quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Cancro terminal

Apesar de certas divergências históricas pontuais em relação ao autor, não resisto a partilhar o artigo de Jorge Herbert publicado pelos Intelectuais Balantas.

«A solução não passa por tecer alianças com o Presidente da ANP, tentar confundir os deputados com votações de moção de confiança versus programa do governo, ou provocar uma purga dentro do próprio partido! Chegou a hora do PAIGC entregar o poder, passar para a oposição e tentar fazer primeiro o trabalho de casa.»


É necessário um pacto de regime de boa fé, um projecto e uma liderança, para uma verdadeira revolução de mentalidades. Com tanto matchu do PAIGC e do PRS, talvez fosse inteligente bater a outra porta... 

A sociedade é um organismo, e todos os órgãos são mutuamente dependentes: se o coração está mal, todo o corpo sofre... imagine-se que os pulmões decidiam que não queriam trabalhar com o estômago e faziam greve?! A «política» guineense resume-se à luta por um lugar parasitário no pseudo-Estado. Em biologia, tal como em política, há três grandes categorias: os actores independentes, que tratam consistentemente da sua vidinha, os comensais, que comem à mesa, mas não prejudicam a situação, e a pior espécie, que é essa, o verdadeiro parasita, que não só se banqueteia com a vianda, como destrói o maná que o alimenta, como na analogia do ganancioso que mata a galinha dos ovos de ouro. A política foi inteiramente desvirtuada, e o conceito do bem comum (e, claro, do simples bom senso) completamente corrompido.

Inundados pela sua própria mediocridade, o PAIGC continua o mesmo bando de complexados e assassinos de Cabral, disposto a canibalizar a sua grandiosa herança, dedicando-se a desaproveitar conscientemente em proveito próprio recursos e força anímica da nação. É um pouco como acrescentar ao ditado: «em terra de cegos, quem tem um olho é rei» o corolário de «e quem tem dois, o melhor é furar um». Um verdadeiro desperdício. Até quando?

Não resisto igualmente a citar o jovem Dautarin da Costa em opinião há pouco publicada pela Conexão Lusófona: 

«Afinal o que é Cabral? É uma estátua que observa pacientemente as chegadas e partidas do aeroporto Osvaldo Vieira? É uma imagem icónica, um Deus revolucionário cuja ostentação é sexy? Se assim for, então temos mesmo de “sair” de Cabral – pois seria a confirmação de um esvaziamento irreversível de uma das maiores figuras políticas do século XX. Para mim, Cabral representa um sonho pragmático de mudança, uma proposta política de “pensarmos pelas nossas próprias cabeças e de andarmos com os nossos próprios pés”, na construção do progresso, da dignidade colectiva e da partilha de visões de futuro para a concertação de um humanismo renovado. Nós não podemos “sair” de Cabral,  simplesmente porque não chegamos a “entrar” verdadeiramente em Cabral. Somos hoje um país colonizado por uma cultura política especializada na busca de uma suposta caridade internacional e na reprodução endémica do subdesenvolvimento.»

2 comentários:

Retornado disse...

Dautarin, um nome que nunca tinha ouvido nem lido.

Mas ele diz coisas que eu há 40 anos já me tinha "esquecido" delas, e agora de certa maneira vem-me lembrar essas ideias.

Mas penso que Dautarin acredita ainda, ou pelo menos chegou a acreditar como suecos, russos e cubanos, etc., acreditaram.

Mas, e o povo? esse é que era importante acreditar, mas...

7ze disse...

Caro retornado:

É preciso continuar a acreditar. Se não for a esperança, que resta? A Pandora que o diga! Para além dos conhecidos prejuízos históricos, também essa herança «anti-utopia» da queda do muro continua muito actual...