Decorreram ontem as cerimónias de abertura do novo ano judicial, en Angola e Moçambique.
Em Angola, a cerimónia não passou de um desfile de vaidades e de
reivindicações corporativas de evolução na carreira. No choradinho por
mais recursos, note-se o discurso
do Procurador, adiando as reformas judiciais encetadas no ano passado
para as calendas gregas, «aludindo às dificuldades financeiras, face à
queda da cotação do petróleo». Tudo, em Angola, parece estar indexado à
cotação do petróleo: até a Justiça!
Em Moçambique, segundo um observador presente, «foi uma cerimónia cheia de nada: declarações de intenções sem nenhuma visão articulada, conceitos mal formulados e muito bla bla de praxe». Um pouco mais à frente questiona: «Como é que um Juiz fica um ano para resolver um único caso e fecha o ano com 700 processos pendentes?»
Hoje, é a vez da Guiné-Bissau proceder à cerimónia de abertura do ano judicial.
terça-feira, 3 de março de 2015
Abertura do novo ano judicial
domingo, 1 de março de 2015
Em defesa do bom senso
Economista angolano critica as perigosas opções de política monetária de José Eduardo dos Santos, cuja crise de negação está a empurrar a economia para um beco sem saída: o regime apresta-se a desmoronar como um baralho de cartas.
Belas ilusões
No Brasil, Kilombo eram repúblicas livres de escravos fugidos. Em Angola, Kilamba é hoje uma cidade fantasma, financiada (com garantia «soberana») e construída pelos chineses, inaugurada em fins de 2011, para servir de sede ao recém criado município de Belas. Destinada ao segmento da classe média, é o exemplo acabado não só da inconsistência governativa, mas também do desperdício de fundos públicos, simbolizando ainda na perfeição a falência do «modelo» angolano.
Apenas uma ínfima parte dos apartamentos estão actualmente ocupados, pois, pura e simplesmente, não existe classe média em Angola! Localmente, desculpam-se com «dificuldades no acesso ao crédito». As ruas apresentam-se vazias e nenhuma das doze escolas construídas está a funcionar, sendo necessário um autocarro para levar as poucas crianças que ali moram até Luanda... Triste engenharia social e lamentável arquitectura política.
Em Angola, um por cento da população controla 99% dos recursos. Não há meio termo.
(A)Narco elite
O dinheiro fácil e mal ganho está em vias de corromper inteiramente as elites angolanas. Angola deixou de servir como simples placa giratória para o narco-tráfico: o mercado interno de cocaína está em plena expansão, com a procura a estimular o negócio. O segundo comandante da Polícia, Paulo de Almeida, volta responsavelmente a avisar (sim, já não é a primeira vez, pelos vistos o fenómeno está a tomar proporções assustadoras) para os múltiplos efeitos dissolventes que daí advêem para a sociedade. Uma «elite» inepta, corrupta e alienada, tornou-se num verdadeiro cancro a extirpar, pois sufoca o país, mantendo-o sob a ameaça de uma grande violência, desproporcionada e perfeitamente imoral, pela (contra) «exemplaridade» que instituem a todos os níveis do Estado.
Desespero das autoridades angolanas provoca o pânico entre investidores
Em entrevista à Lusa, o advogado português João Espanha, especialista em Direito Fiscal, fala em debandada do investimento estrangeiro em Angola, sugerindo uma remigração dos portugueses em direcção à contra-costa do continente africano.
Costuma gabar-se a esperteza de um comandante, que, sitiado e sem mais provisões para atender à fome que já grassava nas suas fileiras, cozeu o último lote de farinha disponível e ainda conseguiu fazer bastantes pães, que mandou estrategicamente catapultar para o campo inimigo; este, intoxicado, teria levantado o cerco...
Mas, infelizmente, nem sempre, nem todos os adversários são tão ingénuos. Um exemplo mais poderoso vem de Celorico da Beira (cuja heráldica plasma a lenda). Tal como Coimbra, o município não reconhecera a Bula Papal de destituição de D. Sancho II, recusando-se a aceitar a soberania de seu irmão, que viria a reinar como D. Afonso III, tendo por isso sido cercada pelos exércitos do então ainda Conde de Bolonha. (Em Coimbra, o alcaide só admitiu entregar as chaves da cidade depois de ir a Toledo e constatar, com os próprios olhos, a morte do Rei, tendo sido preciso, para o efeito, abrir o seu túmulo)
Quando a vila de Celorico estava prestes a capitular, por não haver absolutamente mais nada para comer, eis que se dá um acontecimento que foi visto como milagroso, acabando por representar a providencial salvação do burgo: por cima do acampamento sitiante apareceu uma águia a planar; para matar o tempo, os soldados, com o seu capitão, acompanharam com o olhar o voo da nobre ave; esta faz um picado num pequeno ribeiro e eis que levanta depois com uma grande truta debatendo-se nas suas garras. Ao passar por cima do castelo, a águia deixou cair o peixe, para grande espanto dos soldados e regalo dos sitiados. O capitão dos sitiantes, vendo nisso um sinal de Deus, talvez iluminado sobre quão injusta era a sua demanda, mandou levantar o cerco, justificando-se com os seus soldados que não queria lutar contra aqueles a quem até a natureza e as aves do céu ajudavam, para não se arriscar a indispor o Altíssimo.
A boa (má) fé dos homens e das mulheres é a melhor (pior) moeda, aferida pela (des) confiança.
sábado, 28 de fevereiro de 2015
Aumenta o prémio à banca
Segundo relatório semanal das autoridades monetárias, o insaciável apetite por dólares da economia angolana voltou a crescer, atingindo os 600 milhões de dólares semanais, quase o dobro da média normal assumida pelos dirigentes. Está a sair cada vez mais caro contrariar a elementar propensão para a depreciação.
Esta semana, pela primeira vez e ao contrário das duas anteriores, a emissão de Obrigações do Tesouro não foi totalmente absorvida, quedando-se pelo quinto (20%). O encaixe interno baixou assim para menos de um quarto da semana anterior. Aparentemente, o Banco de Angola tornou-se menos exigente na compulsividade da obrigação (passe o pleonasmo), ou então encontrou fórmulas alternativas e mais opacas de se ressarcir do «gap» de câmbio formal/informal.
O referido relatório, embora já tenha sido purgado dos vícios mais exorbitantes apresentados a semana passada, continua a enfermar de erros formais. Está correcta a expressão «1,024 mil milhões», embora pudesse ser apresentada com vantagem (e economia de 4 caracteres: a vírgula e o «mil») como «1024 milhões». Já os «882,7 mil milhões» estão manifestamente errados, ou seja, teria de ser apresentado como «0,8827 mil milhões» ou «882,7 milhões». O erro de copy/ paste nos Bilhetes do Tesouro com maturidade semestral, continua igualmente a exibir erroneamente o «mil», como se pode constatar no total.
Um Banco Central sob pressão, cujos relatórios se apresentam eivados do mais perfeito amadorismo, é um facto lamentável e envolve concerteza elevados custos para o país. Subsidiar a banca com reservas, bloqueando o câmbio, é um género de inconsistência de status muito estimado pelos especuladores, como fértil terreno para as suas manobras de antecipação. A gastar divisas ao dobro da velocidade, as reservas duram para metade do tempo.
Com a máquina infernal em aceleração, a mais pequena derrapagem na oferta de dólares pode rapidamente transformar-se num completo desastre.
Beijo nos bastidores
Como interpretar a ostensiva e pouco protocolar apresentação de cumprimentos públicos ao Presidente, por parte de ex-companheira?
Pretenderia a senhora apenas dar uma «forcinha» ao Presidente, que se sente fraquejar?
O ar de desafio pode sugerir, como alternativa, uma cobrança ao estilo de «eu bem te avisei».
Pode ser que o belo Presidente adormecido acorde do seu longo torpor...
Cuca nova
Rafael Marques publica um magnífico artigo no Maka Angola, sobre a distribuição dos ovos pelos cestos (ou em sextos?)... Estranhamente, para além do petróleo e apesar de uma grande diversificação da carteira de investimentos financeiros, o governo só ganhou dinheiro com cerveja. Acaba-se por chegar à conclusão de que, afinal, a única que percebe da poda (do negócio de ovos) é Isabel dos Santos, a qual parece dar, finalmente, sinais de se interessar pela herança. Realmente Angola precisa de uma nova cuca...
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
Localização da moeda
O regime angolano parece apostado em associar o seu destino ao da moeda do país. Todos os sinais de nervosismo e de contrariedade que até agora emitiram apenas reforçam a depreciação da moeda: tentar constranger artificialmente os preços apenas estimula o açambarcamento, provoca a escassez, incrementando o nível de inflação; taxar a exportação de capitais, uma barbaridade no fluído mundo financeiro de hoje, apenas prejudica a percepção da qualidade da moeda! Ambas as coisas apenas retroalimentam perniciosamente o processo que pretendem supostamente contrariar.
Toda esta linguagem «corporal» de esconjuração de males, apenas demonstra a fraca confiança que as próprias autoridades nutrem pela moeda nacional. Resta apenas saber se a Guarda Presidencial (e o Batalhão fantasma) continuará a receber papelinhos, ou se começará a aceitar apenas dólares.
PS Ao mesmo tempo, também as comadres portuguesas dão sinais de inquietação, com Belmiros & Amorins na dúvida se haverão de aumentar a exposição a Angola. É óbvio que Angola oferece imensas oportunidades... no entanto, talvez se justifique um compasso de espera, uma capitalização, para, depois de o país se livrar das suas grilhetas históricas, poderem partir para uma nova, original e sustentável era de desenvolvimento. Qualquer outra opção constituiria um erro crasso e sujeitaria os candidatos a penas pesadas.
Promoção em Luanda
Preço, em moeda local, da cerveja Super Bock, respectivamente no fim de Janeiro e no fim de Fevereiro deste ano:
[com 100% de inflacção ao mês, fazendo as contas, o preço da média andará pelos 409 600 (quatrocentos e nove mil e seiscentos) Kwanzas, por altura da passagem de ano. Prefira o Cervejómetro, o mais fiável índice de preços]
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Contas de sumir
As recentes alterações efectuadas na administração do Banco Nacional de Angola, já estão a dar o seus frutos. O mais recente relatório, referente à semana passada, é uma autêntica nulidade: pura e simplesmente nenhuma conta bate certo.
1) Os 4,2 mil milhões emitidos em Obrigações do Tesouro (integralmente colocados, em troca de dólares, como a semana passada) transformam-se mais à frente em 4,7 mil milhões de colocados (decerto erro de copy / paste da semana anterior).
2) O resumo daquilo que foi colocado - esses 4,2 mil milhões de OT mais os 36,2 milhões do total de Bilhetes do Tesouro colocados [36,2 em 19500, ou seja a confiança desceu, dos 0,9% da semana passada, para menos de 0,2%], dá 4 236 milhões (ou outra coisa qualquer, estando a conta errada), mas nunca 465,8 milhões.
3) As parcelas, dos BT efectivamente colocados, não correspondem ao total de 36,2 milhões
Só encontrei uma forma de as contas baterem certo (ver tabela à esquerda): em vez de 10,9 alguém bateu 19... esse terá sido apenas um erro de digitação e seria grave, mas eventualmente desculpável. No entanto, os erros não acabam aí, pois a segunda e a quarta parcela (esta última, para além disso, não pertence evidentemente a esse total), são em milhares de milhões e não em milhões (veja-se a expressão na tabela à direita).
A outra possível explicação estará numa «maquilhagem» (se os 4,8 mil milhões forem de facto «mil milhões» e não «simples» milhões) para camuflar uma desvalorização do Kwanza junto da banca, com o câmbio semi-oficial, a duplicar a distância, em relação à semana passada, para o câmbio oficial (obrigando os bancos, em troca de sensivelmente a mesma quantidade de dólares, a absorverem o dobro de Títulos do Tesouro). O Banco de Angola que esclareça as continhas, tim tim por tim tim...
Quem quiser verificar a metodologia, compare com o mesmo relatório mas da semana passada (no qual todas as contas ainda batiam certo). De uma mediocridade e irresponsabilidade gritante! Mesmo tratando-se, em vez de simples estupidez, de uma versão «manipulação», a forma não é nada abonatória: «malandrices» dessas devem ser bem feitas e nunca deixar o rabo de fora. É a credibilidade monetária do país que está em causa.
É o que dá, perseguir os melhores filhos de Angola e rodear-se de medíocres, corruptos e yes men, incapazes de pensar pelas próprias cabeças ou de fazer uma simples conta de somar!
Não basta copiar modelos: a China também tem a sua moeda indexada ao dólar, mas a China produz riqueza, não se limita a extrair e o Yuan é artificial e sistematicamente subvalorizado (vendendo) para favorecer as exportações de produtos fabricados e a importação de divisas; no caso angolano, passa-se precisamente o inverso, pois a moeda foi sistematicamente sobrevalorizada (comprando-a) para favorecer as importações de bens (de luxo: como jactos privados - havendo famílias com mais que um) e as exportações de capital (para os beneficiados do regime adquirirem bens de raiz no estrangeiro).
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Queda do Paraíso, ou fuga ao Inferno?
O Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Luís Campos Ferreira, perante o Embaixador angolano (interpelado por um empresário em Sines acusando-o de mau pagador), manifestou a sua preocupação de ver Angola transformar-se «do sonho que é, num pesadelo».
Também o Sol, filtrado pelas peneiras do seu sub-director, utiliza uma infernal retórica para descrever a actualidade, mas apenas com o intuito de minimizar a situação. Sentado num restaurante de luxo, espera «tranquilamente» que passe a «tempestade no copo de água»: custa-lhe perder o lugar ao Sol.
«Milhares de expatriados receiam ser obrigados a regressar a Portugal. (...) Mas percebe-se que muitos não pensam sair daqui e que esperam que a crise passe tranquilamente.» A assoar o rainho ao regime, Vitor? Que nojo!
domingo, 22 de fevereiro de 2015
Falta de oportunidade
O anúncio, por parte do Ministério da Economia, do lançamento de um plano para a melhoria do «ambiente de negócios» não podia ter caído em pior altura, em pleno «escândalo» BissauLink. Talvez esse plano deva lidar, em primeiro lugar, com o constrangimento que passou a representar esta empresa para esse «ambiente», com as suas descabidas e ridículas declarações de diabolização do lucro, de deixar os cabelos em pé a qualquer empresário.
Porque não diabolizar a corrupção e as suas insidiosas campanhas de insinuação? Isso sim, seria um bom contributo para um saudável ambiente de negócios...
Vertigem
O Ministério angolano do Comércio, empenhado em diabolizar o lucro, reconheceu, num programa da Rádio Nacional:
«_O país tem estado a viver um fenómeno: a subida de preços de forma vertiginosa»
Menina bUNITA
A UNITA anuncia tomada de posição sobre o OGE para Quarta-Feira. «É pena que na altura em que gastam o dinheiro, gastam sozinhos, sem que os angolanos saibam como gastam, mas que na altura das dificuldades o titular do poder Executivo já quer chamar os angolanos todos para resolver as dificuldades.»
Já Chivukuvuku, por altura da convocação do Conselho de Estado, tinha dito a mesma coisa: nunca o Presidente se lembrara de pedir qualquer «conselho», para partilhar os seus «sucessos»; as coisas começam a correr mal e nesse caso já convem congregar mais uns tantos fantoches, para diluir responsabilidades...
Quando há louros para recolher, José Eduardo dos Santos não tem problemas em cumprir o seu glorioso papel, reservando os aplausos à sua augusta pessoa; já quando o caminho se apresenta semeado de espinhos, chama os seus fiéis e bem amestrados servos para o transportarem às costas na ingrata jornada.
Vão continuar a lamentar-se para o resto da vida: é pena isto, é pena aquilo, é pena aqueloutro... é pena, realmente, porque de «penas» dessas e de boas intenções está o Inferno cheio. Enquanto sobrarem penas no galo, o ditador continuará a regalar-se ao almoço: o belo frango assado com batatinhas fritas.
sábado, 21 de fevereiro de 2015
Elogio da terceira via
Perante uma oposição angolana envelhecida, inepta e bajuladora do regime, o elogio dos jovens. Do absoluto desencanto ao desacato da ditadura, vai um passo. Três vivas para a terceira via: Viva Luaty Beirão! Viva Emiliano Catumbela! Viva Nito Alves! (corajosos e já lendários líderes do Movimento Revolucionário)
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
Ligações perigosas
KáKá... Kakre na kabass, é o que me ocorre, para designar a mentalidade mesquinha que pressupõem as declarações do Director Geral de Alfândegas, depois de outras, igualmente infelizes, por parte de um responsável da BissauLink.
Que uma empresa contratada para verificação contabilística se insurja contra facturas falsas, parece-me perfeitamente legítimo, mas deveria encaminhar os casos detectados para o executivo que o contratou, o qual, por sua vez, reencaminharia para a Justiça ou procederia em conformidade (embora esta questão só tenha surgido a posteriori - como forma de encobrir a «gaffe» da BissauLink).
Impensável é que esta queira fazer «Justiça» económica pelas próprias mãos, pretendendo «moralizar» a natural e benéfica apetência pelo lucro que move os empresários (apontando um exemplo ridículo, de «primeira necessidade», como «cabelo humano») em declarações públicas e inflamatórias, diabolizando os comerciantes e o seu importante papel na logística social, o que só poderá prejudicar o país e tornar-se num novo obstáculo ao desenvolvimento (são notícias estúpidas como estas que afastam o investimento).
Julgo mesmo que a empresa se tornou passível de procedimento criminal, por abuso de poder e revelação indevida de segredos comerciais. Mas o pior é que a evidente usurpação de funções políticas, pode ser o sinal de que a empresa se pretende constituir como «autoridade» e um nó de poder discricionário no seio da própria administração estatal, o que levanta legítimas dúvidas acerca das circunstâncias e motivações em torno dos interesses envolvidos na sua contratação.
Quarentena
Quarenta? Ena! Já passaram quatro décadas desde o êxodo massivo dos portugueses de Angola, num processo traumático para ambas as partes. Nem quero recordar, para não transformar esta reflexão em processo...
Depois de ter conseguido, valorizando a sua ligação com Portugal, um crescimento económico razoável, mesmo se muito desequilibrado e extremamente dependente do petróleo, o regime angolano parece agora empenhado em dar um tiro no pé, destruindo o seu único contributo real para o desenvolvimento, que consistia precisamente nesse clima de confiança.
As relações com Portugal, sempre «estrategicamente» encaradas por Luanda de um ponto de vista de superioridade (aproveitando a fraqueza congénita do seu regime democrático, bem como a mediocridade e corruptibilidade da sua classe política), redundaram em vergonhosos episódios absolutamente indignos, culminando num aval estatal cancelado por Decreto, precisamente quando este era essencial para a manutenção de um grupo empresarial português multi-secular (e com José Eduardo dos Santos ainda a mamar o leite das vacas gordas).
Confrontado com a crise monetária, o regime tenta agora, como parecia previsível, sacudir a água do capote, lavando as mãos das suas próprias responsabilidades de má gestão (estou a ser simpático, para não bater muito no ceguinho). E quem se prepara para pagar as favas? O alvo que está à mão, eternos bodes expiatórios: os tugas. Como muitos traduzem: «de bestiais, passaram a bestas». Surgem denúncias de condições infra-humanas em mão-de-obra portuguesa da construção civil (agora desocupada com o cancelamento dos contratos estatais e com salários em atraso)...
Pior: na sua inconsistência e incapacidade governativa, anunciam menos de 10% de inflacção no OGE, mas admitem aumentar os combustíveis para o dobro; introduzem quotas de importação e depois acusam «ingenuamente» os comerciantes de especulação, mesmo sabendo que os preços do dólar dispararam no mercado informal. A negação da realidade, por parte do regime, que parece querer fazer o tempo andar para trás, só poderá tornar-se cada vez mais devastadora, à medida que o discurso se afasta da realidade.
A nova taxa de transferência de divisas (à exportação, presuma-se) é o mais recente e «brilhante» exemplo da maquiavélica e perigosa campanha de José Eduardo dos Santos contra a sua própria herança, cujo lema parece ser «depois de mim, o caos». A quem afecta a medida? Imagine-se o dilema de um comerciante português que importa produtos portugueses: mesmo admitindo que poderá aceder a dólares à taxa oficial (o que não é garantido, dado o poder discricionário agora concedido à banca em «articulação» com as autoridades - além disso terão tendência a «associar» aquisição de dívida interna como contra-partida, para se livrarem do papel tóxico): terá de encarecer o seu preço final, aplicando a sua margem sobre esta nova componente de custo: para o cenário avançado, de cerca de um sexto (15 a 18%), isso induzirá uma «nova» inflação, de pelo menos um quarto (calculando a uma margem de lucro de 50%), ou seja, um acréscimo de inflacção nos seus produtos de 25%. No entanto, não acaba aqui. O referido comerciante «anda lá fora a lutar pela vida», mas o seu objectivo é mandar o dinheiro para Portugal. Ou seja, para isso, terá de pagar novamente tributo. O que vem onerar o preço em pelo menos outro tanto. Além disso, a medida volta a reduzir a já afectada convertibilidade do Kwanza (a S&P não vai gostar, e decerto falará disso quando voltar a baixar o rating), estimulando, em contra-partida, o mercado informal, para não falar de mais corrupção, em cascata.
Em economia, os efeitos vivem-se por antecipação. Não se pode levar a mal a um empresário que, face a notícias destas, actualize instantaneamente os seus preços: pois a reposição dos produtos na prateleira vai ficar-lhe muito mais cara, além disso, está a ver a vida a andar para trás e os tempos são de incerteza. A incerteza, como todos sabem, não é propriamente o ambiente preferido dos empresários, por isso estes terão tendência a proteger-se, introduzindo uma componente psicológica no preço, a título de prémio. Ou seja, revela-se pouco inteligente o anúncio desta medida, pois mesmo não considerando outros factores, é suficiente para introduzir imediatamente uma inflacção esperada nos produtos importados de mais de 60%, fazendo as contas por baixo. A «plasticidade» do comerciante português será decerto uma vantagem, face à pressão social que o regime parece querer virar contra ele.
Para o cidadão angolano verdadeiramente responsável e patriota, bem como para a oposição, deve constituir um ponto de honra, não embarcar nestas cabalas, protegendo etica e moralmente os comerciantes e empresários desta desesperada ofensiva do regime, apostada na diabolização do lucro, como forma de manipular as mentes dos angolanos e desviar as atenções da inevitável mudança que se impõe. Todos terão o seu lugar, numa Angola a repensar e essa será prova de verdadeira maturidade. A ponto de uma transição pacífica poder contribuir para repor os níveis de confiança (já desimpedida a nação da corja de parasitas que, para além de sugarem a seiva do país, ainda cospem na sopa do povo) monetários.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Conexão SONANGOL / PETROBRAS
O escândalo do «Petrolão» tem evidentes ramificações «culturais» transatlânticas nos modus operandi. Corrupção generalizada, lavagem de dinheiro, tráfico de droga... A única diferença parece consistir, do lado brasileiro, num estilo particular, mais difuso e oligárquico, se não mesmo anárquico; enquanto em Angola, resulta de um estilo perfeitamente estruturado, com origem no topo da pirâmide.
Esclarecedor artigo do Club-K, a não perder!
Quanto ao nome da operação policial, «Lava Jacto», faz-me curiosamente lembrar as conexões transatlânticas de um dos traficantes estatais, graças a esse útil e confortável meio de transporte particular, muito ao gosto e serviço da «elite» angolana (plagiando um célebre anúncio da Black Trinitron: melhor que um Falcon, só dois Falcon!)
Alarmismo bem fundamentado
O BIC, que há pouco mais de um mês se gabava de ser o primeiro a garantir a convertibilidade do Kwanza em Lisboa, ou, ainda há pouco mais de uma semana, falava de «alarmismo infundado», vem hoje, pela pessoa do mesmo Fernando Teles, pedir encarecidamente ao Banco de Angola que alimente a fome insaciável de divisas que (misteriosamente?) o acometeu entretanto?
Este senhor não se enxerga?
Então a descarga de segunda-feira não foi suficiente? Já esgotou?
Ah. Não chegou para a cova de um dente?
Choramingão! Ó Teles, olha que ficas mal na tela!
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Câmbio semi-oficial
Um balão de oxigénio de 435 milhões de dólares foi injectado na economia angolana na semana de 9 a 13 de Fevereiro. Esse prémio à banca (pelo diferencial relativamente ao câmbio informal), parece ter sido rateado em função da absorção de títulos do Tesouro, no valor de 46 milhões. Para encontrar a cotação oficiosa actual do Kwanza, e admitindo que as autoridades monetárias vão insistir neste esquema semanal, recorra-se à fórmula:
[(Montante em dólares semanal + Montante colocado em TT) / Montante em dólares semanal] x Câmbio Oficial
Ou seja, a «cotação» deve ter em conta que os bancos estão a ser compelidos a comprar dívida que não querem (cujo valor actual é sensivelmente zero), para conseguirem aceder a dólares, dos quais precisam muito para satisfazer os seus clientes (pelos menos para honrar o compromisso que assumiram com aqueles que possuem contas em dólares). Fazendo a conta a um câmbio oficial de 105,3 por dólar, facilmente se chega à conclusão de que essa cotação subiu para 116,4 Kwanzas por dólar, depois de diluídos os inerentes custos «extraordinários».
O Banco de Angola pretende assim, para além de capitalizar a banca, dar a entender que o esquema vai continuar. Ou seja, que a moeda poderá deslizar, mas ao seu ritmo e sob o seu controlo. Claro que os «prémios» seguintes não serão tão vantajosos, como na «oferta de lançamento». Ao fazer depender da política (e boa vontade) dos bancos a disponibilidade de dólares, a liquidez do Kwanza face ao dólar fica reduzida e a sua integral convertibilidade amputada, deixando por isso uma boa margem de manobra ao mercado informal (para já, uma margem que pode ser grosseiramente estimada entre 20 a 30 Kwanzas por dólar, a adicionar ao câmbio oficioso, calculado pela anterior fórmula).
O mercado, como resposta a esta acção, pareceu dar mostras de um pequeno afrouxamento na fúria do furacão. Mas será sol de pouca dura, uma fugaz acalmia. Neste momento, a procura de dólares é, pura e simplesmente, «infinita». Dado o desfasamento entre o câmbio oficial e o informal, qualquer montante que seja colocado encontrará tomador. Para enfrentar o sorvedouro sem fundo de divisas (que os responsáveis já lamentam publicamente - o qual tem evidentemente pouco a ver com importações), o Banco de Angola, se insistir em manter este sistema, irá tornando cada vez mais pesada a componente de dívida em Kwanzas a absorver pela Banca, para aceder a cada vez menos dólares. Tal como para um jogador de poker, o bluff é, em questões monetárias, um recurso importante. O dado mais importante, neste momento (aliás, solicitado por Chivukuvuku no Conselho de Estado) é a situação real das reservas do país, para poder ter uma ideia de quanto tempo conseguirão as autoridades manter este «jogo».
No entanto, regra geral, a miopia não é doença que afecte os especuladores. Passada a primeira surpresa, a tendência estrutural prevalecerá rapidamente, anulando o desejado efeito.
Entretanto, governantes como a Ministra do Comércio, ou um conselheiro presidencial, em discursos bem pobrezinhos e inconsistentes, tentam ensinar o padre nosso ao cura, diabolizando o papel dos empresários, os quais evidentemente, em períodos de incerteza, deitam contas à vida. É pouco razoável, para não dizer ridículo, pretender que os actores tomem decisões económicas baseados em crenças ou opiniões impostas por conveniências alheias. A pressão social que assim colocam sobre esses agentes apenas agrava o clima de desconfiança pré-existente, retroalimentando o processo de depreciação da moeda.
O Direito à Revolução
São Tomás de Aquino defendia que, quando os povos enfrentam uma violência excessiva por parte do seu Rei ou senhor, têm o Direito de procurar outras formas de organização social mais adequadas ao seu desenvolvimento. Estabelecia o Santo Padre da Igreja uma única condição: que essa mudança não implicasse maior violência que aquela em que o próprio ditador mantinha a sociedade.
(talvez essa cláusula legitime aqueles que hoje criticam as «revoluções» iraquianas, líbias ou sírias)
Em Angola, Domingos da Cruz enriqueceu esse Direito, propondo a expressão dos 3R:
1) o direito à RAIVA perante o mal
2) o direito à REVOLTA quando este persiste
3) o direito à REVOLUÇÃO quando o mesmo se eterniza
A estratégia do regime tem consistido precisamente em explorar os fantasmas da guerra civil. No seu discurso paranóico e persecutório, todos aqueles que defendem a mudança são desacreditados como irresponsáveis e belicistas. Contra essa perniciosa associação polarizada, que parece, até aqui, bloquear a mente dos angolanos, se insurge um artigo de opinião de Nuno Dala, publicado no Angola24horas.
Mangueirada no cócó
Rui Mangueira, Ministro da Justiça, à frente de um elenco governamental angolano, deslocou-se a Paris para apresentar a nova Legislação angolana sobre Branqueamento de Capitais às instâncias internacionais.
A incoerência legal e a inconsistência moral parecem ser regra em Angola. Senão veja-se: a 28 de Janeiro deste ano, era aprovado na Assembleia esse pacote legislativo, relativo à lavagem de capitais. Apenas um dia depois, a 29 de Janeiro, a mesma já estava a servir, hipócrita e muito oportunamente, de «bode expiatório» para a crise monetária que se avizinhava: escrevia a Lusa «As limitações [à convertibilidade do Kwanza] introduzidas em Janeiro de 2014 visavam nomeadamente travar o branqueamento de capitais, através de Angola.»
A lavagem do dinheiro, em Angola, é «cultural», como defende Orlando Castro, na Folha 8. Para um regime todo ele baseado na liberalidade informal de apropriação dos recursos públicos, parece ser «normal» ter um alto funcionário comprovadamente implicado no tráfico de seres humanos, ou outro alto funcionário a quem são interceptadas pela polícia algumas (entre muitas) malas de milhões de euros a caminho do Casino (atenção, não sei porque insistem alguns em «lavagem»... uma pessoa já não pode divertir-se?). Simples rotina. [Haverá dinheiro limpo, no país dos diamantes de sangue?]
A sangria dos recursos foi a receita de «sucesso» da seita presidencial, implicando fechar os olhos aos maiores desmandos, mesmo se inequivocamente comprovados e publicamente expostos, pois, de outra forma, esses casos flagrantes poderiam servir de perigoso precedente, relativamente à «higiene» da apropriação original (logo, tornando-se prejudicial à «saúde» do regime). Como é preciso «matar o mal pela raiz», o branqueamento é feito na origem: não há dinheiro sujo em Angola, nem nódoas de petróleo, nem uma má repartição dos frutos do chão pelos filhos da terra.
Só gente séria, que vivia no meio de vacas bem gordas, até ao dia... em que as tetas secaram e as vacas emagreceram, o sol desapareceu e o céu toldou-se ... e o fantasma da fome à espreita, do outro lado do arame farpado.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
Kaba
«Si no misti bai pa dianti, no dibi kaba ku intriga.»
«Essa desavença entre o PR e o PM alimentada por gente que quer ser Ministro(a) custe o que custar, sem fazer nada, está a hipotecar o sucesso da Mesa Redonda. Que tomem medidas para repor ordem no partido e no Governo. O único perdedor da guerri(n-l)ha entre os dois, será a nossa Guiné.»
Sondagem monetária = Confiança < 1%
A colocação no mercado de Bilhetes do Tesouro (para absorver liquidez e tentar controlar a voraz espiral inflaccionista), pelo Banco de Angola, a taxas de juro «oficiais», traduziu-se num fiasco: conforme se pode constatar em balanço hoje publicado, a adesão foi de menos de 0,9%, apesar de uma intensa campanha, conduzida recorrendo a canais sociais «informais». Transcreve-se parte de um desses «anúncios», o qual, nos dias que correm, com os angolanos a passarem dificuldades, chega a ser pornográfico:
«Caros amigos/a
Aqui vai uma dica que pode vos ajudar a
fazer dinheiro. Proteja-se contra o risco cambial, tendo em conta o
momento atual que a nossa economia vive. Depois não digam que o nosso
Kamba das Finanças não nos deu o toque, eu como financeiro que sou, faço
isso e não custa nada, tu também podes fazer o mesmo, são segredos de
como muitos de nós multiplicamos rapidamente as nossas poupanças sem nos
maçar ou nos metermos em negócios que muitas das vezes não dá certo e
acabamos de perder o dinheiro e a paciência! Queres ter um dinheiro
extra para acelerar o pagamento do teu credito habitacional? Queres
pagar a tua Universidade ou a do teu filho? Gostarias de ter um BMW ou
Range Rover (Tubarão)? Pois é meus amigos, como economista isso é o que
eu faço para ter mais kumbu! Ali vai a dica:
Meu amigo, invista agora em Títulos do Tesouro de Angola. Contacte o seu Banco ou o BNA.»
O problema é geral, não só de Angola e não se prende apenas com a dependência económica do petróleo, mas precisamente com outra grande dependência maior: a mentalidade estupidamente consumista, localmente cultivada pelo poder e suas «elites», na qual as pessoas se colocam ao serviço do dinheiro (em busca de símbolos de ostentação e sinais de poder). O dinheiro, em si, não é uma coisa má, servindo para facilitar as trocas e desenvolver a economia, mas deve ser encarado como estando ao serviço das pessoas, e não o contrário, pois nesse caso torna-se completamente alienante! Não matem a galinha! Para contextualizar este assunto, escrevi há bem pouco tempo um artigo aqui neste blog.
[Já um montante, de cerca de um sexto do valor dos BT, mas em Obrigações do Tesouro, foi inteiramente absorvido, permitindo suspeitar que a motivação do «diferencial» de procura (não se justificando por maior «obrigação» do Estado ou por taxas de juro mais atraentes, e implicando, para além disso, um prazo maior de imobilização) se poderá atribuir à distribuição pro rata de «senhas» para dólares ou a qualquer género de «facilidade» associada - de forma «casuística» e «conjuntural», claro, mas nada abonatória da transparência e equidade do sistema financeiro. Concluindo com um bom conselho: na aquisição de bilhetes, certifique-se que são de ida e volta, cuidado com os vendedores de banha da cobra, senão arrisca-se a ir para o buraco]