Estou de luto pelo meu desenhador francês de cartoons preferido. Habituei-me, ao longo dos anos, a acompanhá-lo no Nouvel Observateur, cheguei a comprar um ou outro número do Charlie-Hebdo (ainda conservo pelo menos um exemplar) em deslocações a Paris. Depois de Reiser, de quem também era admirador incondicional, foi a crítica mordaz de Wolinski, a sua sátira solta e corrosiva (da qual se desprendia uma saudável libertinagem em que os franceses são mestres), que durante muito tempo me reconciliou com a França. Para além do seu delicioso cartoon semanal no Nouvel Obs, ilustrava por vezes grandes reportagens, ou oferecia umas deliciosas pranchas a mais nalgum suplemento...
Em meu nome pessoal posso dizer que, sentindo a humilhação do mundo (e do muçulmano em particular) com a imposição da nova ordem mundial pós queda do muro, compreendi, na manhã de 11 de Setembro, as razões identitárias na origem do ataque ao símbolo. Hoje, sinto-me chocado. Wolinski era um símbolo para mim. Se a 11 de Setembro conseguia identificar-me com os executantes, hoje identifico-me com a vítima. Um ataque ad hominem contra um artista? O terrorismo tem destas coisas. Ganha quando nos consegue despertar uma raiva cega. Recuso deixar-me levar pela fúria.
Este ataque é especialmente grave pelo alvo que encarna, que é evidentemente a liberdade no mundo ocidental, pretendendo lançar um choque de civilizações. Resta saber se foi apenas obra de um par de alucinados, ou de alguma maléfica organização criada com esse mesmo fim. Resta-nos rezar para que os irmãos muçulmanos transviados em intolerâncias desmerecedoras dos ensinamentos do Profeta (as quais não podemos extrapolar para o conjunto da comunidade dos crentes), retornem ao caminho da razão e não mais pratiquem barbaridades em Seu nome.
De qualquer forma, tinha deixado aqui neste blog, há pouco mais de um mês, a minha opinião de que o risco de atentados tinha subido exponencialmente nos últimos tempos... depois do lançamento da operação dunas.
Há 30 minutos
1 comentário:
NEM CHARLIE, NEM COLIBALI! Ambos estão errados...
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