terça-feira, 4 de novembro de 2014

Enterro

Afinal, pelos vistos, enganei-me, quando disse, há uns dias, que Timor «não lhe apetecia» dar um murro na mesa, atendendo à pouco vergonha que resultou da reunião de MNEs da CPLP.

E o murro não foi na mesa, foi mesmo em plena fuça. Para que se saiba, a decisão de expulsar, num prazo de 48 horas, os portugueses, nada tem a ver os magistrados, mas com o tema da investigação: petróleo.

À chegada do MNE a Dili, quando Xanana soube dos pormenores, não perdeu tempo. E a mensagem não é assim tão difícil de perceber: Petróleo = Angola ; Portugal = colónia de Angola ; CPLP morreu.

Face a uma declaração tão óbvia, o principal destinatário, o MNE português manifestou o seu desconforto. Está desconfortável, o senhor, perante o triste resultado da sua «brilhante» actuação?

A CPLP implodiu.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Encurtar o tempo decorrido

Face à constatação de que o seu estado de graça está prestes a desmoronar-se, Domingos Simões Pereira, toma providências: por um lado, pede uma extensão para o dobro do tempo; por outro, encurta para metade o tempo que já passou.

Perante uma assembleia de empresários, no Porto, apresenta «uma nação renascida há cerca de quatro meses com a realização de eleições democráticas» li no PN, ver link à direita

De Abril a Novembro, pelas minhas contas, vão sete meses e não quatro. O senhor Primeiro-Ministro referia-se decerto à sua tomada de posse, a menos que essa seja prosa de responsabilidade jornalística.

domingo, 2 de novembro de 2014

Homenagem ao Presidente do Uruguay

Traduzo, com a devida vénia, fragmentos de um artigo do ABC de Madrid, seguido de uma réplica no canal social (Twitter-Facebook- que pretendem viral), em língua espanhola, o ésnotícia.co.

Dizem de José Mujica - Pepe para os amigos - que é o homem mais honrado do mundo. Trata-se de um senhor com 78 anos, de aspecto bonacheirão, amante de boa comida e da natureza, que veste de forma informal e popular. Até aqui, tudo bem, se não se tratasse de um Presidente, neste caso, do Uruguay.

Mujica - ex-guerrilheiro e fundador do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros - ascendeu ao cargo a 1 de Março de 2010. Até aí, dividia o seu tempo entre a política e o cultivo de flores, numa humilde quinta na periferia de Montevideo, onde prometeu manter-se se ganhasse as eleições. Ofereceu depois o Palácio Presidencial para os sem abrigo poderem passar o Inverno. Outras das medidas polémicas que implementou, foi a legalização da marijuana.


Preso durante 13 anos, nunca acreditou na possibilidade de se vir a converter em Presidente. Pouco antes das eleições das quais sairia como vencedor, declarava a um jornalista «Eu vir a ser Presidente é tão improvável como um camelo passar pelo buraco de uma agulha». Desde aí que a sua humildade tem logrado conseguir a simpatia e a adesão do seu povo.

A imprensa uruguaia classificou-o como o presidente mais pobre do mundo: o seu património ascende a três terrenos, três tractores e um carro, um Volkswagen carocha, de 1987, isto segundo os dados apresentados pela Junta de Transparência e Ética do Uruguay.

O seu salário como Chefe de Estado é de cerca de 10 000 euros por mês; não obstante, doa cerca de 90% do seu ordenado a projectos de ajuda. «Mil euros chegam-me, e têm mesmo de me chegar, porque há uruguaios que vivem com muito menos» sentenciou o Presidente a esse propósito.

Para veículo oficial dispõe de um simples Corsa, depois de a sua imagem de marca ter sido a Vespa que utilizava para chegar ao Parlamento, quando foi eleito deputado, após a Ditadura. Sem contas bancárias, sem dívidas, afirma dormir tranquilo, enquanto espera pelo fim do seu mandato para descansar na sua pequena quinta de Rincón del Cerro.

Quando confrontado com a notícia do ABC de Madrid, respondeu:

«Eu não sou pobre. Pobres são os que acreditam que eu sou pobre. Tenho poucas coisas, é verdade, as mínimas para poder ser realmente rico, à minha maneira, que consiste em ter tempo para dedicar às coisas que me motivam. Se tivesse muitas coisas, teria que tratar delas todas e não poderia fazer aquilo que realmente gosto. Essa é a verdadeira liberdade, a austeridade, o consumir pouco. Se tiver muitas coisas acabo por viver preocupado com medo que me as levem. A casa pequena, para não precisar de empregada. Não, a mim bastam-me três divisões: passo a esfregona pelo chão a meias com a velhota e, num instante, já está! Assim ficamos com tempo para aquilo que realmente nos entusiasma.

Não somos pobres»

Faz-me lembrar o inventário dos bens de Thomas Sankara, Presidente do Burkina Faso, à data do seu assassinato: uma mota, duas guitarras, uma frigideira e um frigorífico avariado.

Terça arrancam trabalhos da ANP

Continua evidente a fraca capacidade de comunicação do Governo, a inexistência de facto de um Porta-Voz e incipiente o acompanhamento e publicitação dos diplomas submetidos à Assembleia Nacional para apreciação, entre eles um importante Decreto Lei de Regulamento da Disciplina Militar, que deverá constituir um primeiro passo no sentido de uma reforma do código deontológico de conduta dos militares, conforme se pode ler na conferência recentemente proferida por Daba Naualna a esse propósito.

Tudo documentos que haveria todo o interesse em partilhar para discussão pública, facilitando o acesso através da internet e apostando na transparência prometida ao longo da última campanha eleitoral, mas que infelizmente, passados que são mais de cem dias, ainda não assumiram uma dimensão virtual.

A luta contra a corrupção, por sua vez, não deveria estar sob a alçada directa do Ministério da Justiça, devido às sinergias com o seu papel e tutela que possui sobre a Polícia Judiciária, desempenhando um papel central no complexo puzzle criminal guineense? Uma «inspecção superior» de iniciativa parlamentar parece ser uma figura perfeitamente inoperante.

Ensinamento para os actuais governantes guineenses

Se Blaise Compaoré pudesse deixar uma última recomendação aos seus colegas dirigentes, seria decerto: cuidado com a praça!

À velocidade a que hoje circula a informação, torna-se cada vez mais difícil para os líderes obterem uma obediência cega e acrítica a actos demagógicos e autocráticos, opondo-se ao sentimento popular generalizado.

Poderia recomendar-se a DSP que entre num táxi, ou vá até ao mercado de Bandim, que empregue um pouco do seu precioso tempo a trocar impressões com o povo anónimo. Rapidamente descobrirá que, na praça, há uma oposição generalizada à presença de tropas angolanas no país.

O senhor Primeiro-Ministro talvez esteja a atribuir demasiada importância a factores exógenos, o que tem ofuscado a percepção de uma forte vontade interna opondo-se à materialização desses nefastos desígnios. Quanto mais depressa se aperceber do erro, melhor.

Desafio: Compare Compaore

Duas faces da mesma moeda

Descubra as parecenças...

Exercício de zidadania

Aparentemente, a expectativa criada pela marcação de uma reunião, para os próximos dias, entre o Coronel Zida e os líderes civis, parece ter devolvido alguma acalmia às ruas de Ougadougou, com relativamente menos gente a aderir hoje à convocação para manifestar o desagrado quanto ao confisco do poder pelo Exército.

Os apelos dos Estados Unidos e de várias organizações para a devolução do poder aos civis (como se o ex-Presidente não fosse ele próprio um militar de carreira) deverão esbarrar contra aquela que parece a firme intenção, no seio do Exército, de evitar uma «malidição» ou «libialização» do Burkina Faso.

Justifica-se, nesta ocasião especial, como sugeriram os irmãos intelectuais balantas na diáspora, uma reflexão sobre a herança de Thomas Sankara, o caminho que apontou para um ideal de homens íntegros, e a oportunidade da sua aplicação a todo um continente em busca de afirmação.

A Twittoesfera foi invadida por um tsunami de críticas a, entre outros, José Eduardo dos Santos e Obiang, sugerindo que podem ser os próximos. Também o Expresso retoma o assunto num artigo deste Sábado, sugerindo uma «Primavera Africana» e lembrando o sacrifício, há já quase quatro anos, na Tunísia, do jovem Mohamed Buazizi.

Segundo artigo no Libê, um sobressalto de júbilo percorreu o continente, com muitos a interrogarem-se «Se os burkinabês conseguiram, porque não havemos nós de conseguir também?»... Numa réplica local, o Angola24horas publicou um artigo de opinião sob esse contundente título.

Atropelo constitucional II

José Eduardo dos Santos faz gato sapato da Constituição de Angola, que, pelos vistos, só lá está para enfeitar.

JES insiste em seguir o mesmo guião: para enviar a MISSANG, a Assembleia não foi consultada (mas quando se viu aflito, em risco de ficar sem bonecos, já soube ir «pedir licença» à Assembleia para os retirar).

Estando a tratar de impingir uma segunda Missão em tudo similar, não deveria consultar a Assembleia e apresentar-lhe as suas razões para todas as diligências que tem insistentemente promovido com esse fim?

Talvez consiga convencer os deputados, defendendo o interesse de criar um protectorado na costa ocidental, de importância capital para Angola, por razões geoestratégicas...

Depois, quando as coisas derem para o torto, se os seus figurantes se virem novamente atrapalhados, lá irá outra vez a correr choramingando para debaixo das saias da Assembleia, para partilhar a «decisão» (ou melhor, a frustração).

É que uma coisa é responder a uma solicitação urgente da ONU, como Angola fez, prometendo enviar um contingente para a República Centro-Africana, outra, completamente diferente, é querer impingir à ONU uma ocupação «dedicada», pretensamente sob a sua bandeira, o que não passaria de uma grande palhaçada desacreditando e debilitando a sempre periclitante instituição que é o Conselho de Segurança.

Se a oposição angolana exige a partilha de informação detalhada da Missão centro-africana, a mais forte razão deve exigir que o Presidente clarifique, perante a Assembleia, os objectivos subjacentes à MISSANG II.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Muitos anos, FARTA

Farta foi o nome do Coronel escolhido pelo Estado Maior do Exército burkinabê para assumir perante a rua, hoje novamente mobilizada, a queda de Compaoré. Resta saber o que os franceses vão fazer com a «fava». A CEDEAO também perdeu rapidamente o pé, tentando sugerir aos militares para manterem o assassino de Sankara no poder.

O Coronel Farta, vindo sob escolta do Estado Maior, dirigiu-se à multidão, pouco antes das 14h locais, garantindo que Blaise Compaoré «n’est plus au pouvoir», despoletando uma enorme alegria. Comemora-se neste preciso momento efusivamente, em Ougadougou, o fim de uma era. Possa a lembrança de Thomas Sankara iluminar os burkinabês na senda da verdadeira independência.

Um fim bastante pedagógico, em relação a outros líderes africanos que se eternizam no poder e que gostam de se armar em «mediadores» em terras alheias.

O próprio ex-Presidente acaba de aparecer na televisão dizendo que vai abandonar o país, declarando o poder «vacante».

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

ECOMIB chamada de urgência a Ouagadougou

Os franceses estão a tentar salvar Compaoré do fantasma de Thomas Sankara, que voltou para o assombrar. A situação está confusa: basta ler esta pérola (antológica!) de redundância de Le Monde:

«Le chef de l'Etat a levé l'état de siège décrété dans l'après-midi par la présidence»


Compaoré abre e fecha a frase, sob designações diferentes! É que, à tarde, Compaoré decreta o Estado de Sítio durante a noite; e à noite, levanta-o. Entretanto ganha tempo, a ver se chega o fim-de-semana e os protestos esmorecem.

Missão da CPLP

Objectivos constitutivos da CPLP, segundo o publicado na página oficial cplp.org:

Igualdade soberana dos Estados membros;

Não-ingerência nos assuntos internos de cada estado;

Respeito pela sua identidade nacional;

Reciprocidade de tratamento;


O que se assistiu em Bissau, na conferência de MNEs?

Os angolanos cagaram sentenças, os portugueses bajularam-nos, os brasileiros calaram-se, os moçambicanos não quiseram saber, os são tomenses olharam para o lado, os timorenses, pelo seu lado, não lhes apetece dar um murro na mesa...

Isto não é a CPLP, tornou-se num albergue espanhol.

Hipocrisia

A LUSA publicou um artigo expressamente dedicado à ECOMIB»MISSANG. Face às incríveis patranhas emanadas da CPLP, não se vislumbra uma nota de sentido crítico, ou sequer uma simples alusão velada ao que realmente está em causa. Para quê intitular «Força militar africana com mandato da ONU» se estamos a falar de um simples capricho de José Eduardo dos Santos, sinalizando uma iminente senilidade? Não é preciso dar tantas voltas para esconder o rabo! Que aqui há gato, já não escapa a ninguém. Assumam e deixem-se de tentar encobrir o sol com a peneira.

Mas já agora, uns pauzinhos na engrenagem:

1) A CEDEAO. Por mais floreados que pintem, a sub-região não vai na conversa do afro-imperialismo angolano. «Reconfigurar», para esta CPLP, corresponde à proposta de revezar as forças da CEDEAO por forças angolanas. In illo tempore, a Nigéria não viu com nada bons olhos a estadia da MISSANG, não é de esperar que altere essa posição, sobretudo atendendo à intenção de multiplicar o efectivo por sete, perfazendo os 1800 elementos. Infelizmente, as relações de José Eduardo dos Santos com a França arriscam-se a arrefecer, depois da morte, há poucos dias, num acidente de aviação na Rússia, do presidente da TOTAL, com quem andava a «namorar». Não deverá pois esperar muita compreensão do lado da francofonia, para quem a presença angolana também é vista como uma ameaça (terá sido, aliás, esse o argumento que fez desestabilizar a balança nos dias seguintes ao 12 de Abril de 2012).

2) Os restantes elementos do Conselho de Segurança. Efectivamente, os «jogos» no Conselho de Segurança nunca são pela positiva, mas pela negativa. Cada vez que um elemento puxa a brasa à sua sardinha, é refreado pela oposição decidida de outro membro. Por isso é considerado ineficaz. Angola chegar ao «poleiro» e querer utilizar a sua posição em causa própria vai decerto fazer desconfiar os outros membros. Depois de se inteirarem da situação, vão achar que se trata de uma atitude completamente irresponsável e injustificada, e Angola perderá o eventual prestígio que adquiriu ao entrar para esse «colégio» (situação que não é nova, pois já aconteceu com Portugal, pela mesma razão).

O cenário é dissuasivo, mas não creio que o bom-senso venha a prevalecer, face ao adiantado estado de psicose já diagnosticado. Continua válido aquilo que disse Orlando Castro, há dois anos:

«Foi necessário os militares guineenses dizerem que não estão para ser protectorado de Angola para que, humilhada no seu sentimento de potência e dona de Portugal, Luanda puxasse dos galões e desse ordens ao reino português para papaguear uma série de asneiras»

Finalmente, ficarão isolados DSP e JES, esgotadas as máscaras e os pretextos rebuscados. Qual a razão de procurar forçar a cobertura internacional para uma relação de âmbito estritamente bilateral?

Para responder às recomendações do General Correia de Barros do Centro de Estudos Estratégicos de Angola, que disse, em tempos, quando criticou a MISSANG, que «a cooperação, em matéria tão sensível como a Defesa, nunca deverá ser efectuada numa base bilateral, mas ao abrigo de organizações internacionais como a ONU ou a UA, ou no seio de organizações sub-regionais, como a SADC ou a CEDEAO»? Uma vez que acataram uma parte das suas recomendações, deveriam lembrar outras...  tal como quando este aponta o inconveniente suplementar de Angola não pertencer à CEDEAO e Bissau estar demasiado «fora da área geográfica e organizacional» angolana (reconhecendo perante a Radio France Internacional que Angola demonstrou precipitação e nervosismo em todo o processo MISSANG - stress que, pelos vistos, continua a demonstrar!)

Declaração final MNEs - CPLP

«Encorajou as autoridades da Guiné-Bissau a concertar com a CEDEAO, e outros parceiros africanos, o mandato de uma ECOMIB reconfigurada para apoiar a implementação das reformas.

Notou, ainda, as vantagens de tal mandato vir a ser reconhecido pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para gerar confiança internacional no processo de reformas e facilitar o seu cofinanciamento.

(...)

Sublinhou, a este respeito, que o GIC (Grupo Internacional de Contacto) deverá ter em conta a tomada de decisões, a curto prazo, pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas quanto à renovação e atualização do mandato da UNIOGBIS e reconhecimento do mandato da ECOMIB reconfigurada para apoiar as reformas do sector de defesa e segurança.»

Não se trata, obviamente, de uma ECOMIB reconfigurada, mas de uma MISSANG reciclada, que deverá coroar os esforços de Angola para chegar ao Conselho de Segurança. Julgo que há aqui um grande equívoco da diplomacia angolana pois o poder, no CS das NU, é um não-poder, consubstanciado no direito de veto. Não dá para atribuir missões ou «reconhecer» mandatos.

Mas o plano tem, entre outros, um ponto fraco capital: fica dependente da CEDEAO, para reconfigurar a sua ECOMIB. Como a CEDEAO não está mesmo nada para aí virada, a ideia da planeada invasão fica adiada, pelo menos por mais 100 dias que é quanto dura ainda o mandato da ECOMIB, tantos quantos a extensão do estado de graça solicitada por DSP. Não havendo, nessa data, concertação possível com a CEDEAO, que vão fazer? Assumir uma força «africana» auto-proposta e proclamada? Com que designação? Força de apoio à implementação de reformas? O ridículo de toda esta psicose serve apenas para desacreditar a CPLP!

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Sondagem 7ze: participe

Quem deu a Jomav o telefone de Dilma?

RESPOSTA

a) Rui Machete
b) José Eduardo dos Santos
c) a própria

Brevemente publicaremos os resultados da sondagem.

Machete chamado de urgência a Lisboa

No mais grave incidente desde a guerra fria, a OTAN acaba de emitir uma declaração sobre incidentes semelhantes, em Portugal e na Noruega, envolvendo a invasão de espaço aéreo por aviões russos, entretanto perseguidos pelas respectivas Forças Aéreas. O assunto ainda foi a tempo de sair no jornal da noite de hoje da RTP1, apresentado por José Rodrigues dos Santos. O Correio da Manhã esclarece melhor os contornos do assunto, que parece configurar uma provocação.

A convocação do Embaixador russo, com carácter de urgência, tornou-se uma Necessidade absoluta. O incidente terá de ser tratado com benevolência, entendido na sua acepção de «comunicação» geoestratégica à escala europeia e mundial. A mensagem é clara, se bem que inconsequente, na prática. Trata-se da capacidade de «bate» (traduzindo literalmente do «frappe» francês) longínqua, na periferia das coordenadas de Moscovo.

Domingos Simões Pereira anuncia projecto

Segundo a Lusa, no acto da inauguração da conferência de MNEs da CPLP, o Primeiro-Ministro pediu um apoio orçamental directo para pagar salários. Decorrendo em paralelo um encontro de empresários, não julgo lá muito edificante esta cena da pedinchice.


Pode compreender-se que o papel de DSP implique um equilíbrio por vezes difícil de conseguir, mas o exemplo que escolheu, segundo notícia da TSF, para ilustrar as reformas pretendidas para o sector militar, foi, no mínimo, pitoresco, para não dizer grotesco. Um museu etnológico para Amura? Face à gravidade da imagem de penúria do país, que apresenta, foi o único projecto que lhe ocorreu? Mesmo sabendo que isso poderia ser percebido como uma desapropriação simbólica das Forças Armadas, da histórica fortaleza e da companhia de Cabral? Estou curioso sobre se o PM já partilhou esse projecto com as FA, ou se é apenas um sinal de «boa vontade» para consumo externo, de que está «no bom caminho». Independentemente disso, julgo que teria sido mais inteligente apresentar o assunto ao contrário, começando talvez pela «construção de modernas infra-estruturas» para o QG. Esse discurso já muito repetitivo que tem por refrão as forças armadas como inimigo interno não tem futuro num cenário de propalada reconciliação.

P.S. Não se compreende, por outro lado, a «perspectiva da continuidade de uma força internacional de estabilização, após o período do presente mandato» segundo notícia não assinada do Luanda Digital (sugerindo a substituição do contingente da CEDEAO por outro da «CPLP»). Sim, como compreender que, para além do esforço financeiro a fundo perdido que já está a pedir para despesas correntes, ainda se sobrecarreguem os doadores com mais essas pesadíssimas despesas de manutenção? A expressão «reforço da "imunidade" (figura que está na moda, com o Ébola) do sistema democrático» saiu mesmo da boca do 1M guineense ou é outra vez a network a especular, como as aspas deixam supor? É que soa demais a guarda pretoriana, que, por acaso, até rima com angolana. 

Uma mão cheia de nada

Nas primeiras declarações públicas em Bissau (sempre com o seu proverbial sentido de oportunidade) enquanto espera pelo verdadeiro VIP, seu dono, que traz a pasta com o dinheiro e o chicote, um Machete cheché repete declarações sem sentido, que nada acrescentam à sua miserável presença. Já se sabia da sua demagógica «esperança» em relação à TAP, isso não constitui novidade nenhuma. O desmentido é pura hipocrisia, uma vez que a TAP não falou de condições «técnicas» mas de condições «sanitárias», na sequência de uma reunião «de alto nível» com um Director-Geral extremista, reunião essa que o Senhor Ministro se obstina em desconhecer, num mal disfarçado desafio a Pedro Passos Coelho, o qual, neste momento, já não tem qualquer controlo ou autoridade sobre muitos Ministérios. Um Primeiro-Ministro deixar um Director-Geral atrevido usurpar-lhe as funções e um MNE «desinformado» sobre um assunto público e de importância capital para a sua esfera de competências, serve para amostra do estado de desgovernação a que Portugal chegou.

Mais uma bronca dos primatas nas notícias

O aziago (não) Seide (nada), da PNN, volta à carga, com mais uma argolada. Conseguiu produzir uma «notícia» claramente enviesada colocando na boca de uma secretária da Embaixada da África do Sul, que pomposamente tratou por «Secretária Política», que a África do Sul apoiaria a reforma das Forças Armadas. Caro irmão do Bambaram di Padida: cuidado com as notícias destes farsantes disfarçados de jornalistas.

Menos de 24h depois, o Embaixador acaba de publicar um desmentido esclarecendo que a senhora só pode ter produzido essas declarações a título pessoal, não tendo sido mandatada para o efeito. Depois de citada ipsis verbis «A missão diplomática sul-africana vai apoiar a Guiné-Bissau na reestruturação de aparelho administrativo e na reorganização dos sectores de Defesa e Segurança, e é nessa qualidade que me encontro presente aqui no Parlamento guineense para expressar a nossa intenção», a quebra de confiança custar-lhe-à, aparentemente, o emprego. Resta saber se a inconfidência se ficou a dever à desmiolada da rapariga, ou se o jornalista deu uma mãozinha ao cozinhar o texto: conseguiu tramar a Alexandra, mas é a intencionalidade do texto que me deixa curioso quanto ao profissionalismo e ética do pseudo-jornalista, que, pelos vistos, gosta de forjar notícias.

Factor de competitividade lusófona

A TAP é, sem dúvida, um factor de competitividade.

Privar a lusofonia desse factor, mais do que um erro económico, é um crime político.

Até o insuportável e asqueroso Machete faz agora concorrência à TAP, oferecendo boleias para Bissau à custa do contribuinte português.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Air France retoma voo para Conacri

Depois de um trovão, que há uns dias provocou danos na pista, o aeroporto de Conacri, que tinha estado meses inactivo, banido pelas companhias aéreas, reabriu ontem com um voo da Air France, que há pouco tempo decidira retomar a ligação (a França tinha apenas cerca de 500 cidadãos na Guiné-Conacri, dos quais a grande maioria, sem grandes vínculos, em funções de cooperação, fez as malas e voltou a Paris logo no início da actual crise viral).

Depois dos ingleses, os primeiros a decidirem retomar as ligações à Serra Leoa, considerando intempestiva e contraproducente a interdição, também Obama fez questão de se envolver pública e mediaticamente no assunto, criticando a opção pelo isolamento dos países afectados, a estigmatização regional e a psicose colectiva. Nesse sentido, chegou mesmo a dar um forte sinal, encontrando-se com a enfermeira que havia tratado do único caso (fatal) nos EUA.

Das antigas potências coloniais, só Portugal mantém a figura do apartheid (mesmo sem casos declarados em Bissau) instigado por um zeloso inquisidor (simples DG), baseado num perigoso utilitarismo. Nem todas as cruzadas foram contra os muçulmanos: a quarta, de ignóbil memória, foi contra a heresia cátara... face às ordens para passar todos à espada, sem excepção de sexo ou idade, alguns soldados dirigiram-se ao Papa, argumentando que nem todos eram hereges.

Ao que o Papa terá respondido: «Matem-nos a todos. Deus escolherá os seus»

P.S. E, já agora, para que não fiquem a pensar que a referida Cruzada foi um «sucesso» pelo extermínio dos «infectados», diga-se que a Igreja passou os cem anos seguintes a combater as ideias cátaras, cujas raízes, afinal, não tinham ficado confinadas aos corpos dos mortos. Um magnífico exemplo é o Santíssimo Milagre da Eucaristia de Santarém, de inspiração franciscana, o qual, meio século depois do massacre, se destinava a combater ideias cátaras, que negavam a «presença real» de Cristo na hóstia. A própria poesia de D. Dinis, nos seus ideais de cortesia, ou o culto do Espírito Santo, não representam mais que a propagação do «vírus» cátaro.

sábado, 18 de outubro de 2014

O Estado da Nação

Vale a pena ler o artigo do Embaixador Francisco Seixas da Costa no Diário Económico. Artigo esclarecedor, dele emerge um patriotismo lúcido, dispensando as habituais «papas na língua» (que caracterizam normalmente os diplomatas). Para uma pessoa comedida, como tem revelado no seu blog, terminar o seu artigo com um (quase) apelo à revolta, denunciando um elevado potencial de inflamabilidade social, é esclarecedor, por si, do momento que Portugal atravessa.

Aproveito para dizer que, nos textos em jeito de comentário que o irmão do Bambaram di Padida tem publicado, prefiro a designação «governo fascista», etc. do que a referência genérica a «tugas». Há que distinguir o povo português da classe política incompetente que tem desmantelado o país e este artigo é um bom exemplo. Lembrando Cabral, «a nossa luta não é contra o povo português...»

Retomando o senhor embaixador, também eu não duvido que o espírito da Nação, farto de ser espezinhado e prostituído, saberá convocar a sua força anímica e, um dia destes, despertará finalmente (poderá é acordar mal disposto). O estado a que isto chegou!

Machete em Milão II

Já agora, em relação às outras declarações produzidas pelo incompetente e balofo MNE português, em Milão, de que, cândida e ingenuamente, «deconhece fraudes» no processo eleitoral em Moçambique, poderia apontar-se, desde já, uma, pública e patente: as pretensas sondagens «científicas» apoiadas em «margens de erro» da treta, cujo discurso deixa claramente a descoberto a intenção de enviesar a percepção final dos resultados. Todos sabem como aconteceu o golpe contra Gbagbo, na Costa do Marfim... é na antecipação que está o ganho.

O pequeno e saloio Machete não tem pinta para Pinóquio. Só quem for muito distraído é que não terá percebido a orgânica da farsa montada pela FRELIMO, com base no know-how do Partido irmão da costa atlântica. Nem precisava de se esforçar muito, se quisesse mesmo saber do esquema desta fraude: bastaria investigar o «Observatório Eleitoral» promotor da «amostragem» (com conhecimento sistémico da «engenharia» do ramo) divulgada pelo CIP, um Centro de «Integridade» Pública cujo I central soa a falso.

A RENAMO não gostou. Mesmo sendo-lhe dado um «rebuçado» (pois aparentemente sai beneficiada, a fraude é à custa de terceiros) o Porta-Voz falou bem quando disse que não se tratava de vitória ou derrota, mas de uma questão de transparência, que foi aquilo que não houve, nas eleições. Gostaríamos de ouvir a versão dos observadores eleitorais internacionais em relação à opacidade assumida, à força de contingentes de polícia de choque... Foram, entretanto, denunciados «erros informáticos» e o outro Partido também anuncia a contestação dos resultados, prometendo levar o caso «até às últimas consequências». Nem vale a pena publicar os resultados «finais» porque, pelos vistos, ninguém quer saber, nem lhes vai ligar patavina, estando estes gravemente feridos na sua legitimidade. Estes senhores julgam que realizar eleições consiste em deitar fora as urnas e cozinhar um resultado «aceitável».

PS Tal é a manipulação que, em 2009, a percentagem parcial oficialmente publicada para cada um dos três candidatos, somada, dá mais que os 100% de votantes: 75,5 + 16,5 + 8,6 = 100,6%. Não é possível falar de erro de arredondamento, pois tratando-se apenas de três parcelas, o erro máximo teria de ser inferior a 0,3% (isto partindo do princípio que estamos apenas a falar dos votos expressos e não nulos). A outra única justificação possível para tal facto, de haver mais votos que votantes, é terem aceitado «duplas» (ou triplas) escolhas, como no Totobola. Daqui a cem anos, com a FRELIMO ainda no poder, os resultados serão uma vitória por 99,9%, seguidos da RENAMO, com 99,8%... Tudo isto, com receio de perderem a hegemonia face à emergência do novo Partido, que poderia trazer sangue novo ao país, ultrapassando o maniqueísmo histórico e belicoso dos dois partidos tradicionais. Depois da revolta que o «Eixo do Mal» prepara em Moçambique, esperemos que nunca mais, na CPLP, tenham a lata de falar em «manutenção da paz» na Guiné-Bissau.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Quem espera, desespera

Afirmações perfeitamente gratuitas, as de Rui Machete, em Milão, relatadas pela Visão. Será simples ingenuidade? Quem saiba ler, percebe perfeitamente que a ligação foi adiada para sempre, até novas ordens.

Segundo se pode ler no comunicado da companhia, a ligação teria sido adiada «por um período NÃO INFERIOR a 45 dias». Neste contexto, «esperar» não quer dizer absolutamente nada. Está a gozar com as pessoas?

Será que as preocupações «sanitárias» do Ministério da Saúde e dos seus «imprescindíveis» tecnocratas não foram discutidas em Conselho de Ministros? Tratando-se de um país estrangeiro, o MNE não foi notificado?

Por este andar, sendo as pretensas autoridades a dar o exemplo, brevemente teremos check-points no fim da nossa própria rua. Mesmo (e sobretudo) para além da irresponsabilidade dos políticos, a TAP fica mal vista.

As autoridades portuguesas reagiram como as turbas russas, que agora se dedicam a transformar os guineenses em bodes expiatórios para os seus medos! A Putin, que também está em Milão, exigem-se providências.

Se o país aspira a rivalizar como grande potência com os Estados Unidos, tem de dar um exemplo de tolerância interna. Os guineenses são convidados e ficaria muito mal se houvesse algum problema neste contexto.

Que nem um dos cabelos de nenhum estudante guineense toque em chão russo. Num outro sentido, estas reacções deverão fazer-nos pensar [como se terão sentido os nigerianos, por altura daquela «montagem» expiatória].

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Quarentena virtual

Numa inqualificável paranóia, assumida pelo Director Geral de Saúde, este deixou claro que houve uma «reunião de topo» (em declarações à Lusa nas quais o tecnocrata dá a entender que terá mesmo colocado o lugar à disposição, reunião na qual eram mais os conselheiros que propriamente os portugueses considerados em risco, que se contam pelos dedos da mão), na qual foi decidido manifestar preocupações «sanitárias» e sugerir à TAP que adie sine die a retoma da ligação aérea a Bissau. Para gente de vistas curtas, esta é a decisão mais confortável. A mediocridade adora imaginar-se protegida por sugestões de «escudos miraculosos» que os colocariam ao abrigo de perigos imaginários. Como o Didinho perguntava, há uns tempos: e se a epidemia for declarada em Espanha, vamos fechar a fronteira? (como somos dependentes de tudo, antes de morrermos do vírus, presumivelmente morreremos, mais trivialmente, de fome) Mas como a Guiné-Bissau é o «elo mais fraco»...

Que a TAP, como companhia privada, venha assumir acriticamente, em comunicado, decisões políticas deste calibre, deixando de explorar uma rota altamente lucrativa e um dos seus destinos identitários e tradicionais (ininterruptamente há mais de meio século) num momento crítico do país, votando-o ao isolamento e encarecendo ainda mais a maior parte dos géneros, é precisamente contra a sua missão (pelo menos enquanto ainda pertence aos contribuintes): a manter-se a dificuldade de acesso a Lisboa, os comerciantes de Bissau terão de procurar outros esquemas de fornecimento, atendendo a rotas e ligações, enfraquecendo assim, não apenas a actividade económica derivada, mas também a relação (anteriormente umbilical) a Portugal. Os correios guineenses, por seu lado, tendo anunciado prematuramente a normalização do correio exterior no pressuposto dessa retoma, serão igualmente prejudicados.

Imagine-se que, em 1975, em plena crise de refugiados do ex-Ultramar, a TAP, em vez de montar uma ponte aérea, tinha simplesmente decidido que «não existiam condições de segurança» (e não existiam, de facto!) para voar. Os ingleses têm meia dúzia de gatos pingados na Serra Leoa e mantêm os voos, com preocupações adicionais de segurança, mas mantêm. Largamente subestimados, há pelo menos três mil portugueses (que já quiseram salvar com a Armada, numa operação fútil que custou aos contribuintes seis milhões de euros - dois mil euros «por cabeça» de português) na Guiné-Bissau e bem mais do que outro tanto, de guineenses em Portugal (dos quais uma parte já adquiriu a nacionalidade). Tudo isto revela muita falta de respeito pela mobilidade das pessoas e pela integridade do espaço «CPLP».

PS Que ninguém se tenha lembrado de informar (já nem digo de partilhar a decisão) o Primeiro-Ministro guineense (que chegou a vir expressamente a Lisboa para tratar deste assunto) é de uma grande falta de ética... Um simples telefonema de pré-aviso tê-lo-ia poupado ao mal estar de ser apanhado de surpresa pelos jornalistas, num assunto sensível e crucial para o país. É que Machete não trata destes assuntos tão triviais como voos civis. Talvez haja ilacções a tirar (em relação a certas «proximidades») por parte de Domingos Simões Pereira.

sábado, 11 de outubro de 2014

O barulho das luzes

Silêncio ensurdecedor? do Presidente da República em relação às Cartas Abertas endereçadas por Fernando Didinho e pelos Magistrados, reagindo a declarações públicas bastante desadequadas.


É legítimo e louvável que o Presidente queira manifestar, com impacto, a sua firme vontade de resolver os cancros que afectam a vida nacional, comunicando um forte sinal nesse sentido. No entanto, essa veia mediática, «arrebentando» pelo bombástico, arrisca-se a sujar o cenário. É preciso muito cuidado no manuseio de explosivos...

As falhas de comunicação apontadas ao Primeiro-Ministro pel'O Democrata, referindo-se à insignificância do Porta-Voz do Governo, poderiam igualmente ser apontadas à Presidência. Serifo, em menos tempo que os 100 dias que já passaram, dotou a Presidência de uma página na internet... Estarão as novas autoridades em vias de ficarem autistas?

A comunicação não se faz apenas num sentido. Já que Sua Excelência o Presidente da República parece estar empenhado na sua missão, aceite as críticas e tenha a humildade de rever a sua posição, endereçando um eventual pedido de desculpas à classe dos Magistrados, de forma a repor formalmente a indispensável confiança intra-institucional.

Depois da investida de cabeça baixa, a imagem do Presidente sofrerá maior desgaste na ausência de resposta. Parece justificar-se, na Presidência, uma profunda reflexão quanto à consistência do papel a desempenhar. Gastar rajadas de cartuxos a atirar para o ar à toa não parece a melhor política. Mude para tiro a tiro, mas acerte no alvo!

O óscar da interactividade (e do trabalho de casa) vai para o Ministério da Administração Interna, reagindo exemplarmente, mostrando estar atento aos «watch dogs», mesmo pelo meio de grande salganhada.