sábado, 5 de maio de 2012
Legitimidade III
Segundo comunicado da Liga emitido hoje dia 5 de Maio: «Desde o conflito politico-militar de 7 de Junho de 1998 que o país reclama medidas consistentes, sustentáveis e adequadas (...) o problema guineense deve ser resolvido com base nos interesses nacionais objectivamente estruturados e não com base nos interesses geo-estratégicos sub-regionais ou continentais.» A legitimidade da antiga Constituição é igual à de Raimundo Pereira para CEMFA: ou seja, nula.
O Comando, logo nos primeiros dias, ancorou a sua legitimidade numa proposta de transição «técnica» afastando o «político» da praça pública. Conseguida uma solução «em branco», justifica-se, como afirmação de seriedade, a política da «tábua rasa». Dissolução dos vínculos do ex-PAIGC com o Estado, ao nível da própria bandeira; dissolução da Constituição; dissolução do Governo. Vários cenários para 12 meses de transição, mas o que parece perfilar-se e de longe o mais substancial
o de um chefe de estado militar, como responsável e garante da afirmação da soberania nacional e da estabilidade político-militar, reunindo as competências de Presidente e Primeiro-Ministro;
um governo colectivo consubstanciado num Fórum de Discussão / Decisão, conforme vários sinais substantivos de interacção com a sociedade civil dados pelo Porta-Voz do Comando
«A Guiné-Bissau precisa de um novo modelo de sociedade» afirmou hoje, dia 5 de Maio, o sociólogo guineense Ricardino Teixeira, autor do livro “Sociedade Civil e Democratização na Guiné-Bissau”.
http://www.asemana.publ.cv/spip.php?article75862&ak=1
Considera que a Guiné-Bissau precisa de um novo modelo social assente na valorização da manjundade, que define como «um grupo pedagógico, cultural e político, com capacidade de articular os diferentes grupos étnicos em torno de objectivos comuns. Este grupo deve constituir-se numa rede governável na diversidade e implicando a sociedade civil».
Tentando traduzir para português o termo em poucas palavras: convívio dos mais velhos e esclarecidos.
Com os créditos adquiridos e uma legitimidade «virgem», pede-se agora a Daba Na Walna que se empenhe na sua nova carreira, se dedique a formalizar juridicamente uma nova soberania no novo Estado da Guiné-Bissau. Uma tarefa essencial, para além do «design» da nova Constituição (os acertos já foram admitidos pela CEDEAO), será a elaboração de um inventário de recursos minerais e de estratégias ou projectos de rentabilização relacionados, prevendo mecanismos de controlo técnico independente por parte do Estado, bem como a integral transparência dos contratos (e das Contas do novo Estado), dando assim garantias de seriedade técnica e continuidade económica tanto a investidores como aos guineenses.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Força portuguesa sai
http://visao.sapo.pt/forca-portuguesa-sai-da-guine=f662564
Mesmo a corveta e a fragata que «faltam», sem logística, não está previsto que se atardem.
Hora di BYE, BYE.
Ditadura do Consenso recupera equipamento
Pleonasmo ou retórica?
Ora, em primeiro lugar, as duas palavras apresentam nuances e portanto complementam-se (endógeno, nasce de dentro, mas é livre; interno, tem a ver apenas com o que está lá dentro e assim se mantem);
Em segundo lugar, o seu discurso militante e parcial destina-se a convencer e a ser lembrado (permanecer na memória implica uma certa dose de repetição, é o que faz a publicidade, nunca vemos um anúncio uma só vez) e encontra-se estruturado com base numa retórica consistente.
Neste contexto, chamar analfabeto a Daba apenas demonstra a falta de Fair Play, o nervosismo e o comportamento primário de alguns actores. Uma coisa é dizer «subir para cima», ou «pareceu-me bem parecido».
Mas se eu disser «lamber com a língua»? Pois claro, havia de ser com quê? Mas a redundância redunda neste caso numa valorização do dito, num empolamento do efeito: ao acrescentar à descrição do acto, o respectivo instrumento, facilita-se a construção da imagem mental. Daba utilizou uma figura de estilo, de retórica hiperbólica. É um verdadeiro bólide: demolidor.
Talvez seja melhor esquecerem a língua portuguesa, pois ela é muito traiçoeira. Já a atitude, essa, parece mais de inveja, se não mesmo de desespero. Em vez de criticarem o que não percebem, aproveitem para aprender com o senhor Porta-Voz. Encosta-vos a um canto, dá-vos um chuto com a ponta do pé!
La pagaille à Dakar
A cimeira extraordinária da CEDEAO reunida esta noite em Dakar para tratar da questão da Bissau acabou por ser absorvida pela rápida e perigosa evolução da situação no Mali; o Comando Militar também não leva a mal que passem o «problema» da Guiné-Bissau para segundo plano. O presidente em exercício da organização lembrou, a propósito, que a principal vocação da Comunidade é «a construção de escolas» e não a arbitragem de conflitos políticos... Para bom entendedor, meia palavra basta.
Não gostou decerto da «marcação ao homem» que Paulo Portas e José Eduardo dos Santos lhe andavam a mover incluindo: «enviados especiais»; dos anúncios de auto-intitulados-ministros dos «negócios estrangeiros» fantoches, contrariando a organização (e com pretensões de falar em nome da ONU); das notícias orquestradas a partir de Luanda quanto ao peso dos franceses em África, escarnecendo a «FrançÁfrica»; e das afirmações tentando pressionar as decisões da organização por parte do presidente da CPLP. Banjul tinha sido de facto a última jogada dos partidários da guerra, com as tentativas ofensivas, mas falhadas de Jameh para destabilizar os intervenientes guineenses, ao recebê-los sempre em separado e apostando na intriga...
C'est la zizanie. E uma clara vitória do Comando, em especial do seu Porta-Voz. As leituras são óbvias: a transição foi legitimada pela CEDEAO, sem que esta conseguisse fingir sequer a aparência de um «retorno» à ordem, através da imposição do ex-Presidente. A força em espera, será mobilizada apenas para o Mali, onde há um conflito, mas ficará à espera de ser convidada para entrar. A organização passará a dar mais importância às questões do desenvolvimento económico e da integração regional. Lacónico.
Tal como Daba garantiu, não haverá qualquer intervenção de forças estrangeiras na Guiné-Bissau.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Alarmismo barato
Notícia original:
Segundo a Lusa, citando por fonte o Ministério da Defesa, Portugal estaria a avaliar a retirada da força naval, que inclui, para além dos dois vasos de guerra e navio de logística já conhecidos, uma outra fragata, a Bartolomeu Dias, cuja presença na área não tinha sido anunciada à comunicação social. De acordo com a TVI, José Pedro
Aguiar-Branco recusa ter havido qualquer intenção de fazer segredo com
a última
fragata.
Mas o jornalista do Correio da Manhã não soube ler bem a notícia e anuncia na penúltima página da edição de hoje que «Ontem, partiu a terceira fragata», em lugar de destaque de «última hora»! Não foi ontem, foi há duas semanas; a notícia é de que vão voltar à base e não atacar; e não é a «terceira» fragata, mas a segunda, pois também lá anda uma corveta.
Guiné-Bissau: Fragata a caminho
Comentário mais votado (Natália)
terça-feira, 1 de maio de 2012
Diligências continuadas
Pretória, África do Sul. Exemplo mundial de tolerância. Quando Nelson Mandela visitou o homem que o mandou prender, deu um sinal claro, com essa atitude: se ele próprio, que tinha razões de sobra para odiar, perdoara, ninguém se sentisse com «legitimidade» para vinganças.
O presidente de Cabo Verde, que pertence ao Grupo de Contacto da CEDEAO para a Guiné-Bissau, reuniu com responsáveis de Angola, Namíbia e África do Sul... As suas declarações foram mais prudentes que as do Primeiro-Ministro, ao reconhecer que a Guiné é um «caso complexo». Precisamente. Obrigado, Nelson.
Nesse contexto, o investigador cabo-verdiano Corsino Tolentino deveria ser levado a
sério, quando põe em guarda o seu governo contra uma atitude demasiado
marcada na questão da Guiné, aconselhando prudência e distanciamento
relativamente à CEDEAO, que parece ter passado ao lado de uma grande
oportunidade de afirmação regional e internacional, calmamente e sem
violência, depois da vitória diplomática que obteve o seu «ultimato».
http://www.portugues.rfi.fr/africa/20120430-comando-militar-da-guine-bissau-nao-aceita-pressoes-da-cedeao
Após um bom augúrio inicial, e das provas de boa vontade dadas, foi de uma forma rígida e pretensiosa que
esta organização tentou encostar à parede o Comando Militar, sem
argumentos palpáveis, pois o que puseram no prato da balança, pior que
muito pouco, é uma ofensa às forças armadas guineenses: então, com 500 a
600 homens (de várias nacionalidades), pensam invadir a Guiné? Fazem
lembrar o «valente» Coronel senegalês que prometeu a Diouf tratar da
«questão» em 24h... a sua caveira foi depois mostrada na televisão em
mãos da Junta. E tiveram Nino para lhes garantir o desembarque...
Antigamente, enviavam-se forças de paz para zonas em guerra; agora,
pelos vistos, falam em enviar forças de guerra para zonas em paz! O Comando Militar não podia dar o que não lhe pertence: a sua única
legitimidade, para além da força, nesta situação, foi o ter-se oposto,
com razão, à intenção de envio de forças estrangeiras. Em relação a esse ponto, pelo menos, os guineenses parecem estar de acordo, pois ninguém vê com bons olhos a presença de forças estrangeiras, mesmo se alguns defendem ser esse um mal menor.
Depois da Costa do Marfim, está mais que visto que a ingerência, através de missões de «cooperação» técnico-militar, nos assuntos internos de outros países, só pode prejudicar: é que qualquer visão exógena é forçosamente redutora. Nenhum soldado estrangeiro tem legitimidade para se imiscuir em questiúnculas internas de um país independente e soberano, sob risco de mal entendidos galopantes...
sábado, 28 de abril de 2012
Caçada ao elefante II
Não nos vamos precipitar a fazer leituras apressadas... Daba Na Walna é uma maravilha política, extremamente selecto na escolha das palavras. Na sequência da aceitação, logo no início do prazo dado, de todas as imposições da CEDEAO:
Foram ex-patriados o ex-Presidente interino e o ex-Primeiro-Ministro. Foi mesmo admitida a hipótese de poderem vir a ser nomeados respectivamente Presidente interino e Primeiro-Ministro do Governo de Transição (cuja duração foi acordado reduzir para um ano); sublinha-se que a legitimidade governativa lhes vem do Comando Militar e não de qualquer eleição ou situação anterior.
O novo Governo legítimo a constituir, com o apoio da CEDEAO e do Comando Militar, graças ao presente protocolo, ao consolidar as perspectivas de consolidação da paz, segurança e estabilidade governativa no país, permitirá decerto rentabilizar esta oportuna iniciativa diplomática e poupar maiores esforços no futuro à Comunidade, estando previsto, no âmbito da sua «Force en attente», mobilizar, nos respectivos países, no espaço de três a quatro semanas, uma força de 500 a 600 homens (dont le deployement devra être mis au point entre les signataires).
É uma grande vitória do legítimo presidente da Costa do Marfim, anfitrião da reunião de Abidjan, aliás conhecedor das questões geo-políticas em questão, depois de uma transição complicada ainda há relativamente pouco tempo no seu próprio país, com o seu rival a recusar-se a acatar os resultados eleitorais, contando mesmo para isso com o apoio de forças estrangeiras presentes no terreno.
Portugal «estuda» a retirada da sua Força. A ONU delegou na CEDEAO, portanto, face ao sucesso desta, qualquer iniciativa no Conselho de Segurança acerca da Guiné-Bissau perdeu oportunidade e será adiada para as calendas gregas. Os Estados Unidos, até aqui discretos entraram de cabeça para salvar Angola: declarações do Embaixador, a senhora Clinton endereçou um convite a Georges Chicoti para lhe fazer uma «visita de alto nível», com o objectivo (quase hilariante) de o desagravar das injustas acusações de que, na sua opinião, tem vindo a ser alvo no âmbito da questão da Guiné.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
i = 0 em geografia
http://www.ionline.pt/opiniao/catch-22-golpe-militar-na-guine-bissau
http://ditaduradoconsenso.blogspot.pt/search?q=22+catch
mas a sua superficialidade jornalística deixa muito a desejar, pois, ao contrário do que presume quem o lê, a Guiné Equatorial, mal grado a sua proximidade onomástica, é encostada a Angola e não à Guiné-Bissau. A não ser que «região» seja África inteira! Olhe primeiro para o mapa, recolha informações e veja as notícias, antes de fazer «apostas» desinformadas e mal aconselhadas para o futuro.
Não deu parte da encomenda, pois trai-se uma segunda vez quando acrescenta o epíteto de «ditador» ao recente aliado de José Eduardo dos Santos. Vamos ter de lhe dividir o crédito (22 cachas) para um sétimo... Piiiiiiiiiiiiii
Crónica de um golpe anunciado
Daba Na Walna continua a somar pontos. Atenção aos seus discursos, que são muito prudentes: quaisquer palavras, retiradas do contexto, podem induzir em erro. Antes de dar especial relevo a qualquer das suas afirmações, os jornalistas deverão atentar bem nas frases pos e pre-cedentes. É claramente uma arte da nuance. E Angola, face à alta qualidade diplomática e jurídica da face visível do Comando Militar guineense? Há um novo contexto geopolítico em desenvolvimento... Não arranjam nada mais original do que acusar os militares guineenses de serem manobrados por Kumba Yalá, numa base tribal, na feitura deste golpe de estado? A troco de uma «grande soma em dinheiro» entregue em pleno Estado Maior?
http://www.zwelangola.com/politica/index-lr.php?id=8754
Estão desactualizados: Daba foi bastante claro quanto a isso, na entrevista dada por à RTP em Bissau, há uma semana, quando a jornalista lhe apresentou essa questão «Não andamos aqui às ordens de ninguém». A «inventona» é grosseira demais e foi desmentida, sem sombra para dúvidas, uma semana ainda antes de formulada.
Resumindo o conteúdo das acusações, mesmo sem nexo: corruptos, tribalistas... Traficantes de droga e agora, pela voz da América, parece querer juntar-se-lhe mais um espantalho, o «risco de terrorismo», numa associação (muito es)forçada ao fantasma da implementação forçada da Charia no Norte do Mali, país que aparentemente implodiu e constitui agora a principal preocupação da CEDEAO (por razões diferentes, pois na Guiné-Bissau tem sido conservada a ordem e soberania nacional).
http://www.voanews.com/portuguese/news/trafico-de-droga-na-guine-bissau-podera-ajudar-terrorismo.html
Ora, já que falamos na VOA, para documentação, atente-se nos precedentes da actual crise, para melhor informação, graças a um seu artigo de 28 de Dezembro do ano passado: numa conferência de imprensa, Victor Pereira, porta voz da oposição
guineense acusou o
primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior de ter vendido "a alma" e
recursos do país a Angola, afirmando que a presença de militares angolanos na Guiné-Bissau constituía uma
"força de ocupação", considerando inadmissível que o
primeiro-ministro tenha sido resgatado da sua residência por "forças de
ocupação estrangeira" provenientes de Angola, fazendo uso de armas de fogo.
http://www.voanews.com/portuguese/news/12_28_2011_angolaaccusedofinereference_voanews-136318378.html
A hipocrisia recente (associada a uma memória convenientemente demasiado curta) no tratamento desta crise, na tentativa de submeter a Guiné, tem distorcido substancialmente os acontecimentos, regra geral subvertendo mesmo o seu próprio sentido, numa clara intenção de diabolização primária dos acontecimentos em Bissau, aparentemente orquestrada a partir de Luanda. O «presente de Natal» que Bissau teve no sapatinho pareceu antes uma moralização da situação, com a prisão do ex-Chefe de Estado Maior da Armada Bubo, recorrentemente apontado, tal como Nino, como conotado com o tráfico de droga. Recuando um dia e recorrendo à mesma fonte...
http://www.voanews.com/portuguese/news/12_27_2011_-136258333.html
Mas para refutar a interpretação de Guilherme Correia da Silva, ontem na VOA, em torno do espectro do terrorismo, veja-se a sua própria fonte, um livro do IISS, Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com o sugestivo título de «Drogas, insegurança, Estados falhados e os problemas da Proibição» e constatar-se-á que a sua apresentação do assunto é, no mínimo, bastante pessoal. O grande desafio, para os investigadores, parece ser o de fomentar uma outra concepção para o «inerradicável» cancro (por mexer com dinheiro) que constitui o tráfico de drogas, ousando mesmo sugerir novas abordagens mais permissivas (citando mesmo como bom exemplo o caso de Portugal), senão mesmo uma liberalização que resolveria o problema de vez, pela raiz.
http://www.iiss.org/publications/adelphi-papers/adelphis-2012/drugs-insecurity-and-failed-states-the-problems-of-prohibition/
quinta-feira, 26 de abril de 2012
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Declarações extemporâneas em Assembleia ordinária
José Eduardo dos Santos, que não pediu licença à «sua» Assembleia para enviar Blindados e Forças Especiais para assegurarem os seus interesses na Guiné, mas para «sair» já precisa de se legitimar perante a Assembleia (ordinária)? Mais valia acrescentar à lista de segredos e tabus a conservar. Mas se é para «sairem», para que é que a sua secretária de Estado das Relações Exteriores para a Cooperação, Exalgina (parece nome de medicamento; ah, deve ser terapia do mau hálito: _Não exale, Gina, tanta barbaridade, se tivesse um filho em Bissau não falaria assim...) acabou por declarar que a missão militar de Angola na Guiné-Bissau, MISSANG não será retirada
enquanto não for restabelecida a «legalidade» constitucional neste país?
http://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=10857:missang-nao-sai-em-breve-da-guine-governo-angolano&catid=23:politica&Itemid=123
Presume-se que seja essa mesma MISSANG, já enterrada mas agora ressuscitada, que vai aplicar a terapia proposta por Georges Chikoti (que chacota), ex-UNITA... para a Guiné. Aparentemente a ex-ex-MISSANG passou de novo a estado de prontidão, só espera os reforços da Comunidade Internacional para ir buscar pelas orelhas os chefes desta revolta militar tão veementemente condenada no cenário mundial; ou José Eduardo dos Santos descobriu algum supositório especial para a malvadez dos militares guineenses?
Quanto ao documento pelo qual a aliança Paulo Portas / José Eduardo dos Santos tanto anseiam na ONU, arriscam-se fortemente a que a sua formulação esteja claramente aquém do que esperam. É que o Conselho de Segurança, para além, claro, de Portugal e dos Estados Unidos (veja-se Nota Prévia da declaração da Presidência desse orgão: a declaração não obriga o Conselho) tem mais países... alguns dos quais, aliás, ultimamente muito susceptíveis (gato escaldado da água tem medo) no que toca a mandatos «em branco» ou a redacções demasiado vagas. Face às divagações sem nexo das diplomacias portuguesa e angolana, que têm empregue tesouros de retórica para esconder o osso que têm atravessado na garganta (comâ lobu co sê okessa comê um dia tork oss trabessal na gargante...), o mais provável mesmo é que o Conselho opte pelo bom senso a que se referia Daba, e se limitem à condenação vaga e improcedente da praxe, para não hipotecarem mais o já muito abalado crédito da ONU. Em diplomacia, nunca esperem ouvir um rotundo e terminante «NÃO»; hão-de sempre arranjar maneiras para vos «empatarem».
Talvez possamos dar uma ajudinha, na clarificação da situação: a questão gira em torno da dialéctica (redutível à teoria dos jogos, quanto à forma do emprego da força: passiva ou activa?), muito precocemente e bem apresentada (em nome do Exército português) por sua Excelência o Almirante na reforma Melo Gomes, herói da evacuação, debaixo de fogo senegalês, do Ponta de Sagres, em 1998, desmentindo assim imediata e categoricamente a arrogância belicista de Paulo Portas que transpareceu para os Telejornais que assustou tantos guineenses.
Se houvesse algum conflito local (o que há realmente, foi importado) talvez conseguissem uma força de manutenção de paz; se conseguissem encontrar uma «facção» para organizar em segurança um «comité de boas vindas», talvez fizesse sentido pedirem uma força de interposição; agora, inventarem uma figura que não existe: «força de reposição da ordem»? Parece-me exalar um odor demasiado «activo»; o Conselho não é muito dado a novidades, terão decerto de pedir um parecer a uma qualquer comissão jurídica, de qualquer forma isso arrisca-se a constituir um precedente perigoso, pelas múltiplas leituras que poderiam ser feitas no futuro no sentido de agredir outras soberanias; ou seja, têm muito pouco futuro no Direito Internacional, talvez devessem contratar Daba para vos dar umas explicações. Só a dor de cabeça que seria estudar e detalhar as condições e modalidades de um Mandato desse género...
MISSING MISSANG?
terça-feira, 24 de abril de 2012
Poesia com ALMA
Estão todos convidados para Santarém, no próximo dia 2 de Maio.
O 7ze vai declamar poesia portuguesa, sem microfone, no Bar Xantarim.
Lamentável coro de meninos
Estão a tornar-se cada vez mais patéticas as declarações do auto-denominado «governo legítimo da Guiné-Bissau»: a situação está a evoluir depressa, ainda há dois ou três dias ênfase e esperanças eram confiadamente depositadas no «povo»; agora é colocada na «fortaleza» da unanimidade da comunidade internacional, que, afirmam, «nenhuma força consegue vencer». Em princípio, há dez anos, talvez tivessem razão.
Mas a comunidade internacional tem-se prostituído demasiado: o veto de simples bom senso, pela Rússia e pela China, de uma resolução para a Síria, apenas vem demonstrar até que ponto a ........ internacional na figura da ONU perdeu legitimidade para a resolução de conflitos locais, sobretudo quando meia dúzia de países desenvolvidos e ricos pretendem invocar uma suposta «unanimidade» (muitas vezes apenas ilusão de propaganda) para atropelarem a soberania de países que não se vergam à sua lei, sem quaisquer regras (nem resultados, diga-se em abono da verdade); quando se perceberá no mundo que a Paz e a concórdia não se constroem com base na hipocrisia, na primazia absoluta dos interesses económicos, mas antes no respeito das regras de não ingerência?
Quanto ao Comando Militar, não estaria na altura de promover a reintegração de todos os elementos das FA com valor político-militar e renovar um pacto de unidade, alargando a sua representatividade e legitimidade no seio das próprias FA, chamando aqueles que se afastaram para as tabancas, nomeando para a chefia um militar claramente não conotado com o apelidado «golpe»? É preciso avançar com um nome... Mas para depois ser respeitado, sobretudo na tropa. Talvez seja altura de deixar de actuar preventivamente, pois o perigo de genocídio balanta foi definitivamente (e literalmente) enterrado. Um sinal de abertura, mesmo mantendo a irredutibilidade das legítimas posições de fundo, seria bem vindo, pois a situação arrasta-se e vai começar o ano agrícola e todos se lembram da kansera, fomi e foronta provocados pela guerra. Como homenagem à mulher guineense, permitam-me que me inspire numa linda canção de José Carlos Schwarz:
Matchu, matchu garandi
Kombatenti di povo
Ma tugas ruma se kargu
pa e riba si tera
No ka djuntu na nada
ma e mas nos na tudu.
Com os devidos créditos a Moema Parente Augel num magnífico E-Livro (só clicar na capa para ler):
http://books.google.pt/books?id=TkP6NAsbQskC&hl=pt-PT
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Legitimidade II
Mais umas reflexões sucintas em termos de legitimidade: o ex-PAIGC não tem qualquer legitimidade para se opor, sem alternativas e praticando a política da avestruz da «cadeira vazia», à normalização da situação, situação essa criada pelo ex-Primeiro-Ministro e presidente desse antigo Partido. Em que deu a governação do ex-PAIGC, desde a Independência? Que desenvolvimento trouxeram para justificar a confiança que o povo em tempos depositou nesse Partido auto-dissolvido? Ao optarem por se auto-excluir do processo político oportunamente em curso apenas revelam a sua fraqueza: parecem crianças, que fazem uma birra porque lhes tiraram o brinquedo, ao ponto de retirarem a confiança política a um militante com uma opinião divergente e de bom senso, que poderia servir de ponte. Parecem infelizmente decididos a cortar todas as amarras com a realidade agarrados a um sonho extinto e a empregos miseráveis. Voltando ao tema: se me perguntassem como classificar o «democrático» reino do seu «campeão» Cadogo Jr, teria de optar por defini-lo como uma cleptocracia. A liberdade de opinião (não de manifestação) que hoje existe na Guiné não se compadeceria com a opacidade dos contratos de cedência do sub-solo (a granel) consentidos... Mas pronto, talvez fosse aceitável viver numa cleptocracia com aparências de democracia, se o brilhante condutor dos destinos da nação se contentasse em roubar metade e fizesse aproveitar os guineenses do resto do maná: mas não, entrega, sem a mínima perspectiva de controlo técnico, todo o sub-solo da Guiné a estrangeiros, sem dar minimamente conta do assunto? Resumidamente: 5% para Cadogo e 95% para os estrangeiros. Não se terá esquecido de alguém? É que surripiar alguns dos ovos de ouro, ainda vá, mas matar a galinha? Pelos vistos deixou-se seduzir pelo modelo angolano de distribuição de riqueza, na pessoa do «carismático» (o nível de hipocrisia induzido pelo dinheiro é tramado) líder José Eduardo dos Santos.
Não: os guineenses preferem reduzir a dose de arroz de pilão, a hipotecar todas as suas riquezas a troco de «democracia» que esses senhores dizem vir implementar pela força das armas. Na Guiné, a legitimidade estará sempre do lado da estabilidade. O que vemos, de um lado, são discursos inconsequentes; do outro seriedade e vontade de resolução endógena, sem violência, do grave problema político-militar com laivos de traição, herdado in extremis do anterior Governo. Fortes da confiança que os guineenses acabarão por depositar numa proposta séria e tecnicamente bem fundamentada de Governo, garantida por uma liderança militar forte e esclarecida, de forma a em pouco tempo dar provas aos investidores, para que possam investir em condições bem definidas de partilha dos rendimentos e das responsabilidades inerentes à exploração das muitas riquezas que todos sabem existirem na Guiné e que poderiam aliviar as necessidades dos seus filhos, as quais, desgraçadamente, não podem ser exploradas por falta de estabilidade. A tropa percebeu que tem de ser ela a garantir isso e está cada vez mais a mostrar uma face humana e confiável; se o conseguir a confiança dos investidores chegará depressa, não sendo sequer preciso apostar em Portugal ou Angola; temos muitos técnicos que sabem russo fluentemente, os chineses também são bastante sensíveis a conversações sobre matérias-primas e recursos energéticos. São também os ordenados da tropa que estão em causa, que nos garantem que o país trata com dignidade os seus militares, é todo um futuro que está em jogo. Revi várias vezes a entrevista do Daba e... não sei: inspira-me confiança, a forma como fala do futuro, parece-me um bom técnico político-militar.
Já alguém pensou que aquele que apontam como o problema do país (as FA) se possa constituir como solução, se legitimado pela nação? Os militares que escolham (e lhe jurem fidelidade) um dos muitos patriotas desinteressados, militares cultos e de bom senso que há na Guiné; não poderá, claro, ser da etnia maioritária na tropa (não é por Amílcar Cabral o ter desaconselhado, mas a mentalidade inerente à sociedade horizontal que deu à Guiné os melhores guerrilheiros do mundo, não se compadece com a chefia do estado). Até por aí vemos como pode ser falacioso falar de democracia em África: imagine-se um país onde há 2 etnias apenas; uma com 51%, outra com 49%; se o voto for exclusivamente étnico, a vencedora das eleições fica com o Estado, beneficia-se a si e prejudica a outra. Nesse sentido, seria muito mais equilibrado implementar uma «anti-democracia» e dar o poder aos minoritários, pois esses iriam de certeza ser mais equilibrados, conscientes da sua situação. Embora a grande diversidade étnica guineense seja a maior herança, é preciso estarmos atentos e não deixar que qualquer confusão nessa área se sobreponha aos interesses de desenvolvimento e de estabilidade, prevenir quaisquer intrigas como as que conduziram sucessivamente à morte ou prisão de vários Comandantes da extinta Junta Militar. Portanto, a Guiné, que já deu exemplos ao mundo, que tem os melhores guerrilheiros do mundo dispostos a defender a sua soberania, torna-se virtualmente inatacável, se todos estiverem convencidos e confiantes numa nova forma de resolver as coisas. Claro que nesse caso, ficaria a cargo dos novos orgãos de soberania definir uma transição (que não para uma «democracia») e qual o período mais adequado para uma estabilização sustentável e internacionalmente credível.
domingo, 22 de abril de 2012
A questão da legitimidade
G3: um tiro no barco de três
A paciência tem limites
sexta-feira, 20 de abril de 2012
A verdade sobre a Guiné-Bissau
Manobras de manipulação
PAIGC muda de nome
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Novo Xerife ou erro crasso?
Se bem que a coberto de boas intenções, a promoção de um dissidente do PAIGC (mesmo tendo-se individualizado e desmarcado a tempo) marca, pela negativa, a ausência do próprio Partido maioritário na nova agenda política, como se se quisesse colmatá-la, revelando-se um gesto mais de fraqueza que de afirmação.
Talvez, na sua génese, o plano tivesse a sua plausibilidade. No entanto, desde que foi pensado, a situação evoluiu muito. Temo dizê-lo, mas, na minha opinião, o Comando Militar, na sua responsabilidade colectiva, se estivesse preocupado com a integridade territorial, com todas as possibilidades agressivas que se perfilam no horizonte, ressuscitava Ansumane Mané, rememorava a gloriosa Junta Militar que reafirmou a identidade guineense, a qual, se etnicamente não existe, política e continentalmente, para além de ser uma paideia, constitui, como se viu no momento, um factor de ponta na mentalidade do sub-continente, qual David desafiando Golias...
Para quê esta submissão? Por quenão uma afirmação pura e dura?
Reviravolta na CEDEAO
Reviravolta e (apenas) a primeira humilhação para Paulo Portas. A CEDEAO deverá reconhecer dentro de poucas horas o novo Estado guineense: na sequência da delegação de alto nível enviada, impressionados com a dignidade da recepção a que tiveram direito em Bissau, com a disciplina, a unidade, o rigor e o aprumo do Comando Militar, os nigerianos, que também aspiram ao estatuto de potência regional, e não estavam nada a ver com bons olhos o expansionismo angolano para norte do ecuador, e muito menos agora forças europeias a voltarem para África sabe-se lá com que intenções, decidiram: qual democracia, qual carapuça: estes homens estão decididos a salvar a sua independência!
Talvez agora percebam as declarações de Passos Coelho no Montijo, que tão mal caíram, por serem tomadas num sentido abstracto e genérico: não, o senhor Primeiro-Ministro não estava a falar em termos genéricos e filosóficos, mas em termos muito actuais, de venderem as carcaças a troco de dá cá aquela palha: a constituição não obriga a uma autorização para declarar guerra a outro país? Recusem-se a alinhar nesta estupidez, sem honra nem glória, que só pode envergonhar os quase novecentos anos de história militar do exército; caso contrário, se de lá voltar algum, vai direitinho para o manicómio; perguntem aos mais velhos...
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Fuga para a frente
Despudoradamente, embora já tenha percebido que errou, Paulo Portas optou pela fuga para a frente. Ao contrário do Rei de Espanha, que é quem é, e depois de errar, não teve dúvidas em pedir desculpa, insiste em levantar a voz: não está, senhor Ministro, em posição de levantar a voz em direcção aos guineenses. Irrite-se consigo próprio pelo beco sem saída em que caiu. A enumerar condições quem apenas deveria ouvir? Está em coordenação com o seu mentor e padrinho do hemisfério Sul? Julgo que neste momento, o discurso não é adequado: como é que ele encomendou as postas? Fininhas? São para assar ou para fritar? Quanto aos tugas, não é preciso descarregarem mais carne branca para aqueles lados, a que já está no frigorífico em Bissau chega para muito tempo, se calhar até vai dar para enjoar meio mundo. Portanto vamos lá a ver se traçam bem os cenários, se se informam do que é que estão a fazer. Não se espicaça o leão com a vara curta.
Mas num ponto, senhor Ministro, bateu os guineenses aos pontos, temos de confessar; é quando se refere ao «legítimo» Ministro dos Negócios Estrangeiros: ahahahahah... Agora a legitimidade guineense é decidida no seu gabinete. Mais uma ofensa imponderada aos guineenses: tem lido as declarações da sociedade civil? Está a começar a tornar-se odioso. Já morreram 5 crianças por causa de si...
Finalmente foi publicada a principal peça da acusação, obrigado Aly!: O ex-PM assume o documento? a assinatura e a rubrica correspondem? Galinha ta guarda si frangas bas di si asa. Estamos perante um apelo indecente e indecoroso, sem dignidade, formal onde deveria ser sentimental, que apenas reflecte o desespero de alguém agarrado ao poder, a todo o preço (talvez tivesse vendido a pele do urso antes de o ter morto...). Nenhum líder se pode apoiar em forças estrangeiras: e na Guiné havia um exemplo recente, Nino aprendeu-o à própria custa; escrever uma carta destas, demonstra apenas autismo e estupidez. Devido às drásticas consequências que daí advieram, convenhamos que merecia ser executado graças a uma condenação sumária num tribunal militar de excepção, por alta traição, agravada pelo cargo que ocupava; mas felizmente na Guiné, não mais se quer dar o exemplo da guerra, mas sim o da tolerância. É engraçado que aquilo a que chamam «Golpe de Estado» se resuma à prisão do Primeiro-Ministro, feito sem outro sangue para além do canino que não se calava.
Reportagens & Mensagens
Francisco Fadul, a residir actualmente em Portugal, acaba de dar uma entrevista ao Expresso felicitando o Comando Militar pela forma decidida como resolveu a perigosa situação que se vivia em Bissau antes da sua actuação, poupando aos guineenses outras confusões mais graves.
O «Expresso de Bissau» está sem meios de reportagem e lançou um S.O.S. Realmente, fazem falta as imagens a que o Aly nos vinha habituando. Julgo que a entrega de todo o material ao jornalista, um pedido de desculpa pelo excesso de violência empregue, seria decerto considerado um gesto de boa vontade, contribuindo para reforçar a sua imparcialidade e o corajoso e bom trabalho que tem vindo a desenvolver.
José Eduardo dos Santos continua a enviar cartas secretas por Ministros... segundo a própria Angop: desta vez ao seu homólogo do Benin, Thomas Yayi Boni, que preside actualmente à União Africana, sobre a situação na Guiné-Bissau. Engraçado que, mais ao menos à mesma altura, o porta-voz do Comando Militar, acusava-o de ter usado esse procedimento pouco adequado na Guiné-Bissau...
Quanto ao triste e senil Mário Soares, por favor não faça mais figuras tristes nem propaganda em torno deste assunto pois não prestigia de maneira nenhuma o país: a CPLP não aprovou nada por «unanimidade» pelo simples facto de que a Guiné não tem presentemente representante legítimo e a organização ainda não expulsou ou suspendeu a Guiné.