Entre a dezena de activistas presos ontem em Luanda e levados para parte incerta.
Uma vez mais, uma resposta completamente desproporcional a uma vigília pacífica e legal (o pedido de autorização deu entrada e a mais não obriga a Lei), com forte aparato policial no local da manifestação, para a repressão e intimidação de poucas dezenas de activistas sem medo, que ousam continuar a desafiar José Eduardo dos Santos.
A forma como o aparelho repressivo reage é já uma vitória para vós! O facto é que sois considerados e com razão! uma séria ameaça ao silêncio, à conivência, à apatia, à obediência acrítica, pilares do regime. Cada ofensa à dignidade, cada injúria sofrida por estes jovens heróis e mártires da revolução pacífica, são outros tantos passos, no caminho da decomposição desse regime que consegue tornar-se odioso...
Libertem Nito Alves e Emiliano Katumbela! Cada cabelo destes jovens é precioso e vale mais que todas as ovelhas ranhosas cúmplices da violência autista e paranóica de José Eduardo dos Santos...
Ver Club-K.
Nitro alveja JES...
Continua, Emiliano, c'a tu bela luta!
quarta-feira, 28 de maio de 2014
Nito Alves & Emiliano Katumbela
terça-feira, 27 de maio de 2014
Jomav tenta imiscuir-se na esfera governativa
Seria bom que o Presidente eleito justificasse em que prerrogativa presidencial assentam as suas recentes declarações, quanto à revisão de contratos envolvendo recursos naturais. Que o Presidente se queira manter informado, é louvável. Que, para além da re-visão, se proponha tomar medidas, «doa a quem doer», exigindo retroactivamente a devolução do «dinheiro obtido», já é mais complicado, deveria ter pensado duas vezes antes de abrir a boca: em primeiro lugar, porque falar em «devolução do dinheiro obtido» devido a irregularidades também se poderia aplicar à sua pessoa, para além de que, colocadas as coisas desse ponto de vista, parece querer desacreditar o Governo de Transição (que reconheceu ao candidatar-se às eleições) e o Estado; em segundo lugar, essas são atribuições do Primeiro-Ministro e não suas, como Presidente.
A campanha eleitoral já acabou, por isso, se o ainda candidato está apostado em manter alguma possibilidade de «estado de graça», deverá exercer a sua «magistratura de influência» de uma forma mais discreta, a não ser que, como o Primeiro-Ministro cabo verdeano, considere o protagonismo fácil e inconsequente como forma de fazer política. Como diz o próprio título da agência noticiosa oficial, isso são questões de «governação». A César o que é de César.
27 de Maio
O Movimento Revolucionário lembra hoje a data, em manifestação pelas 19h, com concentração a partir das 15h no centro de Luanda, sob o lema «Basta de chacinas» e exigindo a criação de uma Comissão «das Lágrimas», em relação ao que se passou há 37 anos atrás. Um dos jovens do movimento é o Nito Alves, homónimo do dirigente angolano assassinado por essa altura, que, tal como Emiliano Catumbela, já demonstraram, na prisão, que José Eduardo dos Santos não é dono da mente de todos os angolanos. Bravo aos activistas do Movimento!
Caso patológico
Os guineenses não são estúpidos nem mente-captos, como quis dar a entender José Maria Neves. O Primeiro-Ministro cabo verdeano anda muito mal aconselhado. É natural que o recém-eleito Primeiro-Ministro guineense sofra pressões de todo o género, na altura de constituir governo. Sendo o próprio também Primeiro-Ministro, deveria tê-lo por normal, sabendo abundarem as vocações, substanciais ou não, para o exercício do poder. Querer pegar numa eventual boa vontade e disponibilidade de Nuno Nabiam, para a subverter, ridicularizando-a publicamente como um exemplo de má governação (pois se o Nuno é novato e não tem experiência governativa!) revela do foro patológico.
Filomeno Pina oferece voucher de desconto a José Maria Neves, face à
dimensão do tratamento psicológico que antevê necessário. Canalha,
tendencioso, cínico, paranóico, desequilibrado, sadomasoquista, são
alguns dos mimos que lhe dispensa, em comentário sobre o assunto,
lançado pelo Didinho no seu FaceBook: «seria talvez um bom cliente, mas a tratar dos complexos pessoais em relação à Guiné-Bissau, com "terapia de choque"...».
segunda-feira, 26 de maio de 2014
Aumenta a revolta contra José Maria Neves
O Progresso Nacional traduziu bem, num artigo acabado de sair, o sentimento generalizado de reprovação, relativamente às palavras do Primeiro-Ministro cabo verdeano, defendendo que este deve pedir desculpas ao país.
João Galvão Borges, sobre o mesmo assunto, no FaceBook: «Pois que o senhor primeiro-ministro de Cabo-Verde e o seu governo decidam primeiro dizer-me quem são, ou quem pretendem ser, e depois falaremos. Que não se armem em chico espertos...»
Contra-informação
As informações avançadas pelo jornalista Saliou Bodiang, «enviado especial a Bissau», em recente artigo não apresentam muita credibilidade: por exemplo, onde se diz que a Jeune Afrique não recebeu qualquer desmentido, é falso, pois a Presidência senegalesa desmentiu a JA na hora imediata à publicação do artigo em referência. Este artigo cumpre essencialmente uma missão de oposição ao Presidente do Senegal, não se inibindo perante grosseiras mistificações para consumo interno senegalês: a historieta inventada não tem pés nem cabeça.
Incontinente e leviano
José Maria Neves, que se tornou notado ao anunciar a morte de Nelson Mandela com uma antecedência de muitos meses, voltou a dar provas da sua incontinência verbal, ao referir-se à Guiné-Bissau no decurso de uma aula magna com estudantes. O Primeiro-Ministro de Cabo Verde ridicularizou o mau exemplo de Nuno Nabiam, que teria feito «exigências» exorbitantes em «troca» do reconhecimento dos resultados eleitorais.
Face ao súbito interesse demonstrado pelos jornalistas e apercebendo-se que tinha cometido uma gaffe, ainda tentou recuar afirmando que não lhe competia fazer comentários sobre o assunto, mas o mal estava feito: levantar publicamente pela primeira vez uma questão delicada, ainda fora do conhecimento dos próprios guineenses, eram declarações obviamente bombásticas, perfeitamente dispensáveis e desadequadas.
Entretanto, o visado já desmentiu formalmente os factos à RDP, acusando JMN de leviandade. Domingos Simões Pereira já veio também lavar publicamente as suas mãos, assumindo «a existência de algumas pressões na escolha dos membros do governo a ser formado», mas reafirmando a sua autonomia e que a si cabe a última palavra. O Primeiro-Ministro cabo verdeano deve, no mínimo, um pedido formal de desculpas.
A leitura do documento emanado da Directoria de Campanha de apoio ao candidato Nuno Nabiam, em momento algum permite essa leitura: tratam-se claramente de sugestões e não de exigências, aplicam-se também a outros partidos políticos e não apenas a Nuno Nabiam e aos apoiantes da sua candidatura, formulando reivindicações comuns e transversais a esta campanha, como a transparência e um Pacto de Regime.
sábado, 24 de maio de 2014
Jomav golpista, segundo simpatizante
Um simpatizante assumido de José Mário Vaz, meio confundido com as imagens públicas de confraternização entre candidatos vencedores das eleições e CEMFA (todos do PAIGC, tal como o próprio anfitrião), acusa o seu presidente, que afirma ter contribuído para eleger, de «golpista», com uma expressão memorável e pitoresca, pérola digna de ficar para a história:
«certeiro golpe político, que só percebi depois de algum esforço de raciocínio»
quinta-feira, 22 de maio de 2014
PAIGC versus FA - Pacto de Não Agressão ou Aliança para a Estabilidade?
Sob os auspícios do Presidente de Transição, o PAIGC deu sinais de público entendimento com o CEMFA. Este assistiu a um afrouxamento da pressão internacional sobre a sua pessoa, ao receber a visita do Embaixador americano, a qual pode ser interpretada, de certa forma, como um aval, ou um reconhecimento implícito do seu papel na estabilidade do país, se não uma desistência das pretensões anteriormente manifestadas quanto à sua captura, desde que, claro, mantenha o perfil de cooperação.
Notando-se a preocupação em reduzir o clima de tensão e de mal estar encapotado que se tem vivido, espera-se que esta acalmia, que aparenta estar a ser bem recebida pelos analistas internacionais, se traduza internamente, no seio do partido vencedor das eleições, num clima de serenidade favorável à criação de um Governo assertivo e consistente face aos urgentes desafios de reforma e profunda reorganização do País, bem como a um debate inclusivo (como parece estar também a dar alguns sinais), que se substancie (como constava do Programa apresentado durante a campanha eleitoral) num Pacto de Regime, dando garantias de transparência e de participação política à oposição e a todos os guineenses.
Esperemos que os sinais de unidade se revelem consistentes e alastrem, acalentando de forma duradoura a esperança de mudança... Mon ku mon.
quarta-feira, 21 de maio de 2014
Gaiola dourada
O povo guineense condenou o arguido José Mário Vaz a cinco anos de reclusão no Palácio Presidencial.
Note-se que o futuro Presidente não poderá sair do país sem autorização prévia do Tribunal, por imposição prévia à sua candidatura e tomada de posse.
A Constituição é omissa quanto ao caso de um candidato transportar pendências judiciais, referindo-se apenas aos crimes contemporâneos do mandato. Transcreve-se o artigo relevante na Constituição:
Artigo 72°
1 - Pelos crimes cometidos no exercício das suas funções o Presidente da República responde perante o Supremo Tribunal de Justiça.
2 - Compete à Assembleia Nacional Popular requerer ao Procurador-Geral da República a promoção da acção penal contra o Presidente da República sob proposta de um terço e aprovação de dois terços dos deputados em efectividade de funções (junta-se gráfico para ajudar a fazer as contas: é necessário juntar à oposição 21 deputados do PAIGC para reunir 2/3 do Parlamento).
3 - A condenação do Presidente da República implica a destituição do cargo e a impossibilidade da sua reeleição.
4 - Pelos crimes cometidos fora do exercício das suas funções, o Presidente da República responde perante os tribunais comuns, findo o seu mandato.
Interessam especialmente para o caso o segundo e terceiro pontos. O ponto 4 não pode ser entendido a favor do arguido, pois é óbvia a intenção do legislador, ao longo da redacção de todo o artigo, pressupondo uma referência aos crimes no exercício do mandato «actual» (distinguindo entre serem ou não no exercício de funções) e não a crimes prévios, herdados do seu estatuto de simples cidadão. Sendo a Constituição omissa quanto ao caso de crimes anteriores, mantém-se a obrigação do cidadão perante o Tribunal que o condenou a essa medida, independentemente do seu novo estatuto, e da dignidade de que se deve revestir a referida função.
As elites políticas e o eleitorado guineense têm revelado, ao longo de várias eleições, a sua malapata, sob a capa de «voto útil», acabando sempre por encaminhar para a segunda volta os piores candidatos, reduzindo as opções ao mal menor, num eterno jogo da minimização de ódios que acaba invariavelmente por se tornar no inevitável beco sem saída do «venha o diabo e escolha». Resultado expectável: mais do mesmo: a fragilidade intrínseca ao nível da legitimidade dos órgãos de soberania; o adiamento do país por mais uns anos?
sábado, 17 de maio de 2014
Abdulai Sila censurado em Luanda
A peça "As orações de Mansata", que deveria ter subido ao palco ontem e hoje, no Cine-Teatro de Luanda, foi censurada pelo Governo angolano. Ver Público.
sexta-feira, 16 de maio de 2014
Brasileiro
A língua oficial na Guiné-Bissau continua a ser o português. Por isso, no recentemente publicado comunicado do Ministério das Finanças, é pouco adequada a utilização do termo brasileiro «bilhão» (não confundir com o «bilião» português, que corresponde a um milhão de milhões, ou seja um um seguido de uma dúzia de zeros), se bem que se compreenda, pois vem colmatar a carência do português para o milhar de milhões (1 000 000 000).
Já quanto ao termo biliões, num texto publicado no Ditadura do Consenso, resumindo o debate televisivo de ontem entre os dois candidatos presidenciais, encontra-se manifestamente errado. Tal como a quantia de mil cento e vinte cinco milhões que se encontrava no tesouro público se encontra muito grosseiramente arredondada, por excesso, para «dois biliões» (querendo significar dois mil milhões).
Quanto ao resultado do debate, parece que foi ao contrário dessa «opinião», pois o candidato levava tudo escrito e acabou por se espalhar ao comprido.
quinta-feira, 15 de maio de 2014
Amizade Guiné-Angola
Magnífico artigo no Tatitataia, a não perder.
«E uma gama de omissos, desta lista pouco exaustiva, quanto inclusiva!»
quarta-feira, 14 de maio de 2014
Domingos Simões Pereira quer ECOMIB
DSP, que na CPLP discordou fortemente dessa força e durante a campanha eleitoral não teve uma palavra de elogio para a CEDEAO, efectuou um périplo pela sub-região, defendendo a manutenção no país da ECOMIB, depois das eleições.
O futuro Primeiro-Ministro arrisca-se a desiludir: esperavam-se sinais inequívocos de reforço da soberania nacional, que afastassem quaisquer pretensões de tutela, há muito alimentadas por certos países.
terça-feira, 13 de maio de 2014
Revanchismo cabo-verdeano
As declarações do Ministro dos Negócios Estrangeiros cabo-verdeano aos órgãos de comunicação social portugueses são claramente inoportunas, manifestando algum revanchismo avant la lettre. Falar da reposição de um roteiro ex-ante, é a mesma coisa que falar de Cadogo (aliás expressamente referido) a passear pelas ruas de Bissau. O senhor Ministro não tem a sensibilidade necessária para perceber que está apenas a acentuar clivagens e a aumentar a crispação?
Os dirigentes do PAIGC deveriam vir por cobro a estas projecções e expectativas dos seus aliados externos, de forma a que conste inequivocamente que têm a sua própria agenda e não são simples joguetes de outros interesses. Oferecer-se o executivo cabo-verdeano, para a reforma das Forças Armadas, sabendo que é um assunto quente, e que o novo Governo ainda não tomou posse, é voltar a insistir no mesmo diapasão, já gasto, de ingerência nos assuntos internos da Guiné-Bissau.
segunda-feira, 12 de maio de 2014
Podres de pobres
«Estou triste, mas, obviamente, não constitui surpresa para mim que as meias verdades sobre a imensa podridão que polui a Guiné-Bissau, apenas sejam dadas a conhecer em função do oportunismo do momento e das conveniências inerentes, ainda que, não de forma oficial, mas aparentemente, através de "fugas de informação".»
Ler todo o artigo do Didinho.
Gestão danosa
Vamos concentrar-nos apenas num facto, dos documentos publicados há pouco, facto que parece ter passado despercebido aos auditores, que se debruçaram apenas sobre os fluxos bancários.
No dia 5 de Maio de 2011, pelas 13h34, Duarte Adolfo, da Direcção de Operações do Banco da África Ocidental, emite ordem de transferência de dois milhões de dólares ao câmbio de 437 FCFA por dólar.
Como o mostra o gráfico apresentado, em relação ao câmbio FCFA/$, na semana anterior, o dólar estivera fraco, negociando a pouco mais de 440 CFA, mas encetara a sua recuperação na quarta-feira 4 de Maio e no dia 5 de Maio, pelas 00h00, já estava a 451,1F, continuando a subir, atingindo os 458F durante o dia.
Parece haver aqui, nalgum ponto, seja no próprio Banco, seja nos intermediários ou mandantes, uma patente má fé ou gestão danosa. Com a internet, qualquer um pode consultar em directo a evolução das cotações, já ninguém está dependente da tabela de nenhum banco.
Quem ordena uma transferência de dois milhões de dólares e tem a capacidade de enviar um email, basta carregar em seis teclas: xe.com e tem imediatamente acesso à cotação, na hora. Neste caso, foram apenas «uns trocos», quarenta milhões de francos que voaram em fumo.
Prejudicar o Estado é uma forma bastante estranha de negociar. Vamos admitir que o mandante, pelo lado do Estado, tinha ficado assustado com a fraqueza do dólar, que atingira um mínimo no dia 28 de Abril e pretendia colocar o fundo angolano, expresso nessa moeda, ao abrigo de um «colapso» maior... há instrumentos bancários para isso.
Se qualquer mortal pode fazê-lo através da internet, com apenas $10, a um spread de 2/10000, tornam-se incompreensíveis (para não dizer suspeitas) estas irregularidades «desfasadas».
domingo, 11 de maio de 2014
Questões presidindo à actualidade
O debate para as presidenciais foi boicotado pelo candidato independente, ao esquivar-se ao confronto directo. Mas o PAIGC não tem moral para colocar o dedo na ferida, pois por sua vez, o seu candidato às eleições havia boicotado o debate com Carmelita Pires, promovido pela sociedade civil.
quarta-feira, 7 de maio de 2014
E a multiplicação!
«Estas atitudes são mais de divisão e subtração do que de adição. Mas o que mais interessa, neste momento, aos guineenses, é ver convergir toda Guiné-Bissau de uma forma sincera sem sonsice, construir uma unidade verdadeira na nossa diversidade»
Somar ao mundo um exemplo de multiplicação. Mostrar a potência do chão. Que junta gente tão diferente.
O mundo está cheio de sinais de subtracção, de divisão, de violência, de intolerância.
O Outro não é uma ameaça, é uma oportunidade. Nesta aritmética simples, um mais um são sempre mais de dois. Se fossemos todos iguais, que andaríamos cá a fazer?
Lembro que essas fissuras já tinham dado mostras, aquando do pretexto xenófono que transformou a comunidade nigeriana em bode expiatório.
Ver artigo de Alberto Luís Quematcha, nos Intelectuais Balantas
quarta-feira, 30 de abril de 2014
Revista de blogs
Apenas duas ou três coisas, para plagiar o título do blog do Embaixador Francisco Seixas da Costa.
Depois de Francisco Seixas da Costa ter publicado uma memória de Kumba Yalá, o Professor Kafft Kosta também o fez no Ordidja. O meu grande amigo Geraldo Martins (que daqui cumprimento) publicou também no mesmo blog, um magnífico texto para memória, sobre o legado do ex-presidente, visto da pessoa do então Ministro da Educação, que tive o privilégio de visitar no seu gabinete.
Cumprimentos públicos também ao irmão Leopoldo Amado, que deu uma extensa entrevista à DW sobre o actual momento político.
O Ady Teixeira publicou mais das suas deliciosas anedotas, das quais uma dedicada ao ciclo eleitoral: a 3ª volta!
No blog dos irmãos intelectuais balantas na diáspora, uma magistral análise do papel da Liga dos Direitos Humanos na sociedade guineense.
sexta-feira, 25 de abril de 2014
Análise dos Resultados Eleitorais
O caso do Círculo 4
Nas presidenciais, há um erro crasso no círculo 4 (Tite); para um total de eleitores inscritos de 13506, os resultados «definitivos» contabilizam 15675 votantes! O erro parece ter origem no número de votos nulos considerados. Mas não é o único erro: verificando o total das partes, obtemos 15875, uma diferença de 200, que afecta o total nacional. Erros que já constavam dos resultados provisórios.
A questão pertinente, neste caso, é a de que o sistema informático não deveria permitir alterações às células de cálculo. Não se devem manipular números, mas apenas transcrever fielmente os resultados das contagens. Caso seja possível colocar aqui um número, ali outro... isso pode afectar a integridade do sistema, como parece ter sido o caso. Em que podemos confiar?
Opacidade e nepotismo
Caso a Comissão Nacional de Eleições tivesse dispensado o secretismo, pouco abonatório para a transparência do processo, publicando os resultados provisórios no detalhe, escusariam ter de passar por uma vergonha destas, com um erro de palmatória divulgado a título de resultado «definitivo». Com tantos observadores estrangeiros por perto, é caso para perguntar o que andam a fazer.
Observadores estrangeiros que também não deram pela inconsistência da lista de candidaturas aprovadas pelo Supremo Tribunal, publicada pela CNE, na qual o PND vem referido duas vezes (nº 3 e nº 15, emendado à mão), não se fazendo referência à RGB - Movimento Bafatá. O Presidente do Supremo Tribunal deu provas de nepotismo, inviabilizando arbitrariamente candidaturas.
O caso dos 100 000
Houve, nestas eleições, um extraordinário crescimento dos votos inválidos, com os votos brancos a triplicarem e os votos nulos a mais que duplicarem, em relação às eleições legislativas de 2008. Os votos brancos passaram de 3,2 para 9,4% e os nulos passaram de 2,4 para 5,2%. Efectivamente, 64405 votos brancos com 35947 votos nulos, perfazem um total de 100 352.
Curioso é que, em todos os círculos do sector autónomo de Bissau, brancos e nulos se apresentam em níveis bastante mais baixos nos cinco círculos que o compõem, respectivamente 3,9 e 3,6%, em média. Constata-se igualmente uma maior incidência nas eleições legislativas, do que nas presidenciais, que registaram em Bissau, cerca de metade desses valores: 1,9 e 1,8%.
PAIGC castigado nas urnas
Alguns preconizaram que o povo aproveitaria as eleições para condenar o golpe, reforçando a posição do PAIGC.
Ora foi precisamente o contrário aquilo que se passou, com o PAIGC a ser castigado nas urnas, perdendo dez mandatos e baixando mais de 11% (67 em 100 contra 57 em 102).
Apresento dois mapas com a evolução dos resultados por Partido por círculo, comparados com 2008.
Conclusão
Em boa verdade, não se pode considerar a organização destas eleições um sucesso. A legitimidade do PAIGC está confinada a uma estreita margem, na medida em que, como afirmou Carmelita Pires na conferência de imprensa promovida ontem pelo PUSD, «souber criar os consensos necessários» para uma governação sustentável. Para isso precisa de uma revolução interna, ao nível mental.
quarta-feira, 23 de abril de 2014
Petrolífera preocupada
...«com situação cada vez mais tensa, neste país de grandes tumultos». Ver fonte.
terça-feira, 22 de abril de 2014
Heitor armado em César
Em vez de optar por um mínimo de humildade, usando a primeira pessoa do singular, que mais não obrigaria que a sua modesta reforma de pseudo-jornalista, aquele que se julga o máximo propala:
«Esperamos agora, esperamos sinceramente, que o Presidente que vier a ser eleito no mês de Maio, à segunda volta, consiga afastar de vez António Indjai da chefia das Forças Armadas».
Doentio.
Incongruências da RFI e má-fé da RDP
Em relação à Diáspora, a CNE limitou-se à atribuição dos mandatos para deputados e a anunciar que Paulo Gomes ganhou pelo círculo Europa e Jomav por África, o que, obviamente, não pode ser considerado como divulgação de «resultados provisórios». Não foi, até ao momento, efectuada qualquer actualização da página da CNE referente aos resultados provisórios, continuando em falta a respectiva região 9, com os círculos 22 e 23.
A RFI difundiu um artigo contraditório: Mussa Baldé começou por dizer que foi «sem surpresa» que o PAIGC ganhou os dois círculos; no entanto, depois afirma que a publicação dos resultados dos dois círculos «tinha sido protelada no dia do anúncio dos resultados nacionais, na quarta-feira passada, tudo porque ainda estava por se apurar que partido tinha conquistado os dois círculos.» Em que ficamos? É óbvio que não existia qualquer surpresa quanto aos mandatos, essa é uma desculpa esfarrapada: o problema é que, devido a uma fuga de informação com origem no Senegal e a toda a manipulação ocorrida na Europa, o caso arriscava-se a aparecer como a «ponta do iceberg» de uma vasta maquinação.
Já o caso da RDP é mais grave: existe clara má-fé, com os jornalistas tentando deturpar os resultados, para dar a entender a alguma opinião pública portuguesa menos atenta, que liga apenas aos títulos, que o «PAIGC amplia maioria absoluta». Não dão qualquer explicação para a lógica «formal» implícita no título, que é a de uma ampliação de 55 para 57, apenas desde o anúncio incompleto da CNE, tentando que este surja como uma comparação com as anteriores eleições nas cabeças do público-alvo, quando foi precisamente o inverso que aconteceu com os resultados divulgados (e ainda com o caso dos 100 000 por investigar), com o PAIGC a ser castigado pelo eleitorado e a perder 10 deputados.
(eis uma discreta assinatura da respectiva «encomenda»)
A imprensa internacional, impávida e serena, à imagem da CNE, prepara-se para confrontar a nação com o facto consumado, estando marcada para hoje a encenação dos resultados «definitivos».
domingo, 20 de abril de 2014
UE pede transparência à CNE
Catherine Ashton pede transparência à Comissão Nacional de Eleições... ver notícia. A Comissão Nacional de Eleições, que se tem mostrado tão preocupada com aspectos «legais» da segunda volta, deve primeiro publicar os dados completos do último acto, sob pena de este ser considerado uma verdadeira farsa, defraudando as legítimas expectativas dos guineenses.
No entanto, uma CNE aparentemente surda, continua a anunciar autocraticamente os resultados, em total opacidade. Anunciar dois mandatos na Diáspora para o PAIGC, com tanto atraso e depois de uma série de incidentes, sem a publicação dos respectivos resultados na sua página (quando sabemos que estes se encontravam disponíveis pouco depois do acto eleitoral, como provam os resultados com origem em Dakar) manifesta incompetência e levanta sérias dúvidas sobre todo o processo... ver notícia.