A actualidade do continente conjuga-se sob o prisma da violência. Da Costa do Marfim à Guiné, passando pelo Mali e Nigéria, África é consumida e destruída: no centro da trama, o drama de "gananciosos" pelo poder que se opõem ao despertar republicano.
Ondas de protesto e revoltas populares. Manifestações de raiva. Destruição e pilhagem de bens. Confrontos entre forças da ordem e manifestantes. Assassinatos... Estes são lugares comuns que partilham vários países do continente entre os quais, infelizmente, a África Ocidental parece ter assumido ultimamente um diabólico protagonismo: até há pouco considerada "o laboratório da democracia africana", graças ao tranquilo retorno ao multipartidarismo na década de 90, por via de eleições livres e transparentes, o ideal era forte e cheio de esperança, sobretudo por oposição a décadas de instabilidade pós-independência, durante os quais esta região do continente tinha sido, ao invés, um epicentro de golpes militares.
Aparentemente quebrado o ímpeto dessa mutação democrática, bloqueada a sua generalização ao conjunto do continente e com as pessoas cansadas de esperar pelos benefícios dessa democratização, os maus hábitos, que não estavam erradicados mas apenas em hibernação, voltaram visivelmente à tona. Em suma, o ensinamento corrente parece ter passado a ser copiar "maus alunos", com referência em particular à África Central tão próxima, onde se conseguiu contornar a alternância democrática pelo subterfúgio e pela manha.
Como consequência, o outrora laboratório da democracia em África cedo vestiu a farda da autocracia. O pretexto é rapidamente encontrado, através de nova cartilha. Modificação da Constituição e blindagem do sistema eleitoral para uma infalível eternização no poder. Como se fossem federados ou por imitação, os países da sub-região tinham quase todos limitado a dois os mandatos presidenciais. Citados como exemplo pela comunidade internacional e parceiros de desenvolvimento, muitos africanos disso se orgulhavam... Infelizmente, era não contar com a embriaguez que caracteriza a maioria dos líderes, ou daqueles que aspiram à conquista do poder.
Ao que chegámos! Apesar de pequenas diferenças de modo, a violência actual na Costa do Marfim, Guiné, Mali ou Nigéria deve-se a razões pré ou pós-eleitorais. As mortes podem ser contadas às dezenas ou centenas, numa disputa entre autocratas e seus lacaios, determinados a conquistar ou reter o poder por todos os meios.
Tendo em vista o exposto, cabe questionar se Costa do Marfim, Burkina Faso, Bénin, Gana, Níger, Senegal, Togo, que têm também encontro marcado com as urnas nos próximos tempos, estão expostos a semelhantes tendências do modelo, pelos mesmos motivos.
A quase institucionalização da má governança é dramática para o povo, atolado na miséria e na pobreza. Mais lamentável ainda, é que recursos que poderiam ter contribuído para a implementação de projetos de desenvolvimento e contribuído para o bem-estar de todos, sejam colocados ao serviço de alguns indivíduos para salvar a cadeira, concebida como trono.
Só Deus sabe quanto tempo mais vai durar o mal e qual o esforço necessário para reparar tais danos.
O povo que estes poderosos afirmam defender serve-lhes apenas como tapete para desfile das suas inconfessas intenções. Só um verdadeiro despertar republicano dos africanos permitirá reverter esta tendência.
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