quinta-feira, 18 de julho de 2013

Culpa morre solteira

Para saudar o artigo de Daba Na Walna, sobre a «impunidade»: respeitando escrupulosamente a constituição, que inibe os militares de se pronunciarem publicamente sobre assuntos políticos (e no actual contexto, qualquer afirmação menos cuidada pode ser tomada por «política»), tem escolhido temas «frios», permitindo manter assim uma presença activa e positiva das Forças Armadas na actualidade nacional (que viveu na última quinzena um verdadeiro desfile de representantes de variadíssimas missões internacionais).

Tal como Cabral, que se irritava com os amuletos, tentando explicar aos seus guerrilheiros que deviam aprender a ser bons combatentes e não confiar nessas «forças ocultas»... Eu também não acredito em bruxas, pero que las hay, las hay. É um pouco como os comprimidos. Um médico indiano que conheci, o Dr. Pó (já faleceu) contava como, sendo médico em Moçambique em 1974/75, não existiam medicamentos nas farmácias, só sobravam aspirinas... então receitava aspirina para tudo (e funcionava).

Vem a propósito, neste contexto da palavra actualmente em voga, «impunidade», lembrar a Justiça grega. Também os gregos acreditavam que havia uma realidade paralela de nível superior, da qual os humanos eram simples reflexos. Tinham deuses para tudo. Claro que quando algum cidadão cometia um crime e era preso, era «inimputável» para as pessoas, pois acreditavam que tinha sido um deus mal disposto que «condicionara» o culpado. Isso mesmo declarava o Juiz, que pedia desculpa ao «inocente» antes de o condenar.

Sim. Perante as evidências, o Juiz pedia desculpa ao «inocente», mas, não havendo forma de convocar perante a Justiça o deus prevaricador, autor moral do crime, esta era obrigada a fazer pagar o coitado do humano, seu agente e executor. Na Guiné, a impunidade não é assim tão grande... não esquecer que pelo menos alguns dos mortos, de quem pedem contas, transportavam uma boa carga de culpa e pelos vistos não ficaram impunes. Imagine-se um duelo: morrem ambos os cowboys; devemos processar os cadáveres por assassinato?

PS Mas tirando o Olimpo a limpo: teriam os gregos um deus para os golpes de estado?

domingo, 14 de julho de 2013

Rispito

Entre estados, é necessário respeito. As relações devem ser de boa fé recíproca. Quando há falta de confiança, torna-se obrigatória uma observância estrita do protocolo. Cabo Verde, depois de nunca ter clarificado a sua posição nos lamentáveis incidentes de Abril deste ano, não pode enviar agentes (em serviço?!) em «turismo», sem os acreditar devidamente perante as autoridades «de facto» (sobretudo se não concorda com a sua legitimidade): de outro modo oferece o flanco e promove mal entendidos. Ou talvez os advogados indígenas (narco-especialistas) queiram defender que foi uma armadilha montada pelos guineenses, que enviaram «cidadãos a deportar» para engodar os agentes? Atendendo ao princípio da reciprocidade, aconselham-se os seus dirigentes a evitarem as águas internacionais para os lados do continente em eventuais saídas de iate. Mas fiquem descansados quanto à dignidade dos agentes, conforme reconhece o relatório diplomático da Embaixada americana, relativo ao ano de 2012, a prisão de Mansoa tem condições de detenção e na Guiné-Bissau, ao contrário de outros países, os Direitos Humanos são respeitados.

Dente por dente. E o último a rir...

Ver notícia publicada ontem em A Semana.

PS José Maria das Neves: «Cabo Verde não possui serviço de espionagem nem interesse em espionar qualquer país»; no entanto, permitem a utilização do seu território para acções encobertas dos serviços de agiotagem de outros países, contra países irmãos. Esta parece ser uma oportunidade de ouro para repensarem a sua abordagem.

O fim de Obama?

Depois das maravilhas que a equipa de escritores (de propaganda por email) de Toby Fallsgraff fez na recolha de fundos para a sua campanha, Obama decerto pensou em colocar essa experiência ao serviço da sua administração.

Qual é o segredo deste marketing político? Tal como a ganância e a gula, as pessoas têm um apetência especial por «entrar na sala do rei». Se lhes derem a entender que têm uma relação especial com o líder, renderão publicidade.

Todos os americanos que partilharam o email no âmbito da sua última campanha, receberam emails de Obama, alguns excessivamente familiares, como «Wow» ou «Janta comigo hoje?»... O que rendeu milhões de dólares em donativos.

A «carta» que Jorge Heitor recebeu é paradigmática. «Tipificado» (vá-se lá saber porquê) como «opinion maker», foi brindado com uma jóia de retórica de proporções épicas (embora «o máximo» não tenha sido o único que recebeu esse texto «personalizado»).

A «ponta do iceberg»? Será um teste piloto para uma campanha de marketing à escala mundial? Porquê esta necessidade de propaganda externa? Será porque o seu «estado de graça» interno acabou? A mensagem (para além da sua intenção) é interessante.

Julgo que a chave reside no anunciado «objectivo» de «to reduce our deficit in a balanced way»... É que até aqui Obama só aumentou o défice. Porquê «balanced»? Porque é preciso usar «luvas» para anunciar o tempo das vacas magras aos americanos.

Obama está com cada vez mais dificuldades em sustentar internamente o seu «bluff» monetário. Para este presidente, é muito fácil «estimular» a economia: basta pura e simplesmente continuar a imprimir «presidentes» e a aumentar a despesa.

Acho que é tarde demais para saltar do comboio, que já ganhou velocidade. Vai inevitavelmente magoar-se. Mas quanto mais cedo o fizer, melhor, porque se o comboio continua a acelerar, um desastre de grandes proporções torna-se inevitável mais à frente.

Isto faz lembrar quando Obama esteve no Congresso a negociar o orçamento à porta fechada. A certa altura terá afirmado «We don't have a spending problem»; o porta-voz do Congresso, John Boehner, irritou-se e repetiu por várias vezes, ao longo dos três dias:

_Mr President, we have a very serious spending problem.

No último dia das negociações, o Presidente irritou-se e estalou o verniz:

_I'm getting tired of hearing you say that.

Precisamente ao contrário do que «Obama» defende perante Jorge Heitor, o pior ainda não passou para a América, está por vir, e se calhar mais cedo do que se pensa. Até aqui, foi o bom Obama, gastar é fácil; já pagar dívidas é decerto menos popular.

Mesmo admitindo que este «digest» de lugares comuns da retórica presidencial não é uma brincadeira, mas fruto de um «escritor» de propaganda do seu gabinete, acaba simplesmente por ser revelador de um certo stress. A verdade pode cansar, mas liberta.

Brevemente cada contribuinte americano deverá 150 000 dólares (ao estrangeiro): mas não o lembrem ao senhor Presidente, porque ele não iria achar piada nenhuma, poderia até zangar-se. O melhor talvez seja pensar duas vezes antes de aceitar dólares.

Obama distribui uns rebuçados, limpa o rabo aos meninos, e ainda espera publicidade gratuita? Se calhar o tiro ainda lhe sai pela culatra... Talvez o melhor seja colocar já a sua esfinge em notas de milhão, para pelo menos se poderem desvalorizar esses novos dólares...

sábado, 13 de julho de 2013

Des(União Africana)

O Conselho de Paz e Segurança da União Africana, cuja presidência é actualmente ocupada por Angola, tem vindo a desenvolver uma actuação pouco pragmática: brevemente, serão mais os países suspensos (Mali, Guiné-Bissau, Centro-Africana, Madagáscar, Egipto...) que aqueles em actividade. Por fim, a união africana ficará reduzida ao bom exemplo de Angola, onde os golpes de estado são impossíveis (como toda a gente sabe).


Depois da suspensão do Egipto, numa interpretação demasiado à letra do conceito de «golpe de estado», veio a Liga Árabe fazer a crítica da sua congénere, dizendo que não foi um golpe de estado, mas sim uma «verdadeira revolução» (mesmo considerando o facto de o ex-presidente ter sido democraticamente eleito), simples expressão da vontade da maioria dos egípcios, para quem a deposição de Morsi foi um «feito histórico», evitando «o abismo».

Todas as diplomacias estrangeiras suavizaram ao extremo o tom de crítica, a maior parte nem sequer utilizando o termo «golpe de estado» para descrever a situação. Só os Estados Unidos insistiram em cumprir o «protocolo», retirando o seu pessoal (mas fazendo-o sem grande convicção). Já na União Africana têm critérios muito apertados, inspirados no modelo angolano e na longevidade repressiva do seu regime, que abomina «golpes».

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Simonovic na mira do Progresso Nacional

A Guiné-Bissau não é nem nunca será um narco-estado!

Tenso e crispado. Pagam-lhe para se armar em mau, coitado, e o senhor exerce acriticamente a sua profissão...

Errare humanum est

A não perder, um magnífico e oportuno contributo, pleno de positividade, publicado pelos Intelectuais Balantas na Diáspora, no qual Alberto Luís Quematcha defende coisas simples, mas verdadeiramente importantes. Tal como o primeiro passo para a cura de uma doença é o seu diagnóstico e reconhecimento pelo doente, também uma sociedade carece de aprender com os erros e para isso precisa de premiar aqueles que lhos apontam, não comprazer-se em desqualificá-los.

Que matchu!

PS 1) Neste contexto, queria fazer um público elogio ao Progresso Nacional, que, reconhecendo o erro de alimentar dissensões entre guineenses, desejaram as melhoras ao Doka.

PS 2) Em relação ao artigo, julgo que a opinião do Filomeno Pina, sobre o fenómeno de dissonância cognitiva apontado pelo Alberto Quematcha, se revestiria de grande interesse e autoridade.

Associated Press viral

Não tinha ainda passado uma hora da saída desta notícia, já estava espelhada em dezenas de sites, entre jornais, TVs, rádios, portais. Não admira que a etiqueta «narco» cole até se tornar num lugar comum, que até quem nem sequer sabe onde é a Guiné-Bissau papagueia acriticamente: repetem as coisas tantas vezes... Por isso concordo com a campanha do Progresso Nacional, que se decidiu igualmente a repetir para sempre (o contrário)...

Washington Post
ABC News
Fox News
NewEurope
News Daily
Miami Herald
Nashville TV
News Now
Mail.com
Missoulian.com
African Financial News
Hawaii News
KCBD
All Over News
NWI Times
My Fox
27 ABC
DUA Radio
San Francisco Chronicle
I4U News
NBC News
The Herald
Ritter
TruVista
ABC 6
WCHS TV
Herald Palladium
Kota TV
World News Portal
Kait 8
Hargray
Fremont Tribune
Wopular
British Business Finder
LOADeer
Frequency Radio
Latest News Link
Article World News
American Statesman

Ivan Simonovic, assistente do Secretário Geral das Nações Unidas, deveria ter mais cuidado com a língua; mas, sobretudo, articular as suas declarações com a experiência adquirida pelo seu colega Representante do mesmo SG para a Guiné-Bissau, que já lá está há mais tempo em contacto com a realidade local. Que falta de solidariedade institucional. Abusa dos lugares comuns recorrentes, diabolizando o país como narco-estado. Parece negativo condenar apenas.

Fiel a uma única dama, a da «justiça» para as mortes políticas (e depois de reconhecer que boa parte dos problemas do actual governo de transição têm a ver com o boicote a que o país foi submetido), quer fazer depender o futuro reconhecimento das eleições (como livres e justas), por parte da comunidade internacional, de «avanços» obtidos no campo judicial. É caso para perguntar o que é que o .. tem a ver com as calças... Chantagem? Ameaças gratuitas?

«It has been clearly stated that it is important for the international perception of the elections and whether they are free and fair,” Simonovic said. “And of course if they are not considered free and fair by the international community then that has some very practical consequences.»

Chega e no dia seguinte já está a debitar postas de pescada? Para informação, não é verdade que nada tenha sido feito no sentido de esclarecer as mortes com motivação política ocorridas durante o mandato do anterior governo: foram efectuadas diligências junto do principal suspeito da autoria moral desses crimes, que de momento se encontra a fazer turismo em Portugal, não tendo o dito cumprido a notificação convocando-o ao tribunal do país.

O senhor «assistente» do SG revelou não só falta de informação, falta de tacto e de diplomacia, mas também uma banalidade constrangedora, passível de colocar em causa o bom nome da organização (que parece assim falar a várias vozes e dissonantes), para além de ofender o simples bom senso.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Portas de saída

Portugal parece finalmente no bom caminho. Sob pressão na Comissão Parlamentar, viu-se o ex-Ministro, acossado, abrir portas a um virar de página, não só em relação à Guiné, mas também em relação à própria CPLP. Mais vale tarde do que nunca.

Avenida da Liberdade


Dissimulado i revogado

Há cinco dias o «novo» Ministro dos Negócios Estrangeiros seria Jorge Moreira da Silva; há dois já era Nuno Brito.

Paulo Portas foi hoje recebido na Presidência e na Assembleia da República como «Ministro dos Negócios Estrangeiros». Na Comissão da especialidade, Helena Pinto confrontou-o com as suas próprias palavras, no contexto daquele que parece um novo «tabu», em torno da sua demissão: «Mais cedo ou mais tarde, o senhor ministro vai ter que explicar ao país o que é irrevogável e o que é dissimulação. Essas palavras ficaram».

Para quando a remodelação que permita a tomada de posse promovendo Paulo Portas como Vice-Primeiro?

segunda-feira, 8 de julho de 2013

CPLP coxeia por Luanda

Mesmo após a marcação da data das eleições, na CPLP continua em vigor a suspensão (que começa a soar a exclusão) da Guiné-Bissau. Parece-me vergonhoso que os procuradores da organização, como profissionais que deveriam manter a sua independência face ao poder político, alinhem nesta farsa, em vez de tentarem reforçar o papel dos seus colegas guineenses na sociedade, que tanto necessita que alguém se importe com a administração da Justiça. Estarão a procurar no sítio errado? Em Luanda, procurar Justiça, não será como procurar uma agulha num palheiro? (depois queixam-se que aumente a tentação de reduzir tudo a cinzas para facilitar a pesquisa)

Está na altura de repensar seriamente a CPLP, em termos de identidade própria, de forma a evitar instrumentalizações políticas (a soldo de interesses suspeitos) como aquela que conduziu à suspensão da Guiné-Bissau. Se um país tem problemas, ostracizá-lo será a melhor opção? Abandonar o povo para «castigo» de uma situação? Que «valor acrescentado» real tem apresentado a organização para exorbitar assim das suas atribuições? Vêem com facilidade o cisco no olho do parceiro, mas não a trave que têm pela frente e lhes torna a vista curta.

sábado, 6 de julho de 2013

Didinho encontra-se com Ramos Horta

Graças a uma louvável iniciativa de Ramos Horta, de passagem por Lisboa, o Fernando Casimiro teve uma oportunidade histórica para transmitir o seu contributo ao processo em curso na Guiné-Bissau, que muitos, para além de um retorno a uma (nova?) ordem constitucional, esperam que se constitua também como uma viragem decidida em relação ao desenvolvimento, um despertar tantas vezes adiado.

O Doutor Ramos Horta está de parabéns e espero sinceramente que estenda o seu roteiro e o seu empenho pela Guiné-Bissau para além das eleições que se avizinham, pois, como muito bem disse, os problemas da Guiné-Bissau não se esgotam com esse acto. Com o afastamento de Paulo Portas abre-se uma oportunidade para uma reinvenção positiva da CPLP, projecto que procura um líder à altura...

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Força 1150

O Movimento do(a)s Cidadã(o)s Livres (MCL) publicou o seu Manifesto! Viva a verdadeira democracia e a participação directa. Abaixo as farsas.

A pressa em apresentar o orçamento para as eleições e em fazê-las depender de ajuda externa não dignificam a Guiné-Bissau.

Paulo Portas golpista

O ex-Ministro Paulo Portas, tentou dar um golpe de estado; no entanto, a sua incoerência e inconsistência traduziram-se em timings desapropriados e conduziram a uma percepção da sua atitude, por parte dos portugueses, como de uma certa infantilidade. Com estatuto de demissionário, ainda conseguiu criar um último embaraço ao Estado português: como bom lacaio dos americanos, interditou o espaço aéreo português à passagem do avião presidencial boliviano (numa atitude claramente ilegal e desnecessária pois se não podia sobrevoar o espaço francês, nunca cá chegaria), sob pretextos fúteis (falta de condições técnicas…) Até a presidente do Brasil, que passou por Portugal há pouco tempo, exigiu um pedido de desculpas (que o presidente francês se despachou a fazer).

O Primeiro-Ministro não pode ficar refém da imaturidade política de Portas traduzida numa chantagem pública desadequada e inoportuna (no princípio das férias? não poderia ter esperado pela «rentrée»?). Qualquer que seja o resultado da crise política artificial criada pelo gosto das passerelles e holofotes que alimenta o Presidente do PP PP, este não terá condições políticas nem legitimidade para continuar à frente das Necessidades, onde o seu sucessor poderá aproveitar o balanço para corrigir o tiro em relação à política externa, nomeadamente no que toca à Guiné-Bissau e à CPLP, que carece de uma total reinvenção, em termos identitários, para impedir que fique à mercê de políticos irresponsáveis como Paulo Portas. É a boa estrela de Portugal que está em causa.

domingo, 30 de junho de 2013

Rispito na terra de Goiaba com Banana

Parabéns ao Samba Bari por um ano de actividade do seu blog Rispito, agora coroado com uma visita à Guiné-Bissau, de onde esperamos que partilhe as suas impressões dessa terra de Gente Bonita, ultimamente tão aviltada.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Emiliano libertado!

Nelson Mandela, quando saiu da prisão, depois de mais de um quarto de século, disse apenas uma palavra «Poder!»


Bravo, Emiliano!

Como disse Luandino Viana, no primeiro comentário à notícia do Clube K, Catumbela poderia «ser mais um angolambe-botas de profissão (...) mas não, faz parte do pequeno grupo de angolanos que nos envergonha a nós, os angolanos calados»

terça-feira, 25 de junho de 2013

Bater no ceguinho

Pelos vistos, a Guiné-Bissau serve de bombo da festa para todas as ocasiões, saco de boxe para descarregar a má consciência generalizada da comunidade internacional, bode expiatório ideal para todos os males existentes no mundo.

Num encontro presidido por William Hague, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros inglês, perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas, contando com a presença do Secretário Geral (para além de uma linda e angélica estrela de cinema) e com mais de seis dezenas de oradores, destinada a «incrementar os esforços para acabar com a impunidade relacionada com a violência sexual associada a conflitos», o embaixador do Paquistão junto das Nações Unidas, depois de evidenciar como a violação pode destruir a vida das famílias envolvidas, referiu como exemplos negros a Líbia, logo seguida da Guiné-Bissau.

Para além de golpistas, traficantes de armas e de droga, terroristas e conspiradores contra os Estados Unidos, faltava esta, agora os guineenses também passaram a violadores de primeira.

Isto justifica, no mínimo, uma forte nota de desagrado a enviar ao Conselho de Segurança pelo MNE; o pronunciamento de Ramos Horta sobre o caso; uma viva reacção da opinião pública.

Ler a agência noticiosa paquistanesa sobre o assunto.


Sugere-se que, em vez de procurar, através de bodes expiatórios, branquear os problemas muito reais das mulheres violadas, os bem intencionados promotores dos Direitos dos Homens e das Mulheres, procedam à identificação de situações reais e não inventadas, o que só pode descredibilizar a Organização, bem como a própria iniciativa, em si louvável.

Apenas para ajudar, poderiam citar-se casos práticos, na própria CPLP, que deveriam merecer a atenção das Nações Unidas. Ainda hoje foi publicada uma notícia relacionada com a violência sobre as mulheres em Angola. Além disso, o regime tem utilizado sistematicamente e de forma continuada, a violação de mulheres pelos militares, como forma de castigar o povo de Cabinda.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Opinião

As duas eleições em simultâneo podem trazer uma nova crispação, absolutamente desnecessária! Parece-me claro que Cadogo vai querer candidatar-se, tem toda a legitimidade para isso e, se não aparecer uma figura consensual, não tenho dúvidas de que vai ganhar com toda a facilidade.

Convencê-lo a não participar será um acto falhado porque ele está com ganas de voltar e, na actual conjuntura, o regresso dele será o mesmo que atirar um fósforo aceso para um barril de petróleo. Ainda existem muitas etapas para queimar em Bissau antes de se avançar para as Presidenciais, isto se não quisermos dar um passo em frente para depois dar dois atrás!

Marcelo Marques

Lembrando o Didinho

Pouco antes das eleições presidenciais de má memória:

«Para mim, é urgente iniciarmos uma nova etapa na Guiné-Bissau, romper com figuras que simbolizam a apatia, o conformismo, a mentira, a divisão, a ganância, a corrupção, o crime de sangue, a injustiça nas suas múltiplas vertentes, etc. O Professor Emílio Kafft Kosta pode vir a ser (caso decida por isso) um alicerce de garantia segura na edificação de uma Guiné-Bissau Positiva, através de uma mudança que se impõe como corolário da afirmação de novos valores e referências nacionais dispostos a devolver a dignidade à Guiné-Bissau e em prol do bem-estar comum! Aos meus irmãos guineenses, peço que estimulem a mudança, apoiando e motivando valores nacionais que não enganam, tal como o Professor Doutor Emílio Kafft Kosta e muitos outros, que, contudo, têm sido "desconsiderados", impedidos até, de ajudarem com os seus conhecimentos, na busca de soluções para a Guiné-Bissau! Caro amigo de longa data, Emílio Kosta, gostaria de te ver a ocupar o mais alto cargo da Magistratura guineense, o de Presidente da República!»

Perfil do futuro Presidente

Antes de começar a discutir nomes, talvez valesse a pena lançar um debate mais «anónimo» acerca do perfil indicado para o cargo, à semelhança do que o Progresso Nacional em tempos fez para o cargo de Chefe de Estado Maior das Forças Armadas.

Avanço já com a minha opinião. Com toda a recente conversa de «inclusividade», seria um equívoco pensar que o Presidente deve ser um homem de consensos; pelo contrário, julgo que deverá ser um patriota intransigente. Um homem que saiba bater o pé, encarnando uma legitimidade consubstanciada num projecto claro de extirpar da sociedade guineense a condescendência para com «quadros» políticos medíocres, corruptos e prepotentes. É preciso um grande empenho na consistência (já chega de brincar aos países) e transparência (para a credibilidade); esse desafio não é fácil, vai ser preciso uma personalidade férrea (para não dizer ferrenha e teimosa) e conhecedora do país, para não se deixar enganar. Como terá pela frente imenso trabalho, será preciso não deixar em mãos alheias os seus créditos e arregaçar as mangas, mesmo sem ar condicionado.

Para já, uma «pré-candidatura» de Paulo Gomes seria um tiro no pé. A acreditar no Progresso Nacional, parecem haver movimentações no sentido da recolha de apoios... tentando eventualmente antecipar-se na «sugestão» de uma terceira frente «sociedade civil», para fazer frente aos candidatos do PAIGC e PRS. Nos provérbios bíblicos recomenda-se a humildade, para não tentar ocupar lugar de prestígio à mesa, pois pode chegar alguém mais importante, e sermos obrigados a levantar para lhe ceder o lugar... mais vale que nos sentemos lá atrás e depois nos chamem para os lugares da frente. O problema será, obviamente, o «milagre» da multiplicação das terceiras vias, que só servirão para reforçar o partidarismo bipolar. Essa poderia ser uma iniciativa do Fórum dos Partidos, discutir perfil e projecto, encontrar uma personalidade consensual para o cargo, convidá-la, sugeri-la aos eleitores e apoiá-la nas urnas, encarnando assim um projecto sério de mudança.

Já há dez anos Paulo Gomes era o «mais falado»...

domingo, 23 de junho de 2013

Neologismo angolano

José Eduardo dos Santos, sentindo-se ameaçado, avançou para um «plenário» com a juventude. Até o caso dos dois activistas desaparecidos o ano passado foi referido, mas a situação de Emiliano Catumbela manteve-se tabu, o que não deixa de ser bastante revelador...

É impensável que, de entre os presentes, ninguém se tenha lembrado de perguntar aquilo que vai no coração de tantos angolanos... em relação à sanha cega de José Eduardo dos Santos. Mas esta «abertura» é sobretudo uma vitória de Luaty, Emiliano e alguns jovens mais.

O Jornal de Angola, para o qual me chamou a atenção o No Djemberém, traduziu empowerment por «emponderamento» (o corrector ortográfico está-me a sublinhar de vermelho, e com razão). Mas é natural, a falta de jeito para a tradução do inglês (aliás, americano).

A tradução deve ser conveniente e adequada. É que empowerment quer dizer transmitir poder, o que não foi claramente a intenção (basta olhar para a foto e a pose formal e doutoral do um para todos). Para neologismo, empoderamento é mau, mas admissível.

A ponderar, se estamos perante boa fé do Presidente ou simples maquilhagem do regime da parte de José Eduardo dos Santos... O futuro o dirá. Esperemos que não saia frustrado.

Hunger in Guinea-Bissau

Uma amiga italiana com quem troco selos, a Lisa, escreveu-me preocupada, depois de ter lido na imprensa italiana as declarações de Ramos Horta, alertando para a situação de crise alimentar na Guiné-Bissau, e sabendo do meu interesse pelo país. Depois de me pedir para lhe explicar em poucas palavras a situação (disse que tentara pesquisar na internet, «mas não tinha percebido nada») terminava, ao despedir-se, desejando boa sorte aos guineenses.

Transcrevo aqui a minha resposta, em inglês, que é a língua que utilizamos para nos correspondermos.

And thanks for your wishes for Guinea-Bissau. Italy contributed greatly in the end of the 70's and early 80's with aid to the country. People want to start again there, in one of the poorest countries in the world: we have many qualified people around the world and we will show the example to Africa, as we already did, only with Argelia in Africa, liberating ourselves from colonialism. What Selassie did not acheive (alone, without foreign help) with Mussolini. Now we need trust from around the world, against the neo-colonialist campaign that the portuguese gouvernment is leading, acting as Guinea-Bissau remains a colony. Maybe, as philatelist, you know the name of Guinea-Bissau, but you can not see it at first view in the globe, between Senegal and another Guinea (ex-french), and there are not many people knowing the name... People in Guinea feel some times forgotten by the world (only 3h flight from Lisbon). But believe that GB is a beautiful country, asfixiated and blocked by Portugal and European Union since more than one year (not only cutted all the humanitarian help but also created obstacles to incipient local economy), under political alegations of coup d'etat (no blood - and it was not a coup, but a counter-coup that ousted a traitor conspirating with alien military forces, that after being hold, was released by humanitarian reasons). People feed great hopes to the momentum, but because of the political blocus and a bad cotation year, the kashew campaign (financing basic rice for 2/3 of families - Census 2010) was really bad (producer couldn't get more than 1/3 last year prices per Kg) ; increasing the problems, all imported goods are scarce and out of price, from milk powder for children (it's not nice, with so much EU milk excedent, to condemn bissau-guinean children) to gasoline pricing more than 2€/L...

sábado, 22 de junho de 2013

Reforma das FA

Ramos Horta aterrou em Dili e de lá fez saber que tem em preparação uma conferência sobre a Reforma das Forças Armadas a realizar em Julho. O Representante Especial do Secretário Geral das Nações Unidas parece disposto a pegar o boi pelos cornos.

Nesse contexto, gostaria de sugerir uma possibilidade: a introdução do Serviço Militar Obrigatório, com período curto (estilo seis meses), de forma a rejuvenescer as FA e a reconstituir, no seu seio, o mosaico étnico que constitui a Guiné-Bissau, tornando-as e fazendo-as sentir como realmente nacionais.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Primatura vacante?

O Presidente Nhamadjo tem desempenhado com grande dignidade, eficácia e transparência o mandato recebido do Comando Militar que assumiu o contra-golpe de 12 de Abril do ano passado. Tem dado entrevistas em cenários caseiros e informais (veja-se as que concedeu ao Doka) e não foi por isso que os parentes lhe caíram na lama.


Não me parece que, embora tivesse todo o direito a ocupar o Palácio (é inerente à função, como o ordenado), insista em fazê-lo. Mais importante que o Palácio, é o seu bom nome e o seu empenho pela Guiné-Bissau, ao contrário de outros ocupantes históricos do sítio. Se não ocupar o Palácio, será uma bofetada de luva branca.

E levanta uma questão pertinente. Se não foi presidente, mas um «gestor de crise», será justo excluir Nhamadjo da corrida presidencial? Outro sim, mereceria uma exclusão liminar... 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Divergências na CPLP

Grandes divergências em torno da Guiné-Bissau, na reunião informal dos Presidentes dos Parlamentos da CPLP, motivaram um bom atraso nos trabalhos, mas acabaram por dar origem a uma decisão histórica: o reconhecimento do Pacto e Acordo de Transição, saídos do golpe do ano passado, abrindo assim o caminho à regularização da situação da Guiné-Bissau na organização.

Ramos Horta não apareceu na conferência de imprensa, mas mandou recado: tem um «plano completo e bem organizado na cabeça» para a Guiné-Bissau. Grande cabeça... Pena que não lhe tenha ocorrido que os interessados poderiam gostar de conhecer em primeira mão esse projecto global e finalizado (enlatado e «chaves na mão», funciona sempre e prescinde dos guineenses)...

Uma vez que foi convidada a delegação guineense (presume-se que a título de «observador»), seria interessante que um jornalista «a sério» tratasse de descobrir (para a história) a razão das fortes divergências ocorridas. Eu não sou mosca (quer dizer, só de nick), mas presumo que o representante de Angola terá sido um dos pólos de divergência, como fez questão de informar...