quinta-feira, 22 de maio de 2014

PAIGC versus FA - Pacto de Não Agressão ou Aliança para a Estabilidade?

Sob os auspícios do Presidente de Transição, o PAIGC deu sinais de público entendimento com o CEMFA. Este assistiu a um afrouxamento da pressão internacional sobre a sua pessoa, ao receber a visita do Embaixador americano, a qual pode ser interpretada, de certa forma, como um aval, ou um reconhecimento implícito do seu papel na estabilidade do país, se não uma desistência das pretensões anteriormente manifestadas quanto à sua captura, desde que, claro, mantenha o perfil de cooperação.


Notando-se a preocupação em reduzir o clima de tensão e de mal estar encapotado que se tem vivido, espera-se que esta acalmia, que aparenta estar a ser bem recebida pelos analistas internacionais, se traduza internamente, no seio do partido vencedor das eleições, num clima de serenidade favorável à criação de um Governo assertivo e consistente face aos urgentes desafios de reforma e profunda reorganização do País, bem como a um debate inclusivo (como parece estar também a dar alguns sinais), que se substancie (como constava do Programa apresentado durante a campanha eleitoral) num Pacto de Regime, dando garantias de transparência e de participação política à oposição e a todos os guineenses.

Esperemos que os sinais de unidade se revelem consistentes e alastrem, acalentando de forma duradoura a esperança de mudança... Mon ku mon.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Gaiola dourada

O povo guineense condenou o arguido José Mário Vaz a cinco anos de reclusão no Palácio Presidencial.

Note-se que o futuro Presidente não poderá sair do país sem autorização prévia do Tribunal, por imposição prévia à sua candidatura e tomada de posse.

A Constituição é omissa quanto ao caso de um candidato transportar pendências judiciais, referindo-se apenas aos crimes contemporâneos do mandato. Transcreve-se o artigo relevante na Constituição:

Artigo 72°
1 - Pelos crimes cometidos no exercício das suas funções o Presidente da República responde perante o Supremo Tribunal de Justiça.
2 - Compete à Assembleia Nacional Popular requerer ao Procurador-Geral da República a promoção da acção penal contra o Presidente da República sob proposta de um terço e aprovação de dois terços dos deputados em efectividade de funções (junta-se gráfico para ajudar a fazer as contas: é necessário juntar à oposição 21 deputados do PAIGC para reunir 2/3 do Parlamento).
3 - A condenação do Presidente da República implica a destituição do cargo e a impossibilidade da sua reeleição.
4 - Pelos crimes cometidos fora do exercício das suas funções, o Presidente da República responde perante os tribunais comuns, findo o seu mandato.

Interessam especialmente para o caso o segundo e terceiro pontos. O ponto 4 não pode ser entendido a favor do arguido, pois é óbvia a intenção do legislador, ao longo da redacção de todo o artigo, pressupondo uma referência aos crimes no exercício do mandato «actual» (distinguindo entre serem ou não no exercício de funções) e não a crimes prévios, herdados do seu estatuto de simples cidadão. Sendo a Constituição omissa quanto ao caso de crimes anteriores, mantém-se a obrigação do cidadão perante o Tribunal que o condenou a essa medida, independentemente do seu novo estatuto, e da dignidade de que se deve revestir a referida função.

As elites políticas e o eleitorado guineense têm revelado, ao longo de várias eleições, a sua malapata, sob a capa de «voto útil», acabando sempre por encaminhar para a segunda volta os piores candidatos, reduzindo as opções ao mal menor, num eterno jogo da minimização de ódios que acaba invariavelmente por se tornar no inevitável beco sem saída do «venha o diabo e escolha». Resultado expectável: mais do mesmo: a fragilidade intrínseca ao nível da legitimidade dos órgãos de soberania; o adiamento do país por mais uns anos?

sábado, 17 de maio de 2014

Abdulai Sila censurado em Luanda

A peça "As orações de Mansata", que deveria ter subido ao palco ontem e hoje, no Cine-Teatro de Luanda, foi censurada pelo Governo angolano. Ver Público.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Brasileiro

A língua oficial na Guiné-Bissau continua a ser o português. Por isso, no recentemente publicado comunicado do Ministério das Finanças, é pouco adequada a utilização do termo brasileiro «bilhão» (não confundir com o «bilião» português, que corresponde a um milhão de milhões, ou seja um um seguido de uma dúzia de zeros), se bem que se compreenda, pois vem colmatar a carência do português para o milhar de milhões (1 000 000 000).

Já quanto ao termo biliões, num texto publicado no Ditadura do Consenso, resumindo o debate televisivo de ontem entre os dois candidatos presidenciais, encontra-se manifestamente errado. Tal como a quantia de mil cento e vinte cinco milhões que se encontrava no tesouro público se encontra muito grosseiramente arredondada, por excesso, para «dois biliões» (querendo significar dois mil milhões).

Quanto ao resultado do debate, parece que foi ao contrário dessa «opinião», pois o candidato levava tudo escrito e acabou por se espalhar ao comprido.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Amizade Guiné-Angola

Magnífico artigo no Tatitataia, a não perder.

«E uma gama de omissos, desta lista pouco exaustiva, quanto inclusiva!»


Delicioso!

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Domingos Simões Pereira quer ECOMIB

DSP, que na CPLP discordou fortemente dessa força e durante a campanha eleitoral não teve uma palavra de elogio para a CEDEAO, efectuou um périplo pela sub-região, defendendo a manutenção no país da ECOMIB, depois das eleições.


Findo o processo de transição, essas forças tornam-se perfeitamente dispensáveis, a não ser que esteja a pensar em utilizá-las como contrapoder em relação às suas próprias forças armadas, ou até mesmo em reforçar a sua composição.

Da conferência de imprensa que deu à sua chegada a Bissau, realça-se o ponto no qual afirma que a CEDEAO «não poderá inibir o país de reforçar a presença noutras organizações e com outros países».

O futuro Primeiro-Ministro arrisca-se a desiludir: esperavam-se sinais inequívocos de reforço da soberania nacional, que afastassem quaisquer pretensões de tutela, há muito alimentadas por certos países.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Revanchismo cabo-verdeano

As declarações do Ministro dos Negócios Estrangeiros cabo-verdeano aos órgãos de comunicação social portugueses são claramente inoportunas, manifestando algum revanchismo avant la lettre. Falar da reposição de um roteiro ex-ante, é a mesma coisa que falar de Cadogo (aliás expressamente referido) a passear pelas ruas de Bissau. O senhor Ministro não tem a sensibilidade necessária para perceber que está apenas a acentuar clivagens e a aumentar a crispação?

Os dirigentes do PAIGC deveriam vir por cobro a estas projecções e expectativas dos seus aliados externos, de forma a que conste inequivocamente que têm a sua própria agenda e não são simples joguetes de outros interesses. Oferecer-se o executivo cabo-verdeano, para a reforma das Forças Armadas, sabendo que é um assunto quente, e que o novo Governo ainda não tomou posse, é voltar a insistir no mesmo diapasão, já gasto, de ingerência nos assuntos internos da Guiné-Bissau.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Podres de pobres

«Estou triste, mas, obviamente, não constitui surpresa para mim que as meias verdades sobre a imensa podridão que polui a Guiné-Bissau, apenas sejam dadas a conhecer em função do oportunismo do momento e das conveniências inerentes, ainda que, não de forma oficial, mas aparentemente, através de "fugas de informação".»

Ler todo o artigo do Didinho.

Gestão danosa

Nem vale a pena falar de todas as irregularidades denunciadas pelo Ministério Público...

Vamos concentrar-nos apenas num facto, dos documentos publicados há pouco, facto que parece ter passado despercebido aos auditores, que se debruçaram apenas sobre os fluxos bancários.

No dia 5 de Maio de 2011, pelas 13h34, Duarte Adolfo, da Direcção de Operações do Banco da África Ocidental, emite ordem de transferência de dois milhões de dólares ao câmbio de 437 FCFA por dólar.

Como o mostra o gráfico apresentado, em relação ao câmbio FCFA/$, na semana anterior, o dólar estivera fraco, negociando a pouco mais de 440 CFA, mas encetara a sua recuperação na quarta-feira 4 de Maio e no dia 5 de Maio, pelas 00h00, já estava a 451,1F, continuando a subir, atingindo os 458F durante o dia.

Parece haver aqui, nalgum ponto, seja no próprio Banco, seja nos intermediários ou mandantes, uma patente má fé ou gestão danosa. Com a internet, qualquer um pode consultar em directo a evolução das cotações, já ninguém está dependente da tabela de nenhum banco.

Quem ordena uma transferência de dois milhões de dólares e tem a capacidade de enviar um email, basta carregar em seis teclas: xe.com e tem imediatamente acesso à cotação, na hora. Neste caso, foram apenas «uns trocos», quarenta milhões de francos que voaram em fumo.

Prejudicar o Estado é uma forma bastante estranha de negociar. Vamos admitir que o mandante, pelo lado do Estado, tinha ficado assustado com a fraqueza do dólar, que atingira um mínimo no dia 28 de Abril e pretendia colocar o fundo angolano, expresso nessa moeda, ao abrigo de um «colapso» maior... há instrumentos bancários para isso.

Se qualquer mortal pode fazê-lo através da internet, com apenas $10, a um spread de 2/10000, tornam-se incompreensíveis (para não dizer suspeitas) estas irregularidades «desfasadas».

domingo, 11 de maio de 2014

Questões presidindo à actualidade

O debate para as presidenciais foi boicotado pelo candidato independente, ao esquivar-se ao confronto directo. Mas o PAIGC não tem moral para colocar o dedo na ferida, pois por sua vez, o seu candidato às eleições havia boicotado o debate com Carmelita Pires, promovido pela sociedade civil. 


A oportuna publicação dos cheques angolanos, se não prova forçosamente o «roubo», demonstra no mínimo a opacidade das contas do Governo Cadogo. Ficou por cumprir o compromisso de efectuar uma auditoria aos anos de governação Cadogo e ao próprio Governo de Transição, conforme pactuado.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

E a multiplicação!

«Estas atitudes são mais de divisão e subtração do que de adição. Mas o que mais interessa, neste momento, aos guineenses, é ver convergir toda Guiné-Bissau de uma forma sincera sem sonsice, construir uma unidade verdadeira na nossa diversidade»

Somar ao mundo um exemplo de multiplicação. Mostrar a potência do chão. Que junta gente tão diferente.

O mundo está cheio de sinais de subtracção, de divisão, de violência, de intolerância.

O Outro não é uma ameaça, é uma oportunidade. Nesta aritmética simples, um mais um são sempre mais de dois. Se fossemos todos iguais, que andaríamos cá a fazer?

Lembro que essas fissuras já tinham dado mostras, aquando do pretexto xenófono que transformou a comunidade nigeriana em bode expiatório.

Ver artigo de Alberto Luís Quematcha, nos Intelectuais Balantas

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Revista de blogs

Apenas duas ou três coisas, para plagiar o título do blog do Embaixador Francisco Seixas da Costa.

Depois de Francisco Seixas da Costa ter publicado uma memória de Kumba Yalá, o Professor Kafft Kosta também o fez no Ordidja. O meu grande amigo Geraldo Martins (que daqui cumprimento) publicou também no mesmo blog, um magnífico texto para memória, sobre o legado do ex-presidente, visto da pessoa do então Ministro da Educação, que tive o privilégio de visitar no seu gabinete.

Cumprimentos públicos também ao irmão Leopoldo Amado, que deu uma extensa entrevista à DW sobre o actual momento político.

O Ady Teixeira publicou mais das suas deliciosas anedotas, das quais uma dedicada ao ciclo eleitoral: a 3ª volta!

No blog dos irmãos intelectuais balantas na diáspora, uma magistral análise do papel da Liga dos Direitos Humanos na sociedade guineense.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Análise dos Resultados Eleitorais

O caso do Círculo 4

Nas presidenciais, há um erro crasso no círculo 4 (Tite); para um total de eleitores inscritos de 13506, os resultados «definitivos» contabilizam 15675 votantes! O erro parece ter origem no número de votos nulos considerados. Mas não é o único erro: verificando o total das partes, obtemos 15875, uma diferença de 200, que afecta o total nacional. Erros que já constavam dos resultados provisórios.

A questão pertinente, neste caso, é a de que o sistema informático não deveria permitir alterações às células de cálculo. Não se devem manipular números, mas apenas transcrever fielmente os resultados das contagens. Caso seja possível colocar aqui um número, ali outro... isso pode afectar a integridade do sistema, como parece ter sido o caso. Em que podemos confiar?

Opacidade e nepotismo

Caso a Comissão Nacional de Eleições tivesse dispensado o secretismo, pouco abonatório para a transparência do processo, publicando os resultados provisórios no detalhe, escusariam ter de passar por uma vergonha destas, com um erro de palmatória divulgado a título de resultado «definitivo». Com tantos observadores estrangeiros por perto, é caso para perguntar o que andam a fazer.

Observadores estrangeiros que também não deram pela inconsistência da lista de candidaturas aprovadas pelo Supremo Tribunal, publicada pela CNE, na qual o PND vem referido duas vezes (nº 3 e nº 15, emendado à mão), não se fazendo referência à RGB - Movimento Bafatá. O Presidente do Supremo Tribunal deu provas de nepotismo, inviabilizando arbitrariamente candidaturas.

O caso dos 100 000

Houve, nestas eleições, um extraordinário crescimento dos votos inválidos, com os votos brancos a triplicarem e os votos nulos a mais que duplicarem, em relação às eleições legislativas de 2008. Os votos brancos passaram de 3,2 para 9,4% e os nulos passaram de 2,4 para 5,2%. Efectivamente, 64405 votos brancos com 35947 votos nulos, perfazem um total de 100 352.

Curioso é que, em todos os círculos do sector autónomo de Bissau, brancos e nulos se apresentam em níveis bastante mais baixos nos cinco círculos que o compõem, respectivamente 3,9 e 3,6%, em média. Constata-se igualmente uma maior incidência nas eleições legislativas, do que nas presidenciais, que registaram em Bissau, cerca de metade desses valores: 1,9 e 1,8%.

PAIGC castigado nas urnas

Alguns preconizaram que o povo aproveitaria as eleições para condenar o golpe, reforçando a posição do PAIGC.

Ora foi precisamente o contrário aquilo que se passou, com o PAIGC a ser castigado nas urnas, perdendo dez mandatos e baixando mais de 11% (67 em 100 contra 57 em 102).

Apresento dois mapas com a evolução dos resultados por Partido por círculo, comparados com 2008.

PAIGC

 PRS


Conclusão

Em boa verdade, não se pode considerar a organização destas eleições um sucesso. A legitimidade do PAIGC está confinada a uma estreita margem, na medida em que, como afirmou Carmelita Pires na conferência de imprensa promovida ontem pelo PUSD, «souber criar os consensos necessários» para uma governação sustentável. Para isso precisa de uma revolução interna, ao nível mental.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Petrolífera preocupada

...«com situação cada vez mais tensa, neste país de grandes tumultos». Ver fonte.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Heitor armado em César

Em vez de optar por um mínimo de humildade, usando a primeira pessoa do singular, que mais não obrigaria que a sua modesta reforma de pseudo-jornalista, aquele que se julga o máximo propala:

«Esperamos agora, esperamos sinceramente, que o Presidente que vier a ser eleito no mês de Maio, à segunda volta, consiga afastar de vez António Indjai da chefia das Forças Armadas».

Doentio.

Incongruências da RFI e má-fé da RDP

Em relação à Diáspora, a CNE limitou-se à atribuição dos mandatos para deputados e a anunciar que Paulo Gomes ganhou pelo círculo Europa e Jomav por África, o que, obviamente, não pode ser considerado como divulgação de «resultados provisórios». Não foi, até ao momento, efectuada qualquer actualização da página da CNE referente aos resultados provisórios, continuando em falta a respectiva região 9, com os círculos 22 e 23.

A RFI difundiu um artigo contraditório: Mussa Baldé começou por dizer que foi «sem surpresa» que o PAIGC ganhou os dois círculos; no entanto, depois afirma que a publicação dos resultados dos dois círculos «tinha sido protelada no dia do anúncio dos resultados nacionais, na quarta-feira passada, tudo porque ainda estava por se apurar que partido tinha conquistado os dois círculos.» Em que ficamos? É óbvio que não existia qualquer surpresa quanto aos mandatos, essa é uma desculpa esfarrapada: o problema é que, devido a uma fuga de informação com origem no Senegal e a toda a manipulação ocorrida na Europa, o caso arriscava-se a aparecer como a «ponta do iceberg» de uma vasta maquinação.

Já o caso da RDP é mais grave: existe clara má-fé, com os jornalistas tentando deturpar os resultados, para dar a entender a alguma opinião pública portuguesa menos atenta, que liga apenas aos títulos, que o «PAIGC amplia maioria absoluta». Não dão qualquer explicação para a lógica «formal» implícita no título, que é a de uma ampliação de 55 para 57, apenas desde o anúncio incompleto da CNE, tentando que este surja como uma comparação com as anteriores eleições nas cabeças do público-alvo, quando foi precisamente o inverso que aconteceu com os resultados divulgados (e ainda com o caso dos 100 000 por investigar), com o PAIGC a ser castigado pelo eleitorado e a perder 10 deputados.

(eis uma discreta assinatura da respectiva «encomenda»)

A imprensa internacional, impávida e serena, à imagem da CNE, prepara-se para confrontar a nação com o facto consumado, estando marcada para hoje a encenação dos resultados «definitivos».

domingo, 20 de abril de 2014

UE pede transparência à CNE

Catherine Ashton pede transparência à Comissão Nacional de Eleições... ver notícia. A Comissão Nacional de Eleições, que se tem mostrado tão preocupada com aspectos «legais» da segunda volta, deve primeiro publicar os dados completos do último acto, sob pena de este ser considerado uma verdadeira farsa, defraudando as legítimas expectativas dos guineenses.

No entanto, uma CNE aparentemente surda, continua a anunciar autocraticamente os resultados, em total opacidade. Anunciar dois mandatos na Diáspora para o PAIGC, com tanto atraso e depois de uma série de incidentes, sem a publicação dos respectivos resultados na sua página (quando sabemos que estes se encontravam disponíveis pouco depois do acto eleitoral, como provam os resultados com origem em Dakar) manifesta incompetência e levanta sérias dúvidas sobre todo o processo... ver notícia.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Nulidade absoluta

Com um volume de nulos aparentemente mais do que suficiente para alterar a correlação de forças na Assembleia, é incompreensível o secretismo e a falta de à vontade da Comissão Nacional de Eleições (fazendo-se rodear por forte aparato militar da ECOMIB), bem como a apresentação com tanto atraso dos dados parciais (dos quais resultam por somatório os dados nacionais divulgados).

Atrás de um comboio de nulos, pode esconder-se muita coisa. A Comissão Nacional de Eleições deve, para já: apresentar imediatamente os totais de votantes, de votos nulos e brancos, mesa a mesa, como sempre se fez em eleições anteriores na Guiné-Bissau, procedimento básico em qualquer eleição. Qualquer atraso na revelação destes dados será motivo para desconfianças justificadas quanto à transparência do processo eleitoral e motivo suficiente para que seja equacionada a sua nulidade.

A Comissão Nacional de Eleições, para que não restem dúvidas, deverá ainda publicar, em nota metodológica, os procedimentos adoptados para garantir a integridade das urnas, a contagem e o respectivo registo, bem como os mecanismos de observação internacional relacionados. Depois de tantos elogios ao civismo do povo guineense e ao bom desenrolar destas eleições, exige-se um máximo de transparência e que não restem dúvidas que manchem a sua credibilidade ou atraiçoem a vontade popular.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Condições de governabilidade

Logo conheceremos os resultados provisórios. As perspectivas apontam para uma redução do número de deputados do PAIGC, baixando dos dois terços dos lugares na Assembleia, para cerca de metade. A elevada afluência às urnas, veio sobretudo demonstrar a vontade de empossar um novo Governo civil cuja legitimidade esteja acima de qualquer suspeita. Mas será um erro considerar esta vontade popular, expressa pelo voto, como um cheque em branco: o voto de confiança representa essencialmente uma aposta para o futuro, assente em expectativas que o PAIGC saiba aproveitar proactivamente esse mandato de esperança, em prol de um projecto nacional consistente de reforma do Estado.

É chegado o momento da verdade para o líder do PAIGC: com a divulgação dos resultados das eleições nos seus traços gerais, serão de extrema importância a atitude e os primeiros gestos que fizer. Pela amostra se verá a consistência do seu discurso eleitoral, que alimentou fortes expectativas de inclusividade política; contrariando assim a mentalidade do «vencedor fica com tudo», tão viva e oportunamente denunciada pelo representante do Secretário Geral da ONU, Ramos-Horta. O povo saberá igualmente distinguir se o PAIGC soube apostar numa verdadeira inclusividade, de debate e influência; se o PAIGC respeita os seus compromissos, para com os seus eleitores e perante a nação, ou se a apregoada inclusividade é apenas mera fachada.

É a sua boa fé, já como Primeiro-Ministro, que Domingos Simões Pereira tem o dever de demonstrar por sinais inequívocos. Que é Primeiro-Ministro de todos os guineenses, e que, para além da legitimidade democrática, sabe construir uma subtil autoridade política... Terá Domingos Simões Pereira a coragem para ousar ceder parte significativa do poder que agora adquiriu? A troco de garantias de governabilidade. Esse parece, de qualquer forma, o seu maior desafio: desmarcar-se de modelos de má memória...

«É, e será crucial, ousar partilhar poderes, (...) delegar poderes, no seio dos partidos, e saber também transportar essa dissuasora prática política, para os eixos da governação. As teimosas tentativas para a excessiva concentração de todos os poderes possíveis, numa só figura, tanto ao nível partidário, como ao nível governativo, só acabaram, e acabam sempre mal. O poder político, sobretudo, pela sua importância na vida das pessoas, deve diluir-se num todo, denominado: Estado! Um todo, onde todos os cidadãos se sentem parte, e habilitados de uma maneira ou de outra, a influenciarem dinâmicas necessárias ao seu funcionamento. Assim sendo, torna difícil o que o contrário tem facilitado no nosso caso, que é a recorrente apetência de um grupo derrubar por força das armas, um todo-poderoso fragilizado pela singularidade excessiva, e limitar-se a substituí-lo por um outro todo-poderoso.»

Ver fonte.

Não basta a legitimidade, é também necessária autoridade.

Como afirmou ao jornalista burkinabê Boundi Ouoba, do Le Pays, o presidente da comissão económica da CEDEAO, Desiré Ouedraogo: «Le plus important, c’est ce qui reste à faire après la période électorale, les défis de la réconciliation et du dialogue national inclusif»

terça-feira, 15 de abril de 2014

PUSD: 2º lugar em Dakar


Para todos os efeitos, e independentemente dos resultados definitivos, o PUSD já é o Partido revelação destas eleições!

domingo, 13 de abril de 2014

Carmelita Pires já votou


A passagem pelas urnas da presidente do PUSD e candidata a Primeira-Ministra.

Mata-borrão

Constatações prévias

1) O professor Costa Dias tem a mania que é superior ao comum dos mortais.

2) O professor Costa Dias tem a mania que tem sempre razão.

3) O professor Costa Dias tem a mania que sabe escrever.

4) O professor Costa Dias tem a mania que tem piada.

5) O professor Costa Dias tem a mania que tem a mania.

O «professor» Costa Dias, com longa carreira académica, não tem publicados mais de meia dúzia de pequenos estudos sobre a Guiné-Bissau, a maior parte em co-autoria, todos eles cheios de preconceitos e de lugares comuns, intolerável em quem apresenta uma formação de base em antropologia.

O «professor» Costa Dias é um típico sub-produto do assalto das lúmpen-elites de esquerda à universidade, ainda antes do 25 de Abril. Mesquinho, medíocre e ateu, discursa sobre religiões, profana crenças, insulta sensibilidades e pior, envolve-se na realidade estudada com a sensibilidade de um elefante numa loja de porcelanas.

Com a morte de Kumba, lança imediatamente no Público um macabro «artigo» regozijando-se com a morte de Kumba Yalá, a quem trata de «grande perturbador» logo no título.

Esteve em todos os «eventos» montados para coincidirem com o período eleitoral, para defender uma mais que hipotética intervenção da ONU, que Portugal não conseguiu obter, mal grado todos os esforços, enquanto pertenceu ao Conselho de Segurança. Ele esteve na mesa redonda com Zamora Induta e Francisco Henriques da Silva, ele esteve no lançamento do livro...

O professor Costa Dias tem de rever a sua agenda, pois está desactualizada e desacreditada. E aprender a ler o calendário (ou então é a atrapalhação da puta da Alzheimer), anda um pouco deslocado: já nem me lembro em que ano o dia «15 de Abril» calhou «Segunda-Feira», mas este ano não foi, de certeza. «Chefes militares mesmo apavorados com o que lhes poderá suceder por imposição externa/acção externa»? Olhe que nem há dois anos isso aconteceu... «Apavorados»?

De costas ou de barriga, de dia e de noite, é um verdadeiro borrão, julgando que tem o rei na barriga. Mas, se emprenhou de alguma coisa, foi da sua própria estupidez.

sábado, 12 de abril de 2014

Horóscopo da Semana

Não se percebe em que sondagens se baseia a PNN, para fazer afirmações despropositadas num artigo sobre as eleições na Guiné-Bissau. Inventar é fácil. «As tendências de voto indicam...» E onde é que leram essas «tendências», foi nas estrelas, no tarot ou nos búzios? Foi cara ou coroa? Ou venderam o banner? Isto não é notícia, é pura especulação, se é que não se trata mesmo de uma «venda de publicidade». Isto nunca deveria sair na secção Internacional, mas sim na de Astrologia. Que falta de profissionalismo.

Mas o que são aí na PNN, jornalistas ou adivinhos?

Independentes uma ova!

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Jornalistas bem informados

Demonstra a BBC total falta de profissionalismo. Foram efectuadas diligências, através da ferramenta colocada à disposição pelo seu site para denunciar erros, assinalando a imprecisão do artigo intitulado Will elections bring stability to Guinea-Bissau?, publicado no passado dia 8 de Abril, no ponto em que afirmava que Nazaré de Pina Vieira pertence ao lote de candidatos melhor posicionados para as eleições presidenciais. Essas diligências foram efectuadas menos de uma hora depois da sua publicação. Assinalei igualmente aqui esse erro grosseiro, traduzindo a superficialidade dos jornalistas e sua falta de verificação das fontes. Na ausência de rectificação ou de desmentido, o erro propagou-se a ponto de ainda hoje terem saído artigos como este. Acho engraçada a atitude de todos esses jornalistas e «analistas», prontos a debitarem postas de pescada sobre a Guiné-Bissau, com ares de superioridade e de sabichões, a papaguearem o refrão do narco-estado que lhes venderam.

Recados para Portugal

O Nigerian Tribune, diário de grande tiragem do maior país da África Ocidental, publicou uma entrevista realizada a Carmelita Pires, com alguns recados para Portugal. Transcrevo duas das perguntas às quais a candidata a Primeira-Ministra pelo PUSD respondeu:

«A apenas alguns dias das eleições, o Primeiro Ministro Português, Pedro Passos Coelho, falou sobre a implosão do Estado da Guiné-Bissau por causa do tráfico de drogas, foi criticado por muita gente, porquê?

A poucos dias da eleição, falar da "implosão do Estado da Guiné-Bissau por causa do tráfico de drogas" é totalmente desadequado. Como ex-ministra da Justiça, responsável pela luta contra o tráfico de drogas, estou excepcionalmente qualificada para o afirmar. Indo às urnas para escolher um novo governo e um novo presidente, investido de uma nova legitimidade acima de qualquer suspeita, este é um momento de esperança. É hora de levantar a cabeça. Uma palavra de incentivo teria sido mais apropriado. Ainda menos justificada neste contexto, é a manifestação portuguesa de interesse em participar numa missão da ONU. Portugal recusou tropas para a operação dessa organização na República Centroafricana. Esta oferta seletiva é bastante desapropriada. Falar sobre cooperação também parece ser um equívoco. Cooperação envolve duas vontades independentes e baseia-se num diálogo. A decisão de anunciar os detalhes de um programa de cooperação na ausência de autoridades legítimas, pode ser percebida como unilateral e prematura. Alguma prudência seria apreciada por parte da antiga potência colonial. Portugal tem vindo a assediar a Guiné-Bissau nos últimos dois anos. Agora está na altura de respeitar a vontade do povo, expressa pelo voto. Se for eleita, não vou tolerar ofensas contra a soberania, ou que menosprezem o meu país. 

Há muitos portugueses no seu país, a Guiné-Bissau é uma ex-colónia de Portugal, esse país (Portugal) ainda demonstra um grande nível de envolvimento com a sua administração central, julga que isso continua a afetar a democracia interna? Como se propõe lidar com isso? 

Os portugueses na Guiné-Bissau são nossos amigos, como ficou demonstrado, há dois anos, ao criticarem Portugal pela tentativa de "evacuar" os seus cidadãos, após o golpe (na realidade não passava de pretexto para uma eventual intervenção militar). Dos cerca de cinco mil portugueses no país, nem um único se dirigiu ao Consulado com esse fim. Esses portugueses não estão envolvidos na administração central, sendo, principalmente, comerciantes, agricultores e cooperantes, mas não têm quaisquer responsabilidades ao nível do estado. Infelizmente, o problema ocorreu há 40 anos, quando o país, ainda sem recursos humanos preparados para assumir os destinos da nação, rompeu com os quadros da administração colonial, promovendo pessoas mal preparadas e pessoal que estudara na antiga União Soviética, sem consistência ou criatividade para enfrentar os desafios e limitações no terreno, treinados para obedecer e não para pensar motivados pelas suas próprias cabeças ou para caminhar pelos seus próprios pés. Faço minhas as palavras de Amilcar Cabral, quando disse que "a nossa luta não é contra o povo português, mas contra o regime colonial." Hoje, somos contra a mentalidade neo-colonial nas relações bilaterais com o executivo de Portugal, o qual aliás tem sido bastante contestado internamente.»

Ver fonte.