quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Salvar os cacos

Ao co-mandante do assassinato de Cabral (para além de tentar salvar os cacos do «seu» PAIGC em torno de outro kota kakétiko) sobre a grave situação em Angola, só lhe ocorre dizer que o «processo de consolidação e edificação das instituições dos Estados independentes é mais complexo e mais complicado do que se pensava».

A prisão do amigo Sam marca o fim da cobertura que a República Popular da China vinha dando ao Presidente angolano. Há quem sugira diarreia, mas julgo que a «indisposição momentânea» foi azia provocada por tal notícia. O mundo foge-lhe debaixo dos pés. Está na hora de se colocar a milhas, pois já não tem pedalada para o andar da carruagem.

Felizmente, o Doutor Domingos da Cruz, que José Eduardo dos Santos mantém no seu cárcere privado, mostrou aos jovens revús a necessidade de manter sempre aberto um corredor humanitário, por onde o ditador possa fugir com a sua família, para evitar a inevitável fúria popular, que sobre ele se abaterá (basta lembrar a dificuldade que teve Salgueiro Maia para evacuar Marcelo Caetano do Largo do Carmo, no chaimite Bula).

O suicídio de uma nação

É engraçado como as coisas mais improváveis batem certo. Que significa a «indisposição temporária» que acometeu o Presidente angolano às 11h00, hora marcada para falar ao país, precisamente quando toda a gente esperava com ansiedade para ouvi-lo? Um pedido de demissão?

É, no mínimo, falta de respeito. Em tempo de vacas gordas, nunca perdeu esta oportunidade; a atitude é uma grave irresponsabilidade, minando em profundidade o seu campo de legitimidade, já muito afectado.

Julgo compreender agora, o sonho que o meu amigo Dago comigo partilhava ontem (embora não esteja on-line, para lhe perguntar, julgo que não se importará que divulgue, pois não tem nada de pornográfico): o Dago sonhou com Luaty Beirão como Presidente de Angola. De facto, isso traduz o que se passou. A dignidade de Luaty colocou José Eduardo dos Santos de joelhos. Se ZéDú está velho e caduco, tenha a ombridade de chamar o filho do seu amigo e passar-lhe o poder.

Quando assumiu o poder, JES não era muito mais kota do que Luaty hoje. Angola precisa de sangue novo, e pode dar graças a Deus (não a[d]os Santos) de o ter: jovens que aprenderam a pensar pela sua própria cabeça! Onde já se viu, numa terra de bajuladores e atrofiados do sim, senhor, prender professores universitários e jovens com várias licenciaturas?! Essa seria uma transição tranquila, uma África do Sul ao contrário, e JES ganharia o Prémio Nobel da Paz do ano que vem...

Alternativas, mô kota?

PS O título é dedicado a Mena Abrantes, último reduto intelectual do regime, que confessa ter esgotado os argumentos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Governo de pernas curtas ou nado morto?

O novo Governo guineense foi empossado pelo Presidente expressamente a contra-gosto, como consta do seu discurso: «resulta do entendimento possível», com base em pressupostos de urgência e de minimização dos estragos, assumidas «perspectivas diferentes», e divergências quanto a titulares. Que esperar de um Governo nestas condições, resultado de incoerentes querelas internas pelo poder, cujo suposto líder é reduzido a um simples testa-de-ferro? Que pensar quando o suposto trunfo e tecnocrata das Finanças, se desmerece num degradante elogio bajulatório, em jeito de desadequado culto da personalidade em ditaduras, louvando o «desprendimento» a que DSP se viu reduzido, como se fora opção própria? É óbvio, como declarou em exclusivo à Agência Noticiosa oficial o Doutor Silvestre Alves, que não há grande coisa a esperar deste governo «porque as pessoas nomeadas são pouco recomendáveis e de competências duvidosas».

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Prisão de Dienderé

O exército popular burkinabé, às ordens do Primeiro-Ministro Zida, deu o último assalto ao Palácio Presidencial e ao quartel do Regimento desmobilizado, recorrendo a uma preparação de artilharia, conseguindo ocupar os objectivos sem combate, obtendo a rendição de várias centenas de desmobilizados e obrigando Dienderé a refugiar-se no enclave da Santa Sé em Uagadugu. Zida acaba de garantir ao Burkina 24 que a sua prisão é agora uma questão de horas.

O povo do Burkina Faso e o seu exército estão de parabéns, permitindo renovar um foco de esperança num mundo mais justo, com especial valor pelos péssimos sinais que esse mesmo mundo dá em termos dos propalados «Direitos Humanos». Esta é uma clara derrota de Ouattara, Déby, Faure e Sall. Mas também de Nkurunziza, Kagame, e José Eduardo dos Santos.  O povo, ao lado do exército regular, derrotou as unidades militares «de elite» da guarda presidencial.

Delapidação acelerada de Fundo Soberano

A Deloitte & Touche obrigou o filho de José Eduardo dos Santos a confessar que já perdeu mais de 1/3 do capital investido no Fundo Soberano (apenas em Fundos de Investimento) «Dos 3 bilhões de USD comprometidos aos sete fundos de investimento já constituídos, mais de 1,1 bilhões de USD encontram-se comprometidos com implementação, diligência devida ou revisão de projetos»

A credibilidade financeira do relatório é tendencialmente nula, para quem saiba como se fazem estas coisas. Basta o discurso: «investiu num investimento com o capital de USD 400 milhões (...) e visa obter elevados retornos financeiros sustentáveis ao longo prazo com base neste investimento, que também trará vários benefícios sociais

Investiu num investimento? Puro amadorismo, ao «mais alto nível». Ah, e talvez seja melhor despedir o redactor brasileiro, é mesmo muito fraquinho, para quem se dá ao luxo de apresentar 1,1 mil milhões de dólares de prejuízo (no mínimo, a que se vem somar a conta da D&T, que decerto não foi pequena, tendo em conta o atentado à inteligência).

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Dienderé : Coup d'État manqué

 Ou Assurance-Vie pour un éxil doré?

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Effacement de fichier

Il y a ceux qui sentent le piège et craignent le péril d'une répétition des evènements de Bujumbura, suite à l'assaut des instalations tenues par le RSP. Ne pas oublier que, malgré les déclarations apparamment craintives de ces derniers jours, Dienderé (avec son régiment) se vantait de n'en faire qu'une bouchée de l'armée regulière.

Il y a aussi ceux qui ne pensent qu'à effacer ce fichier devenu trop encombrant... Par contre, pour l'Histoire, il faut prendre Dienderé vivant, pour le traduire devant la Justice. Attention aux balles egarées sur le gars...

Quel est le rôle de la France? Même en faisant croire à la condamnation des putchistes, l'activité militaire française ne s'est en aucun moment arretée. Retenir le Président contre son gré (Kafando a dejà regreté être tenu à l'écart), et une re-inauguration par la main de la communauté internacionale, ne traduit pas les forces sur le terrain en ce moment.

C'est un procès national et celà se doit de le rester. L'embassateur des États Unis l'a clairement annoncé se mettant du coté du peuple et sommant le RSP de déposer ses armes, tout comme l'a fait l'Union Africaine.

Il n'y a que la grande confusion régnante que puisse justifier l'engagement du Président du Nigeria (bien que lui aussi un militaire), dans cette louche affaire de FranceAfrique. Macky Sall, Faure et Ouattara, avec cette agenda, ne sont pas les bienvenus à Ouga!

Le Président et le Premier-Ministre sont les titulaires légitimes du pays. L'ex-commandant des démobilisés n'est personne d'autre qu'un futur condamné, et c'est une erreur de considerer un traître et hors-la-loi comme partie prenante.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

A redescoberta da pólvora

O Governador do Banco de Angola vem agora desmistificar a rectificação do OGE, precisamente nos termos em que foi, na altura da sua aprovação, apresentada aqui neste blog.

«Neste aspecto, é de notar que o ritmo mais brando de crescimento económico impacta negativamente o crescimento não só do Produto Interno Bruto (PIB), mas também do Produto Nacional Bruto (PNB), com a agravante de que a queda do PNB é maior do que a do PIB, devido aos seguintes factores:

No PNB calculam-se apenas os rendimentos dos residentes cambiais (abrangendo, no caso do petróleo, só o profit oil do Estado e os impostos arrecadados ao sector petrolífero); Por sua vez, no PIB calculam-se os rendimentos tanto de residentes cambiais como de não residentes, neste caso abrangendo a parcela dos rendimentos do sector petrolífero usada para ressarcir as despesas do cost oil; O cost oil corresponde, portanto, a uma parcela rígida do PIB, pois não se contrai na mesma proporção da queda dos rendimentos da exportação do petróleo; Deste modo, o impacto negativo da queda dos preços do petróleo recai na sua quase totalidade sobre o profit oil do Estado e sobre os impostos pagos pelas Companhias operadoras, provocando uma contracção mais forte no PNB do que no PIB, com reflexos directos nas receitas do OGE.
»

Leiam-se também as tentativas de tapar o sol com a peneira e as contas da Sonangol (entretanto bastante agravadas), que permitem ajudar a esclarecer a questão, cujos contornos se começaram a desenhar há um ano, com a queda no preço do petróleo, que me levaram a escrever aqui, em meados de Dezembro «O preço do barril de petróleo desceu abaixo do valor do custo de produção do petróleo angolano: Angola pode, pura e simplesmente, "apagar a luz do aeroporto", se a actual cotação de mercado se mantiver.»

Para além desta «confissão», passando sobre a mera propaganda gratuita e enganosa, há mais dois pontos que constituem contributos para o anedotário: dizer que Angola dispõe do crédito necessário no exterior e que passará a pagar ao exterior em kwanzas.

«O BNA continua a buscar fontes adicionais de liquidez externa, nomeadamente através de acordos de intercâmbio de moedas, na base dos quais saldos de operações comerciais, mas também de operações financeiras com os nossos parceiros poderão ser pagos na nossa própria moeda. Mas, o mais importante, é reconhecermos que o nosso País, apesar da queda do preço do petróleo, ainda beneficia do facto, de que a sua produção futura, continua a constituir uma garantia sólida para acedermos às linhas de crédito internacionais para a importação de bens e serviços estratégicas para o relançamento da actividade económica em todo o país»

Como se alguém aceitasse receber kwanzas no exterior... mas sendo sobretudo um contra-senso com a política monetária rígida adoptada pelo BNA. Quanto à «produção futura», num país em que o custo de produção é de mais de $65 o barril (para não usar o ano de $85 como amostra), essa produção vale $0, pois a cotação do referido dá mostras de se manter largamente abaixo desse valor, de forma estrutural. O amontoado de inconsistências arrazoadas de justificações apenas vem descobrir mais a careca de um iminente descalabro das contas do Estado.

Ler íntegra do discurso do Governador.

Ambiente de cortar à catana

O ambiente é de cortar à catana, em Uagadugu, segundo o Aujourd'8 au Faso. Tal como o próprio golpe, aliás, aquilo que primeiro não passavam de rumores, converteu-se em ataque de pânico na capital do Burkina, com toda a gente, já em greve ou, no mínimo, com pouca vontade de trabalhar para esta farsa, a correr para casa. O exército nacional está a convergir para Uagadugu, tendo bloqueado os principais eixos rodoviários e cercado a capital. Os rumores acabam de se confirmar, com a exigência de rendição do Batalhão Presidencial e do seu comandante, o usurpador Dienderé, que, de qualquer forma, terá, perante a História, o mérito de ter mantido o poder o dobro do tempo do Governo Baciro, já conhecido na Guiné-Bissau como Governo 48. Ainda estrebucha, com insinuações de contra-ataque, mas admitindo já que se encontra cercado, ao falar de retaliar «se atacado».

O Burkina não precisa de mediações, não precisa de conversas moles da comunidade internacional, não precisa da hipocrisia da França: o seu exército, representando a vontade do seu povo, inspirado no seu grande líder africano Tomás Sankara, saberá resolver os seus próprios problemas. Enquanto o assassino de Sankara que se proclamou Presidente já só pensa em como sequestrar estrangeiros para oferecer pretextos ao Presidente francês para se envolver, há que frisar que este é um problema interno do Burkina, que já tem quase três décadas, e que seria inteligente deixar os seus nacionais resolverem sem interferências ou ingerências externas. Os franceses que libertem o Presidente, para não agravarem a percepção negativa que o povo já tem do seu papel dúbio nesta crise. O Burkina Faso prepara-se, uma vez mais, para dar ao continente uma importante lição de africanismo, de independência e de afirmação, contra aqueles que querem colocar os benefícios do progresso ao serviço de uma minoria mentalmente alienada e neocolonizada.

Viva Tomás Sankara!

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

La révolte des tontons

Au Burkina, on dirait qu'on assiste à un deuxième assassinat de Thomas: les enfants terribles de Blaise, formés aux académies françaises, sont à l'origine d'un nouveau coup d'état. La Garde Pré (sidentielle ou torienne), est en train de trahir la population (toujours aux ordres des mêmes). La France continue de souiller son sol, berceau de la Liberté, en instrumentalisant des démobilisés pour imposer ses interêts, en soutenant des putchistes contre la volonté de tout un peuple.

«Est-ce un coup d’Etat ? Pourquoi y a t-il pas de pronunciamiento ? Qui est à la baguette ?» Voilà les trois questions auxquelles il faudra répondre dans les prochains jours. Pour plus de détails, lisez Aujourd'8 au Faso.

À la une: «La patrie en danger». Sankara retournera!

Les macoutes?
À bas!

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Da impossibilidade da sanação do vício

O Acórdão do Supremo Tribunal fundamenta razoavelmente a decisão tomada e é prenhe de consequências, ao formalizar o precedente da responsabilização política, admitindo, legitimando e fundamentando a sindicância judicial. Graças a Deus, a Justiça guineense funcionou e está de parabéns. E não é inocentemente que uso esta expressão.

Se a CRGB (para usar a sigla do STJ) é laica, parece relevante que um  poder (entre os quatro que reconhece a Constituição) assuma que há coisas sagradas, que estão acima da mediocridade da mediania política, enformada pelo PAIGC (que por sua vez inquinou o PRS). À falta de outras referências, o Plenário, em busca de legitimidade para a gravidade que o caso revestia (apontando para o Artigo 2º da CRGB, que, acima da legitimidade dos órgãos representativos para o exercício da soberania, coloca a vontade popular), recorre a uma citação latina, que visa lembrar aos arrogantes políticos locais uma coisa simples: que não são «Deus na terra», podendo dispor a seu bel prazer dos cargos para os quais foram investidos. Há coisas superiores à sua mesquinha, avassaladora e usurpadora ambição de desgovernar. Assim se pode compreender a invocação (cuja admissibilidade em termos de constitucionalidade poderia ser colocada em causa) de Deus.

É um precedente auspicioso, pelo «salto» de responsabilidade que implica, numa responsabilização política que este poder assume irrevogável e colectivamente sobre o titular de um poder unipessoal, em termos de avaliação de coerência, de fiscalização de consistência. No entanto, essa não é a vocação deste poder, pois depende de hipotética suscitação (de interessados ou não) como deixa transparecer a falta de à vontade do Supremo pelo seu parecer... Na minha leitura, o espírito do Acórdão é o de exigir seriedade e responsabilidade, traduzindo o sentimento generalizado de repúdio, no seio da sociedade guineense, pela hipocrisia dos vários actores na arena política: soa como um ponto final, um murro em cima da mesa, um «basta, é demais!».

Retirando as devidas ilacções, extraindo as conclusões lógicas deste Acórdão: uma vez perante um beco sem saída, só resta, constitucionalmente, ao Presidente, a dissolução da ANP, devolver ao povo a sua soberania e demitir-se em seguida. O mal estar do Supremo é compreensível, pois é do domínio público que este caso felizmente suscitado (depois de um primeiro ensaio inconcludente) é apenas uma pequenérrima amostra das barbaridades, intrigas e traficâncias em vigor.

No entanto, este Acórdão, como fonte de jurisprudência nacional, embora de forma tímida e pouco clara, parece-me avançar no bom sentido. Haverá agora que aproveitar a deixa e levar até às últimas consequências o espírito ora enunciado, concluindo o STJ pela incapacidade do Presidente para o desempenho do posto, por desrespeito flagrante de incumbências básicas, violação continuada de preceitos constitucionais e sistemática ofensa ao elementar bom senso. Ox' Alá assim seja.

Há que aproveitar esta janela de oportunidade. A alternativa é continuar a fechar os olhos à espiral de vícios (seria já tarefa impossível saná-los, limpar os golpes atrás de golpes que foram desferidos nesta constituição), alimentados pelas víboras... até que não reste pedra sobre pedra da nacionalidade sonhada por Cabral.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Eu, eu, eu...

Eu, o PAIGC?!... O ex-Primeiro-Ministro continua a fazer uma grande confusão entre a esfera pública e a esfera privada. Um comunicado de um partido não é um desabafo num diário, ou o comentário num blogue.

O Presidente também é do PAIGC. Foi o PAIGC que criou esta situação e Domingos Simões Pereira tem grandes culpas no cartório. Ainda é muito cedo para reaparecer como menina impoluta, querendo lavar as mãos da lama.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

BNA admite câmbio «semi-oficial»

O Governador do Banco Nacional de Angola admite a existência de (pelo menos) duas taxas de câmbio. A praticada com os bancos (muito mais favorável) (125Kw/$) e a praticada com as casas de câmbio (150Kw/$). Considerando a taxa de câmbio informal (200Kw/$), os bancos ganham um bónus de 75 e as casas de câmbio 50, por cada dólar comprado. Aos bancos o Estado tem vendido cerca de 300 milhões de dólares por semana, enquanto às casas de câmbio vende apenas 10 milhões por mês, ou seja, menos de cem vezes menos. O que esconde esta aparente opção «anti-económica»?

Depois da euforia de o Kwanza ter entrado para o câmbio, em Lisboa, nunca mais um único Kwanza foi comprado em Lisboa, chegando ao ridículo de todas as casas de câmbio, em Lisboa, afixarem 0,0000 para a compra do Kwanza, só afixando o preço na coluna da direita (de venda do Kw contra €). Uma moeda que só se vende e ninguém quer comprar (por preço nenhum)?

PS E em Luanda, como é?

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O passador está roto

Empate técnico. A Igreja ainda tem quem lhe salve a face. Sem querer fazer como alguns, pretendendo ao Seu lugar, lembro aquele diálogo em que se negociavam almas, pedindo Deus à frágil natureza humana, uma pequena amostra da divindade do Homem, nem que única. O Arcebispo de Saurimo, dobrando o sino de uma revolução inevitável, vem redimir as máculas de seus pares, tomando a cruz da verdade, e prestando-se ao Calvário. Bem aventurado mártir da Igreja, proponente para substituir os jovens na prisão e na vocação. Aliás, o seu discurso foi bem mais acutilante e perigoso que o dos jovens... Um GRANDE HOMEM, à altura dos seus votos, agora sob a especial protecção de Sua Santidade, como organizador da Sua visita ao país.

Mas voltando a colocar os pés na terra, porque quando a esmola é muita o pobre desconfia, o mais incrível é que seja o semanário O Sol o arauto do Manifesto. Há poucos meses seria impensável o crivo da auto-censura deixar passar um grumo destes! Deverá ser lido como uma "nota de cobrança coerciva"? Em casa onde não há pão, toda a gente ralha e ninguém tem razão... Por falar em «grande» homem, eis o comentário que acabo de colocar, reagindo a uma pretensiosa e inacreditável campanha de propaganda do regime via Facebook, para a qual um comentário malicioso do meu amigo Dago me chamou a atenção.


«O que eu não percebo é: onde está o grande homem? O que está curvado não é. O outro é um ditador sanguinário e cruel, que mantém a juventude mais promissora de Angola sob cárcere privado. Um grande homem visitaria as masmorras e inquiriria um por um, aqueles que mandou aprisionar por delírio paranóico. Um grande homem, pediria desculpas às famílias das vítimas do monte Sumi. Pediria desculpas aos seus concidadãos pelo mal que tem feito ao país. Diria mais: um grande homem, na sua situação, suicidar-se-ia. Um grande homem teria a vergonha de dar a cara, não se esconderia atrás de máscaras baratas made in China, compradas a crédito na terra, para pagar no além, com a benção de sangue de um qualquer Arcebispo. Um grande homem libertaria imediatamente os jovens! Um grande homem devolveria a dignidade aos angolanos. A menos que tenha existido um crop na foto, não vejo grande homem nenhum. Para mim grandes homens, são grandes líderes africanos como Nelson Mandela, Amílcar Cabral ou Tomás Sankara. Aquele que vejo na imagem, não o considero sequer 'médio', na minha opinião é medíocre. Não só não merece ser apelidado de «grande», como, pelo contrário, se está a tornar cada vez menos um estadista. Não, não vejo nenhum grande homem nesta foto. Na melhor das hipóteses, vejo um velho destrambelhado em queda aparatosa, deixando ao seu país uma terrível e pesada herança. E, como se não bastasse, a tornar-se odiável, tal como o Presidente ilegítimo do Burundi, tentando impor-se à força. E não serão um milhão de perfis facebook forjados, fantasmas animando uma ignóbil, repetitiva e mal encenada bajulação, que salvarão esse homem de definhar pela sua própria pequenez. O feitiço do dólar voltou-se contra o feiticeiro, que, afinal, não tinha quaisquer poderes: não passa de um charlatão, que, para cúmulo, encarnado em titã, ousa desafiar Deus na sua própria Casa, sem que o Papa o excomungue, pelo peso dos seus pecados, para grande vergonha da Igreja. Grande homem, não será de certeza. Uma grande besta, isso sim!»

sábado, 29 de agosto de 2015

15+1 mártir

O regime pensa condenar Marcos Mavungo a 12 anos de prisão, tal como pedido pelo PGR. Será uma violação do Direito transitada em julgado. Condenado a uma dúzia de anos porque sonhou com uma manifestação que não chegou sequer a realizar (foi preso antes da hora do «crime»)?

É uma vergonha para Portugal, para a CPLP. Tenho vergonha dos dirigentes do meu país, ainda formalmente responsável pela confiança depositada pela família real cabinda. É fácil denegrir a Guiné-Bissau, criticar a fragilidade do Estado... já sobre Angola a auto-censura é de regra. Dois pesos e duas medidas. Como justificar o silêncio ensurdecedor de todas as instituições da CPLP, como Procuradores, Ministro(a)s da Justiça, meios de comunicação, partidos?

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

terça-feira, 25 de agosto de 2015

O regresso do guerreiro

O General Silva Mateus desperta clivagens no MPLA, ao lançar candidatura para a presidência do Partido, com o objectivo declarado de «galvanizar os sobreviventes». Lembre-se que este foi, há três anos, armadilhado pelo regime (tal como Luaty Beirão com cocaína) e acusado de porte de armas, depois de lhe colocarem uma AK no carro... quando comandava a manifestação dos antigos combatentes. Ler Club-K.

Uma resposta a JES, quando recomendava aos revus para criarem partidos políticos? Melhor do que criar partidos, é assaltar aqueles que estão fragilizados. Seria bom que o Senhor General e Presidente virtual fosse dando entrevistas e opiniões sobre a actualidade política, ou seja, que se ponha na pele do Presidente e vá dizendo o que decidiria nos casos, caso já fosse Presidente. Por exemplo: manteria a prisão dos jovens revus?

sábado, 22 de agosto de 2015

Desmentido da Presidência

Não basta o Presidente da República da Guiné-Bissau desmentir uma notícia grave. A confirmar-se a falta de profissionalismo do dito título da imprensa senegalesa que avançou com a notícia do pedido de protecção ao GIGN, deverão ser apuradas até às últimas consequências as circunstâncias em que se deu essa fuga de informação, e qual a intenção subjacente no actual contexto... A referida «fuga» da presidência senegalesa, coincidiu com a presença de Obasanjo e de uma ordem de trabalhos relativa à Guiné-Bissau.

Cumprimento do OGE

Não há como deixar de felicitar os especialistas orçamentais angolanos. Este fim-de-semana, com o petróleo a $40 o barril, temos de confessar a boa qualidade das suas previsões para 2015...

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Estado breakado

A ilusão de Estado que os guineenses vinham alimentando nos últimos anos faliu. Nem as aparências se salvam já. Não é já um Estado frágil, mas antes um Estado partido. Um Estado em que os políticos se limitam a roubar, os funcionários fingem trabalhar. Estado completamente alheio à práxis da Nação, que, essa, continua viva, em estado latente, como esperança eternamente traída.

A opinião de Corsino Tolentino, da Fundação Amílcar Cabral:

«O partido político PAIGC não está em condições de ser de facto um partido político. Porque o Presidente da República, o primeiro-ministro, o recém-nomeado [tal como o exonerado], constitucionalmente ou não, primeiro-ministro, teoricamente são todos membros do PAIGC. Um partido político age em nome coletivo. Ao vermos os diferendos e a gravidade das atitudes desses responsáveis políticos, penso que devia ser revisitado o conceito de partido político e ver o que não vai bem na Guiné-Bissau neste sentido. (...) Teoricamente é possível um desmoronamento das instituições do Estado. (...) A pergunta à qual é preciso responder é esta: existe, ou não existe um Estado de Direito na Guiné-Bissau? (...) Nesta espécie de luta pelo poder, está-se a esquecer uma coisa importantíssima, que é a soberania do Estado da Guiné-Bissau.»

Alta traição

Confirma-se que o pseudo-Presidente conspira contra a soberania nacional.

Depois de ter interrompido um Conselho de Estado para atender a uma convocação dos Presidentes dos dois países vizinhos, José Mário Vaz dá mais um passo insensato no escuro.

O seu sentimento de insegurança motivou um pedido de intervenção de forças armadas estrangeiras, fazendo lembrar como começaram os tristes acontecimentos de 1998/99 (é engraçado que hoje - ao contrário da altura - a França assuma [ver aqui e aqui] que as suas tropas especiais tenham estado envolvidas, com nome de missão e tudo Iroko). É que o GIGN senegalês é uma cópia do francês (que este ano esteve envolvido no caso Charlie).

Ao actual Presidente do Senegal, recordamos dois Diouf. Abu, o ex-Presidente, que caiu por causa de um caso similar (quererá Macky provar do mesmo «remédio»?), ou o operacional do GIGN Mouhamadou Diouf, que efectuou a guarda aproximada a Nino e ainda está no activo? Ele que lhe conte quantos colegas não voltaram para Dakar.

Mesmo que o Presidente do Senegal venha prudentemente a recusar envolver-se (apesar de ter dado sinais de se entusiasmar e de se preparar para aproveitar o pedido envenenado de Jomav), naquilo que seria uma ingerência grosseira e plena de riscos, tal não iliba este acto anti-patriótico de Jomav, o qual, para além do mais, é estúpido, pois as FARP são superiores a qualquer força da sub-região (ainda para mais «em casa»), como muito bem demonstraram há 17 anos, vencendo o ocupante estrangeiro (mesmo contando este com o apoio francês).

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Hipocrisia assumida

José Eduardo dos Santos enviou mensagem de felicitações ao seu homólogo do Burundi, pela violação da Constituição do seu país e dos acordos de Arusha. O discurso é óbvio: o mais importante é a imutabilidade do poder, mantido a qualquer preço.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Rebenta bolha do Kwanza

O Governador do Banco de Angola, em vez de cumprir o protocolo e publicar o relatório semanal, que já está com mais de dois dias de atraso em relação ao habitual, fez atabalhoadas declarações à Reuters, tentando esconder a ruptura de stock de divisas com uma suposta Lei cambial. As suspeitas de segunda-feira confirmam-se portanto, conforme já aqui avançado, que não haverão mais dólares «baratos», nem sequer para os amigos. Está lançado o regabofe no seio da comunidade dolera. Face a estas preciosas informações, ficamos a saber que o kwanza foi indexado à cotação do regime, encontrando-se em queda livre: livre-se dele hoje, que amanhã decerto valerá menos.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

O PAIGC padece de amnésia?

«A Guiné-Bissau aspira a uma vida simples e segura, uma governação baseada no pragmatismo, porque o contexto político e social da nossa Pátria amada se encontra muito complicado, mergulhando os cidadãos num desespero difícil de descrever. O PAIGC nunca se conseguiu reformar. Um Partido político é a união de homens que se reconhecem na mesma doutrina política. O partido é uma organização, não um clube de amigos.

Qual é a ideologia política do PAIGC? Basta ver os sucessivos governos do PAIGC, para ver que há um grupo de pessoas que já integraram sucessivos governos. Esses indivíduos que no passado deram provas da sua incapacidade, o que é que podem oferecer hoje? Nada! A guerra das cadeiras que se vive entre o presidente da República e o primeiro ministro, reflecte a ideologia do PAIGC (guerrinhas mesquinhas). Mais uma vez, a velha ideologia de clientelismo do PAIGC ganhou. Deve dizer-se «Obrigado PAIGC?» Ou dizer «Basta!» a essas práticas? 

Tenho um imenso orgulho no PAIGC, enquanto partido libertador. Mas sinto uma fúria imensa contra ti, enquanto organização que traiu muitas expectativas da nossa Pátria amada. O tempo é um médico sem diploma, que possui conhecimentos que podem curar as promessas infundadas dos políticos. Na nossa pátria amada, nos últimos anos, tudo é traficado; a esperança, a influência, a droga, as armas, as florestas, a fauna, as crianças... 

Em resumo, o desalinho é total. A lavagem ideológica que o nosso povo sofreu nos últimos anos, foi feita por frouxos e medrosos, a partir de uma organização mafiosa e cruel. O que é que o PAIGC fará para restaurar a ideologia política que fez o nosso povo respeitá-lo? O nosso povo tem uma ideologia política. Como é que podemos definir a ideologia política de um povo particularmente cosmopolita como o nosso? É simples. A ideologia do nosso povo assenta na harmonia e solidariedade entre as diferentes etnias que constituem o mosaico populacional da Guiné-Bissau. Demonstrou-o durante os anos 11 da luta de libertação nacional para poder possuir uma identidade política, porque sem essa ideologia não conseguiríamos vencer os colonialistas portugueses. 

Sim, o povo da Guiné-Bissau existe, o que nos falta é o respeito à nossa existência. A nossa Pátria amada transmutou-se em Estado de Caos. O vazio ideológico, em que se encontra a Pátria de Cabral, vai ter um custo muito elevado para nossa pobre nação, que se encontra de novo mergulhada na incerteza total. O nosso país necessita de reforma, mas com um governo capaz, competente, que tenha coragem de fazer as reformas que se impõem.»

Resumo de um texto lido no Facebook.

Apoplexia fulminante

Num tom jocoso, o jornal Le Pays, do Burkina Faso, comenta a actualidade política guineense. «A Guiné-Bissau está doente! Uma crise política na cúpula do Estado mergulhou o país inteiro numa apoplexia sem precedentes. A ruptura da confiança entre dois homens de um mesmo Partido, tem várias origens, entre elas um certo número de derivas, nomeadamente a corrupção e o nepotismo. (...) E não é tudo. O parlamento complica a tarefa do Chefe de Estado, que já não sabe a que santo rezar. Os golpes de estado sangrentos tornaram-se hábito, a ponto de se tornarem quase uma imagem de marca. No entanto esta crise apresenta uma nova especificidade. Ao contrário dos outros países, onde regra geral os Primeiros-Ministros são considerados sobretudo como simples fusíveis, substituíveis quando sobe a tensão política, aqui é o Primeiro-Ministro que faz obstrução ao Presidente. Incompreensível! É necessário deplorar certas disposições constitucionais que acordam implicitamente ao Primeiro-Ministro os plenos poderes, envaidecendo-o desmesuradamente. A única solução neste momento para o Presidente Vaz parece ser a convocação de eleições antecipadas, que o contribuinte não parece em condições de suportar. A não ser que o Primeiro-Ministro abandone este tabuleiro, para permitir ao país ultrapassar este bloqueio institucional que já durou demasiado. Teria sido mais sábio e mais elegante para a própria imagem da Guiné-Bissau, Narco-Estado com uma história socio-política bastante movimentada. É de temer que, pela sua incúria, os dirigentes da Guiné-Bissau acabem por obrigar o exército a intervir de novo na arena política. Por isso a CEDEAO deveria esforçar-se por encontrar uma solução o mais rapidamente possível entre Presidente e Primeiro-Ministro, de outra forma, a actual tempestade arrisca-se a tornar-se num furacão de efeitos devastadores.»