado em pouco tempo (ao contrário do que fizeram outras nações de descolonização mais precoce). No entanto, não satisfeitos, voltaram «em força» para Angola, sujeitando-se a uma humilhante inversão de papéis. A farsa chegou tão longe no faz de conta, que há uma forte propensão para entrar em negação, como o Kwanza de José Eduardo dos Santos, que, apesar da ligeira recuperação do preço do petróleo, deverá desvalorizar no mercado informal para os 1000Kw por dólar (ou mais) na primeira semana de Dezembro, mas continua a afixar o inalterado e fantasioso câmbio oficial de 165 por dólar. A distorção da realidade atinge uns absurdos 600%, meia dúzia de vezes!

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Vaca fria dá à luz nado-morto

O Presidente não está mesmo bem do côco: com o siso oco, embalou na direcção errada. Desperdiçou o seu último cartucho ingloriamente, numa figura sem qualquer possibilidade de reunir o consenso social mínimo. Uma tomada de posse de enterro, sem uma palavra, sem ninguém. Um estado de graça que nunca começou. Um verdadeiro tiro no pé. Assinando o decreto da sua própria demissão não faria melhor: viola a constituição, legitima os seus actos «soberanos» com um «roteiro» exterior, chegando ao cúmulo de demagogia de pretender que o seu governo «inclusivo» (que o PAIGc aliás, já condenou) é «expressão e emanação da vontade popular». Jomav não sabe o que faz nem sabe o que diz. Já nada lhe parece poder aproveitar.

De golpe em golpe...

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A grande farra

Até há bem pouco tempo (exceptuando «assassinatos» pontuais de mentirosos e hipócritas como José Niza) a política portuguesa era tabu, neste blog. No entanto, o descaramento de Lacerda, ao insultar a inteligência dos guineenses, veio alterar as coisas.

O Observador está de parabéns, pela investigação de fundo à crise financeira nacional, especulada pelos medíocres e irresponsáveis «gestores» da banca. Apesar de, inevitavelmente, bastante longo, merece ser lido com toda a atenção este artigo.

Não se trata apenas da banca, mas da falência de um país, sob os olhares coniventes de uma classe política cega, anti-patriótica e corrupta, abusando da inércia e incúria de um povo manso e crédulo, para fazer vingar todo o género de chico-espertices.

Tive a felicidade de ter por Mestre a Leonardo Ferraz de Carvalho, com quem mantive pessoalmente (infelizmente morreu prematuramente, envenenado por esta gentalha!) muitas conversas sobre a realidade deste género de carapaus de corrida.

Não se fartava de avisar, no início dos anos 90 para os perigos da mentalidade de farra que se gerava. Pregava no deserto, como se viu. Apenas o Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles comentava ou dava feedback, daquilo que publicava no Independente.

Vou contar uma história pessoal, pois julgo que a ocasião o merece. Na viragem do milénio, eu era quadro do INE empenhado numa renovação técnica e tecnológica do Instituto, através de um Gabinete de Estudos e de um Grupo de Trabalho inter-regional.

Tendo tomado o gosto à investigação de todas as áreas, decidi abordar a área financeira, que era uma área tradicionalmente reservada, pela sua sensibilidade política e por ser «apropriada» pelos pseudo-tecnocratas monetaristas do Banco de Portugal & afins.

O que despoletou a minha pesquisa, foi um certo escândalo que se gerara, perante a introdução do euro, ao descobrir que a dívida pública tinha triplicado, em pouco mais de década e meia, desde que a Banca nacionalizada em 1975 começara a ser reprivatizada.

Era a primeira campainha de alarme. As estatísticas regionais, ao permitirem publicar uma maior desagregação geográfica, colocavam a nu muitas verdades e manipulações. Em termos de informação financeira, a banca privada fornecia dados da dívida.

Ora se, grosso modo, o défice público triplicara entre 1985 e 2000, consegui reunir dados que mostravam que a dívida privada aumentara exponencialmente mais. Ou seja: até 1985, a dívida total era a dívida pública. Depois, à pública, era preciso somar a privada.

Cheguei pois à inevitável conclusão de que a banca preparava uma insustentável farra, com a cumplicidade europeia. Estavam a «descontar» já a capacidade de financiamento que uma moeda forte haveria de proporcionar. Uma «aposta» especulativa no Euro.

Se havia uma certa polémica, com as pessoas escandalizadas, face ao discurso «futurista» do Euro e da União Europeia, qual a razão desse triplicar da dívida? Num país habituado às poupanças, à estabilidade monetária do ouro de Salazar...

Os alemães inundavam a banca portuguesa de dinheiro. E do oito passou-se ao oitenta. De um país de poupanças, passou-se, numa geração, a um país crivado de dívidas. Um país rico de gente pobre que se tornou num país pobre de gente «rica».

Os dados permitiam mostrar que a dívida privada era já, por essa altura, cerca de sete vezes a dívida pública, e ninguém parecia prestar qualquer atenção aos dados de base, todos encantados com o canto da sereia, ou melhor da senhora Alemanha euro.

Se a dívida privada era sete vezes a pública, a dívida total não triplicara, multiplicara por 21! (7x3) Claro que me pareceu algo de assustador, mas que deveria ser publicado. Comecei a trabalhar na parte gráfica, produzindo tabelas e gráficos adequados.

Entretanto, para além de outros dissabores, sou chamado à Direcção, pelo Vice, Engenheiro Chambel, eminência parda do sistema, para uma reunião. Dá-me conta que tomara conhecimento do trabalho em curso, que já encaminhara para quem de Direito.

Fiquei muito surpreendido, por saber de um interesse tão actual da Direcção no trabalho desenvolvido, até que, depois de uma conversa descontraída e de «alto nível» de inteligência da situação, me atira com: «tem a noção do que é a confiança sistémica»?

Claro que fiquei logo esclarecido do que me esperava. Tratava-se de esquecer o trabalho e, sobretudo, nem pensar em «transpirar» para fora. Sendo do quadro, estava abrangido pelo «sigilo estatístico». Contestei. Também tinha (supostamente) «autonomia técnica».

Acabariam rapidamente por me colocar na prateleira. Recusei ficar sem funções e revoltei-me contra todas as imposições que considerava ilegítimas. Fui eu próprio a bater com a porta. Os dados eram semi-públicos. Poderia ter publicado o trabalho.

Mas para quê? Farto de ter partilhado o estigma de «profeta da desgraça» lançado sobre Leonardo Ferraz de Carvalho com os seus prudentes avisos, sabia que rapidamente seria desacreditado, e até me tentariam humilhar «pseudo-tecnicamente».

Ou simplesmente ignorariam, já inebriados com os odores da farra em preparação. Não. Não me armaria em «desmancha-prazeres». O tempo confirmou todos os receios, mostrando que o não questionamento nos conduz como ovelhas ao matadouro.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

A fala do umbigo

Domingos Simões Pereira incita subrepticiamente à violência, não restando dúvidas de que é uma ameaça à segurança nacional. Deveriam ser tomadas providências, apesar do vazio governativo, para inibir o senhor de atentar contra a paz interior, arrecadando-o atrás das grades. O PAIGc está a um passo da extinção.

Como é possível ignorar a este ponto o 7 de Junho? Então «a Guiné-Bissau vive a mais profunda crise política e institucional jamais registada desde a implantação da democracia multipartidária»? Passe a vaidade de a ter produzido... Sendo sua, torna-se numa obra-prima, claro! É subestimar aqueles, igualmente maus, que o antecederam! Então e Nino, não teve profundas crises institucionais? E Cadogo, não as teve também?

Dois coelhos de uma cajadada: minimiza 1998 e banaliza a ameaça da violência que quer sugerir nas entrelinhas. Não satisfeito com essa barbaridade, ainda tem tempo para assumir publicamente aquilo que os mais atentos já tinham percebido, a manipulação da franja manifestante que apelida por «Sociedade Civil».

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Funcionários desmarcam-se dos deputados

Defendendo que «os deputados não constituem o total dos funcionários da ANP», estes ameaçam com paralisação. Mas como pode algo que já está paralisado, paralisar? Para alisar o busílis, talvez fosse melhor uma manifestação, contra o instigador da situação em que se encontram, ao paralisar a instituição e o país.