Logo conheceremos os resultados provisórios. As perspectivas apontam para uma redução do número de deputados do PAIGC, baixando dos dois terços dos lugares na Assembleia, para cerca de metade. A elevada afluência às urnas, veio sobretudo demonstrar a vontade de empossar um novo Governo civil cuja legitimidade esteja acima de qualquer suspeita. Mas será um erro considerar esta vontade popular, expressa pelo voto, como um cheque em branco: o voto de confiança representa essencialmente uma aposta para o futuro, assente em expectativas que o PAIGC saiba aproveitar proactivamente esse mandato de esperança, em prol de um projecto nacional consistente de reforma do Estado.
É chegado o momento da verdade para o líder do PAIGC: com a divulgação dos resultados das eleições nos seus traços gerais, serão de extrema importância a atitude e os primeiros gestos que fizer. Pela amostra se verá a consistência do seu discurso eleitoral, que alimentou fortes expectativas de inclusividade política; contrariando assim a mentalidade do «vencedor fica com tudo», tão viva e oportunamente denunciada pelo representante do Secretário Geral da ONU, Ramos-Horta. O povo saberá igualmente distinguir se o PAIGC soube apostar numa verdadeira inclusividade, de debate e influência; se o PAIGC respeita os seus compromissos, para com os seus eleitores e perante a nação, ou se a apregoada inclusividade é apenas mera fachada.
É a sua boa fé, já como Primeiro-Ministro, que Domingos Simões Pereira tem o dever de demonstrar por sinais inequívocos. Que é Primeiro-Ministro de todos os guineenses, e que, para além da legitimidade democrática, sabe construir uma subtil autoridade política... Terá Domingos Simões Pereira a coragem para ousar ceder parte significativa do poder que agora adquiriu? A troco de garantias de governabilidade. Esse parece, de qualquer forma, o seu maior desafio: desmarcar-se de modelos de má memória...
«É, e será crucial, ousar partilhar poderes, (...) delegar poderes, no seio dos partidos, e saber também transportar essa dissuasora prática política, para os eixos da governação. As teimosas tentativas para a excessiva concentração de todos os poderes possíveis, numa só figura, tanto ao nível partidário, como ao nível governativo, só acabaram, e acabam sempre mal. O poder político, sobretudo, pela sua importância na vida das pessoas, deve diluir-se num todo, denominado: Estado! Um todo, onde todos os cidadãos se sentem parte, e habilitados de uma maneira ou de outra, a influenciarem dinâmicas necessárias ao seu funcionamento. Assim sendo, torna difícil o que o contrário tem facilitado no nosso caso, que é a recorrente apetência de um grupo derrubar por força das armas, um todo-poderoso fragilizado pela singularidade excessiva, e limitar-se a substituí-lo por um outro todo-poderoso.»
Ver fonte.
Não basta a legitimidade, é também necessária autoridade.
Como afirmou ao jornalista burkinabê Boundi Ouoba, do Le Pays, o presidente da comissão económica da CEDEAO, Desiré Ouedraogo: «Le plus important, c’est ce qui reste à faire après la période électorale, les défis de la réconciliation et du dialogue national inclusif»
Há 1 hora
3 comentários:
M.D.M.
Não tem sentido esta apregoada inclusividade que advoga partilhar o poder com os partidos derrotados. Senão, qual é o sentido das eleições? Numa democracia representativa o povo delega o poder a um grupo de pessoas ou partidos através do voto e é deste grupo de pessoas que espera as soluções para os seus problemas. Os derrotados também têm um papel. O de oposição, ou seja de fiscalizar o exercício do poder e de apresentar alternativas válidas de modo a convencer o povo a votar neles na próxima eleição. Defender que todos os partidos participem da governação é desconstruir o significado da democracia participativa. É defensável, isto sim, que os guineenses de comprovada capacidade de construir sejam chamados, independentemente da filhação partidária e onde quer que se encontrem, a vir participar com a sua experiência e expertise. Devemos ultrapassar a mentalidade de que se deixarmos alguém fora do poder, corremos o risco desse alguém derrubar o governo. Tenho a certeza de que esta fase está morta... Os partidos derrotados que se preparem e se fortaleçam para os proximos embates. Que sejam uma oposição construtiva e proactiva, apontando os erros da governaçã e não só, as alternativas. Desta conquistarão o voto do povo na eleição seguinte. Enquanto isso, quem é carpinteiro, pedreiro, labradur, engenheiro, dutur, furadur di palmera ou ticidur di panu, pá i pega si tarbadju, i dissa sinta pa pera um mama na guvernu.
Caro Malam D. Mané
Pelo contrário, parece ter todo o sentido. Não são os pequenos Partidos, que a nada poderão aspirar, propriamente, com as suas votações, que precisam do vencedor PAIGC. É mais o PAIGC que precisa de se renovar, de romper com os vícios históricos que lhe são sobejamente conhecidos, e que para isso, precisa dos pequenos Partidos. O PAIGC precisa de um instrumento de retroacção, que policie o seu desempenho governativo, e consolide a confiança dos cidadãos no Estado. A participação de cidadãos competentes não pode ser isolada de estes disporem de um real poder de influência, em torno de objectivos consensuais a definir no âmbito de um Pacto de Regime, conforme foi unanimemente assumido pelos Partidos no decurso desta campanha eleitoral. E essa «fase» está ainda longe da sua morte anunciada. É precisamente a função de fiscalização do exercício do poder, aquilo de que o PAIGC mais carece; a qual seria inteligente incorporar de boa fé e vontade, na sua proposta de governação.
Obrigado pelo contributo construtivo.
M.D.M.
Para fiscalizar qualquer coisa, o fiscalizador tem necessariamente de estar fora da coisa. Como parte do sistema/governação ele vai se fiscalizar a si mesmo, o que é uma contradição. Na Guiné as pessoas espertas fundam um partido e ficam a espera de novos golpes para se aliarem e se tornarem dirigentes ou novas eleições para reclamarem a inclusão. São 42 partidos políticos que nada fazem. Não cumprem a função de um partido político na oposição, deixam o povo ao Deus dará, só a espera de serem incluídos. Pelo que defende esta tese de inclusão, não precisa ter eleições. É só formar um governo com 42 pastas que a situação da Guiné está resolvida. Isto é um absurdo!...
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