Singela petição, sob a forma de uma reclamação em carta aberta, de uma cidadã (portuguesa, mas que resistiu em Angola) revoltada contra o banditismo organizado pelo Estado, roubando-lhe a magra pensão que Portugal lhe concede em €uros, convertidos à força em (anti)moeda local. Bastante elucidativo da farsa monetária do regime: por 160 euros por mês, não era necessário passar por esta vergonha! Os magnatas do regime passeiam descaradamente com malas de milhões por Portugal (corrompendo tudo à passagem... em Portugal fazem-se leis contra a lavagem de dinheiro, mas estas não são aplicáveis a essa escala, claro), mas uma viúva a quem o MPLA roeu os ossos do marido e entregou o filho num caixão (piloto da Força Aérea) não merece um pouco de consideração? A «vitória» da «paz», contada à moda oficial, sem espaço para discussões, construiu-se sobre o sangue dos angolanos, agora desprezados pelos garbosos donos da história.
Diz o BNA «No mês de Fevereiro, os bancos comerciais adquiriram divisas
no valor de USD 1.831 milhões no mercado cambial, das quais USD 1.645
milhões ao BNA e o restante aos seus clientes.» Fazendo a diferença, ficamos portanto a saber que, ao longo desse mês, 186 milhões (cerca de 10% do total - incluindo, claro, os 160€ de Maria Odete) foram extorquidos a pequenos clientes , particulares que recebem módicas transferências do exterior por via bancária (e, embora já estejam a pensar nisso, ainda não conseguiram arranjar forma de transferir o dinheiro em verdadeiras notas - é um retorno à «idade da pedra», desacreditando o sistema bancário nacional - evitando este sistema predatório, altamente abusivo, lesivo dos direitos do consumidor e cuja «legalidade» é muito discutível). E quem é, claramente, o destinatário da carta aberta? É obviamente o «camarada» Presidente e responsável político.
José Eduardo dos Santos, um homem medianamente inteligente (se bem que com o miserável defeito de gostar de se rodear de medíocres chapados que lhe bajulam a vaidade) já deveria ter percebido que seria muito mais esperto, da sua parte, deixar o mercado fazer o seu papel, nesta questão do câmbio. Insistir na manutenção de uma taxa de câmbio artificial, é dar um tiro no pé e contribuir para a desvalorização mental da sua própria moeda, criando uma extensa «terra de ninguém» entre o câmbio oficial e o informal, fomentando o mercado negro e a induzindo inflacção interna, uma vez que a «diversificação» da economia é uma miragem, com o país completamente dependente das importações, como evidenciam os vários recuos do executivo, na questão das quotas. Entretanto, zonas cinzentas de decisão potencialmente corruptoras são transferidas para os bancos, a quem cabe gerir (em conluio com as «autoridades») o maná, que se traduz num imenso poder discriminatório: a quem trocar (ou não) as cada vez mais parcas divisas... Claro que os grandes clientes terão preferência. Se por acaso soubessem naquilo que Angola se haveria de transformar, será que aqueles que combateram nas fileiras de José Eduardo dos Santos, o voltariam a fazer? É um longo historial de ideais descartados, com um gosto amargo a desencanto.
A mentira, repetida vezes sem conta, anestesiando os ouvidos. Como é possível apresentar números para a inflacção de Fevereiro de 0,76% e esperar que as pessoas acreditem nisso, se vão ao supermercado e sentem no bolso o peso da realidade? Apenas para amostra, a cerveja Super Bock (importante fatia do orçamento familiar) teve, no mesmo período, uma inflacção de 100%! Com uma inflacção galopante (mesmo «medindo» esta pelo câmbio oficial ao dólar, ou seja, subestimando-a generosamente, é de mais de 10% no último semestre!), e uma amplitude tão grande em relação ao mercado informal, é curioso que o BNA continue a colocar junto do «público» Títulos do Tesouro (com juros muito inferiores à inflacção real esperada). Em suma, o sistema bancário angolano está a tornar-se numa verdadeira farsa, assente em mentiras «administrativas» assente sobre a inexistência de contraditório (e de inteligência, aliás) nos meios de comunicação estatais e uma putativa ausência de sentido crítico: uma vida mental vegetativa, preconizada pelo regime como fórmula de controlo social do povo angolano.
Infelizmente, há coisas que josé eduardo Deus santos não consegue controlar, por «definição» (para além, claro, da internet): o preço do petróleo e a moeda!
Para ensinar às crianças a não mentir, conta-se a história de Pedro e do Lobo, que pode ser sintetizada no provérbio: «Tantas vezes o cântaro vai à fonte, que...