quinta-feira, 18 de julho de 2013

Culpa morre solteira

Para saudar o artigo de Daba Na Walna, sobre a «impunidade»: respeitando escrupulosamente a constituição, que inibe os militares de se pronunciarem publicamente sobre assuntos políticos (e no actual contexto, qualquer afirmação menos cuidada pode ser tomada por «política»), tem escolhido temas «frios», permitindo manter assim uma presença activa e positiva das Forças Armadas na actualidade nacional (que viveu na última quinzena um verdadeiro desfile de representantes de variadíssimas missões internacionais).

Tal como Cabral, que se irritava com os amuletos, tentando explicar aos seus guerrilheiros que deviam aprender a ser bons combatentes e não confiar nessas «forças ocultas»... Eu também não acredito em bruxas, pero que las hay, las hay. É um pouco como os comprimidos. Um médico indiano que conheci, o Dr. Pó (já faleceu) contava como, sendo médico em Moçambique em 1974/75, não existiam medicamentos nas farmácias, só sobravam aspirinas... então receitava aspirina para tudo (e funcionava).

Vem a propósito, neste contexto da palavra actualmente em voga, «impunidade», lembrar a Justiça grega. Também os gregos acreditavam que havia uma realidade paralela de nível superior, da qual os humanos eram simples reflexos. Tinham deuses para tudo. Claro que quando algum cidadão cometia um crime e era preso, era «inimputável» para as pessoas, pois acreditavam que tinha sido um deus mal disposto que «condicionara» o culpado. Isso mesmo declarava o Juiz, que pedia desculpa ao «inocente» antes de o condenar.

Sim. Perante as evidências, o Juiz pedia desculpa ao «inocente», mas, não havendo forma de convocar perante a Justiça o deus prevaricador, autor moral do crime, esta era obrigada a fazer pagar o coitado do humano, seu agente e executor. Na Guiné, a impunidade não é assim tão grande... não esquecer que pelo menos alguns dos mortos, de quem pedem contas, transportavam uma boa carga de culpa e pelos vistos não ficaram impunes. Imagine-se um duelo: morrem ambos os cowboys; devemos processar os cadáveres por assassinato?

PS Mas tirando o Olimpo a limpo: teriam os gregos um deus para os golpes de estado?

2 comentários:

Anónimo disse...

Disparates e mais disparates. Afinal agora são os Irãs quem dita os destinos das vítimas dos militares? A impunidade acabará no dia em que todos os Guineenses possuírem uma arma. Acabarão os abusos dos militares. Se até o advogado Daba trocou o Direito por kalashnikov que esperam os outros?

7ze disse...

Antes de disparar raterres dispa-se de preconceitos e perceba que se trata de uma conversa intelectual e não política. Não queira interpretar aquilo que Daba pretende precisamente afastar, não queira atraí-lo para um terreno que não é o seu.

E é precisamente esse o ponto: quando se esgotam as possibilidades no campo «legal», é legítimo manter o «Direito» pelos meios ao alcance. A Justiça, na sua representação alegórica, tem um braço armado.