domingo, 16 de novembro de 2014

Apelo à cidadania

Opinião de Reginaldo Silva, concordante com a «insónia» do regime.

Acho que ninguém gosta de viver num “país complicoso”, mesmo que tenha a mais opulenta das “dolce vitas”, a marcar-lhe o compasso do quotidiano de forma tão sorridente.

No nosso dicionário informal, um país com tais características é aquele onde as assimetrias sociais por serem demasiado pronunciadas acabam por ser geradoras de preocupantes e crescentes doses de instabilidade social e política.

São estas doses que depois põem em causa aquele mínimo de estabilidade vital, que acaba por ser um bem público tão importante que ninguém quer prescindir dele, mesmo tendo a possibilidade de comprar e de se rodear de todos os meios que garantam a sua segurança pessoal e familiar.

Em abono da verdade, continuo a pensar que todos, sem excepção, entre muito ricos, ricos, remediados e pobres, gostariam de levar a sua vida na maior das calmas, sem muitos sobressaltos/stresses e sem terem necessidade de comprarem carros à prova de bala, de rodearem as suas casas de cercas electrificadas e de contratarem musculados e ameaçadores “body guards”.

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A tendência pelos vistos aponta para o agravamento destas ameaças que já não deixam ninguém dormir sossegado mesmo que aparentemente se tentem passar outras mensagens mais tranquilizadoras.

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A influência da esfera politico-partidária na construção da angolanidade como valor de coesão de todo o país, tem de estar necessariamente acima do debate em torno de quem deve e como deve exercer o poder, seja lá quem for. 

Trata-se de um debate dinâmico que pode mudar a qualquer altura os seus termos de referência, embora Angola neste âmbito já seja uma prolongada e destacada excepção, uma vez que no caso angolano, lamentavelmente, ainda não temos nenhum termo de comparação, pois só tivemos até agora um dos protagonistas a exercê-lo com todas as mutações conhecidas, mas que nunca foram capazes de mexer com a sua essência que se mantém mais ou menos inalterável.

Entendo hoje que já fomos muito mais angolanos do que somos. É do desafio da angolanidade como principio estruturante, que vai depender o futuro de todos, se estivermos realmente a sonhar com um país bom para se viver e à altura das expectativas das suas enormes potencialidades, que tardam em produzir desenvolvimento humano.

Pela forma como hoje as coisas estão a acontecer, muito dificilmente Angola vai dar certo enquanto não nos sentirmos primeiro angolanos e cidadãos e só depois partidários ou simpatizantes.

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